Sede de Poder escrita por Mermaid Queen


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

reescrevendo e repostando aos poucos. sempre tentando lapidar kkkkkkkk



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Ao fim das aulas da manhã, Katherine e David chegaram famintos ao salão do refeitório. Era tudo muito diferente da escola a que eles estavam acostumados, começando pelo fato de que ali eles serviam a própria comida. Katherine achava aquilo esquisito. Em Albert Einstein, seria implorar para alguém colocar laxante no almoço da escola toda.

Eles recebiam olhares curiosos das pessoas do refeitório, típico de uma escola pequena que não estava acostumada com alunos novos, mas nada muito chocante. Pelo menos ainda não haviam descoberto que eram filhos de Ellen Brown. Ou, com um pouco de sorte, não se importavam. Eles mesmos provavelmente encaravam mais do que os outros.

Todo mundo parecia um pouco sombrio. Não porque estavam só de preto, mas porque pareciam diferentes. Não eram pessoas normais de jeans e camiseta, mas Katherine não sabia identificar o que havia de anormal. Como se a faculdade de moda e The Cure tivessem tido um filho.

Katherine se dirigiu com a bandeja para uma mesa vazia, de canto, colada na parede, mas David puxou o braço dela para levá-la para a mesa que ele queria, no meio do salão.

— Não encosta em mim – Katherine sibilou. – E não podemos nos sentar aqui. Você não é ninguém nessa escola, David, não adianta querer usar seus privilégios de popularidade aqui.

— Não sei do que você está falando, Katherine – David respondeu, analisando as mesas. – Mas confie em mim. Não teremos problema.

Katherine começou a segui-lo em direção à mesa que ele queria, já sentindo os olhares. É claro que ele não entendia, David sempre estivera no topo. Ela tentou convencê-lo de novo.

— David, você tem só um amigo aqui e sou eu – disse Katherine, quando ele soltou a bandeja na mesa e se sentou. – Olha só a cara das pessoas em volta esperando uma humilhação no refeitório. Era você quem faria essa humilhação se alguém se sentasse na sua mesa, e agora somos nós que estamos sentando na mesa de outra pessoa importante!

— Katherine – David a interrompeu, sentando-se à mesa. – Não estamos roubando a mesa de ninguém. Fica na sua, é só confiar em mim.

Katherine abriu a boca para rebater, mas alguém atrás dela a interrompeu.

— Vocês estão na minha mesa.

— Você escolheu justo a mesa da rainha da escola – murmurou Katherine para David, incrédula. – Eu te odeio. Sério.

A garota andou a lateral da mesa e cruzou os braços. Katherine a admirou, quase hipnotizada. Ela tinha a cara universal de uma rainha da escola, de uniforme de líder de torcida e duas garotas atrás que a seguiam para todos os lados, embora usasse um pesado delineador e tivesse a energia de uma Mortícia Adams de dezoito anos.

— E então, morceguinhos – disse ela, olhando de David para Katherine. – Estou vendo que são novos. Fiquem fora do meu caminho, e eu não vou aparecer nas sombras de vocês.

Katherine olhou para ela com uma careta. Sombras e morcegos? Que tipo de escola bizarra era aquela? Faria sentido se Ellen tivesse mandado Katherine para um internato de adolescentes rebeldes, mas David?

— Morceguinhos? – David, debochou, embora a tivesse analisado da cabeça aos pés.

Ela olhou para ele com os olhos apertados, provavelmente pronta para ameaçar prendê-lo num caixão ou algo do tipo, mas algo fez a expressão dela clarear e se suavizar.

— Eu sou Melanie – ela se apresentou, e ergueu o celular. Alguns poucos segundos encarando a tela já bastaram para que um sorriso de satisfação surgisse no rosto dela. – E você deve ser David. O prazer é todo meu.

Melanie se sentou na mesa, com a bunda perigosamente perto do prato de Katherine, e estendeu a mão para David. Um sorriso de malícia surgiu no rosto dele.

