O amor abençoado pelo Nilo escrita por kagomechan


Capítulo 13
Como areia carregada pelo vento


Notas iniciais do capítulo

bem vindos a mais um capítulo :3 espero que gostem o a tranquilidade está perto de acabar de novo

ESSE CAP CONTÉM SPOILER DE A MORTE DAS AREIAS DO SAARA, minha fic com o Anúbis no Egito Antigo ( https://fanfiction.com.br/historia/750415/A_Morte_Das_Areias_do_Saara/ )

edit - 12/03/2019 - cap editado



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A porta do nomo britânico se abria enquanto Carter e Zia entravam com presa para fugir da chuva gelada que caía do lado de fora molhando as ruas de Londres. A chuva não era nenhuma novidade ou surpresa para os londrinos, sejam eles londrinos de nascença ou que apenas posteriormente decidiram chamar a capital inglesa de lar. Mesmo com guarda-chuva para própria proteção e o tapete para limpar os pés ao entrar, Carter e Zia estavam ensopados e trouxeram muita água para o hall de entrada do nomo antes que a porta fosse fechada atrás deles. Boa parte da água que entrou foi efeito do vento que deixava aquela chuva de final de tarde muito mais forte.

Quando Carter e Zia receberam a ligação de Sadie no final da manhã daquele mesmo dia e receberam dela uma explicação um tanto superficial da situação em que se encontrava, os dois fizeram o possível para pegar o primeiro portal em direção à Londres. Ainda não tinham ideia de gravidez, nem de Hórus provavelmente mexendo uns pauzinhos, o máximo que sabiam era que Sadie estava com problemas e que Bastet tinha voltado para ajudar. Mas que, apesar dessa ajuda extra, ela precisava da ajuda de Carter que, como um bom irmão mais velho, não pensou duas vezes em ir até a irmã.

— Não sei como aguentam viver num lugar que chove tanto. - reclamou Zia tirando o casaco encharcado e pendurando-o no cabide que havia ali.

— Você se acostuma - disse Sadie dando de ombros enquanto Carter botava o guarda chuva, fechado, num cantinho.

— Até você? - perguntou Carter olhando para Anúbis - O clima de Londres não é praticamente o oposto do clima do Egito?

— Ambos tem as estações ruins - disse Anúbis dando de ombros - O problema é que em um a ‘estação ruim’ atinge 30 graus e no outro -1. -1ºC até que não seria tão ruim se não fosse a constante chuva, que acaba virando constante neve.

— Acho que prefiro a seca do que esse tanto de chuva. - reclamou Zia enquanto usava a magia para secar tudo ao seu redor, incluindo a si mesma e a Carter.

— Então…? - disse Carter olhando - Exatamente o quê é tão urgente que precisei vir tão rápido? E onde está Bastet?

— Está fazendo uma ronda no quarteirão. - explicou Anúbis - Alguns monstros estão surgindo.

— Monstros não são bem tanta novidade assim. - disse Zia.

— A quantidade é novidade, e o que eles buscam também. - disse Sadie mordendo o lábio inferior pensando, nervosa, em como contar para o irmão que ele logo seria titio - Mas acho melhor sairmos daqui. A porta está longe de ser um lugar ideal para conversar. E também, vocês com certeza vão querer estar sentados para ouvir tudo que temos para contar.

Sendo um cômodo quieto e vazio algo relativamente difícil de se encontrar ali devido a quantidade de aprendizes, o lugar escolhido para tão importante conversa foi o mesmo onde, no dia anterior, haviam conversado com Bastet.

Com os quatro já sentados entre as poltronas e sofás do cômodo que exibia um certo charme vitoriano à baixo custo monetário, Carter e Zia olhavam para Sadie com curiosidade enquanto esperavam ela falar alguma coisa. Estava escrito nos olhos de Sadie que, por algum motivo bem raro, ela, tão conhecida por ser tagarela, não sabia bem como começar a falar. Notando isso, com um olhar doce e gentil, Anúbis tocou-lhe a mão carinhosamente e, quando ela olhou para ele, abriu um pequeno sorriso tentando incentivá-la.

— Então… - disse Sadie soltando um pesado suspiro - Acho que não adianta eu ficar enrolando para jogar a bomba né? Já pode preparar seus planos pra me esganar, Carter. Eu tô grávida.

Boquiabertos e de olhos arregalados, Carter e Zia olharam para Sadie. Lentamente, os olhos de Carter começaram a lacrimejar mostrando que qualquer bronca que Sadie esperasse vir, não viria naquele momento.

— É s-sério? - perguntou Carter.

— Super sério. - disse Sadie abrindo um sorriso.

