Os Deuses da Mitologia escrita por kagomechan


Capítulo 151
CALIPSO - O Acordar no Peru


Notas iniciais do capítulo

desculpe pela imensa demora. foi uma virada de ano bem conturbada para mim.
bem, feliz ano novo e feliz natal atrasados. eis aqui o cap novo de presente pra vcs :)


no momento, estão nas AMÉRICAS os grupinhos:
— Nova Roma: Frank, Lavínia, Hazel, Annabeth, Kayla, Grover, Percy, Piper,
— NY: Cléo, Paulo, Austin, Drew, Carter, Rachel e Zia
— Peru: Leo, Calipso,Magnus, Jacques, Alex, Festus, André (Brasileiro que tava na Nigéria e não sabe jogar futebol), Meg e Apolo
no momento, estão na AFRICA, os grupinhos:
— Nigéria : Olujime
no momento, os grupos que estão na EUROPA são:
— Indo para a Itália: Caçadoras de Ártemis (Thalia, Ártemis, etc), Clarisse, Reyna, Ciara
— Indo para Inglaterra: Blitzen, Hearthstone, Mestiço, Mallory
— França : Sam, Anúbis, Sadie, Will, Nico
— Alemanha: Maias-Astecas: Victoria, Micaela (a menina q parece Annabeth) e Eduardo (guri chato que o Mestiço deve estar querendo esganar)



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CALIPSO

Meu corpo estava mole, minha cabeça pesada, pouco ao meu redor fazia sentido. Não ousei abrir os olhos por um bom tempo e tinha apenas uma leve noção de que pessoas conversavam ao meu redor. Grogue, fui lentamente sentindo onde estava. Eu estava deitada em algo levemente confortável, isso era claro. Não parecia exatamente uma cama, mas era bem perto, só que mais apertado.

Repentinamente me lembrei do que tinha acontecido comigo, um monstro baixinho e feioso havia me raptado depois que caí, rolando pela floresta. As memórias chegaram até mim como um jato. Ele me carregando enquanto minha consciência ia e voltava, ele e estendendo como um presente para um cara bem maior com um rosto horrível de feições grandes e coloridas, que mais pareciam uma máscara. Lembrei de ter tentado fugir quando senti mais energia, mas acabei sendo acertada na cabeça por alguém e desmaiei novamente. Mas isso não explicava porque minha cabeça não doía.

Com esse ataque repentino de memórias, me levantei de uma vez e, para minha surpresa, eu estava deitada no último banco de um ônibus escolar. Outras pessoas estavam ali, mas a primeira que eu registrei, foi Leo.

— Bom dia raio de sol! - disse ele suspirando aliviado se aproximando de mim com cuidado, aparentemente até com medo de tocar em mim - Estava ficando preocupado… Apolo prometeu que não ia demorar muito para você acordar já que ele já curou tudo o que dava para ser curado. Como está se sentindo?

— Meio cansada… mas acho que bem… e inteira…  O que aconteceu? - perguntei perdida olhando ao redor e, de fato, notei ele lá longe, no banco do motorista - Onde estamos?

— No carro do Apolo. - respondeu Meg, do banco ao lado de Leo - Que agora é um ônibus.

— Tem como a gente confirmar que ela é ela mesmo? - perguntou Magnus repentinamente de uns bancos a frente.

Foi só então que notei que todos, com exceção de Apolo, no volante, me encaravam. Alguns até tentavam disfarçar, mas o fato era que eu era o foco de atenção do resto do pessoal.

— Como assim confirmar que eu sou eu? - perguntei - É claro que eu sou eu!

— Infelizmente, não tem como confirmamos… - respondeu Iara - O Chullachaqui consegue até copiar as memórias. Vamos ter que ficar de olho em comportamentos estranhos. Pode ser outro Chullachaqui.

— Alguém pode me explicar o que está acontecendo? - pedi, já ficando nervosa.

— Então... depois que você foi sequestrada, esse Chullachaqui te copiou. - explicou Leo - E ele nos enganou direitinho… então a gente ainda está com um pé atrás se você é você mesmo.

— Certo… - falei lentamente, processando a informação.

— Acho que é ela sim! - respondeu Apolo lá do volante - Ao menos não notei nada de diferente quando curei ela.

— E… onde esse Chullachaqui está? - perguntei - Ele é um bicho baixinho e feio, de pernas e braços longos e um cabelo longo que precisa desesperadamente de tratamento?

