Os Deuses da Mitologia escrita por kagomechan


Capítulo 152
APOLO - Enfrentando Jarjachas e Dragões


Notas iniciais do capítulo

no momento, estão nas AMÉRICAS os grupinhos:
— Nova Roma: Frank, Lavínia, Hazel, Annabeth, Kayla, Grover, Percy, Piper,
— NY: Cléo, Paulo, Austin, Drew, Carter, Rachel e Zia
— Peru: Leo, Calipso,Magnus, Jacques, Alex, Festus, André (Brasileiro que tava na Nigéria e não sabe jogar futebol), Meg e Apolo
no momento, estão na AFRICA, os grupinhos:
— Nigéria : Olujime
no momento, os grupos que estão na EUROPA são:
— Indo para a Itália: Caçadoras de Ártemis (Thalia, Ártemis, etc), Clarisse, Reyna, Ciara
— Indo para Inglaterra: Blitzen, Hearthstone, Mestiço, Mallory
— França : Sam, Anúbis, Sadie, Will, Nico
— Alemanha: Maias-Astecas: Victoria, Micaela (a menina q parece Annabeth) e Eduardo (guri chato que o Mestiço deve estar querendo esganar)



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APOLO

Sabe caos? Não meu tetravô, mas essencialmente bem parecido. Era assim que estavam as coisas ali no Peru, no vilarejinho de Gorgor. 

Se alguma vez vir um deus, inca ou não, montado em sua versão inca de dragão, vindo em toda velocidade para onde você está, saia do meio do caminho o mais rápido possível. O problema, é que o possível talvez não seja rápido demais. Quando essa combinação perigosa surgiu, derrubando tudo que tinha em seu caminho, eu apressadamente agarrei Meg e Pêssego e saímos rolando para longe. 

Não foi um rolamento ideal nem bonito, os resmungos de dor de Meg confirmaram isso. Ela se ralou e caímos de qualquer jeito no chão, mas ao menos ela não se juntou à lista de vítimas que se formaram onde o dragão passou voando, rasgando tudo que tocava. E a lista de vítimas foi boa parte do pessoal inca que a gente nem chegou a pegar os nomes ou confirmar se eram semideuses.

O monstro carregou Calipso, Leo e Festus para sei lá onde, Iara também rolou para longe e carregou André junto, que gritou de dor. Magnus e Alex deram a sorte de estarem fora da rota do monstro, mas foram empurrados barranco a baixo pelo vento forte que acompanhou o monstro. Então… juntando tudo isso, sim, era um completo caos, e não era um caos bonito (se é que existe algo assim).

Tava feio, Pêssego gritava Pêssego, mas provavelmente era vários palavrões, Meg estava irritada, pessoas gemiam machucadas ou o nome de seus amigos que não respondiam e, enquanto isso, Illapa que apareceu no começo simplesmente saiu correndo com o rabo entre as pernas ao invés de continuar ajudando a gente. 

— Tudo bem? - perguntei apressadamente para Meg, meio largada no chão segurando o pulso, aparentemente machucado, e o antebraço ralado.

— Inteira… - resmungou Meg enquanto eu reconhecia a cena da profecia de Rachel acontecendo ao nosso redor. Faltava só a roupinha com lhamas.

— Ah que bom… - resmunguei em puro sarcasmo.

— APOLO! - gritou Iara.

Olhei por um segundo para Iara, e vi ela com André nos braços, e ele não parecia nada bem, julgando pelo tanto de sangue que havia sujado ela. E, claro, ainda tinha todos os outros feridos ao nosso redor… era demais até para mim. Nenhum sinal de Calipso, Festus e Leo.

— Vá atrás de Alex e Magnus por favor! - falei apressadamente para Meg, enquanto ia correndo para Iara.

Torcendo pela ajuda de Magnus, eu corri até Iara e vi o estrago que a pancada com o dragão inca havia feito no braço de André… que mal dava pra dizer que um foi um braço. Não vou nem descrever muito. De toda forma, apressadamente comecei a tentar curá-lo, enquanto André parecia ficar em dúvida se era melhor desmaiar ou não.

