O amor abençoado pelo Nilo escrita por kagomechan


Capítulo 25
Máquina do tempo de memórias


Notas iniciais do capítulo

olha o capitulo novoooooooooooooooo. espero q gostem ♥
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dicionário de egípcio antigo do dia:

mewet - mãe

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Uma nova e ao mesmo tempo antiga memória se formava diante dos olhos de Sadie. As cores amareladas e esbranquiçadas de areia estavam em quase todo lugar que ela olhava. Não demorou mais do que alguns segundos para a cenário estar repleto também de pessoas e, ao absorver tudo ao redor, Sadie entendeu que aquilo era um canteiro de obras. 

Entre um canteiro de obras do século 21 e um no século 27 antes de Cristo, algumas coisas eram semelhantes, como as várias pessoas indo de um lado para o outro carregando algo, construindo algo ou com um papel, ou papiro, em suas mãos analisando ou pensando alguma coisa sobre a obra. Contudo, existiam diferentes gritantes também. Por exemplo, ela duvidava que no século 21 iriam carregar pedras tão grandes e pesadas daquele jeito tão sem tecnologia, ao menos para os olhos dela, puxando insistentemente pedras enormes deixadas sobre superfícies cuja funcionalidades pareciam com trenós sobre areia umedecida. Também duvidava que no século 21 construíram algo tão grande sem guindastes ou maiores medidas de segurança. 

Sadie pensou nas diferenças gritantes e não pode deixar de olhar para os detalhes mesmo não sendo uma fanática por história como Carter. Afinal, não era todo dia que se via de primeira-mão (ou tão de primeira-mão que dava para chamar olhar as memórias de alguém) a construção de uma pirâmide egípcia tal como eles faziam. 

A pirâmide ainda era baixa, mas ela podia ver que suas faces não eram lisas, eram como degraus e esses degraus que eram lisos. Sendo uma filha de egiptólogos, ela sabia bem que pirâmide era aquela.

— A pirâmide escalonada de Djoser… - resmungou ela para si mesma já que ninguém ali poderia ouvi-la - Vontade de esfregar na cara de todos que diziam que foram aliens que construíram as pirâmides.

Sabia, no entanto, que tinha mais o que resolver ali e não podia ficar olhando por muito tempo quais eram todas as técnicas de construção de pirâmide dos egípcios que todos ficavam tão curiosos para saber dada o grande peso das pedras das pirâmides. Ela deu as costas para a pirâmide para procurar o Anúbis daquela época com o olhar e isso foi extremamente fácil já que ele não estava tão longe assim dela. Se havia alguma diferença muito grande entre o Anúbis ali e o Anúbis que havia visto na tumba de Imhotep com Hórus, era que aquele Anúbis na sua frente ainda não usava preto. Mas todas as décadas que separavam os dois pareciam simplesmente inexistente.

Por mais que fosse interessante ver Anúbis jovem novamente, o que mais chamou sua atenção foi a jovem logo ao lado dele. Sadie sentia que ela era, em aparência, o seu extremo oposto. A jovem tinha longos cabelos negros como a noite presos em dezenas de trancinhas, olhos pretos doces e alegres, e uma linda pele de cor sépia. Não precisava de muitas pistas pra imaginar quem aquela era, era Anput, a deusa que tantos e tantos séculos atrás havia sido até mesmo casada com Anúbis apesar de nenhum dos dois parecerem muito adultos. Mas, para um povo que casamento já era algo que acontecia até mesmo com míseros 13 anos, talvez eles aparentarem ter cerca de 16 ou 17 anos não fosse algo tão chocante assim na época.  

— Será que está quase pronta? - perguntava Anput - Estão construindo isso à anos.

— Não acho que uma construção dessa possa ser feita em menos de um ano.  - respondia Anúbis - Até onde saiba, os humanos nunca fizeram algo em pedra desse tamanho antes.

Anúbis havia contado para ela pela primeira vez sobre Anput anos atrás quando ela, Sadie, era jovem e estava no meio de um enorme problema. Aquele enorme problema que fez ela conhecer tanta gente diferente, semi-deuses gregos, romanos, nórdicos… que bagunça havia sido. Havia conhecido Will e Nico no meio daquela confusão toda, assim como muitos outros, e voltado à ter contato com Percy e Annabeth. Lembrava bem do dia que um garoto havia chegado na Casa do Brooklyn com seu dragão mecânico quase caindo aos pedaços. Algo que ela com certeza nunca imaginaria acontecendo. Também se lembrava como o garoto, Leo, ficou meio brincando meio falando sério sobre como Anúbis e Nico eram muito parecidos que podiam ser até irmãos, se não fosse o fato de Nico ser filho de Hades, o deus grego do submundo. 