Katherine olhou em volta, definitivamente envergonhada, mas as pessoas nem estavam mais olhando para eles. Mas um outro garoto cruzava o salão, indo na direção deles com a testa franzida.

— O que eu tenho que fazer para você surgir nas minhas sombras? – perguntou David, ignorando completamente a existência de Katherine.

— Meu Deus? – Katherine falou, completamente constrangida.

— Que tal um tour particular? – sugeriu Melanie, jogando o cabelo para o lado. – Começando pelo quarto 12.

Ficar de vela nem sempre era tão ruim, especialmente se fosse para Rachel, já que ela não podia contar à mãe que saía com garotas. Katherine já havia feito e faria de novo pela amizade sem pensar duas vezes. Mas ali ela estava sendo testemunha enquanto David e Mortícia Adams marcavam uma transa. E não tinha nem amizade, nem irmandade envolvidas.

— Fala sério – Katherine resmungou, levantando-se da mesa. – Isso é ridículo. Estou fora.

Ela se virou para sair, e trombou de frente com o outro cara que antes estava atravessando o salão. Ele nem pareceu percebê-la, porque estava com os olhos fixos em Melanie. Katherine só saiu da frente dele, sentindo-se completamente invisível.

— É ridículo mesmo – exclamou ele, segurando o ombro de Melanie. — Que porra é essa, Melanie?

Katherine arregalou os olhos, junto com o resto dos alunos espalhados nas mesas próximas. Ela olhou para o garoto, tentando entender o que estava acontecendo. Ele parecia até familiar, mas era difícil saber enquanto ele estava com aquela cara de surtado.

— Aí, cara – David interveio, erguendo as mãos no ar. – Não fala com ela desse jeito. Pode ir tirando a mão.

O garoto voou sobre a mesa e agarrou a gola da camiseta de David, puxando-o. Foi tudo assustadoramente rápido. Então ele pareceu desistir, e largou David de novo. O rosto dele estava vermelho. O de David também, na verdade.

Katherine ficou olhando os dois com os olhos arregalados. Queria sair de perto para não se envolver na confusão, mas não conseguia mexer os pés. Aquilo era muito impressionante.

— Estou fora – disse o garoto, parecendo meio humilhado. Pela cara dele, estava segurando o choro. – Pode continuar o que estava fazendo.

— Vai terminar comigo só por causa disso? – perguntou Melanie, com as sobrancelhas erguidas. Havia uma teia de aranha desenhada com delineador ao lado da sobrancelha, e a teia se enrugou. – Evan, fala sério.

Katherine arregalou os olhos de novo, olhando para David, que também olhou para ela com os olhos arregalados, mas ele claramente estava se divertindo.

— Só por causa disso? – repetiu Evan, com a voz meio aguda. Ele estava indignado. Com razão, pelo pouco que Katherine vira da situação.

Ele não se deu ao trabalho de continuar a discussão. Só ajeitou a jaqueta de couro – que parecia ser o uniforme daquela escola, além das roupas com alfinetes e alguns cabelos tingidos – e foi em direção às escadas, completamente derrotado.

— Uau – murmurou Katherine. Ela pegou a bandeja e se afastou da mesa sem dizer mais nada.

— É , uau mesmo! – repetiu Evan, gritando e olhando para ela.

Pelo menos ela e Evan saíram ao mesmo tempo e para direções opostas, e ele atraiu a maioria dos olhares.

Katherine encontrou uma mesa de piquenique no gramado, sob a sombra de uma árvore. Estava se sentindo em uma piada de mal gosto, já esperando que revelassem as câmeras.

— Fala sério – resmungou ela, olhando para a comida. – Parece que eles são tão loucos quanto eu.

— Boa tarde, Katherine.

Ela se assustou e ergueu os olhos. Era Jack quem a havia cumprimentado.

— Como você está? Onde David está?

Katherine franziu as sobrancelhas.

— Isso aqui é algum tipo de reformatório?

Jack pareceu não entender a pergunta.