— Eles tão bem! - gritou Meg, me permiti ficar um pouco feliz, mas meu foco estava todo em curar André.

Quando o olhar de André começou a parecer mais vivo e ele ficou fora de perigo e parou de sangrar, achei que era melhor ir para outras pessoas e então voltar para ele. 

— Aguenta firme agora? - perguntei apressadamente olhando para Iara e André - Vou ver o resto do pessoal.

— Sim… eu cuido dele agora. - garantiu Iara - Algum sinal dos outros?

— Não… - respondi apressadamente.

Eu mal terminei de ouvir ela falando, e já fui correndo para as demais vítimas, que eu nem sabia o nome. Do barranco onde Alex e Magnus saíram rolando, felizmente ouvi Magnus falando:

— To indo ajudar! - gritou ele ofegante, claramente pelo esforço de subir a ladeira.

— Vê os deste lado da esquerda que eu vejo os da direita! - falei indo apressadamente para a primeira garota, de respiração fraca, que estava mais perto.

Eu nem esperei Magnus aparecer, não tinha tempo para isso. Fui tratando quem eu conseguia, por mais difícil que fosse eu me dividir. Aqueles que não tinham ficado na mira do Supay tentavam ajudar os colegas e corriam de um lado para o outro tentando achar alguma coisa que ajudasse nas casas abandonadas do vilarejo. Mas, no final das contas, era uma cena horrível de mais mortos se juntando aos mortos que já estavam lá quando chegamos. Infelizmente, a verdade era que parecia que tinha coisas de menos que podíamos fazer e curandeiros de menos também.

Continuei tentando até quando os demais tentaram ajudar também, por mais que a ajuda de Magnus fosse a mais importante ali, já que também conseguia curar as pessoas. 

— O que eu faço? - perguntava Meg apressadamente enquanto Alex e Iara já pareciam saber mais o que fazer sem instruções.

—  Sabe fazer magicamente alguma erva medicinal aí? - falei apressadamente -Tipo... Curcuma! Alecrim! Cavalinha!

— A-Ah… t-tá… - disse ela remexendo na sua bolsa de sementes enquanto eu ia para meu próximo paciente, sem tempo para me deliciar com a sensação de estar dando ordens para Meg - Tem Cavalinha e Alecrim.

— Planta as duas, cresça elas, deixe elas de molho em algum jarro d’água ou sei lá pra fazer chá e vai fechando ferimentos enquanto o chá fica pronto. - falei.

— Pêssego, vá procurar alguma jarra ou algo do tipo, e água. - disse ela pegando as sementes que indiquei e jogando-as no chão.

— Pêssego! - disse Pêssego, saindo correndo pelo vilarejo imediatamente.

As plantas iam crescendo sob o controle de Meg enquanto eu ia correndo para os casos mais extremos e que precisavam de mais ajuda caso ainda houvesse alguma esperança. Magnus fazia o mesmo e Alex e Iara tentavam ajudar também. André, machucado, estava deitado tentando arrumar um pouco de forças para ajudar também sem botar a si mesmo e em perigo.

O chá já estava sendo preparado numa jarra roubada de alguma casa e sobre uma fogueira improvisada, quando as coisas começaram a mudar drasticamente. Do nada, o céu repentinamente ficou escuro, o que dificilmente era um bom sinal. Mas claro que tinha como as coisas pioraram, e o essa piora foi os vários gritos que ouvi vindo da nossa frente, da direção de onde Supay tinha carregado Calipso, Leo e Festus. Não era um grito humano normal, era algo horrendo como se várias coisas gritassem em ritmos totalmente diferentes, algo como "Jar-Jar-Jar" ou "Qar-Qar-Qar".

— Seja lá o que está vindo, não gosto disso. - disse Alex enquanto o som ia ficando cada vez mais próximo.

— Também não… - respondi, sem ter certeza se era seguro parar de dar atenção para os pacientes.

