O amor abençoado pelo Nilo escrita por kagomechan


Capítulo 24
O começo do plano


Notas iniciais do capítulo

OLÁAAAAAAAAAAA
quem é vivo sempre aparece. nem tava com intenções de atualizar essa história mas tbm n tava com saco de escrever as outras duas agora. então divirtam-se.



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A cama confortável, o fone de ouvido emaranhado no canto oposto da cama, uma jaqueta largada sobre a cadeira diante do computador e uma revista em quadrinhos ao lado da televisão pareciam tentar lembrar Sadie que existia uma vida normal e sem magia no meio de tudo aquilo. Queria mostrar que não estava nervosa, mas, pelo olhar silencioso que trocou com Anúbis, pode notar que ele percebeu seu nervosismo. 

Sentada confortavelmente contra travesseiros, nem parecia para Sadie que estava prestes a fazer uma loucura. Loucuras mágicas eram provavelmente uma de suas especialidades à essa altura já depois de tantos anos, mas fazer isso enquanto protegia uma vida que crescia dentro de si era novidade. Em seu nervosismo, parecia-lhe ainda mais claro o quanto sua camisola começava a ficar apertada na barriga, ou como suas costas e pés já relutavam contra o esforço de ter que andar carregando tanto peso extra que nem quando dormia poderia se livrar.

“Só mais dois meses praticamente”, era o que Sadie lembrava a si mesma. Por um lado, mal podia esperar para conhecer sua pequena. Por outro, perguntava-se se seria capaz de protegê-la quando não estivesse constantemente junto de si. De forma automática, levou a mão gentilmente até a barriga acariciando-a com carinho. Alguns segundos depois, pode sentir o que talvez tenha sido um leve soco de um pequeno bebê se espreguiçando. Tal sensação a fez abrir um sorriso doce e, quase que imediatamente, a mão de Anúbis surgiu protetora sobre a sua.

— Vai dar tudo certo. - lembrou-lhe Anúbis.

— As coisas não parecem estar do nosso lado no momento. - disse Sadie.

— Claro que estão. - rebateu Bastet roubando de Anúbis a chance de falar - Já está bem avançada na gravidez e está tudo bem ainda né? Claro, ninguém contava com Ahriman surgir no casamento…

— Como se inimigos surgindo do nada e magias novas e perigosas fossem novidade para você. - disse Anúbis com um pequeno sorriso que vou imitado por Sadie.

— Sabe… Às vezes me pergunto se um dia isso vai parar. - admitiu Sadie - Ter que salvar o mundo ou aqueles que amo.

— Já faz algum tempo que o único problema com o mundo são os humanos destruindo o próprio planeta. - disse Bastet dando de ombros - O que não é novidade, pra falar a verdade.

— E…- disse Hannah timidamente se juntando a conversa - Tá que eu sou só uma aprendiz aqui mas… eu acho… e esse “acho” é em negrito, caps lock e bem vermelho… que alguém tem que ser louco de se meter com você, Sadie. Tem um baita currículo de merendar os inimigos na porrada.

— Merendar os inimigos na porrada? - repetiu Anúbis com expressão de dúvida estranhando a expressão ao se perguntar se tinha entendido certo.

— É! - disse Hannah - Está lutando e aprendendo magia desde… de que idade mesmo? 12? 13? 14?

— 13. - respondeu Sadie.

— Tá vendo!? - disse Hannah - Quantas salvação do mundo já tem no seu currículo? Eu ainda não tenho nenhuma. Doido é o que resolver se meter com você.

— Eu tenho que concordar com ela. - disse Anúbis olhando para Sadie com olhos carinhosos e ela não pode deixar de soltar uma pequena risada sarcástica ao notar que ele concordava com ela.

— Sério? - questionou Sadie.

— Você tem o nome secreto de um deus como Set… - lembrou-lhe ele - Lutou contra Apófis, Setne, Nekhbet, Babi e mais vários outros. Poderia ficar o resto do dia aqui listando suas batalhas.

— E conseguiu pegar um deus como o Anúbis! - exclamou Hannah que, lá no fundo, escondia que achava a história deles muito fofa - Não um carinha qualquer ou da escola! E ele ainda ficou humano por você.

Sadie riu da empolgação da aprendiz enquanto Anúbis ficava constrangido pela reação da garota. A expressão que ficou no rosto dele foi o que motivou ainda mais a risada de Sadie. Ela deslizou um pouco para o lado na cama abrindo um pequeno espaço em sua beirada para ele sentar. Passando a mão naquela partezinha da cama, ela o chamou para sentar ali pertinho dela e foi exatamente o que ele fez passando também o braço ao redor das costas dela e dando-lhe um beijo no topo da cabeça.

— É. Eu peguei o deus bonitão. -  disse Sadie com uma risada puxando delicadamente ele pelo queixo para que olhasse para ela e então trocaram um breve beijo.

— De toda forma, não precisa se preocupar. - lembrou Bastet - Lembre-se, vão ser apenas memórias. Nada vai poder te fazer mal.

— Meu medo não é esse… - disse Sadie - É que… nossa… um feitiço para passear por memórias de outra pessoa. Isso não é nada fácil. Meu medo é… sei lá… eu ficar presa por lá.