Na ocasião, Anúbis tinha dito que tinha certeza que não era filho de Hades, afinal era mais velho do que ele já que a civilização egípcia já estava contando com os cabelos brancos quando os gregos começaram a dar seus próprios passos. Com isso, não demorou muito para Leo falar que Anúbis poderia muito bem então ser pai do Nico. Uma coisa levou a outra a partir daí até Anúbis deixar escapar que nunca tinha se deitado com uma mulher mortal… mas não falara nada sobre as imortais… 

Claro que ela deveria ter imaginado que era muito difícil que em todos os mais de 5000 anos de vida do, naquela ocasião, namorado, que teria sido a primeira namorada dele. Mas, pra sua cabeça jovem e adolescente, a informação havia sido um pouco demais. Até porque não era só uma menção de uma ex-namorada, era a menção de uma ex-namorada, deusa, imortal e que havia feito coisas que sua cabeça jovem daquele dia corava instantaneamente só de pensar.

Naquela ocasião, lembrava-se de ter ficado com ciúmes de Anput, especialmente quando Anúbis achou justo explicar para Sadie o que exatamente havia acontecido entre ele e Anput. Os quase 3 anos que havia passado namorando ele naquela época, até mesmo os 13 anos de relacionamento de agora, pareciam ridículos perto das centenas de anos que ele havia passado com Anput. Isso a fez ficar com muita inveja e sentia-se mal por estar com um sentimento tão feio como a inveja. Todavia, agora, olhando para ela ali de pé ao lado dele diante da construção da primeira de todas as pirâmides egípcias, ela não conseguia mais sentir isso. Via apenas uma adolescente que havia ficado ao lado de seu marido quando também era adolescente. Uma coisa do passado. Constatar isso fez um peso enorme sair de suas costas fazendo ela soltar um longo suspiro ao notar outro deus que conhecia bem se aproximando, Thoth.

— E de fato não fizeram! - disse Thoth se aproximando e os dois deuses se viraram para ele que vinha sorrindo e de braços abertos - Incrível, não é? Tenho quase certeza que deve ser a primeira vez que os humanos cortam a pedra para fazer algo tão grande.

— Você está por aqui também, Thoth? - questionou Anput.

— Passo quase todos os dias aqui, não sabiam? - perguntou Thoth - Tenho quase certeza que essa construção ficará para a história! Tenho que acompanhar esse momento. Sem falar que, todo o esforço e planejamento por trás dela é simplesmente genial!

— Ficando tanto por aqui e falando com tanta alegria do trabalho de Imhotep, não pode reclamar de Hórus suspeitar que você é o pai dele. - alertou Anput.

A menção do nome de Imhotep fez Sadie se lembrar a urgência do trabalho que tinha. Ela olhou ao redor apressadamente procurando pelo lendário arquiteto até lembrar que nem sabia bem como ele se parecia para começo de conversa. Esperava que Anúbis tivesse se lembrado disso antes de mostrar aquela memória em específico.

— Já disse que não sou. - disse Thoth - Acha que eu seria tolo de trair Maat com uma mortal? Pois não sou. Além mais, que eu seria tolo de ficar por aqui tanto se eu fosse o pai dele? Não mesmo.

— Independentemente disso tudo, tenho certeza que Hórus vai trazer esse assunto a tona novamente. - disse Anúbis.

— Ouvi dizer que você tem informações novas quanto a isso? - perguntou Thoth. 

— A parteira de Imhotep morreu recentemente. - disse Anúbis - Podemos descartar então seus laços maternos. Seja lá qual quem foi que gerou um semideus dentre os mortais e fora da família do faraó, não foi nenhuma das deusas.

— É ele ali? - perguntou Anput e Sadie olhou desesperadamente para onde ela olhava.

O foco de Anput era um homem de pele cor de amêndoa e cabeça raspada que andava pelas construções com um longo pedaço de papiro na mão. Ele tinha um olhar inteligente e analítico além de ser claramente um homem importante naquela obra, pois era acompanhado de outras pessoas enquanto vistoriava a construção e dava ordens para que tudo seguisse os planos da primeira construção de grande escala feita de pedra cortada da humanidade. Um feito que ele deveria ter mais reconhecimento por.

Sadie apressadamente deixou o trio de deuses para trás e foi atrás de Imhotep com passos apressados e cuidados. Podia estar numa memória que acontecia em sua cabeça… ou na de Anúbis… ou em lugar nenhum… naquele ponto já não sabia bem, mas não queria tropeçar em nada, nem nos próprios pés, e acabar caindo. A situação toda tornava um pouco difícil ela se lembrar que estava com uma vida crescendo dentro de si, mas os pés doendo não deixavam ela se esquecer disso.

Quando se aproximou de Imhotep, viu a cena toda falhar por um milésimo de segundo incrivelmente rápido. Como se tivesse ameaçado desaparecer e deixar ela no meio de um cenário completamente branco e sem fim. Isso fez ela se apressar um pouco e estender instintivamente o braço para Imhotep e seu braço o atravessou como se ela fosse um mero fantasma mas sentiu algo a puxando e foi naquele momento que ouviu um mero sussurro carinhoso de Anúbis em seu ouvido. 

— Vamos entrar nas memórias de Imhotep agora… - explicou ele - Não tenho memórias dele muito mais velhas que isso. Essa foi apenas a segunda vez que o vi e a primeira não foi tão antes assim. Certeza que não tem nada de relevante com ele aí né?

