Em seu lugar escrita por Aislyn


Capítulo 10
Descompasso


Notas iniciais do capítulo

E quase chegando à metade da história o
Ainda tem muita coisa pra vir...
Eu fui reler pra ver os errinhos e fiquei com vontade de mais... e olha que o capítulo nem ficou curto, eu acho...

Boa leitura!


Ps: Quem quer ver o Mikaru servindo chá pra ursinho? XDD



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Hayato revirou o armário de ponta a cabeça e ainda não sabia o que vestir. Era difícil escolher quando as únicas opções envolviam camisas variando entre branco ou cinza claro. As roupas que comprou após a troca eram boas, mas já havia usado todas para trabalhar e não queria que o rapaz o visse com um visual repetido. Sem falar que queria impressionar, tanto os amigos quanto a família dele.

 

Se estivesse em casa… tinha tantas roupas legais. Mas estava fora de cogitação aparecer no apartamento de Takeo para pedir roupas emprestadas pro ‘Hayato’. Teria que se contentar com o que tinha ali. E se não se apressasse, chegaria atrasado e o verdadeiro Mikaru reclamaria muito, pois pontualidade era um forte daquele ranzinza.

 

* * *

 

Como se não bastasse Katsuya ligando para contar a novidade que ‘Mikaru’ espalhou na cafeteria sobre estar namorando, agora ligava para contar que sairiam pra conhecer seus amigos. Mikaru não fazia muita questão daquilo. Não precisava se envolver tão a fundo na vida particular do namorado, mas o rapaz parecia querer muito aquilo; envolvê-lo em tudo que considerasse importante.

 

Uma parte de si dizia que o encontro seria um desastre e por isso veio prorrogando o quanto pode, mas agora com a troca esperava que Izumi não fizesse nenhuma besteira, por outro lado, não seria ele quem sofreria algum impacto. Não diretamente.

 

O filme estava prestes a começar quando sentiu o cheiro de pipoca, mas um olhar para a mesa de centro o fez estranhar a situação. Quem misturava vinho com pipoca? Desistiu de entender aquele casal e apenas aproveitar a companhia do amigo, já que não sabia até quando as férias de sua vida real iriam durar.

 

O ‘namorado’ juntou-se a ele no sofá instantes depois, colocando uma vasilha entre eles, logo tendo Junai se acomodando em seu colo.

 

Mikaru não gostava de romances, mas imaginou que Izumi sim e acabou sugerindo aquele gênero. Só esperava que Takeo não entendesse como mais uma indireta para aproximações e tentasse outra investida. Suas desculpas para afastá-lo estavam ficando cada vez menos criativas.

 

Ergueu o olhar ao sentir alguns cutucões em sua bochecha, sendo recebido por um sorriso de canto de Takeo, que o encarava fixamente.

 

— Podemos assistir outra coisa se estiver entediado. – o ruivo sugeriu divertido, recebendo um aceno negativo como resposta.

 

— Esse está bom, podemos continuar.

 

A verdade é que Mikaru havia parado de prestar atenção logo no começo. Era óbvio quem seria o casal principal e mais óbvio ainda que ficariam juntos no final. Não acreditava nisso de amor à primeira vista. Não acreditava em amor, para ser sincero. Então aquele tipo de enredo não o agradava.

 

— Continuar? Ele acabou tem um tempo, dorminhoco! – Takeo recolheu as taças e a vasilha de pipoca, colocando na mesa de centro e voltando a se sentar no sofá, dessa vez ao lado do namorado – Quer fazer alguma coisa mais divertida agora?

 

— Tipo o que?

 

Takeo se inclinou sobre o namorado, desejando há muito um contato, por menor que fosse, mas o casal se sobressaltou com um sibilado e uma bola de pêlos que se jogou entre eles e depois saiu correndo para dentro de casa.

 

— Mas que… – Mikaru olhou para a mão dolorida, enquanto Takeo se levantou, acompanhando o caminho que o gato fez.

 

— Junai? O que deu nesse gato?

 

— Ele me mordeu!

 

Takeo voltou o olhar para o namorado, notando os arranhões próximos ao punho e os pequenos furos na parte superior da mão.

 

— Será que apertei ele quando me aproximei? – Shiroyama analisou o ferimento, estranhando a atitude do animal que sempre foi calmo – Vou pegar os curativos.