Fiquei dividido entre me levantar por meros segundos, foi tudo que precisou para os donos dos gritos horrendos aparecerem. Eram monstros terríveis, uma mistura de lhama só que com rostos grotescos de humanos com olheiras nas olheiras e olhos inteiramente brancos. Mal olhei por um segundo para eles, visto que meu paciente da vez gritava de dor e sangrava muito.

Tendo aparecido “apenas” quatro, achei que Alex, Iara, Meg, Pêssego, André (suficientemente curado) e os semi deuses incas que ainda poderiam lutar seriam suficientes para lidar com aqueles bichos. Então continuei a tratar dos feridos desesperadamente, ignorando os bichos recém-chegados, mas logo notei que aqueles bichos eram mais do que simplesmente feiosos.

— Jarjachas! - gritou alguém.

— Jar-o-quê? - perguntei tentando encontrar a pessoa que gritava, e vi que a maior parte dos semi deuses incas estavam ou correndo pra longe dali, ou fechando os olhos como se estivessem prestes a encarar a Medusa.

— Gente! Não olhem pra esse bicho! - gritei com pressa tentando deixar o olhar no chão, sem saber o que esperar se eu olhasse mais alto - Tem algo errado!

Eu não sabia exatamente o que tinha de errado, mas logo descobri quando Pêssego pulou em cima de mim, ME atacando!

— PÊSSEGO! - gritei, enquanto colocava minha mão no meio do caminho daqueles dentes afiados - O QUE VOCÊ TÁ FAZENDO??

Mas ele não parecia me ouvir, ficou lá tentando me morder e logo, repentinamente, Meg ia na minha direção me atacando com suas cimitarras.

— No les mires a los ojos… - disse o paciente que eu estava tratando, que mantinha os olhos firmemente fechados.

— MEG! - falei, já entendendo o que o olhar daqueles tais de Jarjachas fazia.

— Não olhe para os Jarjachas! - avisou Iara que, pelo o que meus ouvidos conseguiam pegar, estava na própria confusão com André, que também havia perdido o controle.

— Eu notei! - respondi.

— ALEX! ESPERA! - ouvi Magnus repentinamente gritando desesperado.

Me esquivei apressadamente de Meg, sacudi Pêssego da minha mão e consegui a tempo de pegar o garrote dela, prontíssimo para decapitar Magnus, que tinha sido sortudo o suficiente para estar ocupado curando alguém para olhar para os Jarjachas antes de avisarmos. E olha… talvez eu tenha superestimado um pouco a pele de um deus, mas nossa que garrote bom… Eu agarrei ele e ele dolorosamente cortou minha mão, não o suficiente para desmembrá-la, mas o suficiente para eu ficar chocado e com muita dor enquanto o icor escorria até pingar no chão. 

Ficamos então num doloroso cabo de guerra. Mas, claro, eu ainda tinha que lidar com Meg e com os Jarjachas, que tentaram ficar correndo na minha direção para me cabecear ou me forçar a olhar nos olhos dele. Tentei evitar ambos os problemas, e, infelizmente, nesse processo eu tive que dar um chute na barriga de Meg.

— DESCULPA! - gritei enquanto ainda segurava o fio cortante do garrote e Meg caia no chão segurando a barriga de dor e colocando toda a comida do estômago para fora - MAGNUS, TIRE OS FERIDOS DE PERTO!

Não muito longe, enquanto Magnus fazia o que eu pedi, Iara parecia estar tentando lidar com André, alguns semi deuses incas e sua própria parcela de Jarjachas. Na verdade, ela parecia até estar cantando e isso parecia estar acalmando pelo menos André e alguns dos semi deuses incas.

Minha cabeça já estava pensando em métodos de nocautear alguém quando um Jarjacha veio correndo na minha direção de novo e, de um jeito meio automático, eu agarrei o garrote com minha mão livre também, acabando por cortá-la, e aproveitei que ele corria para mim para usar o garrote como uma espécie de faixa de linha de chegada de corrida.

