Os Cuecas e as Chiquititas escrita por SnowShy


Capítulo 51
Nada faz sentido


Notas iniciais do capítulo

Oieee!
Espero que gostem do capítulo de hoje! *-*



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Clipe musical: "Berlinda" por Janete, Sandy, Eleanora, Joaquim, Samuca e Téo.

***

Samuca andava fazendo muitas pesquisas durante a construção da casa na árvore. Mas elas não todas sobre esse assunto. O menino estava muito confuso com seus sentimentos ultimamente, principalmente depois que Janete lhe deu um beijinho na bochecha quando ele mostrou a planta da casinha. E sempre que Samuca ficava confuso com alguma coisa, ele estudava a respeito. Suas pesquisas e análises o ajudaram a classificar 5 fases para o processo da paixão: 1 - Sintomas; 2 - Negação; 3 - Sonhos; 4 - Auto crítica; 5 - Querer ficar o tempo todo com ela.

Um dia, Samuca estava fazendo mais pesquisas dessas na internet, quando, sem que percebesse, Joaquim se aproximou e deu uma curiada. O irmão só se deu conta da presença dele quando ouviu gargalhadas e o seguinte comentário:

— Tá apaixonadinho, é?

Samuca, com muita vergonha por alguém ter visto o que estava fazendo, tratou logo de se justificar:

— Eu estou fazendo pesquisas por curiosidade científica. E você não tinha nada que ter olhado!

— "Curiosidade científica", sei... Pra encontrar um jeito "científico" de conquistar a Janete? Hahahaha.

— Claro que não! — Respondeu Samuca, mas viu que não adiantava mais continuar negando, então acabou dizendo, ainda que muito baixo: — É só pra... tentar entender o que eu sinto por ela...

Ouvir isso só fez Joaquim rir ainda mais, então o irmão gêmeo falou:

— Eu não ligo se você ficar me zoando. Até porque eu sei você tá passando pela mesma coisa com a Sandy...

Agora ele conseguiu fazer as risadas de Joaquim sumirem.

— Até parece... — Disse este. 

Mas, assim como o irmão, viu que não adiantava negar, então não argumentou mais. Ao invés disso, como quem não quer nada (mas, no fundo, morrendo de curiosidade), perguntou o que Samuca tinha descoberto com a pesquisa.

— Sinceramente? Que nada faz sentido! — Foi a resposta do pequeno gênio. — Uma reação química que acontece no cérebro, mas afeta várias outras partes do corpo e tem a ver com a proximidade com uma pessoa específica? Eu juro que não consigo entender isso!

— Cara... se nem você que é o maior dos nerds consegue entender, imagina as pessoas normais?

Os dois ficaram um tempo refletindo sobre como o amor não fazia sentido, até que Joaquim falou:

— Mas por que é que ao invés de pesquisar esse monte de baboseira você não toma logo uma atitude com a tua mina?

— Ela não é "minha mina"... E eu sei que eu devia fazer alguma coisa, mas é difícil, porque eu não sei se ela gosta de mim desse jeito... e também não sei se eu tenho coragem...

— Que besteira!

— Ah, você fica falando de mim, mas também não toma nenhuma atitude com a Sandy!

— Acontece que o meu caso é diferente. A Sandy é uma menina muito... complicada, pra não dizer algo pior...

— Nossa, que exagero! Eu sei que ela tem a personalidade forte, mas vocês parecem tão de boa ultimamente...

— Isso é verdade, ela até tá rindo das minhas piadas, mesmo quando elas nem são tão engraçadas assim... Mas o problema é esse: tá tudo bom demais pra ser verdade, eu duvido que fique assim por muito tempo! Daqui a pouco ela surta comigo e a gente briga de novo, você vai ver!

— Não precisa ser assim se você não quiser...

— Ah, mas eu não posso controlar essas coisas. A nossa relação é assim, fazer o quê? Acho que as coisas iam ser mais fáceis se eu gostasse de uma menina mais tranquila... tipo a Bel, sei lá...

— Ah, de novo isso?

— Se bem que ela me deu um fora, né? Então talvez ela não seja tão tranquila assim... Sabe, um dia desses... eu vi ela conversando com a Sandy na escola, foi tão estranho!

— Elas são da mesma turma, não é nem um pouco estranho...

— Eu sei que não é estranho elas conversarem, mas foi estranho pra mim. Acho que eu tive a mesma sensação que os adultos têm quando veem a namorada atual e a ex-namorada deles no mesmo lugar...

Agora foi a vez de Samuca dar gargalhadas. Mas Joaquim continuava super reflexivo e perguntou retoricamente:

— Será que elas tavam falando de mim?

Quando conseguiu se recuperar do riso, Samuca disse:

— Que bom que o mundo não gira em torno de você, né? Então elas podiam estar falando sobre literalmente qualquer outra coisa!