Faria sentido se fosse um reformatório Era afastado e discreto para as famílias ricas com filhos problemáticos.

Tipo exatamente o caso de Ellen.

— Não parece normal – insistiu ela. – Onde estão os caras com jaqueta de time? E as garotas com roupa de academia? Os nerds! Os nerds definitivamente estão faltando.

Isso sem mencionar o óbvio, que eram os góticos por toda parte.

— O pessoal é só meio diferente – disse Jack, sorrindo. Um sorriso plástico e esquisito. – Mas olha aí você entrando no espírito!

Ela olhou para baixo, onde Jack apontava sua camiseta preta.

— Tá. Entendi – respondeu Katherine, desistindo.

Jack fez de novo aquela cara de sorriso amarelo desconfortável e assentiu com a cabeça.

— Se não precisar de mais nada agora, vejo você depois do almoço. Vá com o seu irmão àquela sala no corredor perto do estacionamento, é onde vocês vão pegar o material para as aulas da tarde. Como foram as aulas da manhã?

Katherine deu de ombros.

— Foi legal.

Jack sorriu e acenou, afastando-se. Katherine ficou olhando fixamente para ele, porque ele acabara de mentir. Ela não sabia como, nem por quê. Mas Jack mentira e havia praticamente uma voz na cabeça dela dizendo isso.

Aquilo era uma droga. Ser paranoica era uma droga.

A intuição dela não costumava funcionar bem. Aliás, isso era praticamente um elogio. Ela estava o tempo inteiro criando essas narrativas esquisitas na própria cabeça, e depois não sabia mais em que acreditar. Tipo o cheiro das flores que estavam no quarto. Ela simplesmente assumiu que era o meio cheiro da noite em que tivera a visita estranha do que quer que fosse aquilo, mas Katherine poderia facilmente ter associado o cheiro à lembrança e se convencera da história toda.

E ela nunca sabia em que acreditar.

Era muito difícil não poder confiar em si mesma.

Irritada consigo mesma e sentindo-se um pouco derrotada, Katherine se levantou e foi em busca de David. O horário do almoço já estava acabando e precisavam ir buscar os materiais.

Ela não se surpreendeu quando viu David ainda sentado com a Mortícia Adams, apesar de ter ficado um pouco chocada com a naturalidade. Ela devia ser completamente maluca. O namorado dela terminou com ela na frente da escola inteira enquanto ela dava em cima de outro cara, e ali estava ela conversando naturalmente como se nada tivesse acontecido.

Katherine pensou que se Perséfone existisse, seria a cara dessa garota. Tinha uma energia de rainha do submundo, e um ar natural de superioridade e elegância.

Do que eu estou falando? Mitologia grega?, pensou Katherine, indignada com ela mesma.

— Oi – interrompeu ela, querendo chamar atenção. – Com licença. O Jack quer falar com a gente.

Melanie olhou para ela, depois para David, e olhos dela pareceram brilhar de compreensão súbita. Ela sorriu.

— Precisa ser agora? – David reclamou. – Eu estou no meio de uma coisa.

Katherine abriu a boca para reclamar, mas Melanie falou primeiro.

— Pode ir. Nós podemos conversar mais tarde.

David deu de ombros e olhou para Katherine, que ficou um pouco surpresa.

— Até mais tarde então, Mel – disse ele, e piscou para ela antes de se levantar.

Quando já estavam se afastando pelo salão, Katherine falou:

— Mel? Para a garota que estava planejando trair o namorado com você?

David abriu um sorriso levado, como se tivesse sido pego no flagra. Pensando bem, ele havia sido pego no flagra.

— Tecnicamente, planejar trair já é trair. Você está julgando os amantes?

Ela apertou os olhos para ele.

— Bom, não todos os amantes. Só você. E como está Emma? Sabe, a sua namorada?

— Ah, Emma? – perguntou David, com a voz carregada de sarcasmo. – Está ótima. Estamos morrendo de saudades um do outro.

Katherine revirou os olhos.

