Em seu lugar escrita por Aislyn


Capítulo 9
Oportunidades


Notas iniciais do capítulo

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Após trocarem mais algumas informações e novidades, Mikaru aceitou a ideia de voltar para casa para descansar. Não iria ficar ali sendo alvo de olhares e sorrisos, obrigado a retribuir. Só ele tinha noção do quanto precisava ficar um pouco sozinho.

 

Hayato analisou as possibilidades, pensando de quem seria mais fácil se aproximar. Katsuya não tinha medo, então não seria um desafio, sem falar que não podia arriscar expor a relação dos dois. Miura seria a próxima da lista, que mesmo sendo supervisora, era bem próxima dos funcionários, sempre conversando e atenta ao que eles precisavam. Por estar num cargo acima, poderia servir de ponte.

 

Desceu novamente para o salão, vazio àquela hora, como costumava ser na pausa entre o café da manhã e o almoço. Seria um bom momento para abordar a equipe reunida e conversando amenidades.

 

— Foi a pior reunião da minha vida! Posso esquecer a folga extra na semana que vem.

 

— Por que não pediu? Tenho certeza que iam liberar. – Katsuya sabia que o problema era Mikaru, mas sabia também que não podia defendê-lo tão descaradamente.

 

— Izumi-san iria, concordo. Mas aquele outro lá… Ainda não me desce essa história que um homem daqueles está namorando! Quem ia aguentar?

 

Katsuya remexeu-se incomodado, pronto para defender o namorado e gritar que ele aguentava e com o maior prazer, mas mordeu a língua, se contendo. Ele sabia que Mikaru não gostava de se expor.

 

— E se eu estiver, qual o problema? – falando no demônio, pensou Hayato, contendo um sorrisinho de canto. Não sabia se era uma boa hora, mas precisava arriscar e ajudar a mudar aquela visão que tinham de Mikaru.

 

A atendente que servia uma xícara com chocolate quente deixou a louça cair, mas ninguém pareceu se importar ou se moveu para limpar a bagunça.

 

— E sobre seu primeiro comentário, por que não pediu a folga durante a reunião agora a pouco?

 

O silêncio pairou no ar enquanto Hayato puxava uma cadeira e se sentava ao balcão, olhando de um para outro. Claro que se fosse ele mesmo ali, a recepção seria diferente, mas era Mikaru que viam à frente.

 

— Nós não fazemos essas reuniões para vocês sorrirem e fingirem que está tudo bem. Queremos melhorar o que for possível na cafeteria. Então, alguém quer a chance de comentar agora? Pedir uma folga? Falar sobre reformas ou problemas que encontraram? Mudança na escala?

 

O silêncio perdurou mais um pouco, mas era visível a intenção contida de alguns. O rapaz queria a folga, Miura devia falar a respeito da manutenção na cozinha, mas ninguém se pronunciou. Hayato voltou a se levantar, suspirando frustrado.

 

— Se eu virar as costas, só terão outra oportunidade na próxima reunião. – e assim fez, após não obter retorno.

 

* * *

 

Em todos aqueles anos em que morava em Tóquio, Mikaru nunca se deu ao trabalho de visitar o metrô. Ele tinha carros e motoristas à disposição, qual a necessidade de perder tempo pegando carona com vários estranhos, correndo o risco de encontrar a condução lotada? Não, preferia sua privacidade e conforto.

 

Infelizmente, não podia aproveitar daquela vantagem no momento. Estava no corpo daquele vocalista idiota e precisava agir como tal. Como Takeo trabalhava naquele dia e só retornaria à tarde, suas únicas opções envolviam ficar no café esperando, chamar um táxi ou se virar no transporte público.

 

Achar a entrada do metrô foi fácil e ele sabia qual linha pegar e em qual ponto descer. O problema estava em comprar o bilhete. Um mísero bilhete de viagem o fez perder quase uma hora na estação! Sem contar a distância da cafeteria até lá e depois o percurso até em casa. Se estivesse em seu próprio corpo, era bem possível que já tivesse feito algumas paradas para recuperar o fôlego. Alguma vantagem precisava ter com aquela troca. E se não fosse tão sedentário, talvez testasse a sensação de correr até não aguentar, sem o medo de acabar sendo socorrido por uma ambulância.