— As chances do feitiço estar errado são bem baixas. - lembrou Bastet - Sem dúvida precisa de muita magia. Quanto mais demorar, mais magia precisará. Por isso estamos todos aqui, para dividir o gasto de magia. 

— Não vamos te deixar presa lá. - assegurou-lhe Anúbis.

— Eu sei. - reclamou Sadie com um suspiro - Não precisa me lembrar os detalhes. Ainda assim fico preocupada. Uma coisa é fazer tudo isso como fiz, outra é fazer grávida. 

— Não tem outro jeito de fazer? - perguntou Hannah - Eu posso ir em seu lugar. 

— Não vou envolver vocês nisso. - disse Sadie - E também, não é como se fosse uma magia fácil de meu lado também. 

— Não teríamos que fazer isso… - começou Bastet - se certas pessoas conseguissem lembrar a informação que precisamos. 

A deusa gata encarou Anúbis que, meio que de costas pra ela, não precisou virar o rosto para sentir o peso do olhar. Ele soltou um suspiro, tinha que rebater Bastet, mas sabia que estava se sentindo terrivelmente culpado por isso. 

—Não é como se eu não lembrasse de propósito. - rebateu Anúbis. 

—Virou mortal de propósito. - retrucou Bastet - Se tivesse permanecido imortal, ainda teria todos os seus poderes e a memória perfeita de um deus. Com ambos, sendo você o insuportável deus da morte e protetor dos mortos, conseguiria saber pela história de vida e lembranças de Imhotep onde pode ter ido parar o tal bracelete. 

—Lembro-me até bastante de cenas da vida de Imhotep. - defendeu-se Anúbis olhando para ela irritado - Não sabe como é complicado ficar desenterrando memórias das almas falecidas. Ainda mais agora que, como você bem tem o prazer de ficar me lembrando, eu não sou mais um deus. A localização de um bracelete que nem ele parece ter ligado tanto assim é um detalhe muito pequeno e trivial. 

—Quão perfeito é eu falar que vocês brigam como cães e gatos? - resmungou Sadie soltando um suspiro - Querem por favor parar de serem dois chatos irritantes? Vamos logo com isso. Fazemos todo o feitiço complicado para procurarmos pelas memórias de Anúbis e o que tiver lá de Imhotep por qualquer coisa, torcemos para dar certo e ter alguma ideia milagrosa depois. Não temos outros planos e nem sabemos que Deus ajudou Ptah. Quero fazer logo essa nossa ideia. Não aguento mais ficar sentada preocupada com nossa filha sem saber o que fazer! 

Bastet ficou cabisbaixa e olhou para o casal que agora trocava olhares de preocupação. Obviamente, eles queriam uma vida boa e feliz para a filha. Que pais normais não iriam querer?

Eventualmente, Sadie soltou um suspiro e estendeu a mão para Bastet querendo pegar as folhas que registravam o complicado feitiço.

— Vamos nos livrar logo disso. - disse Sadie.

Afirmando com a cabeça, Bastet entregou o papel para Sadie que logo se esticou também para pegar sua varinha que displicentemente descansava na mesinha de cabeceira. Por alguns minutos, eles discutiram os detalhes e relembraram os avisos importantes. E então, quando se sentiram prontos o suficiente, os dois seguraram juntos a mesma varinha. A mão pálida de Anúbis parecia ainda mais branca quando em contraste com a mão de Sadie na qual segurava quando juntos começaram a murmurar o feitiço em egípcio.

Era preciso calma. Alguns trechos do feitiço eles liam juntos, outros alternados, outros falavam ao mesmo tempo coisas diferentes. Não podiam errar uma palavra sequer mesmo quando a ansiedade que ardia em seus peitos aumentava ao notar que aparentemente estava dando certo já que a ponta da varinha começava a brilhar e vários hieroglifos começavam a flutuar ao redor deles. 

A pequena luz que saía do topo da varinha começou então a se expandir. Em questão de segundos ela ocupava toda a varinha e começava a engolir a mão deles. Foi mais ou menos por aí que todas as falas que precisavam ser ditas terminaram e a luz começou então a agir por conta própria envolvendo os corpos deles. Como ato final do feitiço, os dois juntaram suas testas enquanto trocavam um olhar de carinho e determinação, que obviamente não era necessário para a magia, mas aquecia o coração deles mesmo assim.

Sadie fechou os olhos e, quando a luz envolvia fraca e completamente o corpo deles como uma fina camada, foi como se ela fosse forçadamente puxada para um sono que não era profundo o suficiente. A sensação a fazia lembrar como quando estava na cama, descansando o corpo e os olhos e a mente começava a divagar. Uma situação daqueles que você tem consciência que sua mente está em outro lugar e que você tem como objetivo tirar apenas alguns minutos de soneca, e você sente que passaram só alguns minutos, mas na verdade se passaram horas.

