Black escrita por morisawa


Capítulo 6
Lycoris Black


Notas iniciais do capítulo

Eu realmente amo escrever sobre personagens assexuais, mesmo que eu não acho que sou tão bom em desenvolvê-los ♥

Boa leitura.



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Lycoris sentou na grama que estava gélida por causa da chuva á poucos momentos atrás, e respirou fundo. O vento fraco fazia seus fios curtos e pretos, que batiam em sua nuca, esvoaçarem levemente, como se levassem toda a dor e tristeza que a jovem guardava dentro de si. Semicerrou os olhos, observando o pôr-do-sol acontecer. As montanhas faziam tudo ficar mais mágico, e Lycoris sentiu seu peito esquentar apenas de ver a estrela esconder-se lentamente atrás delas. Era uma cena encantadora, qual Lycoris adorava apreciar. Poderia passar o dia inteiro, talvez até dois, falando sobre o quanto aquilo tudo era magnífico, mas não tinha com quem – e mesmo que tivesse, sabia que seria entediante e chato para a outra pessoa.

Cruzou os braços, com frio, tentando esquentar seu corpo. A jaqueta velha de seu pai estava piorando a sua situação, em vez de ajudar. Embora Lycoris adorasse tanto ela que nunca tirava, seria mentira se não admitisse o quanto gostaria de uma mais grossa naquele momento. Os últimos vestígios de verão pareciam serem levados juntos com o sol, deixando apenas o outono tomar conta de tudo. Respirou fundo novamente, em uma tentativa falha de se acalmar. Gostaria que o sol levasse também seus problemas, preocupações e sua família inteira. A maldita família Black, que vivia cochichando e resmungando sobre ela já estar na casa dos trinta e nunca ter sequer namorado uma única vez em toda a vida. Lycoris não entendia o motivo de tanta preocupação; “Ah querida, a beleza não dura para sempre! É melhor arranjar um homem logo ou ninguém irá te querer”, “Você está trazendo vergonha para a nossa família. Gostaria de acabar com o legado dos Black, é isso?”. No fundo, ela adoraria vê-lo explodindo, mas sabia que o fato de serem todos da Sonserina – até mesmo Lycoris era, e orgulhava-se desse fato – tornava-os cautelosos demais para correrem um risco tão grande.

E a circunstância de estar sozinha não era inteiramente culpa de Lycoris. Ela havia tentado. Seu primeiro beijo tinha acontecido no sexto ano, por uma brincadeira infantil de seus colegas, com o garoto que mais admirava na escola. O problema tinha começado logo ali, no banheiro feminino vazio. Ela admirava-o, sua inteligência e sensatez – o garoto da Corvinal, aparentemente, nutria sentimentos maiores – e era exatamente por esse motivo que não tentou algo mais, não antes desse pequeno incidente. Admirava-o, não amava. Ele até que não era ruim no beijo, embora para Lycoris fora a pior experiência de sua vida. Por um bom tempo pensou que era apenas por ter sido seu primeiro beijo, mas no sétimo ano, percebeu algo errado com ela. Em quase sete anos, ninguém havia despertado um sentimento mais... “forte”, intenso, nela. Lycoris nunca havia sequer se masturbado! Na verdade, um dia já tentara, e fora horrível. Doera e não tinha conseguido ficar molhada, por mais que já tivesse lido dezesseis pornôs diferentes! E tudo de suas amigas que tiveram que emprestarem. Lycoris não tinha um gosto para isso, não era algo bom, mas ela nunca admitira para ninguém – seria vergonhoso pensarem nela como alguém “quebrada”, como seus parentes diziam. Depois de várias páginas com garotos diferentes fazendo coisas obscenas, havia parado para refletir. E se gostasse de garotas? Era melhor do que não gostar de nada, Lycoris achava. No final do sétimo ano, depois de ficar tentando todos aqueles meses nutrir um sentimento por alguém – qualquer um mesmo! – ela finalmente convidou uma garota para sair. Uma lufana que Lycoris pensava gostar de verdade. Fora um encontro rápido, sem muito falatório e bate-papo – as duas queriam ir logo ao ponto – e no final, acabaram no dormitório feminino da Lufa-Lufa. Fora uma nova experiência para ela, seja pelo fato de estar beijando uma garota ou de estar na Lufa-Lufa, ou os dois juntos. Porém, por mais que Lycoris tentou ao máximo, nada que a menina fizesse conseguia “acendê-la”. Por fim, ela havia voltado para o dormitório da Sonserina triste por nada ter ido como planejado. Fora péssimo o sentimento de insatisfação. Lycoris era realmente a aberração que sua família chamava-a. Como viveria uma vida sozinha? O pensamento assustava-a. Gostava de companhia, apenas não gostava de... sexo. Ela sempre fora estranha, não era novidade, mas aquilo parecia ter ultrapassado os limites.

Ao terminar Hogwarts, Lycoris decidiu viajar. Viver uma nova vida, recomeçar do zero, conhecer novas pessoas e novos lugares. Talvez até se apaixonasse, quem sabe! Havia ficado noves anos, quase dez, sem nenhum contato com os outros Black e, até aquele momento, tudo estava ótimo. Tinha se mudado para uma cidade desconhecida, adotado três gatos, uma coruja, dois cachorros e sua vida parecia totalmente perfeita. Tinha vizinhos maravilhosos, conhecia todos na cidade e trabalhava em uma livraria. Realmente, era uma maravilha até receber uma carta e se lembrar de que sua vida ainda estava incompleta. Não havia arranjado um marido, tampouco um namorado, e seus irmãos já tinha casado! Era um convite para uma reunião em família, aparentemente importante. Mas Lycoris sabia que, se fosse para o tal jantar apenas se sentiria pior do que já estava quando havia lido a carta.

Talvez fosse por isso que ela estivesse ali, no meio de uma densa floresta, em um local mais alto observando o crepúsculo vespertino. No dia da almejada reunião, refletindo sozinha. Era uma mulher formada, independente e feliz de seu próprio modo. Não precisava de um marido, menos ainda relações íntimas, e não seria obrigada por desconhecidos a ter.

Quando o sol já havia sumido, Lycoris tinha desaparecido sem deixar rastros, da família dos Black. Ainda continuaria viva em suas memórias, mas não a veriam mais.


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