A diferença, foi que ao invés da faixa cair ou se partir, como acontecia nas corridas normais… foi o Jarjacha que caiu com uma cabeça faltando e logo virou pó. Claro que ainda tínhamos problemas demais para nos preocupar, mas, o lado bom, foi que aquele aparentemente era o monstro que Meg tinha olhado. Pois ao invés de continuar a se levantar e me atacar, ela continuou no chão, e falou:

— O que está acont-? -  perguntou ela, mas eu logo a interrompi.

— NÃO OLHA PRO BICHO! OLHA PRO CHÃO! - gritei desesperado enquanto Alex avançava na minha direção, provavelmente querendo usar o garrote de uma forma mais criativa para me decepar.

— Quê? - perguntou Meg confusa, mas Magnus correu para a direção dela e a forçou a olhar apenas para ele. 

— O bicho que parece uma lhama do inferno… ele hipnotiza as pessoas com o olhar. - explicou ele - Fique olhando pro chão.

— PÊSSEGO!!! - gritou Pêssego indo atacar os dois.

— PÊSSEGO! PARE! - gritou Meg, tentando fazer com que suas ordens fossem mais fortes do que a do Jarjacha.

Pêssego realmente pareceu ter ficado em dúvida, e talvez com uma baita dor de cabeça, mas eu tinha problemas maiores para me preocupar enquanto ela lidava com ele. Os Jarjachas pareciam doidos para olhar nos meus olhos e ter que lidar com Alex ainda me atacando complicava tudo. 

Minhas mãos sangravam e eu sentia que não faltava muito para os cortes acabarem com nervos e tendões importantes para eu conseguir segurar o garrote de Alex e impedir que ela decapitasse o resto do pessoal. Os resmungos de Meg, Magnus e Iara tentando lidar com Pêssego, André e talvez mais um Jarjacha eram meros barulhos de fundo… até quando Alex rolou para longe e, logo atrás dela, vi os olhos intensos e brancos do Jarjacha olhando para mim. 

Tudo então pareceu apenas um filme que eu simplesmente assistia e não tinha nenhum controle sobre. Senti a energia subindo pelo meu corpo de um jeito bem familiar. Queria gritar para os demais que estava prestes a soltar a forma divina para todos verem (e morrerem quando vissem), mas meus lábios não se mexiam. 

— FECHEM OS OLHOS PRA NÃO MORRER! - gritou Meg se encolhendo e fechando os olhos, abraçando Pêssego em seu peito - ELE PARECE ESTAR INVOCANDO A FORMA DIVINA! 

Iara deu um golpe poderoso de algo tipo jiu-jitsu ou judô, derrubando André no chão e logo escondendo o rosto dele de mim. Repentinamente também, Magnus correu para Alex e derrubou-a no chão. O garrote dela escapou das minhas mãos, agora frouxas ao invés de segurando o fio cortante com força, e então a luz explodiu e meu corpo pegou fogo, mas sem doer em mim. 

Eu tentei lutar contra aquele controle do Jarjacha, tive até a impressão de o fogo ter piscado momentaneamente como uma luz falhando, mas mais do que isso, eu desesperadamente torcia para todos terem saído ilesos do meu ataque. Então comecei a ouvir uma música chegando em meus ouvidos numa voz doce e gentil que logo reconheci como sendo de Iara.

— Assim que o dia amanheceu… lá no mar alto da paixão… - cantava ela lentamente em português.

Senti imediatamente meu corpo se partir ao meio na dúvida de quem obedecer. Foi ali que reconheci aquele efeito… Iara era uma sereia, e estava me roubando do controle do Jarjacha. Uma parte de mim até se sentiu triste por estar numa situação tão ruim. Como deus da música, eu obviamente admirava a música brasileira… especialmente o ritmo contagiante do samba, mas aquela era muito mais lenta… e romântica.

— Dava para ver o tempo ruir.. Cadê você? Que solidão… - continuava ela tranquilamente, puxando a barra da camisa de André para cima até envolver a cabeça dele na camisa, para evitar que ele olhasse para mim ainda assim - Esquecera de mim… Enfim, de tudo o que há na terra.. Não há nada em lugar nenhum… Que vá crescer… sem você chegar…Longe de ti, tudo parou. Ninguém sabe o que eu sofri…

— I-Iara… - consegui, com muita dificuldade, falar.