 

Se jogou no sofá assim que entrou em casa, massageando os pés doloridos até notar que tocava o corpo do outro, parando o gesto no mesmo instante. Aquilo era nojento! Ligou a televisão para se distrair um pouco, mas nenhum canal o atraiu. Não costumava acompanhar programas de variedades. Um movimento próximo à mesa de centro chamou sua atenção, deixando-o animado. Gostava de gatos. Sentou-se no chão e chamou o bichano para brincar mas, como se estivesse consciente que não era o verdadeiro dono ali, o gato eriçou os pelos, rosnando e afastando rapidamente.

 

Dando-se por vencido, ficou dividido entre tomar um banho e pedir alguma coisa para almoçar, até notar que daria tempo para ambos. Principalmente porque os restaurantes que conhecia ficavam todos do outro lado da cidade.

 

Terminou o pedido e se encaminhava para o banheiro quando o celular tocou, e estava disposto a ignorar, até ver o nome do namorado na tela.

 

— Katsuya, tudo bem por aí? – Mikaru não tinha a menor ideia de como os dois se falavam por telefone. Precisava improvisar. Na verdade, podia muito bem aproveitar a oportunidade para fazer os dois se afastarem.

 

Izumi-san, está ocupado?— Katsuya tentou se controlar, mas parecia eufórico – Ah, estou bem. E você? Saiu mais cedo hoje, achei que pudesse ter acontecido alguma coisa...

 

— Nada de mais, só estava cansado e resolvi tirar a tarde de folga. Mas não estou ocupado, precisa falar alguma coisa comigo?

 

Sim! Você não vai acreditar! Mikaru assumiu pra todo mundo que está namorando!

 

— Eu- Ele o que? – chocado não era expressão o suficiente para seu estado diante a novidade. Ultrajado talvez chegasse perto – Todo mundo quem?

 

Todo mundo no café! Logo depois que você saiu ele tentou conversar sobre os problemas com a equipe e confessou! Ele não disse que era comigo, mas só de assumir que está com alguém me deixou tão feliz! Acha que estou sendo bobo por me contentar com pouco?

 

— Ah… nossa, acho que até eu fiquei surpreso! – ia matar aquele vocalista de merda na primeira oportunidade. Era aquilo que ele chamava de aproximar dos funcionários? Contar da sua vida amorosa?

 

Ele estava tão tranquilo quando falou, sem se envergonhar, nem nada. Ele tentou conversar com o pessoal sobre os problemas, como você costuma fazer nas reuniões, mas acho que todo mundo ficou surpreso quando ele apareceu no salão do nada, então não aproveitaram a oportunidade.

 

— Imagino… Sobre o que você falou primeiro, acha que ele tem vergonha de você? De assumir o namoro? – por mais que estivesse possesso de raiva com o que Izumi fez, saber o que Katsuya pensava o incomodou mais.

 

Não! Não é vergonha de mim, mas… todos comentavam que era impossível ele estar com alguém, que ele nunca iria se envolver, e como o Mikaru nunca revidou ou negou, achei que a ideia fosse banal pra ele. Quando ele assumiu eu me senti especial.

 

— Fico feliz por você… – mas aquilo não era de todo verdade. Queria ver o namorado feliz, mas por algo que ele fizesse e não por algo vindo de alguém de fora.

 

Obrigado! Hei, preciso ir. Está quase acabando meu horário de almoço. Nos falamos depois.

 

— Até…

 

Mikaru desligou o telefone, revoltado com o que aquele vocalista idiota estava fazendo com sua vida. Pedia para não ser exposto e agora tinha um cartaz com sua foto na porta de entrada da cafeteria e um aviso de relacionamento sério embaixo.

 

Bom, ele sempre podia se vingar.

 

* * *

 

O retorno para casa havia sido tranquilo e, mesmo não gostando da solidão, Hayato estava se acostumando ao silêncio do ambiente. Algumas noites Katsuya aparecia, eles pediam comida em algum restaurante e depois Hayato ficava ouvindo o rapaz contar o que aconteceu no curso ou em casa, sempre trazendo recomendações de seus pais, que perguntavam como o namorado estava. Em outras, Hayato aproveitava sozinho, assistindo filme, curtindo uma boa taça de vinho na banheira ou se deixando mimar pela senhora que cuidava da casa, que insistia em preparar alguma coisa para ele comer antes de ir embora.

 

Não havia avançado muito com os funcionários naquele dia, mas para uma primeira tentativa, considerou o bastante. Ele mostrou que estava aberto a conversação. Claro que seria pedir muito que dissessem tudo que queriam logo de cara. Mikaru sabia como intimidar e havia feito aquilo muito bem durante todo aquele tempo em que abriram o café. Não ia ser fácil mudar a imagem do dia pra noite, mas ia tentar.


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Notas finais do capítulo

Continua...?



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