— Eu e Emma ficávamos enquanto ela ainda estava com Austin. O que você espera que aconteça quando uma pessoa trai o namorado para ficar com você? Você não acha que ela está na janela chorando por mim, né?

— Longe de mim querer defender Emma, é claro – começou Katherine. – Mas todos os seus relacionamentos serão um lixo se você ficar pensando assim.

— Eles já são um lixo – respondeu David, ainda irônico. – Tipo, dã!

— Porque você sempre começa errado!

— Tá, Katherine – David disse, como se estivesse se dando por vencido. – Vou mandar uma mensagem para a sua amiga Emma mais tarde.

Katherine revirou os olhos para a piadinha. David não só começava errado, como também terminava errado. Que tipo de idiota terminaria por telefone?

Ela ainda olhava para David como se ele fosse um animal selvagem quando Jack abriu a porta da sala no corredor para eles. Bizarro como sempre, porque ela nem teve a chance de bater na porta, mas ela não disse nada sobre isso. Ainda estava com aquele sentimento estranho de que Jack mentira para ela no almoço.

A sala em si não tinha nada demais, além de uma estante com livros e uma mesa e cadeiras. Parecia mesmo um escritório normal. No canto havia umas caixas com mais livros. Era perfeitamente um lugar sem graça para receber os pais dos estudantes e garantir que aquela era a escola perfeita para eles.

Jack se sentou à mesa, de frente para eles, e fez um gesto para que se sentassem também.

— A gente tem aula agora – disse Katherine.

— É, pra que sentar? Precisamos só pegar os livros. – David concordou.

— Precisamos conversar sobre algumas coisas antes de vocês irem para a aula – explicou Jack, soando impaciente.

Katherine olhou para David com surpresa, então obedeceu e se sentou. Achou que aquela era a primeira bronca oficial depois dele descobrir que os dois causaram tumulto no almoço. Bom, a culpa havia sido toda de David, pelo menos. David retribuiu o olhar de surpresa, mas somente encolheu os ombros e se sentou também.

— Vocês sabem como funciona o processo de seleção dessa escola? O que você tem que ter para estudar em Broken Hill?

O tom de Jack era um pouco introdutório, e Katherine olhou para ele com descrença. Naquele ritmo, dali a pouco Jack os colocaria para assistir um vídeo chato sobre o quanto a escola era incrível. Ela balançou a cabeça negativamente.

— Precisa ser rico? – sugeriu David.

— E gótico – complementou Katherine.

Os dois riram.

— Tem que ser motoqueiro também – David continuou, empolgado com a piada, mas Jack ergueu a mão e os interrompeu.

— Para estudar aqui, não importa a sua condição financeira. Mas a sua família importa, de certa forma – disse Jack, tentando escolher as palavras.

Katherine queria que ele andasse logo com aquilo. Ela odiava aquele papo de família, e odiava mais ainda quando alguém se achava parte de uma família importante. Como se alguém ligasse para qual empresa o seu avô é dono.

— Não sei como preparar vocês para isso. – disse Jack, juntando as mãos sobre a mesa. Ele parecia nervoso e gesticulava bastante. – Mas isso é tudo sobre vampiros. Vampiros são reais. Eles convivem com os humanos desde eras ancestrais, e hoje em dia nós os reunimos para que possam desenvolver suas habilidades, e para evitar acidentes também. E é por isso que vocês estão aqui.

Katherine respirou fundo, tentando entender o que ele estava dizendo.

— Vampiros? – foi tudo o que ela conseguiu dizer.

— Está dizendo que nós somos “reunidores” de vampiros? – perguntou David, fazendo aspas com as mãos. Ele estava achando graça.

Jack piscou demoradamente.

— Não, David. Estou dizendo que vocês são vampiros.

Katherine levou a mão à nuca, em busca da cicatriz. Agora eram duas cicatrizes. Eram uma prova suficiente de realidade? Ela não sabia. Não podia confiar em si mesma. Olhou para David, e ele a olhava de volta, completamente confuso. Ela respirou fundo.