Carter imediatamente se levantou e foi até Sadie abraçando-a com força mas ao mesmo tempo delicadamente. Enquanto isso, Anúbis apenas sorria para cena e Zia parecia congelada na expressão de surpresa.

Depois de alguns segundos abraçando Sadie, Carter logo a soltou e, apesar do sorriso que estava colado em seu rosto e do brilho no olhar, ele insistiu em dar ao menos uma pequena bronca nela.

— Minha irmã… não tão mais pequena assim… mas poxa… você devia ter se prevenido, Sadie! - ralhou Carter dando uma breve risada no final.

— E quem disse que foi acidente? - disse Sadie dando de ombros  com um sorriso no rosto se aproximando de Anúbis, que estava sentado logo ao seu lado, e lhe dando um doce beijo nos lábios.

— Não foi aci…. Sadie! - exclamou Carter ao ouvir o que a irmã disse - Nem se casaram ainda e já estão querendo aumentar a família?

— Eu sei, eu sei, eu sei tudo o que você vai falar ok? - disse Sadie - A gente conversou e decidiu, simples assim. Falando em casamento, já decidimos que vamos casar no Egito e estamos arrumando a melhor data, pode botar já no seu calendário.

— Como vou marcar no calendário algo sem data ainda? - perguntou Carter rindo.

— De toda forma… - disse Zia com um breve sorriso - Acho que tenho que dar o parabéns aos dois, certo? Contudo, não deixo de me perguntar, por favor, diz que a história de estarem em precisando de ajuda e de Bastet estar caçando monstros era só uma mentira para servir de isca e contar essa surpresa para gente.

— Queria poder dizer que sim… - disse Anúbis com um pesado suspiro.

— Os monstros que Bastet está atrás? - disse Sadie - Estão atrás do seu sobrinho, Carter.E achamos que Hórus tem uma participação nisso.

— Hórus?! Porque ele estaria? - perguntou Carter.

— Uma besteira de manter o ‘sangue-puro’ - disse Sadie bufando logo em seguida.

— Ah! Certo… - disse Carter - Pelo mesmo motivo que levava a família real egípcia a casar entre si. E consequentemente criando vários incesto e frutos de incesto… como o próprio Tutankamon.

— É, me parece um comportamento esperado para Hórus. - disse Zia olhando séria para Carter - Temos que pensar em algo. Principalmente considerando que isso não passa de uma suposição.

— Vocês tem algum plano? - perguntou Carter.

— Erm… então… - disse Sadie com o sorriso torto.

Depois de alguns minutos de conversa onde eles falaram da ideia, um tanto fraca, tinham que admitir, de Carter tentar falar com Hórus, uma nova discussão começou envolvendo planos mais concretos para passar por esse problema. Ficaram cheios de planos, de A até Z. Mas primeiro, sim, tinham que descobrir se Hórus estava mesmo envolvido nisso. Não valeria a pena comprar briga com um deus depois de o acusar injustamente. Especialmente quando alguns deuses podiam ser bem temperamentais.

Com abraços de despedida, Carter e Zia foram embora deixando bem mais do que planos, deixaram também promessas. Promessas de proteção, de ajudas urgentes em cima da hora e de investigar a situação mais a fundo. Mesmo sabendo que o segredo da gravidez ia rapidamente se espalhar, não só pelos monstros, mas também pela barriga de Sadie que logo cresceria, Carter e Zia prometeram guardar segredo também. Afinal, apesar de tudo que acontecia, Sadie ainda queria tentar ter momentos normais em sua vida, e isso envolvia fazer uma revelação surpresa sobre sua gravidez para os amigos.

Apesar das tentativas de descobrir algo mais e de tentar entrar em contato com Hórus, as semanas se passaram com pouco ou nenhum avanço. A passagem do tempo também trouxe alguns outros ataques de monstros que, felizmente, fizeram pouco ou nenhum dano. A passagem do tempo também fez com que a barriga de Sadie crescesse fazendo com que agora, quase com 4 meses de gravidez, Sadie exibisse uma barriga pequena mas já visível, um pouco maior do que se ela tivesse comido demais.

Naquele dia, enquanto a neve ameaçava a cair do lado de fora, marcando o fim do outono, o casal estava em uma clínica de maternidade em Londres olhando com expectativa para a tela de uma televisão onde, graças ao aparelho que a médica usava para percorrer a barriga de Sadie, aparecia uma imagem que tentava se formar enquanto a médica tentava achar o ponto certo. A médica, de pele negra e cabelos escuros como a noite, tinha um pouco mais de 40 anos, um sorriso gentil e anos de experiência. Sadie estava deitada enquanto a médica passava o aparelho do ultrassom por sua barriga que havia recebido também um pouco de gel para permitir o funcionamento de tal tecnologia.