— Amar é um deserto e seus temores… - continuou ela lentamente - Vida que vai na sela dessas dores… 

Os Jarjacha rugiram, com raiva, e começaram a correr na direção dela, que não ousava tirar os olhos do chão (o que não costumava combinar com uma luta). Não sou especialista em hipnotismo de sereia comparado a hipnotismo de monstro infernal peruano, não sei se ela precisava primeiro lentamente se apossar do meu controle, só sei que a música repentinamente mudou e o ritmo com que eu me movia parecia até acompanhar a música.

— Meu samba tem muito axé, quer ver, vem dizer no pé. Escute o som do tantã. Tem samba até de manhã. - falava ela apressadamente numa velocidade incrível e praticamente gritando - Pra curar o desamor e a tristeza afastar, você que nunca sambou, se liga, tem que sambar. 

Num pico de energia, meu corpo se mecheu junto com a música dela enquanto ela continuava só fitando o chão. Peguei meu arco e flecha e atirei bem na cabeça de um dos Jarjacha que corriam até ela. 

— Meu samba é de arerê, quem samba não quer parar. Na hora do vamo vê, o meu samba é ruim de aturar, tem o dom de resolver, deixa tudo no lugar… - continuava ela - Você que nunca sambou, se liga, tem que sambar.

Eu preparei a segunda flecha, minha mão cortada doendo mais ainda por isso, e André parou de se debater tentando escapar da própria camiseta provavelmente também tendo seu controle roubado por Iara. Atirei a flecha e logo acabando com o penúltimo dos Jarjacha enquanto Iara pulava para longe do último, puxando André junto, sem nem parar de cantar.

Com o penúltimo dos Jarjachas vivos, eu senti a energia que havia na minha cabeça competindo pelo controle com Iara como um cabo de guerra, sumir. Provavelmente aquele Jarjacha que eu havia acabado de matar era o que eu olhei e me controlava. Mas ainda assim, parecia que Iara não tinha acabado com seu plano, pois continuou a cantar apressadamente aquela música.

— Se liga, na palma da mão. Vem ver, meu povo cantar. Vem ver, meu samba é assim. - continuou ela apressadamente enquanto eu pegava outra flecha.

Meus olhos cruzaram com o do Jarjacha, mas eu já estava totalmente sob a mercê de Iara. Se minha forma divina ainda estivesse ativada, ele já teria virado churrasquinho de lhama caipirotada… mas era mais seguro assim. Não queria transformar mais ninguém em churrasco, e já me preocupava com se havia transformado alguém em churrasco antes.

 - Amor, você pode provar, mas deixe um pouquinho pra mim. - cantou ela enquanto minha flecha escapou de meus dedos e atingiu o Jarjacha bem no olho.

O monstro caiu e soltou um barulho de dor que eu teria tido mais dó se a situação fosse diferente e eu não estivesse já tão irritado com eles. Nesse ponto, não sei se fui eu ou Iara o responsável por mover meu braço e lançar mais uma flecha no Jarjacha, acabando logo com ele.

Aliviado e subitamente cansado pelo embate mental pelo controle de mim mesmo, eu caí exausto no chão e olhei para o estrago que eu poderia ter feito. Magnus e Alex estavam bem, só sujos de terra e grama. Meg, Pêssego e André também estavam bem. Quanto aos semideuses incas, a maioria tinha saído correndo quando os Jarjachas chegaram e não havia mais sinal deles. Havia dois semi deuses incas que timidamente colocavam a cabeça para fora de uma das casas do vilarejo, e alguns dos feridos ainda gemiam no chão, mas também via meia dúzia de montes de cinzas escuras com cheiro de queimado que apertaram meu coração, pois sabia que eu era o culpado por elas.

