komorebi escrita por socordia


Capítulo 4
Quatro.


Notas iniciais do capítulo

*posta o capítulo como se o hiato de meio-ano tivesse sido intencional e planejado*

HALLOWEEN! as fantasias dos personagens refletem apenas como eu sou uma Grande Nerd. ROYAI 4 LIFE!



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Lily sai da conversa em grupo cujo único objetivo é planejar como tornar a vida dos sonserinos um inferno assim que deixa a sala de recreação. Ela e Remus vão jantar no refeitório, juntamente com os demais RAs, que ficam especulando qual pegadinha será a primeira a cair na cabeça do dormitório da Sonserina. Lily participa da conversa com um entusiasmo que surpreende até a ela mesma, numa animação que ela achava já ter superado. Culpe o estresse, as horas passadas preocupando-se com um sem-fim de coisas, mas a verdade é que Lily até que está gostando dessas horas passadas rindo dos absurdos que Sirius deve estar planejando.

Parte de Lily sentiu-se mal por ter deixado Alice à mercê dos residentes mais experientes da Grifinória, mas ela não quis ir embora com os RAs, alegando que tinha que conseguir detalhes para contar a Frank. Lily achou isso adorável e disse para Alice juntar-se a eles no refeitório quando tudo tivesse terminado — seu instinto protetor para com a garota ainda é forte.

Alice manda uma mensagem quando a reunião termina, falando que vai jantar com Frank e que ela vê Lily depois. Até se oferece para dar detalhes do “plano de ação” formado na ausência dela, mas Lily dispensa a oferta com facilidade. Ela realmente acredita que é melhor se fazer de desentendida sobre o quê está acontecendo na Torre da Grifinória: não apenas para ela poder negar plausivelmente qualquer boato que chegue aos ouvidos da Professora McGonagall, mas também porque simplesmente não tem espaço para mais atividades extracurriculares na sua vida atarefada.

Marls não vai jantar com a namorada, no entanto, e logo está espremendo-se entre Lily e Remus, os olhos brilhando debaixo das luzes artificiais do refeitório. O perfume adocicado dos produtos de cabelo que Marls usa atinge Lily em cheio, quase que como um soco, e Lily ainda tem que aturar McKinnon roubando suas batatas fritas.

— Quais os planos para hoje, babes? — Marlene pergunta, repousando a cabeça no ombro de Remus.

— Estudar — dizem Lily e Rem em uníssono, o quê, por algum motivo, deixa Lily desconfiada. Ela procura Remus com o olhar, mas ele desvia o rosto, fazendo com que Lily franza as sobrancelhas.

Não tenho tempo para discutir isso, resmunga Lily mentalmente, só tomando nota de mais uma das atitudes estranhas de Rem, arquivando-a em sua memória para quando finalmente conversarem sobre isso. Quando todos terminam de comer, os outros RAs e Marls voltam para a sala de jogos, para relaxarem um pouco antes do toque de recolher, mas Lily e Remus dirigem-se para os elevadores.

— Você tá bem? — Lily quer saber, seu tom de voz suave, mas Remus ainda encontrará desconfiança no semblante dela, se se preocupar em encarar Lily nos olhos. — Você parece inquieto.

Remus suspira, seus ombros sacudindo-se com o esforço, e passa a mão de dedos longos pelos cabelos.

— Só tô cansado.

Lily murmura um “hmmm” que quer dizer que ela sabe muito bem que Rem está evitando falar de alguma coisa, mas que não vai pressioná-lo sobre isso. Remus é metódico e pragmático; se ele não está pronto para falar, não há como forçá-lo. E, mesmo se fosse possível, não é do temperamento de Lily fazê-lo. Ela prefere muito mais ter Rem vindo até ela de livre e espontânea vontade, e escolhendo confiar nela, ao invés de ter que ser coagido.

Eles se abraçam e pegam elevadores separados: Lily sobe no que dá acesso apenas aos andares femininos, e Remus no que para nos andares masculinos. Ela tenta controlar o rumo dos seus pensamentos fazendo listas mentais de tarefas e checando suas notificações no Twitter. Quando Lily chega em seu quarto, ela já abre sua agenda para saber o quê precisa fazer no dia seguinte e onde terá que estar. O resto de sua semana está ali, a sua frente, planejado minuciosamente. Lily olha para sua lista de tarefas, já concluída, e espreguiça-se até ouvir suas costas estalarem, o cansaço começando a tornar seus movimentos lentos e nada graciosos, e seus olhos ardendo.

Os próximos dias passam no mesmo ritmo meio frenético ao qual Lily já está viciada e não consegue romper. Existem pessoas viciadas em adrenalina, e pessoas viciadas em trabalho: Lily é uma mistura bizarra das duas coisas, porque não consegue lidar muito bem com tempo ocioso — embora Remus e Marlene constantemente forcem-na a largar os estudos e se divertir nem que seja por apenas uma hora —, e precisa estar em constante movimento. Dorcas, a namorada de Marlene, já quase diagnosticou Lily com hiperatividade, mas nada oficial e muito certo, de forma que Lily só considera que é uma pessoa cheia de energia.

Durante o semestre letivo, Lily dá atenção aos seus amigos da mesma forma metódica pela qual ela assiste suas aulas. Frequentemente tem de anotar em sua agenda, “café com Alice”, “cinema com Marls e Dorcas”, “jantar com Remus”, para não ter que se perder no turbilhão de afazeres acadêmicos e profissionais. Até mesmo Black ganha algumas entradas nos dias ocupados de Lily, quando ele consegue encurralá-la pelos corredores e sorrir seu sorriso perfeito.

Ela só dá graças ao universo por ele estar sozinho, nessas ocasiões. Lily não tem energia emocional o suficiente para lidar com mais de um conhecido querendo se aproximar por vez. E, se está sendo sincera, seu empenho está bastante concentrado em Alice, que, conforme o semestre avança, parece ficar cada vez mais ansiosa e cansada. Ela sabe que o estado de nervos de Alice tem a ver com Frank e sua família — eles ficam sussurrando freneticamente numa língua que Lily não consegue identificar com cada vez mais frequência —, mas não quer ser enxerida e perguntar o quê está acontecendo.

Ela só faz questão de que Ali saiba que Lily está à disposição para conversar, quando quiser. (Desde que ela mande uma mensagem antes para que Lily possa realocar eventos e replanejar sessões de estudo.)

É no início de outubro que Alice vê, pela primeira vez, a agenda de Lily. Na verdade, é mais um caderno em que ela anota os calendários e sua lista de afazeres, usando uma legenda para saber quando estão concluídos e a ordem de prioridade. É um caderno meio fuleira, ainda por cima, de capa de papelão com manchas d’água e diversos adesivos mantendo a estrutura inteira junta. Lily usou a mesma agenda para o semestre anterior, mas tem certeza que terá de trocar de caderno antes do esperado — está usando muitas páginas a mais.

Marlene e Dorcas estão conversando sobre a festa de Halloween que hospedarão em seu apartamento novo, gesticulando de maneira selvagem, listando filmes e séries de inspiração. Lily sabe que as duas estarão completamente perdidas sem alguma espécie de plano para executar essa grande baderna, e por isso abre o caderno nos joelhos, sacando sua fiel caneta de gel, e começa a rascunhar uma lista de compras, de músicas, de ideias pra decoração.