Apesar desse final sem sentido, Samuca achou que foi uma conversa até bem produtiva. Joaquim tinha razão, não adiantava ficar fazendo um monte de pesquisas e não tomar nenhuma atitude. Então depois disso, sempre que tinha alguma oportunidade, Samuca elogiava Janete. Não fazia isso toda hora pra não ficar enjoativo, mas de vez em quando dizia que ela era muito inteligente quando estavam fazendo alguma coisa da escola ou quando ela dizia alguma coisa que o surpreendia; comentava como ela tocava e cantava bem quando estavam na gravadora ou fazendo alguma apresentação... essas coisas. Ela sempre parecia gostar dos elogios, mas também ficava com muita vergonha, toda vermelha. Em alguns momentos, Samuca pensava em dizer que ela também era muito bonita, mas não tinha coragem... E temia que ela ficasse com mais vergonha ainda. Talvez depois de um tempo ele conseguisse dizer isso...

***

Quando a casinha ficou pronta, os Cuecas e as Chiquititas decoraram ela com as coisas de que cada um mais gostava, foi ideia de Eleanora. Depois disso, Téo teve a ideia de fazerem uma festinha pra comemorar, então levaram comida lá pra cima e colocaram música. No mesmo dia, Clarinha chegou com a notícia de que o julgamento de Flora havia terminado e ela estava liberada para ficar com as meninas. Elas ficaram felizes, mas também um pouco apreensivas, principalmente Sandy. Os meninos desejaram sorte a elas e disseram que elas podiam voltar lá na casa da árvore sempre que quisessem. Era bom saberem que tinham uma espécie de refúgio caso as coisas não saíssem tão bem assim.

Quando arrumaram suas coisas pra saírem da casa de Clarinha, acabaram fazendo uma despedida muito dramática, pois as três achavam que a partir daquele momento a mulher não seria mais tão presente na vida delas, e haviam se apegado muito a ela. Mas Clara disse que não tinha por que ficar assim, ela continuaria vendo as meninas com frequência, assim como Davi. Isso as deixou bastante aliviadas!

Para a surpresa das Chiquititas, tia Flora havia conseguido alugar novamente o mesmo apartamento de antes, ainda que com a síndica ameaçando ficar de olho nela e denunciá-la se ela fugisse de novo. Não era muito bom voltar lá, aquele lugar trazia lembranças tão ruins... mas pelo menos elas tinham um lugar para morar e a tia estava se esforçando, pensaram Eleanora e Janete. Sandy, por sua vez, não conseguia esconder sua cara de insatisfação. Não só pelo apartamento e por ter que conviver com aquela síndica chata de novo, mas porque, por mais que tivesse se esforçado muito em querer aceitar a tia de volta, era mais difícil agora que estava acontecendo de verdade. É claro que as irmãs perceberam isso e entendiam o lado dela, mas tentaram motivá-la a se esforçar, não custava nada, afinal, se as coisas não dessem certo durante o período de experiência, elas não precisavam morar com a tia pra sempre.

Flora preparou um jantar para elas e estava muito bom, afinal, ela havia passado os últimos meses trabalhando como cozinheira. Janete e Eleanora começaram a fazer perguntas sobre o Vilarejo, mas Sandy não dizia nada. A tia já imaginava que teria mais dificuldade com a mais velha devido ao que ela disse quando se reencontraram. E estava com muito medo que a garota não a aceitasse nunca. Apesar de tudo, Sandy, seguindo o conselho das irmãs, acabou dizendo, depois de terminar de comer, que o jantar estava mesmo muito bom. Foi uma frase simples, mas Flora quase chorou de felicidade ao ouvi-la. Estava esperançosa, podia ser que as meninas realmente a quisessem de volta.

Mas a tia estava tão ansiosa por ficar com a guarda delas e passou tanto tempo carregando a culpa de tê-las abandonado, que acabou se esquecendo de como elas davam trabalho às vezes. Ela não imaginou que, logo na semana seguinte, teria que resolver um probleminha na escola. Sandy havia ficado de castigo depois da aula porque foi pega passando cola pra um colega na prova de História. Obviamente, esse colega era Joaquim, que estava desesperado porque esqueceu de estudar e implorou por ajuda, do jeito mais dramático possível. Sandy não queria fazer isso e até negou nas primeiras vezes em que ele pediu, mas acabou não conseguindo resistir aos olhos cachorrinho pidão do garoto. E se arrependeu amargamente depois disso.

A menina ficou com muita raiva de Joaquim. E, como se não bastasse, enquanto estavam no castigo, ele ficou entediado e começou a jogar aviõezinhos de papel pela sala. Quando um deles "pousou" na cabeça de Sandy, a paciência da menina se esgotou de vez. Ela rasgou o avião e começou a gritar com o menino, que ainda teve a audácia de dizer que a culpa era dela, que não sabia disfarçar quando tava passando cola. Pra completar, os dois ainda levaram mais uma bronca da professora por terem sujado a sala.