Fiquei fitando aqueles montes de cinzas com o coração pesado. Sentia as lágrimas recheadas de culpa se acumularem nos meus olhos quando Iara chegou perto de mim e colocou a mão no meu ombro.

— Valeu pela ajuda… - resmunguei, sem tirar os olhos daqueles cujas mortes eram minha culpa.

— De nada… infelizmente só funciona com homens. E não fique assim… - disse ela - A culpa é dos Jarjachas. Acho que eles queriam você exatamente por isso.

— Isso não me deixa muito melhor. - respondi.

— Vamos cuidar dos feridos antes que mais alguma coisa apareça para nos atacar. - sugeriu Alex - Ainda temos que ir resgatar Calipso, Leo e Festus.

— Podemos nos separar… - sugeriu Magnus.

— O que raramente é uma boa ideia… - disse Alex - Mas também estou preocupada com eles… e desculpa pela mão… 

— Tudo bem… - respondi, cabisbaixo.

— Vamos terminar logo por aqui então. - disse Meg - Algum sinal de Calipso, Leo e Festus?

— Não… - disse Magnus preocupado - Vou curar as pessoas que ainda tem pra curar e vocês duas procuram por eles?

— Pode ser. - disse Alex afirmando com a cabeça e trocando um olhar com Meg.

— Vou dar o chá pro pessoal rapidinho… - disse Meg.

— Deixa comigo isso. - disse Iara - Vá atrás dos seus amigos. Mas não vão muito longe.

O ataque dos Jarjachas… e meu… diminuiu o tanto de pessoas que tínhamos para tratar, já que quem conseguia andar e carregar alguém, acabou fugindo. Enquanto eu comecei a tratar uma garota, tentei obter mais informações de tudo que acontecia ali enquanto a curava.

— Então… cómo te llamas? - falei, arriscando meu espanhol.

— Dayana. - respondeu ela, olhando para mim séria e desconfiada - Eu falo inglês.

— Ah… legal… - falei - O resto do pessoal vai ficar mais confortável então de falar em inglês. Eu me viro no espanhol ainda por causa do latim e tal… 

— Quem é você? - perguntou ela.

— Apolo… - respondi, envergonhado - Desculpa… pelos… seus amigos…  

— Isso que acontece quando se deixa o Jarjacha te controlar. São bichos perigosos. - explicou ela, com raiva na voz e no olhar também, mas misturada com lágrimas.

— Tá cheio de bicho perigoso por aqui aparentemente… - comentei.

— Nos atacaram. - disse ela - Moramos aqui nos vilarejos ao redor de Caral. Estão tentando chegar lá.

— É nossa suspeita também. - falei - É nosso objetivo final...

— Se tantos dos meus amigos não tivessem morrido ou fugido, eu até iria com vocês… - respondeu ela - Mas só quero ver quem ainda está bem e me certificar de que continuarão assim. Já demos demais de nós nas últimas horas… matamos muitos monstros antes de vocês chegarem. Vocês deram sorte que só sobraram esses…

— Eu entendo… - eu disse, de fato entendendo, o tanto de mortos só ali em Gorgor era incalculável e ainda poderia acontecer algo com os que fugiram.

— Podem ir atrás dos seus amigos… o resto eu consigo lidar acho… - disse ela percorrendo o olhar pelo caos com um olhar triste - Não parece ter mais muita gente viva aqui. 

Foi nessa hora que Festus apareceu, derrubando tudo pelo caminho, rolando e soltando faíscas numa clara luta contra o dragão que havia nos atropelado momentos antes. Quanto àqueles que montavam o dragão de metal ou de carne e osso, nenhum sinal. Alex foi a primeira a sair correndo até o dragão que ouvi Dayana chamar de Amaru.

— É o nome do dragão? - perguntei, para confirmar, enquanto os demais já iam acabar com ela.

— Sim. - respondeu Dayana - Mas é um pequeno. Filhote provavelmente.

— Desse tamanho e é um filhote? - perguntei surpreso, preparando meu arco e flecha.