— O quê é isso aí? — É a voz doce de Ali que puxa Lily de volta para a realidade. Lily deixara-se levar pelas palavras marcadas no papel, e, quando emerge de seu semi-transe, suas orelhas estão zumbindo.

— Apenas a totalidade da vida de Lily — responde Marlene, um sorriso marcando suas sílabas. Lily não gosta do tom um tanto condescendente de Marls, e só rola os olhos ao invés de bater boca com a amiga.

— Fica sem uma cópia das minhas anotações, então — provoca Lily, ao invés, revisando sua caligrafia um tanto doida e adicionando outros itens —, e boa sorte planejando a sua festa.

Lily sente os braços roliços de Marlene envolverem-lhe o pescoço, e a respiração da amiga contra sua orelha enquanto ela cola o seu rosto no de Lily.

— Seus hábitos de escrita são desastrosos para o meio-ambiente, mas viver sem seus planejamentos maníacos é pior ainda.

As meninas riem, juntas, e Lily estira a língua para Marlene. Lily aperta o caderno entre seus dedos com mais força do que o estritamente necessário, desconforto nadando em seu estômago enquanto os olhos das outras três meninas estão focados nela. Os rostos de suas amigas estão descontraídos, e Dorcas até puxa Marlene para um beijo, mas Lily não consegue relaxar.

— A gente poderia arranjar uma fantasia em grupo! — Oferece Alice, batendo as mãos e com olhos brilhando.

Dorcas e Marls trocam um olhar cuidadoso.

— Er, nós já planejamos nossa fantasia, Ali — replica Dorcas, dando as mãos para Alice e apertando seus dedos carinhosamente.

— A melhor parte de estar num relacionamento amoroso — declara Marlene, num tom solene —, é poder usar fantasias de casal.

Isso arranca risinhos de Alice e Dorcas, as duas concordando entusiasmadamente com a cabeça.

— Vou convencer Frank!

Lily sorri, mas sabe que não está sendo sincera. É difícil ser a única não-colorizada no meio de suas amigas, que tiveram o mundo transformado ao encontrarem suas almas gêmeas, ou serem suas próprias almas gêmeas. Lily olha para Alice com curiosidade, enquanto as outras meninas continuam falando sobre seus planos para o Halloween. Como deve ser, crescer sabendo que se é completa em si mesma? Vendo o mundo em toda a sua irrestrita glória, sem ter de ficar se questionando a todo momento o quê está perdendo ou quando tudo aquilo vai mudar. E, ainda assim, Alice teve a chance de encontrar o amor em Frank, de ter um parceiro com quem compartilhar suas dores e alegrias.

É melhor não se aventurar por esses caminhos, Lily, é o quê diz a si mesma, silenciosamente, desviando sua atenção para as páginas em seu colo. Ela esteve no apartamento de Dorcas e Marlene poucas vezes, mas foi o suficiente para gravar o layout na memória, e já consegue imaginar os diferentes ambientes da festa. As meninas moram num prédio exclusivamente de universitários, e todos os vizinhos estão convidados — já está claro que a festa vai vazar para fora do apartamento, indo até áreas comuns e chegando até mesmo à rua.

A sorte é que o centro de Hogsmeade nunca dorme na noite de Halloween, e não serão interrompidas pela força policial. Os incomodados que se mudem é a regra da noite de 31 de outubro, e, durante anos incontáveis, a população da cidade tem feito exatamente isso: aqueles que querem fugir da festa vão para os subúrbios ou cidades vizinhas, deixando o centro histórico nas mãos dos foliões. Lily passou seu primeiro Halloween em Hogsmeade trabalhando no Cabeça de Javali, e se divertiu imensamente com a quantidade de coisas absurdas que teve que presenciar enquanto servia drinks e outros pratos.

Universitários ficam estranhamente selvagens no Dia das Bruxas.

As quatro amigas decidem sair para almoçar enquanto discutem os detalhes da festa. Dorcas se propôs a bancar todos os custos da festa, o quê foi menos uma preocupação — Deus sabe que Marlene é um desastre no que tange saúde financeira, e no passado ela e Lily foram obrigadas a fazer rifas para garantir a realização da festa. Lily já considerou cobrar a entrada para a festa, já que Marlene cultivou uma saudável reputação sobre dar as melhores festas de Hogwarts, mas Marlene foi veementemente contra. “O capitalismo já não tirou coisas demais de nós, Lil?,” questionou Marls, numa vertente do socialismo que Lily desconhece.

Portanto, as festas de Halloween de Marlene sempre são maiores do que o planejado. Pelo menos as pessoas têm o bom senso de levarem o quê vão beber, e até que ajudam a limpar a bagunça depois. Tudo resultado do charme inabalável e levemente violento de Marls. Muita gente nem tem noção do papel de Lily nisso tudo mas ela não se importa — só quer ver a amiga feliz. E, afinal de contas, as ideias são todas de Marlene, e a execução também: Lily só traça os planos e torna tudo palatável.

— Sabe o quê seria legal? — Lily pergunta, subitamente, por cima de seu talharim, assim que a ideia lhe vem, como um raio. — Um concurso de fantasias!

As outras três olham para Lily com olhos arregalados e começam a falar ao mesmo tempo, com a mesma empolgação, gesticulando violentamente. Lily sorri tanto que fica com medo de ter cãibras nas bochechas, mordiscando os lábios em satisfação muda.

— Mas qual seria o prêmio? — Dorcas questiona, de maneira pensativa.

— Não acho que precisa ter prêmio — rebate Marlene, jogando os cachinhos pra lá e pra cá. — A gente pode, tipo, comprar aquelas medalhas baratinhas e escrever, sei lá, “Halloween McKinnon 2k18” com Sharpie e ficar por isso mesmo.

Alice concorda tanto com a cabeça que seus óculos ameaçam cair de seu rosto.

— É verdade, o pessoal adora só ter que competir.

— Só saber que vai ser um concurso já vai deixar metade da Grifinória com sangue nos olhos — aponta Lily, de maneira sábia, e todas as outras meninas parecem ver a verdade em suas palavras.

Elas refinam os últimos detalhes com entusiasmo, delegando tarefas e estabelecendo datas, trocando telefones de fornecedores e já pensando em suas fantasias. Quando cada uma delas vai para seu lado e Lily volta para a Torre da Grifinória, já tem uma lista de cinco fantasias possíveis. Ela procura por Remus nas áreas comuns e até manda algumas mensagens para ele, informando que o planejamento para a folia anual de Halloween de Marlene já começou. A mensagem nem chega no telefone dele, no entanto, e Lily suspira pesadamente, quase certa de que Remus deixou o celular descarregar enquanto analisava textos em grego clássico.

Quando chega no quarto, Lily organiza sua mesa e toma um banho, lavando o cabelo com cuidado e pondo uma máscara de hidratação em seguida. Agora que consegue ver os tons avermelhados dos fios, Lily toma mais cuidado com sua cabeleira. Marlene até percebeu que Lily está um tantinho mais vaidosa — Lily teve de perguntar à amiga quais os melhores produtos para seu cabelo, já que Marls é a rainha da manutenção capilar vegana —, mas graças a Deus não associou essa vaidade ao processo de colorização. Marlene só ficou feliz em ver Lily preocupando-se mais consigo mesma.