— Isso é um teste? – perguntou ela, séria. – Estão me testando para saber se eu tenho delírios? Se eu acredito mesmo nisso?

Ela começou a vasculhar as paredes e o teto, em busca de câmeras. Jack estava boquiaberto, olhando de um para o outro. Ele provavelmente esperava uma reação um pouco diferente dos enteados.

— Do que você está falando, Katherine? – perguntou David, confuso.

— Eles querem me internar numa clínica psiquiátrica – Katherine explicou, sem paciência. Estava à beira das lágrimas, acompanhada por uma forte palpitação. Até sentia os músculos rígidos. – Eu achava que só a mamãe queria, mas pelo visto Jack também está nessa.

— Se ele quer ver se você é maluca o suficiente para acreditar nisso… — David pensou. – Por que eu estou envolvido também? Não sou doido.

Ela lançou um olhar acusatório para Jack antes de continuar.

— Pensei que era Broken Hill ou clínica, mas acho que eu nunca tive opção. Quer dizer, a minha única segunda opção era morrer, e nem isso vocês querem me deixar fazer.

David olhava para ela com os olhos mais arregalados do que quando Jack falara sobre vampiros.  Jack parecia tão surpreso quanto ele, mas se recompôs e falou:

— Se você não acredita em mim, talvez acredite nisso.

E então ele sofreu algum tipo de transformação bizarra. As pupilas a princípio se dilataram, mas depois cresceram e a mancha negra se expandiu para além da íris. E os dentes cresceram e se projetaram, tornando-se uma visão animalesca. E por fim ele rosnou, um som assustador que parecia vir do fundo da garganta.

Katherine olhou para David, querendo saber se ele via o mesmo que ela. Quando confirmou, os dois saltaram das cadeiras ao mesmo tempo e tentaram fugir.

Mas, quando se viraram, o monstro já estava lá bloqueando a porta.

Como?— berrou Katherine, olhando em volta.

— Não tem saída – gritou David. – A gente vai morrer!

Katherine soltou um berro agudo e olhou na direção da pequena janela no topo da parede.

— A GENTE VAI MORRER – David repetiu.

— Crianças! Chega, já acabou!

Era a voz normal de Jack. E ele estava com a aparência normal agora, mas isso só fazia dele um pouquinho menos assustador.

— Não vou machucar vocês – disse ele, erguendo as mãos em sinal de rendição. – Nem te internar, Kate. Eu prometo.

O que foi isso?— berrou David, olhando para Jack com os olhos arregalados.

Katherine ainda estava completamente em choque, mas pelo menos agora ela sabia que não estava tão maluca assim. Não tinha como aquilo ter sido uma alucinação.

— Isso não foi uma alucinação, né? Você viu também – disse ela para David, para confirmar.

— Doida. Você é maluca – ele respondeu, ainda apavorado.

Quando Jack deu um passo à frente, eles recuaram. Mesmo que Katherine estivesse olhando nos olhos dele, era instintivo se afastar.

— Eu precisava convencê-los de algum jeito – explicou ele, encolhendo os ombros. – É tudo real.

David cobriu o rosto com as mãos, e Katherine achou que ele fosse gritar. Ou que ele estivesse tendo um colapso nervoso. Ele permaneceu nessa posição por longos e desesperadores cinco segundos, depois respirou fundo e falou:

— Você deu esse susto em todos os alunos dessa escola?

Um riso de nervoso subiu pela garganta de Katherine, mas ela o sufocou. Olhou para Jack, ainda temerosa, e o encontrou com outra expressão de surpresa.

— Eu… - começou ele, tentando responder à pergunta inesperada. – Não são todos os alunos que chegam aqui completamente no escuro. Muitos deles são criados em famílias de vampiros. Famílias tradicionais do nosso mundo oculto.

— O mundo oculto dos vampiros na Flórida – Katherine debochou, fazendo piada para se acalmar. – Muito místico mesmo.