O garrote de Alex já se apertava numa das patas do Amaru e Iara já estava montada no bicho, começando a se prender no pescoço dele para fazer algo mais. André estava com uma cara não muito boa, mas a postos para impedir a aproximação do Amaru, protegendo assim os feridos e Magnus, que continuava a cuidar dos feridos.

Tentei mirar longe de Alex e Iara, o que não era fácil, considerando que as duas estavam bem no meio do caminho. Festus, claramente já tendo dado todo o esforço que conseguia, se enrolava ao lado de Magnus, rugindo com raiva, como se estivesse xingando o Amaru no próprio idioma. 

Quando vi uma abertura, deixei a flecha escapar do arco, cortando o ar até acertar o monstro bem no olho. Obviamente não foi o suficiente, mas deixou ele com raiva. Ele começou a avançar contra mim, mas uma puxada do garrote de Alex arrancou-lhe a pata. Desequilibrado, ele caiu no chão e esse momento de desequilíbrio foi tudo que Iara precisava para fincar um punhal na nuca do monstro. 

Ele gritou ruidosamente, mas o buraco que Iara abria só ficava maior enquanto ela descia o punhal como se estivesse no processo sangrento e doloroso de tirar as espinhas de um peixe para poder cozinhar. Eu não perdi minha deixa e, segundos depois do Amaru atacar Alex com o rabo numa tentativa de se livrar de Iara nas suas costas, atirei mais uma vez, ferindo-lhe na coxa.

Com provavelmente muita dor, o bicho rolou no chão, claramente tentando se desfazer de Iara, que abria um buraco cada vez maior no seu longo pescoço e até o começo das costas. Iara claramente se machucou, mas o fato foi que o Amaru se machucou ainda mais, pois logo o garrote de Alex se prendia em outra de suas patas enquanto André atacava, distraindo o Amaru de querer atacar Iara, que ainda se levantava. Eu não ia deixar moleza para ele, e logo atirei mais uma vez. 

Foi um belo trabalho em equipe. Logo o dragão desaparecia em cinzas. Mas, ainda assim, nenhum sinal do Supay. Eu sinceramente não conseguia decidir se isso era algo bom ou ruim. 

Ah mas não, ainda não tivemos tempo para respirar e pensar, pois Festus começava a pular e rugir, mesmo que desengonçado por estar com alguma parte quebrada. Me lembrava muito um cachorro querendo dizer alguma coisa.

— Cadê Calipso e Leo, garoto? - perguntei correndo até ele.

Ele continuou a pular e resmungar, mas parecia mais animado por provavelmente notar que eu tinha entendido o que ele tanto queria dizer. Nessa mesma hora, um estranho pilar de luz lilás cruzou o céu praticamente o perfurando e parecendo até criar nuvens carregadas de chuva ao seu redor no céu completamente escuro como se ainda fosse noite.

— Eu diria que eles estão lá… - disse Alex.

— Concordo. - disse Magnus - Mas não gosto de ver essa luz… chegamos tarde demais.

— Então vamos até lá nem que seja só pra salvar eles. - disse Meg correndo para o meu carro, atualmente um ônibus, estacionado no veio do vilarejo.

— Realmente parece ser longe demais para ir andando… - falei, dando uma breve checada nos feridos por um segundo.

— Não deve ter mais nada para fazer aqui… - disse Dayana, que vi que estava apoiada em uma parede ali perto, junto com duas pessoas que provavelmente ela já tinha ajudado a se levantar dentre os que foram curados - Vou levar os feridos para longe daqui e ir atrás dos demais. Eu vou avisar os demais do que aconteceu aqui.

— Tem mais de vocês? - perguntei, surpreso, achei que só a gente tinha mania de fazer filho demais por aí.

— Semi deuses? De certa forma… - respondeu Dayana - Vocês sabem mais do que está acontecendo, né? Ouvimos falar de algo no México… 

— Sim. - respondeu Iara, pegando uma folha de árvore do chão e lhe dando um breve sopro e então entregando para ela - Quando estiver mais calma, nos mande uma mensagem com isso… e nos fale como podemos entrar em contato de uma forma mais prática. Se o pior acontecer e essa folha não conseguir chegar até mim, procure na internet o número do Memorial dos Povos Indígenas de Brasília e fale que Iara a enviou com urgência.