Quando foi buscar Sandy na escola, Flora não sabia o que fazer. O certo seria brigar com ela, mas não tinha coragem de fazer isso depois de deixar a menina por 6 meses sem a supervisão de nenhum adulto... Então as duas ficaram em silêncio durante quase todo o caminho pra casa, Sandy com cara de ódio e Flora muito preocupada. Quando já estavam quase chegando no prédio, a tia finalmente disse:

— Então você... tava colando na prova?

— Eu não tava colando, tava passando cola. E eu já me arrependi, se é o que você quer saber. Não vou fazer isso nunca mais!

Bom... menos mal. Talvez Flora não precisasse dar nenhuma bronca, mesmo, já que a menina já tinha aprendido a lição. Mas essa grosseria dela... enfim, era melhor não dizer mais nada, ela estava visivelmente chateada. Mas Janete e Eleanora não hesitaram em dizer alguma coisa, acharam um absurdo o que a irmã fez! Ela devia saber que haviam maneiras muito mais fáceis e eficazes de mostrar que gosta de alguém do que ajudando a colar na prova, né?

***

Quem levou bronca do pai foi Joaquim. E também ficou de castigo. Não podia sair de casa (a não ser pra ir à escola) até que as provas acabassem, nada de televisão, videogame, internet etc., quer dizer, Davi o deixou usar a internet naquele dia apenas para mandar uma mensagem pedindo desculpa pra Sandy, que havia sido prejudicada por causa dele. É claro que ela também tinha culpa, mas quem estava sob a responsabilidade de Davi era Joaquim, então só os erros deste foram apontados.

Mas o castigo não parava por aí: se o menino não tirasse notas acima da média em todas as provas, ele não ia participar do show de Dia das Crianças que as bandas iam fazer. 

— O QUÊ?! — Exclamou Joaquim, indignado, quando ouviu isso. — Mas a gente nunca mais fez um show que não fosse no orfanato e a banda não pode tocar sem mim, eu sou a estrela principal!

Davi olhou com cara de reprovação, pois não gostava quando Joaquim ficava se achando melhor do que os outros, então o menino tratou de concertar a frase:

— Quer dizer... nós três somos importantes, até porque não dá pra ter uma banda só com duas pessoas!

— Isso não é problema, as Chiquititas também vão estar lá, vai ser como uma banda de 5 pessoas...

— Isso não é justo!

— Sabe o que mais não é justo? Tirar nota alta colando na prova.

Davi, então, pediu que Samuca e Téo fossem ajudar Joaquim a estudar pra próxima prova e os dois, quando chegaram no quarto, viram que ele olhava para o celular com cara de desespero.

— A Sandy não responde a minha mensagem! — Ele contou o porquê, sem que os irmãos precisassem perguntar. — Será que o Davi vai aumentar o meu castigo se ela não aceitar o meu pedido de desculpa???

— É só com isso que você tá preocupado? — Perguntou Samuca, indignado.

— Pois é, o que você fez foi muito feio, Joaquim! — Disse Téo.

Joaquim revirou os olhos e disse:

— Olha aqui, eu já ouvi sermão do Davi, da professora e até da Sandy! Não precisam perder o tempo de vocês com isso, tá?

— Por que você pediu cola pra ela? — Samuca voltou a fazer perguntas, ignorando o comentário do irmão. — Você tava se aproveitando porque ela gosta de você, né?

— Não foi nada disso! Eu até pensei em pedir pra um de vocês, mas eu sei que vocês são muito certinhos e não iam concordar, então ela era a minha única opção...

— E estudar pra prova não era uma opção?

— Ai, Samuca, não enche!

— Que mancada, Joaquim! — Téo falou com um tom de decepção na voz. — Logo agora que você tava bem perto de ter alguma chance com a Sandy, faz uma coisa dessas...

Os gêmeos olharam intrigados pra Téo, que disse:

— O que foi? Vocês acham que eu não percebo essas coisas? Tomara que ela aceite as suas desculpas!

— É melhor a gente começar a estudar, né? — Por incrível que pareça, essa frase foi dita por Joaquim e eles realmente foram estudar.

A verdade é que ele havia mesmo se aproveitado do fato de que Sandy andava muito "boazinha" com ele. Mas estava arrependido. E, no fundo, tinha um pouco de medo de que, se ela sentisse alguma coisa por ele, esse sentimento tivesse sido superado depois do que ele fez... Mas, por outro lado, essa possibilidade o deixava até um pouco aliviado, já que ele morria de medo desses sentimentos. Enfim, era tudo muito confuso na cabeça e no coração de Joaquim. Amar alguém parecia uma coisa muito complicada pra um menino de 12 anos... Pelo jeito, a conclusão da pesquisa científica de Samuca estava certa: nada fazia sentido.


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Notas finais do capítulo

Ai, ai, esses 2 não têm jeito, né? Kkk



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