David começou a rir e Jack revirou os olhos com um sorriso.

— E essa conversa de família significa que algum familiar nosso foi um vampiro? – perguntou David. – Tipo o papai?

Katherine apertou os lábios e olhou para Jack. Ele pareceu hesitar para responder.

— Bem, sim – disse ele. – Tipo o seu pai.

Os olhos de David brilharam com a informação. Katherine se mexeu, desconfortável. Era sempre desconfortável falar do pai.

— E os vampiros… - começou ela, querendo mudar de assunto. – Eles…

— Nós – corrigiu Jack.

Nós… temos alguma função? Tipo, nós temos inimigos? Protegemos alguma coisa?

David soltou uma risada debochada.

— Katherine joga RPG até demais!

— Os únicos inimigos dos vampiros são os próprios vampiros, Katherine – disse Jack, ignorando David. Uma sombra surgiu no rosto dele quando ele começou a falar – Temos o nosso próprio governo e nossas leis, como os humanos. Mas o vampiro é o lobo do próprio vampiro.

Katherine sorriu, entendendo o que ele queria dizer. Talvez não tivesse entendido tudo, pois Jack se referia a algo a mais que o perturbava profundamente. Mas ele também sorriu, e a sombra foi embora.

— E a minha mãe sabe? – David perguntou.

Jack encolheu os ombros.

— Bom, não.

Katherine arregalou os olhos.

— E quando pretende contar para a minha mãe que ela dorme com a porra de um vampiro?

— E que ela foi casada com um – acrescentou David.

— E que casou com outro.

Depois de um suspiro, Jack explicou:

— Não posso. Nenhum de nós pode. É uma das principais leis da nossa comunidade. Quem viola o segredo está sujeito a sofrer a pena de prisão.

— Só isso? Prisão? – perguntou Katherine. – Achei que vocês tivessem coisas mais sinistras no mundo oculto. Tipo tortura eterna ou morte. Uma semana de caixão com pregos.

— Nós não somos animais – respondeu Jack, franzindo as sobrancelhas. – E isso foi uma conquista. Nós também temos eleições. E protestos. Muita coisa mudou desde o Empalador.

David ergueu as sobrancelhas e olhou para Katherine, encontrando-a tão impressionada quanto ele.

— E o que mais vocês têm de lei? – perguntou ele, genuinamente curioso.

Jack olhou para o teto. Katherine não sabia se ele estava tentando pensar ou se só estava irritado com as perguntas. Talvez os dois.

— Nós… vejamos… Bom, assassinatos são proibidos, tanto de humanos quanto de vampiros…

— Vocês são vampiros e não matam pessoas? – David interrompeu de novo.

Katherine também estava curiosa sobre isso, mas não estava falando porque sabia que David estava irritando Jack.

— Nós compramos sangue – respondeu ele, dando de ombros. – Como as pessoas pagam por ele quando fazem cirurgias, sei lá. Vocês perguntam demais. Não somos como os vampiros ancestrais, podemos controlar os impulsos, e até os impulsos são menores. Hoje, não precisamos nos alimentar exclusivamente de sangue. Sofremos muita evolução.

David abriu a boca para questionar, mas Katherine olhou para ele, querendo repreendê-lo. Ele pareceu entender e calou a boca.

Isso sim era uma coisa nojenta. A história dos vampiros até que estava descendo, mas beber sangue ainda era uma questão… questionável? Katherine fez uma careta ao imaginar. Torceu para que aquela evolução toda a tivesse feito sem vontade de beber sangue.

— Também é proibido morder – disse Jack, com o dedo no ar como se fosse um aviso. – Pena de multa ou até prisão. Se alguém sugerir que vocês se mordam, vocês têm que se recusar.

Katherine olhou para David e o encontrou de volta fazendo careta.

— Isso é ridículo – David questionou. – Você tem esses dentes pra quê, então? Picar gelo?

— Fala sério – concordou Katherine. – Ele está mentindo. Por que você está mentindo, Jack?