 

Mikaru não se lembrava de tê-lo tratado mal. Colocava ração e água como Izumi disse fazer e até tentou brincar com o bichano no outro dia, mas as aproximações sempre eram em vão.

 

* * *

 

Conhecer os amigos de Katsuya não foi tão divertido quanto imaginou que seria, mas também não foi de todo ruim. Hayato não se considerava velho mas, algumas vezes, poucos anos de diferença mudavam o ponto de vista entre algumas gerações. Ele já havia passado por fases como adolescente rebelde, jovem músico de sucesso e agora era um adulto bem-resolvido e administrador de uma cafeteria. Os amigos do namorado de Mikaru estavam entrando na vida adulta, com aquela mente entre ‘não sou criança, já sei cuidar de mim’, mas que ainda achavam adultos chatos e donos de tudo.

 

Alguns dos jovens o receberam bem, tentaram fazê-lo se sentir à vontade, colocando-o a par dos assuntos do grupo, mas também houve olhares e comentários hostis. Uma das moças não se conteve, soltando que nunca havia imaginado que Katsuya gostava de homens enquanto um rapaz, aproveitando a deixa e a proximidade com Hayato, murmurou a palavra ‘dinheiro’, deixando bem claro sua dúvida sobre os gostos de Katsuya, insinuando que estavam juntos apenas por Mikaru ser bem-sucedido.

 

Hayato tentou ignorar as ofensas e levar o passeio de forma tranquila, mas ficava tenso ao notar que alguém o analisava. Conhecendo Mikaru, imaginava que era daquele tipo de situação que ele fugia. O empresário odiava ser o centro das atenções e, querendo ou não, Katsuya havia combinado aquele passeio apenas com essa finalidade: apresentar o namorado para os amigos.

 

Chegar à casa dos ‘sogros’ foi um alívio, mas também o começo de um novo tipo de tensão. Nunca em sua vida, com todos os casos que teve, foi apresentado aos sogros, nem aos pais de Takeo, com quem convivia há anos. Conversava com a mãe dele por telefone e se davam bem, mas vê-la pessoalmente? Não mesmo. Sabia como era sua fisionomia graças às fotos que o namorado tinha no apartamento.

 

Não se chateava com Takeo por não apresentá-lo, pois o namorado havia avisado que o pai era mente fechada e preconceituoso. Mikaru também compartilhou a experiência de quando conheceu o homem na adolescência e tinha quase certeza que ele não havia mudado com os anos. Hayato sabia que estava sendo poupado de uma visita vergonhosa e humilhante. Takeo só tivera o prazer de conhecer sua mãe pois fora buscá-lo na casa de seus pais após uma briga e, por sorte, não teve muito contato com seu pai.

 

Em resumo, os dois tinham mães maravilhosas para compensar a tragédia que os pais eram.

 

Mikaru, por sua vez, evitava falar de qualquer um dos familiares, resumindo sua situação com um ‘eu tenho a quem puxar, mas podia ser pior’. Ele explicou também que podia ficar tranquilo naquela visita, pois a família Kurosaki era tão fácil de lidar quanto Katsuya, mas Hayato não conseguia evitar o friozinho na barriga.

 

— Vem, entra. – Katsuya puxou-o pelo pulso, cortando qualquer pensamento ou desculpa que pudesse surgir para não seguir com o passeio – Chegamos!

 

Hayato prendeu o fôlego, imaginando quem o receberia primeiro, até se lembrar que não sabia os nomes dos pais do rapaz. Devia ter falado a respeito com Mikaru no dia da reunião com os funcionários, mas se esqueceu completamente.

 

— Já almoçaram? – veio a voz de uma mulher pela porta à direita e Hayato imaginou que fosse a mãe dele.

 

— Sim, comemos antes de vir pra cá. Não se preocupe.

 

Hayato foi poupado de encontrar com a mulher naquele instante, ainda sendo puxado para dentro da casa. À primeira vista, comparando com o que viu por fora, era uma casa pequena e simples, mas analisando por dentro, era bastante acolhedora. A parte social, com cozinha e sala na parte de baixo e, subindo as escadas, pode confirmar que ali ficavam os quartos.