Enquanto espera o tempo de ação necessário da máscara, Lily considera cuidadosamente suas opções de fantasia, encarando sua parede cheia de pôsteres e ilustrações cujos tons avermelhados queimam em suas retinas. É quando ela abre o computador para pesquisar inspirações no Pinterest e depara-se com seu papel de parede — uma fanart do desenho que, decididamente, mais marcou sua infância — que Lily sabe que a escolha foi feita em seu coração.

Ela pega o celular e abre a conversa com Alice, digitando apressadamente.

[16:27] ali!

[16:28] tive uma Ideia p minha fantasia

[16:28] mas precisarei de sua ajuda e seus talentos

[ali ✧ 16:29] Ao seu dispor, Lil!

Lily sorri e começa a pesquisa que sabe que será incrivelmente extensa e elaborada para que tenha a fantasia perfeita.

***

Lily não faz ideia de como Dorcas conseguiu instalar um globo espelhado e luzes piscantes — obviamente coloridas, embora nenhuma delas seja em tons de vermelho — para a festança de Halloween capitaneada por Marlene. Mas toda a decoração é arrepiante, com uma máquina de fumaça cobrindo todo o chão e algumas lápides de plástico cá e lá. Dorcas e Marlene aproveitaram que o apartamento não está mobiliado ainda para acomodar o maior número de pessoas possível, para desespero de Lily, que não identifica nem um banquinho sequer para se sentar em algum canto enquanto julga silenciosamente as fantasias alheias.

Ela respira fundo. Umas duas dezenas de pessoas já estão entre a sala e a varanda do apartamento, e, embora Lily tenha se convencido por alguns segundos que estava andando por um cemitério apavorante, uma música pop coreana animada — One & Only, do LOONA, Lily percebe — está vazando pelas caixas de som. O efeito é praticamente arruinado, mas não exatamente: talvez seja por conta dos esqueletos que pendem de diversas cordas de forca, alinhados no batente que separa a sala da varanda e divide os ambientes. Lily sente um arrepio percorrer-lhe a coluna e vai para a cozinha, ansiosa por alguma coisa para beber.

Dorcas está lá, vestida como uma princesa, com mangas bufantes e luvas até os cotovelos, uma peruca longa e vasta alcançando além de sua cintura, e cobrindo até mesmo seus olhos. Dorcas fica tendo que segurar os fios para longe de sua visão enquanto prepara o ponche, e Lily consegue ver o desenho de uma joia bidimensional na palma da sua luva esquerda. Ela sorri diante do foco da amiga, que nem percebe a aproximação de Lily.

— Ei, Safira. — Lily cumprimenta, batendo seu quadril no de Dorcas e arrancando um sorriso brilhante da amiga. — Cadê a Rubi?

— Lá fora, tentando consertar a playlist — responde, dando um beijo nas bochechas de Lily e voltando à sua tarefa. — Alice tá com você?

— Nope. Ela e Frank estão fazendo muito mistério sobre a fantasia deles e não queriam estragar a surpresa. — Lily franze o nariz diante da lembrança, simplesmente porque não gosta de sentir-se deixada de lado, e é exatamente assim que está se sentindo, cada vez mais, desde que Emmeline terminou com ela, ainda nas férias de primavera do ano anterior. Ela brinca com o grande e longo véu que sai do chapéu de palha em sua cabeça de forma nervosa. — Tá precisando de ajuda, Dee?

Dorcas sorri e aponta para o armário atrás de si.

— Você pode empilhar copos por aí? Não quero ter que ficar monitorando nossos convidados pra ver se eles vão pegar nossos copos de verdade.

Lily bate continência por debaixo de seu véu e passa a próxima meia-hora ajudando as anfitriãs da festa. A fantasia de Marlene está impecável, e Lily tem que admitir que vestir-se de Rubi é muito a cara da amiga, que ostenta seu volumoso cabelo natural e seu corpo gordo com desenvoltura. Todo mundo para e elogia o par adorável que são Dorcas e Marlene, e, quando Remus chega de orelhas pontudas, até mesmo ele assovia sua aprovação.

Lily consegue ver como as amigas estão radiantes em receber pessoas queridas em sua casa nova, nos braços uma da outra, tranquilas em seu conhecimento de que nada abalará seu amor. É tão esplendoroso de se ver que Lily sente seu coração quebrando em milhões de pedacinhos afiados, que só perdem suas arestas quando Lily termina mais um drink. Elas estão dançando juntinhas uma música lenta que Marlene ficou quase cinco minutos inteiros procurando na playlist da festa, e os outros casais juntam-se a elas, balançando pra lá e pra cá.

Ela seca o copo de plástico desafiadoramente vermelho e o amassa fechando a mão em punho, o ponche batizado fazendo cócegas em sua garganta. Lily arremessa o copo no lixo com maestria, comemorando quando acerta, e sentindo o braço de alguém deslizar por seus ombros — o chapéu e o véu matam a sua visão periférica. Mas ela levanta o olhar e é apenas Remus, com um sorriso suave nos lábios. Ele a puxa para a pista de dança sem falar nada e Lily aquiesce, sentindo seu coração aquecendo e coalescendo lá dentro de seu peito.

Remus contou em confidência pra Lily, certa vez, que fez aulas de dança de salão com sua avó na igreja em que frequentavam quando ele era criança, depois que o avô dele morreu. Segundo ele, tudo tinha começado como uma espécie de obrigação, já que ele não queria deixar a avó triste nem sozinha, mas logo ele descobriu que levava jeito para a coisa. Remus levara Lily como convidada no casamento de uma de suas primas uma vez, e ela nunca se divertiu tanto na vida — eles dançaram do crepúsculo até a aurora, e, embora Lily não tenha muita prática ou jeito, ela é uma aluna afoita. Lily descobriu que adora dançar, e é por isso que quando Remus gesticula para que ela gire em seu próprio eixo ela o faz, rindo como uma criança.

Lily não é baixa, mas Remus é muito mais alto do que ela, e por isso não conseguem dançar que nem os filmes estadunidenses ensinam — de bochechas coladas, como se estivessem em algum prom —, mas nem por isso ficam parados. As músicas passam por eles como ondas no mar, e Lily e Remus falam pouco, sobre coisas corriqueiras, nada muito profundo. Eles moram no mesmo prédio, se viram nas reuniões dos Resident Assistants da Grifinória, mas mesmo assim Lily sentiu saudade dele. Ela estava com a distinta impressão de que Remus estava fugindo dela, mas se força a esquecer disso tudo enquanto dança com ele debaixo das luzes pisca-pisca na varanda de Dorcas e Marls.

— Esse seu chapéu é muito inconveniente — Remus reclama, empurrando a aba do chapéu de Lily com o queixo, e ela tem que se mexer de maneira desengonçada para evitar que ele caia de sua cabeça, já que Remus não solta suas mãos. Ele ri e ela também. — Mas super autêntico. Quando você arrumou tempo de fazer uma fantasia tão elaborada, Dama Pintada?

Ela sorri de maneira brilhante, sentindo as bochechas e as orelhas esquentando-se, enrubescendo de prazer. Lily tinha recebido elogios sobre sua fantasia, sim, mas os olhares inquisitivos foram bem mais numerosos. Bom, ela tinha plena noção de que sua escolha de personagem pode ser considerada um pouco obscura, mas Avatar: A Lenda de Aang é, simplesmente, uma das coisas preferidas de Lily da vida inteira, e Alice a ajudou em todas as etapas da confecção da fantasia, o que diminuiu bastante o trabalho.