A testa e as orelhas de Jack ficaram vermelhas, que era o jeito engraçado que ele ruborizava. Ele precisou respirar fundo antes de responder.

— Olha, prestem atenção – avisou ele, sério. – Essa lei realmente existe, mas é dessas leis que ninguém segue. Mas existe um motivo para que seja uma lei.

— Então fala! – insistiu Katherine, impaciente com o suspense.

— A mordida cria um Laço de Sangue – começou ele, ainda com a voz séria. – Esse Laço torna as duas pessoas dependentes uma da outra, e elas podem compartilhar emoções e sentir as coisas com mais intensidade. A hipnose é mais fácil quando se tem um Laço de Sangue.

Katherine apertou os olhos para Jack. David cruzou os braços.

— Isso parece muito legal – disse David. – Por que é ruim?

Jack revirou os olhos.

— Não vou ficar discutindo com você sobre as implicações desse Laço num ambiente aberto e desprotegido e o porquê disso ser uma Lei. Mas os jovens ficam criando Laços de Sangue o tempo todo como se fossem tatuagens de henna! Não façam isso. Pela sua cara, David, provavelmente você vai fazer com a primeira pessoa que encontrar no corredor, mas não venha reclamar do relacionamento abusivo para mim depois.

— David reclamando de relacionamento abusivo! – exclamou Katherine, rindo. – Ele não saberia o que é um relacionamento saudável nem se batesse na cara dele.

— Você tem experiência com relacionamento saudável, né? – retrucou David.

Katherine fechou a cara. Mas ela achava que tinha merecido.

— Não vou ficar conscientizando vocês sobre o Laço de Sangue. É igual camisinha, não vou ficar gastando saliva para convencer vocês a usarem.

Os dois ergueram as sobrancelhas para ele sem dizer nada.

— Se vocês não têm mais com que me perturbar – disse Jack, fazendo um gesto para a porta. – Já podem ir para a próxima aula. A primeira acabou de acabar. Não esqueçam os livros.

Ela pegou os livros separados e saiu da sala, depois de acenar para Jack. David estava andando junto com ela, mas se separaram para as aulas diferentes. De repente, Katherine se lembrou do acontecimento bizarro em seu quarto, e pensou em voltar para perguntar para Jack. Agora sim ela podia encontrar uma explicação para o invasor fantasma, já que vira Jack desaparecer e reaparecer da mesma forma que o invasor fizera.

No entanto, depois de dar alguns passos na direção do pequeno escritório, desistiu e voltou à rota inicial. Eles já haviam perguntado demais, e Jack devia estar cansado.

Quando deu meia volta, trombou de frente com alguém que vinha da outra direção. Quase foi jogada com a pancada, mas deu um passo para trás e se apoiou.

— Desculpa – disse ela. – Foi minha culpa.

Quando olhou para o rosto dele, viu que era o garoto do almoço. O namorado ou ex-namorado de Melanie, ou o que quer que fosse. Imediatamente, o rosto de Katherine ficou quente.

— Desculpe pela pancada, foi meio forte. Deve ter doído. Mas é você que está aí andando para lá e para cá no meio do caminho – brincou ele. – Está tudo bem?

— Está tudo bem – disse ela rapidamente. – Foi mal.

Sem esperar pela resposta, ela baixou a cabeça e saiu andando na direção inicial. Não ia ficar ali conversando com o cara depois de David ter sido um destruidor de lares. Ele provavelmente nem devia ter percebido que era ela.

Katherine levou a mão ao celular diversas vezes para contar as novidades a Rachel, mas depois lembrava que não podia contar o que ela mais queria. Por fim, acabou mandando mensagens sobre o espetáculo de David no almoço, porque Rachel adoraria saber disso.

Queria contar que acabara de trombar com um vampiro. E que dividia quarto e frequentava salas de aula com vampiros. E, bem, que agora Rachel trocava mensagens com uma vampira.


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Notas finais do capítulo

é isso, meu amigo disse que os vampiros são uma grande igreja evangélica



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