 

— Mi-ka-ru! – Izumi virou-se ao chegar ao topo da escada, o nome do outro sendo chamado em um cantarolar, seguido de um abraço em sua cintura – Você não veio semana passada! Eu ajudei mamãe a fazer karê!

 

— Ah… eu estava ocupado.

 

A menina se parecia com Katsuya, tanto na cor dos olhos e cabelos quanto no sorriso gentil. Não havia visto os pais, mas levando em conta a informação de Mikaru, todos eles o tratariam daquela forma.

 

— Tenho uma coisa pra te mostrar! Vem comigo!

 

Antes que Hayato pudesse responder, Katsuya se afastou rindo, dizendo que ia ver o estado do quarto antes de levá-lo até lá, deixando-o sem opção de negar o pedido da menina.

 

— Katsu-nii disse que você está indo na cafeteria todos os dias. – Hayato foi puxado pela mão, que subia e descia de leve enquanto a menina saltitava pelo corredor, levando-o até uma porta cheia de adesivos de flores – Ele sempre chega sorrindo quando te vê.

 

— Eu… também fico feliz de ver ele.

 

— Aqui. Eu baguncei o quebra-cabeças que a gente montou aquele dia e estou tentando fazer sozinha dessa vez. Já estou quase na metade! – a menina apontou para as peças num canto do quarto, logo se virando e caminhando para o outro lado, pegando um livro na prateleira e estendendo para Hayato – Terminei o livro que me emprestou, mas não entendi algumas coisas. Bem que você avisou que não era pra minha idade… Deve ser por isso que papai me deu um jogo de chá de presente…

 

Hayato leu rapidamente o verso do livro para ver o resumo da história e saber do que se tratava, mas a menina tinha razão em achar complexo. Nem ele mesmo conseguiu reconhecer alguns kanjis.

 

— Não fique chateada. Depois eu trago um melhor pra você, o que acha? – mesmo tendo uma irmã mais nova, Hayato não tinha certeza se sabia lidar com meninas. Imaginar que Mikaru fazia isso com naturalidade, ao ponto de ser convidado até seu quarto para mostrar brinquedos e livros era surpreendente – Aquele é o jogo de chá? Quer brincar?

 

— Sério? Não acha que é vergonhoso demais?

 

Sim, Hayato achava que era, ainda mais para um homem da idade dele, mas a menina pareceu fascinada com a ideia de ter alguém pra brincar com ela.

 

* * *

 

— É por isso que Mayu gosta de você. É atencioso com ela. – Katsuya comentou ainda rindo, se jogando na cama e batendo no espaço vazio ao seu lado – Desculpe. Não estou rindo de você, mas foi engraçado.

 

— Ah… imagino que sim. – Hayato negou o convite para se deitar, puxando a cadeira de estudos e se sentando ali para conversar. Só notou que era observado no quarto de Mayu quando uma gargalhada veio da porta, justo no momento em que ele se ofereceu para servir chá para um ursinho.

 

— Está chateado comigo?

 

— Não.

 

— Então por que está sentado tão longe? – Katsuya se levantou da cama, indo sentar na ponta mais próxima ao namorado, pegando-lhe a mão – Não gostou dos meus amigos?

 

— Ah… sim. Foi bom conhecer eles.

 

— Você não está sendo sincero.

 

Talvez Hayato tenha mesmo julgado Katsuya como inocente, achando que ele não perceberia seu desconforto, mas não sabia como falar a respeito do que aconteceu. Precisava falar com Mikaru primeiro, ver o que ele achava da situação.

 

— Vamos mudar de assunto.

 

E sem precisar de um segundo pedido, Katsuya mudou o rumo da conversa, falando a respeito do curso e do trabalho, questionando também o namorado sobre o que ele e Izumi faziam no escritório por aqueles dias que tomava todo o tempo dos dois. Hayato não sabia se era aquilo que os dois ficavam fazendo no quarto, mas estava feliz em saber que conversavam sobre o dia-a-dia, pois lá no fundo sempre achou que o relacionamento de Katsuya só se mantinha por esforço e iniciativa dele.


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Notas finais do capítulo

O nome do gato, Junai, é algo como amor verdadeiro / amor puro. Casalzinho ternura tava numa boa fase pra escolher um nome fofo assim.

Até o próximo!



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