— A gente começou a fazer a fantasia no início do mês — confessa, com um dar de ombros que é pra ser descontraído. Mas Remus conhece Lily muito bem, e sabe que seu perfeccionismo quase patológico rege praticamente todos os aspectos da sua vida: ele consegue perceber o esforço por detrás da fantasia de Lily. Ela analisa-o com cuidado, passando os olhos pela sua insígnia da Federação Unida dos Planetas, pelo broche que o marca como um Oficial de Ciências e por suas orelhas pontudas. — Fala a verdade. Você já tinha esse cosplay pronto, né?

Remus faz suas sobrancelhas dançarem, mas o efeito se perde porque elas estão arqueadas artificialmente, como é de se esperar. Lily se pergunta como faziam a maquiagem de Leonard Nimoy para ele interpretar o Mr. Spock; quase vai atrás dos bolsos costurados em suas vestes para resgatar seu celular e fazer uma pesquisa rápida no Google.

A música muda, ficando mais animada, e Remus faz Lily girar de novo.

— Você me conhece bem demais, Evans — ele sussurra em tom acusatório quando eles se juntam de novo. Lily joga a cabeça para trás, segurando seu chapéu, e ri alto, por cima até mesmo da música.

Eles decidem dar uma pausa, e, quando Lily olha ao seu redor, percebe que a festa lotou e ela nem percebeu. Todos os rostos são familiares, e ela sai cumprimentando as pessoas que estão entre ela e a cozinha, recebendo elogios e indagações sobre sua fantasia: os recém-chegados reconhecem a Dama Pintada com maior facilidade, o que deixa Lily incrivelmente satisfeita. Remus se perde no mar de gente, e Lily pensa ver espadas gêmeas capturando a luz instável da sala em suas lâminas e para, de repente, ficando na ponta dos pés para ver melhor — mas não consegue encontrar o detalhe que lhe chamou a atenção entre tanta gente com fantasias escalafobéticas.

Lily balança a cabeça, certa de que o álcool já está nublando seus pensamentos, e segue seu caminho quando um casal irrompe pela porta principal, trajados de uniformes militares. A mulher é baixinha, com uma peruca sintética na cabeça, o penteado mantendo o cabelo falso preso na nuca e espetado no ar. Lily arregala os olhos em reconhecimento, e volta-se para o homem ao lado da mulher, com cabelo caindo sobre seus olhos e estalando os dedos enluvados. Como toque final, Lily consegue ver a corrente em sua calça que, ela sabe, é de um relógio de bolso.

— Mustang e Hawkeye! — Lily grita, admirada, jogando os braços pro alto e correndo na direção dos dois, preparadíssima para tirar uma selfie.

A mulher vira-se para Lily, olhos brilhando, e o queixo de Lily cai.

— Alice?! — Riza Hawkeye está radiante à sua frente, botando a arma falsa no coldre em seu quadril, e jogando-se nos braços de Lily, depois de sair do caminho de seu véu etéreo. A paciência de Lily com seu chapelão já está se esgotando. — Frank!

— Lily, você sabe quem a gente é! — A voz de Alice é estridente, completamente diferente do que se espera de uma mulher militar. E Lily gosta ainda mais da fantasia de Alice por isso. — Sabia que tava certa em ser sua amiga!

Lily não consegue evitar e solta uma gargalhada, apertando a amiga num abraço de urso, até mesmo tirando-a do chão. Alice solta um gritinho delicado e segura as mãos de Lily nas suas, pondo alguma distância entre as duas de forma a admirar melhor o seu trabalho no corpo curvilíneo de Lily.

— Você tá incrível!

— Ah, cê tem que tá brincando, Ali! — Lily diz, mas está sorrindo diante do elogio, e até mesmo dá uma voltinha para que Alice e Frank consigam enxergar a fantasia em sua totalidade. — Como que posso competir com vocês?! Simplesmente o melhor casal da história das animações.

Frank põe o quepe do Exército de Amestris na cabeça e pisca um olho para Lily.

— Esse concurso tá no papo.

— Frank, quem diria que você daria um Mustang tão perfeito? — Lily comenta, impressionada, e consegue ver um pouco do tímido Frank no sorriso enorme que ele lhe dá. — Você tem o relógio?

— Lily, se eu tenho o relógio?! — Ele está divertidamente indignado diante da pergunta de Lily, e tira a correntinha do bolso. — Tecnicamente, ele é do Ed, mas...

— Não vou contar pra ninguém — promete Lily, pegando a caixa metálica e gelada pesada nos dedos. O símbolo do Exército de Amestris (seria um cavalo marinho? Lily nunca soube dizer) está esculpido detalhadamente, e o mecanismo funciona com perfeição, marcando as horas corretissimamente. — Incrível, gente. Tão de parabéns, verdade.

Lily parece não consegue parar de sorrir, não cabendo em si de felicidade por conta do simples êxtase que seus amigos demonstram por estarem vestidos de personagens de mangá. Eles saem para dar oi pra Dorcas e Marlene. Lily promete encontrá-los assim que pegar alguma coisa para beber, e, conforme eles andam pelo apartamento, recebem olhares impressionados. Lily gostaria que eles ganhassem o concurso, mas sabe que o primeiro lugar provavelmente ficará com as anfitriãs. Quem não votaria em Dorcas e Marls para melhor fantasia de casal? Especialmente quando são elas que estão dando a festa...

A cozinha está cheia de residentes da Grifinória, que conversam entre si e dançam no ritmo da música. Lily precisa fazer um malabarismo para alcançar as bebidas mas enfim consegue encher outro copo vermelho com ponche. Ponche esse que, a essa altura do campeonato, está perigosamente batizado, mas Lily não se importa muito, uma vez que sua cabeça já está bem mais leve do que de costume. Embora saiba que deve ir agora procurar seus amigos, Lily prefere ficar sozinha por alguns segundos, recarregando as energias no corredor entre a cozinha e a sala, onde as pessoas só passam de um lugar para outro, sem parar a não ser para cumprimentar um rosto conhecido.

Lily dança sozinha ao som de Girls da Rita Ora, respirando fundo e sentindo a música entrar pelos seus pés e balançando seus quadris quase que inconscientemente. Ela se lembra de quando ela e as meninas saíram para o Três Vassouras, há quase dois meses, e do menino bonito de óculos que ficou beijando por grande parte da noite. Lily sorri e fecha os olhos por alguns segundos, quase sentindo os lábios dele nos dela novamente, se perguntando se ele ao menos estuda em Hogwarts ou só calhou de estar ali quando Lily estava precisando dar uns beijos em alguém.

Ela se recusa a pensar sobre como começou a ver vermelho depois de beijar o tal cara. Simplesmente se recusa. Mas e se as suas suspeitas estiverem corret—

— Dama Pintada?

Lily pula, abrindo os olhos e por pouco não derrubando bebida em suas vestes. Quem está a sua frente é o Espírito Azul, e Lily perde o ar por alguns segundos. É claro que ela não consegue enxergar a cor da máscara quase monstruosa que cobre completamente o rosto da pessoa à sua frente, mas a fantasia é inconfundível para alguém que, como ela, reassistiu Avatar incontáveis vezes. Lily sente um enorme sorriso tomar de conta do seu rosto e pressiona seus dedos gelados contra as bochechas na tentativa de impedir que o rubor que já esquenta seu rosto se espalhe.