— Tem algo… mágico… no Memorial dos Povos Indígenas de Brasília? - perguntou André confuso - Tem um Memorial dos Povos Indígenas em Brasília?

— Sim e sim. - respondeu Iara - Não posso te dizer mais que isso. 

— Entendi… - disse Dayana, embora parecesse bem confusa enquanto pegava a folha.

— Precisamos de toda ajuda que conseguirmos. - disse Alex - Essa bagunça toda está no mundo inteiro pela cara… ao menos a consequência dela está.

— Junte suas forças restantes. - sugeriu Iara segurando no ombro de Dayana com firmeza e seriedade - Deixe Caral com a gente. Apesar de que provavelmente não podemos fazer mais do que só nos vingar. Vamos provavelmente precisar de sua força mais tarde.

Com Festus ficando cada vez mais inquieto, fomos para o ônibus. Com dificuldade, ele subiu no teto depois que eu gritei para ele por favor não fincar as garras no teto, já que era justamente o que ele parecia querer fazer. Deixando o fiasco que foi Gorgor para trás, levantamos voo para o pilar lilás que, pelo o que minha localização me dizia, era justamente Caral.

— E o Boitatá? - perguntou Alex repentinamente para Iara.

— Deve estar tentando nos alcançar ainda. - explicou Iara - Aposto que se tivéssemos esperado mais em Gorgor, teríamos encontrado ele. Mas não tem problema, ele nos alcança em Caral. É bem esperto.

Caral não era muito longe de Gorgor. Logo comecei a pousar nos arredores de Caral, na esperança de que ninguém tinha escutado a gente chegando. Não tinha muito lugar para esconder o ônibus e nossa chegada, mas tentei me aproveitar do desenho das montanhas e depois de transformar o ônibus numa mera bicicleta. 

Em seguida, fomos nos aproximando com cuidado. Não havia muito espaço nas ruínas para nos escondermos. Se eu não soubesse que estava no Peru, acharia que estava no Egito por causa dessa combinação de ruínas e deserto. Fomos andando, tortos, até onde vimos várias pessoas.

Primeiro, a inconfundível Cuca, gritando para os céus palavras que eu não conhecia e permanecendo com os braços erguidos para o pilar de luz roxa. Ao lado dela, Illapa, o cara que havia nos salvado brevemente mais cedo. Pareciam amigos, estranhei e me preocupei com isso. Teria Guaraci pedido ajuda a alguém que acidentalmente estava do lado inimigo?

Ao lado dos dois, reconheci Supay, que pela cara tinha deixado o bichinho dele para lidar com a gente, mas tínhamos ganhado do dragão no final das contas. Havia um outro cara que eu não conhecia, ele pareceria até normal se não fosse o olhar meio psicopata e… estranho… que ele olhava para Leo.

Leo, no caso, estava amarrado num galho grosso que estava magicamente girando e flutuando no ar sobre uma fogueira. O homem estranho até lambia os lábios… Leo parecia ser o jantar do dia. Ainda bem que o homem estranho não sabia que Leo era a prova de fogo… ou melhor, espero que Leo estivesse fingindo não ser a prova de fogo, pois ele estava certamente gritando e chorando, fazendo um bom papel de refém. Mais além, Calipso estava sentada no chão, amarrada numa estaca fincada na terra e, ao lado dela, Angra estava presa num enorme bloco de gelo e vários Jarjachas estavam dormindo enrolados no chão como se fossem lhamas fofas e normais e não a versão infernal, nojenta e problemática delas.

 


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Notas finais do capítulo

espero q tenham gostado do cap. desculpa pela demora q tem sido pra sair os caps.
o q acharam da série de PJO?? eu adorei!! ♥ tem uns defeitos, claro, mas imagino q seja mto difícil ainda colocar tudo do livro no tempo disponível da série.



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