Ela deixou essa sensação à envolver. A cada segundo estava cada vez mais envolvida com o que parecia ser o começo de um sonho diferente. Os barulhos das ruas de Londres ficavam mais abafados em seus ouvidos, a sensação da cama sob si e do corpo de Anúbis a envolvendo ficavam mais distantes. De repente, ela sabia que estava em outro lugar e Londres era apenas uma realidade que ficava guardada no fundo de seu cérebro e de suas sensações. Estava mais naquele sonho que na realidade. E aquele sonho, era completamente escuro. 

Ela olhou ao redor mas tudo o que via era escuridão. Estava de pé no meio do nada mas o cheiro de poeira e areia chegavam até seu nariz. Era um lugar abafado, podia sentir. Era uma sensação incômoda e por isso tentou focar um pouco mais no oxigênio puro e gelado de ar condicionado que vinha de seu quarto em Londres. Já estava se perguntando se era para ser assim mesmo, se algo havia dado errado. Anúbis havia dito que ia tentar a guiar pelas memórias, será que aquela já era uma?

Do nada, ela levou um susto quando ouviu passos e respirações se juntando à sua. A escuridão então finalmente deu um trégua quando alguém, aparentemente magicamente, acendeu duas pequenas chamas que flutuavam no lugar e trouxeram luz para a escuridão. 

A primeira coisa que ela notou, não foi que o lugar onde estava era o túmulo de Imhotep no qual haviam visitado logo depois do casamento, mas sim que as respirações que se juntaram à dela foram a de Hórus e Anúbis. Todavia, ela logo notou que não eram o Hórus e o Anúbis que ela conheceu. Ambos estavam com roupas tipicamente egípcias. Saiotes, peças de ouro, olhos pintados com kohl. A maior diferença no entanto, era ver Anúbis novamente como quando estava quando o conheceu. Eternamente preso nos 17 anos.

Apesar de realmente querer ficar alguns minutos simplesmente matando a saudade daquele Anúbis, ela tinha mais o que fazer e sabia disso. Ela olhou para a tumba perguntando-se em que ano estava e como poderia notar se havia alguma diferença entre o estado da tumba naquela memória e quando visitaram ela no século 21. Eram muitos objetos largados por aí. Não poderia simplesmente ter decorado onde cada coisa estava. Não sabia como Anúbis queria que ela fizesse isso. Entretanto, quando ouviu o barulho de pedras arrastando uma na outra e notou que o Anúbis adolescente estava abrindo o sarcófago de Imhotep, percebeu que não era pela tumba que ele queria que ela procurasse.

— Imagino que não esteja gostando de fazer isso… - disse Hórus em egípcio e Sadie agradeceu silenciosamente por o entender, pois não demorou muito para ela ficar curiosa pelo motivo que levou os dois até ali. 

Enquanto Sadie lembrava-se de Anúbis mencionando que havia ido até a tumba de Imhotep com Hórus uma vez, a versão adolescente do deus da morte não havia respondido nada ao comentário do primo. Ignorando Hórus e de expressão amarrada, Anúbis abriu o sarcófago magicamente fazendo cada tampa flutuar perto do teto da tumba até que a múmia de Imhotep se revelou.

— Viu? Está aí. - disse Anúbis enquanto Sadie se debruçava sobre o sarcófago procurando qualquer coisa diferente que pudesse ter sido enterrada com Imhotep.

— Hum… - resmungou Hórus enquanto Sadie ignorava a conversa dos dois mas não deixava de ouvir pois estava curiosa - Sem dúvida muito peculiar.

— Acho que tem relação com a tumba de Khufu… - opinou Anúbis - Ela acabou de ficar pronta afinal de contas.

— O primeiro dos prováveis vários problemas que surgirão por causa dessa tumba gigante desnecessária. - resmungou Hórus suspirando pesadamente.

Apesar da curiosidade que estava crescendo dentro de si pela conversa, Sadie continuou procurando desesperadamente pelo bracelete com o olhar e tentando sentir qualquer sensação de algo mágico e/ou antigo. Chegou até a pensar em usar as mãos para tentar olhar embaixo de alguma coisa que havia sido deixada dentro do sarcófago, mas foi com não muita surpresa que viu sua mão atravessar todos os objetos como se ela fosse um mero fantasma.

— Admito uma coisa, primo… - disse Hórus quando Anúbis começou a fechar o sarcófago e Sadie teria batido a cabeça se não fosse o fato de que o atravessou como um fantasma - Eu não sei o que fazer quanto a essa situação…

— Não parece estar aqui… - resmungou Sadie consternada.

Enquanto isso, na sua cama em Londres, Anúbis abraçava o corpo dela adormecido como se fosse um bebê. Tal como alguém resmungar em meio ao sono, a fala dela chegou até os ali presentes.

— Não parece estar aqui… - havia resmungando ela.

— Próxima memória então. - disse ele baixinho - Espero que sinta algo se estiver muito perto... realmente espero…

A memória em que Sadie estava começava a dispersar e ela aproveitou esse momento para não só matar um pouco mais a saudade da visão rara que era Anúbis adolescente com todas as roupas egípcias, como também para se perguntar o que raios teria acontecido pouco depois da conclusão da pirâmide de Khufu.

 


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Notas finais do capítulo

e a sementinha da treta de outra fic tá plantada XD



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