— Evans, é você, né? — Lily ainda chocada demais pra falar; o Espírito Azul tira sua máscara e quem está sorrindo aberta e grandiosamente para ela é James Potter. Lily tem que se controlar para não erguer uma sobrancelha em suspeita diante da escolha de fantasia de Potter, e responde com um acenar de cabeça. Ele encaixa a máscara no cinto e passa a mão pelos cabelos rebeldes, sua pele escura cintilando debaixo das luzes inconstantes.

Lily engole em seco quando seu coração faz contorcionismos em seu peito. Ela definitivamente não está admirando James Potter e seu físico impecável de jogador de futebol, cujos músculos são apenas ressaltados pela roupa escura e justa que usa em sua fantasia.

— Eu pensei ter visto uma Dama Pintada por aí, mas achei coincidência demais — ele continua, procurando o rosto de Lily por detrás do véu. Ela decide ser uma pessoa legal e prende o véu nos ganchos que costurou no chapéu com esse propósito. — A sua fantasia tá fantástica!

Lily faz uma mesura diante do elogio.

— Obrigada. Digo o mesmo, Potter. — O sorriso brilhante dele ainda está em seu rosto e Lily tem oportunidade de analisá-lo melhor. — Pera aí. — Ela dá quatro passos na direção de James, até que eles estejam impossivelmente perto, seus corpos praticamente se tocando. Se ele se surpreendeu com a movimentação súbita de Lily, não demonstra, mas seu sorriso se fragiliza nas pontas. — Você fez a cicatriz? — A falta de noção por conta do teor alcoólico no sangue de Lily vence o bom senso dela, e Lily delineia as bordas da cicatriz falsa de James na altura do olho esquerdo dele. — Você fez a cicatriz — ela exala, maravilhada, deixando seus dedos seguirem sua vontade própria e ainda ficarem contra a pele de Potter por alguns segundos. — Estou impressionada — diz Lily, percebendo que não está se comportando de maneira apropriada e afastando-se novamente de James.

As pontas de seus dedos estão em brasa, e é por isso que ela troca o copo de ponche de mão.

— Era essa a intenção.

Ele pisca o olho esquerdo, repuxando a cicatriz cenográfica, e Lily afoga as borboletas que se agitam em seu estômago com generosos goles de ponche.

— Se você gostou da cicatriz — começa Potter, animado, suas mãos indo para suas costas —, você vai adorar isso!

Ele saca duas espadas de suas bainhas e brande-as na frente de Lily. Ela solta um som de espanto conforme ele empunha as espadas com uma naturalidade que denuncia as aulas de esgrima que deve ter feito quando criança. É impressionante, realmente, o quão a sério Potter levou a fantasia, e como seus olhos estão brilhando de empolgação por poder mostrar todos os detalhes para alguém que consegue apreciá-los. Se Lily conseguisse assoviar sua aprovação, ela com certeza o faria.

— Mas me conta, a máscara é realmente azul? — A curiosidade no tom de Lily é marcante.

Potter faz uma careta e dá de ombros, guardando as espadas depois de Lily sentir o peso delas em suas mãos.

— Não sei. Comprei no Etsy confiando bastante no vendedor.

Ela dá tapinhas solidários no ombro de James e os dois caminham juntos até a sala, que está ainda mais cheia agora que já passaram da meia-noite. Lily termina sua bebida, mas não encontra nenhuma lata de lixo e por isso permanece agarrada ao copo.

— Sirius veio com você?

— Sim, vestido de Capitão Kirk. — James olha para ela de forma esquisita e Lily franze as sobrancelhas. — Acho que ele gosta do Remus.

Lily suspira, suas suspeitas se confirmando.

— Bom, agora eles são o casal mais famoso da história da ficção científica, então que se resolvam.

James concorda com a cabeça, passando os olhos pela multidão de maneira desinteressada antes de algo lhe ocorrer e ele voltar-se para Lily.

— E Han e Leia?

Star Wars não é ficção científica. — Ela diz, num tom de voz óbvio. — É space opera.

— Ah.

Ela tem vontade de socar o sorrisinho de lado condescendente que estampa o rosto de James com os próprios punhos, mas só respira fundo.

— Quer dançar?

Ela abre a boca para dizer não, mas a música muda: é ABBA. É impossível ouvir ABBA e não dançar — Lily tenta não pensar em como é, mais especificamente, Take a Chance on Me, e como ela está dançando com James Potter enquanto estão os dois vestidos de dois personagens que grande parte do fandom de Avatar insiste em shippar. A playlist da festa parece chegar numa seção de anos ’70 e ’80, todas as músicas bregas que Lily ama e que costumava ouvir com os pais nas viagens de família, e continua dançando com James. Potter, por sua vez, revela-se um perfeito cavalheiro, sem fazer avanços indesejados e cantando as músicas com a mesma intensidade de Lily.

Em algum momento Lily tira seu chapéu, guardando-o no armário de sapatos perto da saída, e volta para a sala, onde James está conversando com um Sirius que parece exasperado. Ela observa a cena de uma distância segura, mordiscando a borda do copo, achando hilário como eles parecem estar tendo uma discussão muito séria por cima de Boy Problems da Carly Rae Jepsen. Lily volta para a cozinha e reabastece seu copo, resolvendo, no último minuto, encher um para James também. Quando Sirius a vê se aproximando, ele desfaz a cara séria e abre os braços para Lily, convidando-a para um abraço.

Lily ri, mas cede, e o abraça. Sirius é praticamente da mesma altura que ela, e é bom conseguir abraçar alguém direito, pra variar, ainda que Lily esteja equilibrando copos cheios em suas mãos.

— Eu sempre soube que você é uma nerd monumental, Evans. — Sirius declara, com a atitude de quem sabe de tudo o tempo todo. Lily só visivelmente rola os olhos e ameaça acotovelá-lo nas costelas.

Sirius foge, rindo, e Lily se pega sorrindo diante da espontaneidade de Black. Ela oferece um dos copos que segura para Potter, que aceita com surpresa muda no olhar, e os dois passam a observar as outras pessoas fantasiadas. É pouco depois das duas da manhã, mas é impossível dizer isso pelo ânimo das pessoas, que dançam e bebem e riem de forma elétrica. Lily geralmente não se importa em ficar no meio de tanta agitação, mas hoje seu estado melancólico de espírito pede para um pouco mais de introspecção.

Talvez ela devesse ir procurar Remus. Aí os dois poderiam julgar os outros juntos. Ela olha de canto para Potter, avaliando se ele acharia falta de educação ela abandoná-lo em favor de Remus. Normalmente, Lily não hesitaria em deixar James à própria sorte, mas vendo como Sirius sumiu para fora da vista de ambos, ela hesita em abandoná-lo. E, veja bem, parte de Lily sabe que esse medo é meio irracional, porque todas as pessoas que veem James pela primeira vez na noite vêm cumprimentá-lo e ela tem certeza que ele conseguiria se enfiar em alguma roda de conversa facilmente. Mas, sem Sirius, Lily considera que Potter está, de certa maneira, vulnerável, raciocínio certamente patrocinado pelo álcool, mas que Lily acredita ser sólido o suficiente para fazer com que ela permaneça ao lado de James.