— E… aqui está! - disse a médica - Estão vendo? A mãozinha ali… e o nariz…

— Estou vendo! - exclamou Sadie com lágrimas nos olhos.

Ela segurou mais forte a mão de Anúbis que estava entrelaçada na sua enquanto ele olhava com os olhos brilhando para o monitor. Ver aquele pequenino ser na tela do aparelho da médica era bem diferente de ver a alma pura e moldável que crescia ali. Era naqueles momentos que Anúbis admirava a tecnologia atual. Ver seu bebê naquela tela e, também através dela, descobrir se era menino ou menina, era bem diferente de qualquer método do antigo egito, que geralmente envolvia fazer xixi sobre sementes de cevada ou trigo e ver qual delas crescia para determinar se era um garotinho ou uma garotinha.

A médica deixou o casal aproveitando o momento por mais alguns segundos exibindo um sorriso no rosto. Era óbvio que era orgulhosa de seu trabalho e dos belos momentos que pôde presenciar dentro daquela sala. Ainda não conseguiam descobrir o gênero do bebê, o fato de ele ou ela estar sempre encolhidinho, como uma bolinha, não ajudava em nada também, mas era sempre um prazer ouvir aquele coraçãozinho batendo forte.

Depois de ver que estava tudo bem com o bebê e salvar todas as fotos e vídeos do ultrassom num pen-drive, o casal deixou calmamente o hospital para trás andando pelas ruas de Londres com os braços entrelaçados e um sorriso calmo, mas ao mesmo tempo radiante, no rosto.

— Passa tão rápido… mas queria que passasse mais rápido. - disse Sadie com a mão gentilmente sobre a barriga - Mal posso esperar para segurar nosso bebê.

— Tenha calma. - disse Anúbis - Num piscar de olhos você vai estar passando as noites em claro.

— Verdade - disse ela soltando uma risada - Num piscar de olhos estaremos passando noites em claro também. Realmente acho que deveríamos dar uma estudada sobre toda essa arte de criar um bebê. Acho que Peter mencionou uma vez o quanto era complicado cuidar do irmão dele, e olha que era só o irmão! Imagina um filho.

— Daremos um jeito, não se preocupe. - disse Anúbis tranquilizando-a - Com as noites em claro e tudo mais.

— Você.. - disse Sadie mordendo então o lábio inferior - Você… acha que vai ser menino ou menina?

— Tão tenho a menor ideia. - disse ele olhando para o céu acinzentado.

Logo eles entraram em uma lanchonete estilo francesa que ficava a poucos minutos da clínica de onde eles tinham acabado de sair. Eles entraram no lugar, que exibia seus belos e cheirosos pães na vitrine, pegaram alguns croissants e um pouco de chocolate quente, e sentaram-se para comer com calma.

Enquanto comiam, os dedos de Sadie passavam rápidos pela tela de seu celular contando as recentes novidades para Liz e Emma e mandando as fotos do ultrassom. As duas amigas eram uma das poucas pessoas que sabiam que ela estava grávida. Afinal, elas estavam lá na hora que ela foi escolher o vestido de casamento. Não seria exatamente fácil esconder uma gravidez dessa forma. Tinha convidado Annabeth para a escolha do vestido também mas, dentre tantos afazeres e um bebê para cuidar, Annabeth viu-se impossibilitada de ir.

— Meus avós estão chamando a gente para jantar lá depois de amanhã… - disse Sadie olhando para o convite que tinha acabado de receber pelo celular.

— Semana que vem é o casamento. Não prefere descansar? - perguntou ele mordendo um pedaço de croissant logo em seguida.

— E pode ter coisa de última hora para arrumar… - refletiu Sadie olhando pensativa para ele - Hey… tem uma pergunta besta que eu queria te fazer. Uma pergunta bem padrão pra momentos como esse de… esperando bebê… mas não tive coragem até agora...

—  O que é? - perguntou ele estranhando a fala e ficando curioso.

— Você prefere menino ou menina? - perguntou ela.

— Por que ficou com medo de fazer essa pergunta? - questionou Anúbis.

— Porque… - disse Sadie mordendo o lábio inferior e então deixando um suspiro escapar por seus lábios - Porque uma parte de mim acha que vai ser uma menina. E aí… eu… fiquei preocupada de que… se… se você estaria preparado para ter uma menina de novo. Sei que fazem alguns séculos desde Kebechet mas…

Ela parou de falar ao ver o olhar um tanto cabisbaixo dele. Com o olhar fixado no topo da mesa, como se aquele pedaço de guardanapo ao lado do prato dele fosse um objeto estranhamente interessante que deveria ser minuciosamente analisado, Anúbis deixou um suspiro cansado escapar de seus lábios.