— Nada… - disse ela de volta ainda sentindo aquela força invisível a puxando enquanto Imhotep conversava sobre vários detalhes técnicos das pirâmides com os dois homens ao seu lado.

Aquela força começou a puxar ela mais forte e ela se deixou levar. Ao mesmo tempo, a cena ao redor dela começou a se desfazer e outra começou a se formar. Essa nova cena parecia ter mais dificuldade em se formar pois, enquanto as coisas ao redor de Sadie começavam a surgir como se estivessem escondidas atrás de nuvens, algumas escureciam e sumiam de novo nas nuvens como se a magia estivesse com dificuldades em construir o ambiente tal como ele era pois não tinha muita certeza de como ele era. 

O ambiente que se formava ao redor de Sadie era completamente diferente do campo de obras de uma pirâmide, também era completamente diferente de uma tumba, era claramente uma rua residencial. Contudo, não das mais bonitas ou ricas. Sadie podia notar como o piso era irregular e como, num ponto à sua frente, ele cruzava-se com um rio raso  de águas turvas tal como se ele fosse uma outra rua. Tanto que algumas pessoas passavam por esse rio, que nem chegava na metade de suas canelas, andando despreocupadamente. As casas ao seu redor eram de barro, rústicas, com pequenas janelas e pouca cor em sua maioria embora algumas tivessem, da metade da casa pra baixo, uma camada de branco embaixo de uma camada de laranja. 

Mais além, notava que a magia não conseguia montar o resto da sua. Algumas casas desapareciam, outras a imagem falhava como uma televisão velha e, no ponto mais além, só existia o mais puro branco. A magia também parecia ter dificuldade em formar o rosto das pessoas. Muitas delas estavam embaçados, ou estavam envolvidos em completa escuridão. Inclusive, uma ou outra pessoa inteira estava engolida pela escuridão.

Porém, logo ao seu lado, estava um garoto de aproximadamente 6 anos cujo rosto e forma estavam bem nítidos. Tão nítidos que, ao olhar bem para o rosto do menino tão simploriamente vestido, notou traços de semelhança que deduravam bem quem ele era, Imhotep antes de ficar importante. 

A criança que segurava em seus braços pequenos meia dúzia de papiros entrou na casa cuja imagem era mais nítida ali. Uma casa que, apesar de simples, tinha mais dois andares construídos acima do andar do térreo que ainda estava completamente pintado de branco apesar do laranja sobre o branco chegar apenas na metade de suas paredes. Sadie se perguntou por um segundo se aquilo era tinta ou outra coisa, como barro ou gesso, se é que havia gesso naquela época. Sem muito interesse em descobrir a resposta à esse breve questionamento, ela seguiu o pequeno Imhotep.

No interior da casa, Sadie viu que não tinha muita coisa. No cômodo principal, melhor apelidado de sala, havia uma parte levemente mais elevada onde uma mulher arrumava sobre um tapete marrom o que pareciam ser as comidas do dia. Ao lado dessa mulher, uma menina de aparentemente 3 anos que brincava com uma boneca de pano e preenchida com feno. Ao menos Sadie achava que era uma menina já que ela, assim como Imhotep, tinham o cabelo raspado. Piolhos eram um problema comum no Egito, conforme Carter uma vez contou para ela tempos atrás.

Mewet! - exclamou a criança feliz correndo para os braços da mãe, como sua fala bem provava - Mewet!

— Chegou rápido hoje, Imhotep. - disse a mulher carinhosamente beijando a bochecha do filho - Como foi hoje?

— O professor disse que eu fui muito bem! Li sozinho o texto que os alunos mais velhos precisaram de ajuda para ler! - comemorou Imhotep - E o que eu escrevi aula passada não tinha nenhum erro sequer. Olha só!

O menino então soltou os papiros no chão e abriu o que tinha o texto que ele havia escrito em preto e uma mera nota do professor em vermelho. A alegria da criança era fofa. Sadie não pode deixar de sorrir e pensar em como seria quando sua filha estivesse indo para a escola mas, mais importante que isso, foi que ela notou naquele momento um bracelete no braço esquerdo de Imhotep. A primeira vista, não tinha nada de especial ali. Era só um adereço como outro qualquer mesmo parecendo um tanto caro demais para a família considerando o nível da casa e bairro onde ele morava. Mas, ao prestar mais atenção, Sadie sentiu um formigamento crescer dentro de si e notou como o bracelete parecia magicamente atrair sua atenção e ao mesmo tempo repeli-la. Dois sentimentos muito conflitantes.

Sadie lutou contra a vontade de afastar seu olhar e se focou no bracelete. Lentamente ela estendeu a mão aproximando-se do bracelete e sentia logo um formigamento nos dedos quanto mais perto chegava do que claramente era um item de magia pura e poderosa.

— É… eu achei… - confirmou Sadie.

 


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Notas finais do capítulo

por hoje é só ♥ até a próxima!



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