— Tudo bem? — pergunta, da forma mais inconspícua que consegue. — Com você e Sirius, digo.

Potter suspira e passa os dedos da mão livre no cabelo de novo, e Lily acompanha o movimento como que em transe. Ela pisca com vontade e volta sua atenção para sua própria bebida, sorvendo um grande gole.

— Não acho que você vai querer saber os detalhes — confidencia Potter, de maneira divertida. Lily registra vagamente que agora é BTS que está tocando, e se pergunta se ela já perdeu alguma música da Beyoncé.  — É sobre a Sonserina.

— Ah.

— Quer dizer, eu posso te contar absolutamente tudo sobre nossos planos, até porque tenho ideias sobre como você e Lupin podem nos ajudar em pelo menos cinco aspectos diferentes — continua, disparado, sorrindo inocentemente para Lily. — Mas...

— É, é melhor eu continuar na ignorância. — Ela lambe os lábios, a garganta subitamente seca. — Negação plausível e essas coisas.

James concorda com a cabeça e abre a boca para falar mais alguma coisa quando uma voz dolorosamente familiar soa atrás de Lily.

— Lil?

O corpo de Lily reage antes que sua mente possa impedi-lo: ela vira em seus calcanhares e vê Emmeline com um sorriso frágil no rosto, as mãos apertando as rodas de sua cadeira. Lily passa os olhos pelo terno escuro da ex-namorada e pela touca de látex que esconde seus cabelos e tem que reprimir um sorriso. Emmeline está vestida de Professor X, aproveitando-se de sua cadeira de rodas para fazer o quê é, provavelmente, a fantasia mais bem-humorada de toda a festa. Quem está empurrando a sua cadeira é uma mulher que deve ser pouco mais velha que Lily e a própria Emmeline, vestindo o capacete-redoma ridículo do Magneto.

— Em. — Lily sorri, mas é um esforço hercúleo, e ela inconscientemente dá um passo para trás, tropeçando em James, que impede que ela caia segurando-a pela cintura. — Oi!

— Oi. — Emmeline responde, em voz pequena, sorrindo de maneira mais verdadeira agora que sabe que Lily é, realmente, Lily. — Essa é a Hestia, minha namorada.

— Olá. — O tom de voz de Hestia é neutro, educado, e Lily acena desajeitadamente. — Gostei da fantasia. É de Avatar, né?

— É sim. — É Emmeline quem responde, ainda estudando Lily com cuidado. — Lil sempre amou Avatar.

Lily ri, sem graça, sentindo o sangue simultaneamente subir até suas bochechas e escapar de suas extremidades.  

— Obrigada. — Ela passa os dedos pelos cabelos, constrangida. — Tirei o chapéu pra dançar. A fantasia de vocês também tá muito legal. — Ela se remexe, como se estivesse tentando fugir (o quê pode ser verdade), e quase esbarra em James de novo. — Ah, esse é o James. — Ela vira-se para ele, tentando esconder o desespero que ameaça escapar de seu peito. — James, essa é a minha ex, Emmeline. E a Hestia. — Lily tenta ser casual, mas sua cabeça está doendo e sua mente girando: embora Emmeline tenha apresentando Hestia há dois segundos e eu tenha certeza que você se lembra do nome dela, pensa, estupidamente.

— O Espírito Azul. — Hestia parece aprovar, sorrindo timidamente. — Vocês formam um casal fofo.

O estômago de Lily vai para os pés. Ela ora fervorosamente por alguns segundos para que o chão se abra debaixo de si e a engula, para nunca mais devolvê-la. Ou que Deus decida fazer o arrebatamento profetizado na Bíblia agora, nesse exato instante. Uma risada histérica acumula-se no início de sua garganta e está prestes a fugir quando Potter passa as mãos pela cintura de Lily novamente e abre um sorriso de vinte mil watts.

— Obrigada! — Ele agradece, de maneira suave e legítima. Lily tem dificuldade para respirar. — Vocês também. Foi como Lil disse, a fantasia de vocês é incrível.

Hestia e James trocam algumas palavras sobre amenidades — elas pegaram muito trânsito, ele andou até aqui e esbarrou com três quartos de Hogwarts nas ruas —, mas Lily sente que tudo está acontecendo em algum lugar muito distante. Ainda assim, Lily sabe que Emmeline está analisando cada um dos seus movimentos, e fica difícil relaxar debaixo do olhar inescrutável de Emmeline Vance.

— Como tem estado, Lily? — quer saber Emmeline, e a preocupação legítima em seu olhar faz Lily ter vontade de chorar.

Emmeline é, legitimamente, uma das melhores pessoas que Lily conheceu em Hogwarts — divertida, inteligente, de língua afiada e, principalmente, preocupada com os outros. Todo mundo sabe que se apaixonar por alguém que não está te colorizando é uma aposta arriscada, mas foi impossível não amar Emmeline. Lily chegou a pensar que talvez as almas gêmeas das duas não seriam românticas, mas sim platônicas, diante da maneira pela qual seu coração transbordava de amor por Emmeline. Mas então Em começou a se colorizar e se apaixonou por sua alma gêmea e terminou com Lily — há mais de um ano. Ela achou que ver as duas juntas não a afetaria tanto, já que faz séculos que Lily a evita, mas...

Lily respira fundo e se reclina nos braços de James, que a apertam com mais gentileza contra o corpo dele.

— Bem. — Ela responde, com um dar de ombros. — Muito ocupada com o laboratório, mas bem. E você?

Emmeline estreita os olhos, claramente desconfiada. Ela olha de James para Lily com uma intensidade alarmante, que levanta os pelinhos dos braços de Lily e faz com que o sorriso que pregou em seu rosto fraqueje. Lily recorda-se que, quando terminaram, Emmeline ainda queria continuar amiga de Lily, e lembra-se também como esteve perigosamente perto de manter Emmeline em sua vida, se Marlene não tivesse interferido. Lily percebe, agora, no meio dessa festa de Halloween enquanto tá fingindo que namora um cara que nem conhece muito bem, que Marlene estava certa. Ela não conseguiria superar Em se ela continuasse amiga dela.

— Em, acho que tô vendo o Eddie. — Interrompe Hestia, antes que Emmeline comece o discurso que já tinha preparado. — Vamos lá dar um oi?

As duas se afastam de James e Lily depois de despedirem-se brevemente, e Lily consegue manter o sorriso fantasma no rosto apenas tempo o suficiente para se certificar que Emmeline não está mais olhando em sua direção. Em seguida, ela age como se estivesse sendo controlada por alguma vontade cósmica, e não por si mesma: Lily se vira e enterra o rosto nas mãos, repousando-as no peito de James, que solta a cintura de Lily e passa as mãos pelos ombros dela.

— Meu Deus. — Ela consegue dizer, depois de estar absolutamente certa que não vai chorar. Sua voz ainda se quebra, mas ela ignora esse fato. — Eu sou tão patética.

— Todo mundo é patético quando se trata de ex, Evans. — Replica James, em tom conciliatório, seus dedos deixando rastros de fogo pelas costas de Lily. — Mas meninas, huh?