— Faz mais do que alguns séculos, pra falar a verdade. - disse Anúbis.

— Desculpe, eu não queria falar disso, sei que não gosta de tocar nesse assunto… - disse Sadie.

— Não… tudo bem. É justo. Vamos ter um bebê, é normal que você tenha vários tipos de questionamentos e preocupações que estejam surgindo por causa disso e que envolvam a Kebechet. Pode perguntar o que quiser.

— Certeza? - perguntou Sadie - Se não quiser responder algo…

— Tudo bem. Como você mesma disse, fazem vários séculos. - disse Anúbis - O problema, é que quando você vive vários milênios, vários séculos podem parecer terrivelmente rápidos. Teve momentos que, antes de eu me livrar da imortalidade, que eu temia que vários anos passassem sem eu perceber e aí você estaria idosa… por que, sim, acontece… algumas décadas passarem sem perceber.

— Como ela era? - perguntou Sadie com delicadeza tocando na mão de Anúbis.

— Alegre, sorridente, mas também meio tímida. - disse Anúbis segurando a mão de Sadie firmemente - Tinha olhos castanhos, cabelos pretos e algumas sardas. Adorava enfeitar o cabelo com flores e correr por aí com Ihy, pra desespero total de Hórus que não gostava de ver os dois andando juntos. Mas era raro ter outras crianças imortais então… ele relevava um pouco.

— Porque era raro?

— O Egito estava cada vez mais distante do esplendor que um dia teve. - explicou Anúbis com a voz pesada e finalmente levantando os olhos da mesa para olhar nos olhos de Sadie - Persas, gregos, romanos… uma dominação depois da outra. E eles sempre tentam mexer com a religião. Anexar, alterar, apagar completamente… isso deixou a gente gradualmente mais fraco. Primeiro, novos deuses se tornaram raros, depois, aqueles que ainda eram crianças ficaram presos na infância… mas tudo foi piorando pois, como se não bastassem os romanos e a morte de Cleópatra, a última faraó por mais grega que ela fosse, logo vieram tentando forçar o catolicismo e então o islamismo. Esses dois últimos fizeram um estrago ainda maior para nós especificamente, pois o foco dos persas, gregos e romanos era a conquista, mas o foco dos católicos e dos muçulmanos era bem mais religioso.

— Uma conversão forçada…

— Mais do que forçada. Muitos dos templos foram destruídos e, nessa altura, com os velhos modos já esquecidos, sem falar do próprio egípcio que mal passava de uma série de desenhos ilegíveis para os mortais, as pinturas dos templos eram uma das coisas que mais nos mantinham existindo. A imortalidade de um deus pode parecer bem mais frágil do que imagina, se parar para pensar que precisamos dos mortais acreditando ou simplesmente sabendo nosso nome.

— Não necessariamente ser fiel então? Só conhecer o nome basta? - perguntou Sadie.

— É. Foi mais ou menos por isso que eu não sumi também no final das contas. Isso, e por causa das pinturas. Não é difícil achar eu em alguma parede de tumba ou das pirâmides. E, no final das contas, as pirâmides são, de certa forma, meus templos. Coisas assim mantiveram não só a mim, mas também outros deuses como Thoth, Hórus e Hathor. Mas... os deuses menores não tiveram tanta sorte…

— Eles sumiram… - disse Sadie - Não adianta que agora alguns dos nomes foram… traduzidos? ou desenterrados da história?

— Não. Não adianta. - disse Anúbis negando com a cabeça e abaixando o olhar mais uma vez enquanto segurava mais forte a mão de Sadie e tentava fechar seu coração para as memórias dolorosas que queriam vir - Não é como se a alma ou qualquer coisa permanecesse. Eles simplesmente sumiram. Como se fosse areia.

Não precisava que Anúbis qualquer detalhe mais, toda a explicação dada e o olhar de dor em seu rosto eram suficientes para Sadie entender, com pesar no coração e lágrimas enchendo em seus olhos, o que estava escrito nas entrelinhas. Que não só Kebechet, como também a mãe dela, Anput, tinham simplesmente desaparecido. Tal como areia carregada pelo vento.


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Notas finais do capítulo

obrigada por lerem e até o prox. não sei quando ele vai sair. comecei a trabalhar agora e fiquei bem sem tempo. ainda não sei como vou ficar de disponibilidade pra escrever. mas tenham certeza que eu não vou largar . nem que eu tenha que deixar a fic em hiatus :v eu vou continuar ela



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