Lily bufa como um porquinho e ergue a cabeça para ver melhor o rosto marcado pela cicatriz falsa de Potter. Sua mandíbula está travada como quem convida James a desafiá-la.

— Algum problema?

— Nenhum. — Ele responde automaticamente, seu rosto suave, estreitando o abraço de forma bizarramente familiar. — Quer dar uma volta e respirar um pouco de ar puro?

— Vou só pegar o meu chapéu.

Ele vai com ela até o armário perto da saída e os dois saem para o corredor do prédio que também está cheio de gente. Os outros cinco apartamentos do andar estão com as portas abertas e música vazando pelas paredes, as pessoas transitando livremente de uma festa para a outra conforme veem conhecidos. James acena para o quê parece ser uma centena de pessoas, e Lily cumprimenta algumas delas com acenos e sorrisos tímidos. Eles pegam as escadas, já que estão apenas no segundo andar e tem uma fila para o elevador, e vão até o pequeno jardim de inverno que fica entre os prédios e serve de área comum. O ar de início de novembro é gelado e refrescante, deixando Lily até um pouco sóbria. James surpreende-a estendendo uma garrafa de água enquanto se sentam num dos bancos de madeira do jardim.

— Eu amo Halloween — ele declara, espalhando-se pelo banco, as espadas tilintando com o movimento. — Especialmente o Halloween em Hogwarts.

— É verdade, você estudou aqui antes. — Lily tinha completamente se esquecido que James e Sirius são donos de uma reputação na Grifinória porque passaram os quatro anos de undergrad lá. — Como que a gente nunca se viu?

Ele dá de ombros.

— Você sempre morou na Grifinória?

— Não. Fiquei um ano e meio morando fora do campus.

— Então foi isso. Eu saí há três anos, e voltei agora.

Lily murmura seu entendimento, mas guarda sua curiosidade sobre porquê Potter não emendou a grad school no undergrad. Ela, no entanto, percebe que não faz ideia do quê James estuda, e tampouco sabe como perguntar. Ele estuda no prédio dela, mas não está em nenhuma das suas aulas e seminários, então ela desconfia que não seja Medicina, mas é isso. Lily sente vontade de fazer uma careta — como não sabe o quê James estuda?! Ela não quer admitir sua indelicadeza, então fica quieta, e faz uma nota mental de perguntar para Marlene, mais tarde, quando estiverem sóbrias.

Eles permanecem em silêncio, mas não é um silêncio pesado e desconfortável. Lily nota que James não puxa imediatamente o celular do bolso para conferir qualquer coisa na internet, e alguma coisa dentro de si se suaviza diante da percepção. Ela oferece a garrafa d’água para ele e ele aceita de bom grado, seus dedos se tocando por alguns segundos. Lily está sentindo o efeito do álcool deixar o seu sistema aos poucos, e sabe que em breve estará faminta e terá que convencer Remus a ir com ela até o Cabeça de Javali para comerem alguma coisa; mas, nesse momento, ela se permite relaxar e aproveitar a companhia de Potter.

— Obrigada, falando nisso. — Lily rompe o silêncio por fim, quando o mundo para de latejar música em sua cabeça e ela consegue pensar mais claramente. — Por, er, me ajudar com a coisa com Emmeline.

— Sei reconhecer uma donzela indefesa quando vejo uma — responde James, com um sorriso insuportável no rosto bonito. Lily rola os olhos em resposta e deliberadamente afasta-se dele no banco. Ele endireita as costas e limpa a garganta. — De nada, Evans. Fico feliz em poder ajudar.

Mas até mesmo James consegue perceber que alguma coisa se quebrou entre eles com seu comentário inconveniente. O silêncio entre os dois não é mais amigável e sereno, e não demora muito para que decidam voltar para o apartamento de Marls e Dorcas. Lily não vê Remus há horas, afinal de contas — está começando a se preocupar com o amigo. Eles sobem as escadas ainda sem falarem um com o outro, e, quando alcançam o andar, James é parado por alguém no corredor para conversar enquanto Lily segue em frente.

Emmeline e Hestia não estão em nenhum lugar a vista, e Lily suspira de alívio. Ela vai até a varanda, e Remus está lá, apoiado no parapeito, olhando para o horizonte como se estivesse num clipe de Ed Sheeran. Lily enrosca seu braço no dele e descansa a cabeça em seu braço, porque não alcança seu ombro, e os dois ficam vendo o horizonte iluminado artificialmente de Hogsmeade por dramáticos minutos.

— Emmeline teve aqui — comenta Lily, só para romper o silêncio. Remus concorda com a cabeça. — Ela falou com você?

— Sim, me apresentou a namorada e tudo. Mas logo depois foi embora.

— Hmm...

Remus passa os braços pelos ombros de Lily e apoia seu queixo no topo da cabeça dela, seu peito colado nas costas dela, os dois ainda virados para a paisagem.

— Você tá bem? — ele pergunta, tão delicadamente que arranca duas lágrimas solitárias do rosto de Lily. — Não deve ter sido fácil...

— Não foi — admite, fungando baixinho. Ela é grata por Remus não poder ver seu rosto, nem ela poder ver o dele. Lily quase consegue imaginar como as feições de Rem arranjam-se da forma mais suave possível, cada linha de seu rosto marcada com pena de Lily, e sabe que cairia no choro ao ver o rosto do amigo. — Queria que fosse. Faz tanto tempo.

— Ainda mais encontrando a Emmeline sozinha, sendo que ela tá namorando.

Lily delibera sobre contar a Remus o quê aconteceu, e decide fazê-lo rápida e decisivamente, como se estivesse arrancando um band-aid.

— Potter fingiu ser meu namorado por alguns segundos. Não que eu ache que a Em tenha acreditado, mas...

— Potter fez o quê? — Remus parece escandalizado, e está soltando Lily para poder olhá-la nos olhos quando Marls entra na varanda e desliga a música.

— Votos contados! Vamos anunciar os vencedores do concurso de fantasia!

Lily desliza para fora do abraço de Remus, mas puxa-o pela mão para dentro do apartamento, o burburinho das pessoas ao redor dos dois impedindo qualquer conversa mais séria. O cômodo principal do apartamento está lotado de pessoas, e Marlene teve que subir em um banquinho, ao lado de Dorcas, para se destacarem no meio da multidão. Lily sorri diante da empolgação das amigas, e seu olhar recai sobre Potter, no outro lado da sala, vestindo sua máscara de Espírito Azul. Ela prende a respiração por alguns segundos e a solta de forma calma, deliberada, voltando sua atenção para as anfitriãs.

— Antes de tudo, gostaríamos de agradecer a presença de todos vocês aqui com a gente, na primeira festa na nossa nova casa! — Começa Marlene, e o público explode em aplausos. — Ah, também gostaria de dizer que fazer um concurso de fantasia numa festa open bar pode não ter sido a melhor escolha, porque a caligrafia de pessoas bêbadas é horrorosa.

Todos, inclusive Lily, riem com gosto. Ela lembra-se de votar em Alice e Frank para melhor fantasia de casal e, para melhor fantasia individual, em uma menina vestida como uma desculpa formal — um lençol como se fosse uma carta e “desculpe-me” escrito em cursiva. Está curiosíssima sobre quem vai levar o primeiro lugar da fantasia individual, porque são tantas ideias boas e engraçadas ao seu redor que é impossível se decepcionar.

— Então vamos lá! — É Dorcas que segura as medalhas chinfrins em suas mãos e lê um pedaço de papel com desenvoltura, assim que tirou o cabelo dos olhos. Ela deve ser a única pessoa sóbria nesse apartamento inteiro. — Para melhor fantasia individual, temos a T.A.R.D.I.S.! — Uma enorme caixa de papelão abre caminho pela multidão gritando alucinadamente, empurrando as pessoas conforme passa, a luz no topo da cabine brilhando com força.

Remus e Lily se entreolham e caem na gargalhada ao mesmo tempo.

O segundo lugar vai para uma menina vestida de t-rex, e o terceiro para a “desculpa formal” — Lily grita sua aprovação com gosto, batendo as mãos e indo tirar uma selfie com a desconhecida depois que ela recebeu sua medalha.

Quando todo mundo se acalma depois da primeira rodada de premiações, Dorcas e Marlene se entreolham de forma tão única que Lily sabe que uma mudança no planejamento está para ocorrer e fica instantaneamente ansiosa. Seus pés ficam batendo contra o linóleo num ritmo inconsciente e seus dedos ficam batucando suas pernas, impacientemente.

— Para melhor fantasia de casal... Desconsideramos todos os votos pra gente. — Dorcas anuncia, sorrindo. — Não achamos justo com nossos convidados a gente ganhar o concurso...

— O quê inevitavelmente teria acontecido — interpela Marlene com uma piscadela que arranca risadas da plateia e um rolar de olhos de Dorcas.

— ... e por isso contamos os votos para as outras fantasias de casal. — Continua Dorcas, como se a interrupção nem tivesse acontecido. — Então, em primeiro lugar, Mustang e Hawkeye!

Lily consegue ouvir o gritinho empolgado de Alice mesmo que não consiga ver a amiga. Quando Frank e Alice alcançam Dorcas e Marls para receberem seu prêmio, os dois estão sorrindo como maníacos, quase cegando aqueles que olham direto para eles. Lily aplaude e abraça Remus, completamente extasiada. Com Marls e Dorcas fora da competição, os resultados são muito mais imprevisíveis, e, portanto, todo mundo fica muito mais interessado.

— Em segundo lugar, Percy Jackson e Annabeth Chase!

A plateia surta. Gritos de “PERCABETH!” abalam o apartamento e parecem fazer as paredes tremer. Remus e Lily juntam-se a eles sem hesitar, batendo palmas e pés. O casal que vai receber o prêmio é de duas meninas, impecavelmente vestidas em roupas esfarrapadas do Acampamento Meio-Sangue: Annabeth tem seu boné dos Yankees e Percy sua espada-caneta. Elas se beijam na frente de todo mundo e conseguem mais gritos inarticulados de aprovação. Alice e Frank tiram uma foto com as duas e Dorcas continua a premiação de maneira graciosa.

— O terceiro lugar foi um empate! Então, por favor, vamos receber o Capitão Kirk e o Mr. Spock! — Urros ensurdecedores fazem as pernas de Lily tremer, e ela se vira a tempo de ver o queixo de Remus cair. Ela o empurra na direção de Marls ao mesmo tempo em que Dorcas continua: — E o Espírito Azul e a Dama Pintada!

Lily congela. As pessoas ao seu redor estão todas olhando para ela, aplaudindo e assoviando, mas Lily ouve tudo como se estivesse com a cabeça debaixo d’água. O estômago dela está dando nós em si mesmo, girando no próprio eixo, e Lily sente o olhar das pessoas em cima de si como raios laser perfurando-lhe a cabeça. Mas seus amigos estão ali, à distância, comemorando (embora Remus pareça que vá vomitar a qualquer momento), esperando por ela. Lily tenta sorrir e dá um passo na direção das anfitriãs, e, quando olha pro lado, Potter está ali, espadas nos punhos, quase dançando na frente dela, para que o mundaréu de gente abra caminho.

Todo mundo bate palmas, extasiados pela demonstração do espírito, e Lily pega a deixa.

Ela respira fundo e ajeita a postura, caminhando delicadamente, seus pés se movendo de maneira que suas vestes continuem se agitando. É como se ela flutuasse através da névoa, e tem que tomar cuidado para que seus tênis não apareçam por debaixo das saias nem que seu chapéu caia de sua cabeça. O véu também balança no sabor do ritmo que Lily impõe a sua caminhada, seu foco permanecendo preso nas costas do Espírito Azul. Quando Potter chega, recebe a medalha de Dorcas com pouca cerimônia, e vira-se imediatamente para esperar a chegada da Dama Pintada. Ele embainha as espadas e oferece uma mão para Lily, que aceita com graça etérea.

— Evans, você deveria ter cursado Artes Cênicas — ele comenta por debaixo da respiração conforme a conduz até Marlene. Ela sorri magnânima para ele enquanto ajeita a medalha no peito, depois de ter tirado o chapéu, e se põe ao lado de James. — Mas que doid-

Selfie! — Exige Alice, já reunindo os quatro casais vencedores e puxando o celular do bolso. Lily mal tem tempo de sorrir antes que o obturador dispare múltiplas vezes e Alice esteja expulsando todo mundo na tentativa de chegar até Lily. — Agora só de nós duas.

Elas fazem poses por alguns minutos, e Lily pede por uma foto com Frank também, seus sonhos de fã de Fullmetal Alchemist se concretizando.

— Lily, você não me disse que tinha combinado fantasias com o James — Alice comenta em tom acusatório.

Lily, é claro, enrubesce.

— É porque não combinei. Foi uma coincidência.

— Coincidência, é? — Alice soergue as sobrancelhas e olha para Potter, que está conversando com um Remus mortificado. — Hmmm.

Lily não gosta dessa expressão no rosto de Alice; está já procurando a saída mais próxima quando a amiga enrosca o braço no dela e a puxa na direção de James e Rem.

— Jay, uma foto com a Lil, por favoooor!

Jay?, é tudo que a mente de Lily consegue pensar conforme Potter abre um brilhante sorriso e veste a máscara.

O flash da câmera ameaça abrir um buraco nas retinas de Lily, mas ela ainda consegue sorrir serenamente por toda a photoshoot de Alice.


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Notas finais do capítulo

tô 100% aqui pra discutir a simbologia por detrás da dama pintada e do espírito azul, assim como as implicações narrativas que eles dão pro arco de zuko e katara em avatar: a lenda de aang. (kataangs pfvr não me odeiem!!! eu respeito o ship endgame de vcs!!!)

para efeitos de 'komorebi', o james é meio-indiano: o pai é branco e a mãe é descendente de indianos (os pais dela são de tamil nadu), embora todo mundo seja inglês.

dsclp a demora mas saúde mental é um SACO quando fica ruim e pelo menos trouxe 9 mil palavras pra vocês!

comentários são amor. espero que tenham gostado.
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lista de fantasias dos personagens nesse capítulo, respectivamente:
marlene e dorcas: rubi e safira, de 'steven universe'
remus e sirius: mr. spock e capitão kirk, de 'star trek'
alice e frank: riza hawkeye e roy mustang, de 'fullmetal alchemist'
james: o espírito azul, que na verdade é o príncipe zuko disfarçado, de 'avatar: a lenda de aang'
lily: a dama pintada, que na verdade é katara disfarçada, de 'avatar: a lenda de aang'



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