— Não. - respondeu Leo.

— Acho que esse de quem fala é o Kurupi. - respondeu Iara - Nós lidamos com ele quando te resgatamos. Com ele e com o Supay, que infelizmente escapou… Então vamos provavelmente lidar com ele mais pra frente. Guaraci nos ajudou momentaneamente… um deus do sol do Brasil… mas não pode ficar muito. Tem muita coisa para resolver. Mas disse que ia tentar achar uma ajuda para nós pelo Peru.

— E o Chullachaqui está no porta mala do ônibus. - respondeu Meg - Todo amarrado.

— E o Boitatá? - perguntei - E Festus?

— Festus tá descansando no teto do ônibus. - explicou Leo.

— E Boitatá está seguindo a gente por terra… - disse Iara - Vamos tentar levar esse elemento de surpresa já que provavelmente vamos chegar antes em Gorgor.

— Não quis perguntar antes porque tinha muita coisa acontecendo mas… o que é Gorgor? - perguntou Meg.

— Pra onde estavam tentando levar Calipso. - respondeu Alex - Deve estar rolando uma baita festa lá e nós estamos indo atrapalhar.

— Fica também no meio do caminho até a pirâmide de Caral… - completou Angra - Então eles devem estar se reunindo lá para então atacar. Em Gorgor e em outros vilarejos também é onde moram alguns semi deuses incas, podemos provavelmente contar com a ajuda deles também.

— Gorgor está muito longe? - perguntei.

— Você deve ter um tempinho para respirar por uns segundos e um copo d’água. - respondeu Apolo, sem tirar os olhos da terra sobre a qual estávamos sobrevoando - Mas não mais que isso. Estamos bem perto já.

— Vou pegar uma água pra você. - disse Leo 

Ele se levantou para pegar a água e desviei meu olhar para a janela, pois olhar para todos aqueles rostos preocupados comigo ou se perguntando se eu era eu, era meio desconfortável. Vi que, embaixo de nós, enquanto voavamos, havia praticamente apenas montanhas, com pouquíssimas árvores e mais vegetação rasteira, como se estivéssemos na transição entre a floresta e o deserto. Eu devo ter ficado distraída com a paisagem por no máximo uns cinco minutos, quando repentinamente um jato grande de água esverdeada nos atingiu.

O ônibus balançou desgovernado. Leo, que estava em pé no meio do corredor trazendo uma garrafa de água pra mim, acabou caindo. Festus rugiu e saiu voando, desistindo de se manter no topo do ônibus. Meg gritou enquanto outros jatos surgiram, um atrás do outro, tentando nos acertar. Uns conseguiram, outros Apolo conseguiu desviar. De toda forma, o resultado era que ali dentro estava cada vez mais parecendo o interior de um liquidificador.

 - O QUE ESTÁ ACONTECENDO? - gritou Magnus.

— ACHO QUE CHEGAMOS! - respondeu Alex.

— O QUE ESTÁ ATACANDO A GENTE? - gritou André.

— EU NÃO ESTOU VENDO! - respondeu Apolo, tentando fazer milagre com o volante.

Eu sentia meu cérebro sacolejar dentro da minha cabeça enquanto tentava alcançar Leo, sem tirar a mão da cadeira, para ajudá-lo a chegar até mim ao invés de ficar pulando e rolando sem controle no meio do corredor do ônibus.

Enquanto a gente sacolejava sem controle, Angra usou toda a força de suas pernas fortes para, apesar de tudo, ir até a porta do ônibus, abri-la, e então pular no meio do nada. 

— Espero que ela tenha ido salvar o dia, não largado a gente pra trás. - disse Leo quando eu finalmente consegui puxar ele para o banco ao meu lado.

— POUSA LOGO ESSA PORCARIA, APOLO! - gritou Meg.

— EU TÔ TENTANDO! - rebateu ele - VEM FAZER MELHOR!

— FESTUS! VAI PRA PORTA! - gritou Leo, se preparando e se recuperando de ser chacoalhado no chão. 

— Eu vou com você. - falei.

— Certeza? Eu vou pular do ônibus pro Festus… - explicou Leo.

— Não pode… - começou Alex, mas teve que parar de falar quando algo que não parecia água, parecia mais duro, mas pequeno e em grande quantidade, nos acertou - Não pode esperar a gente pousar?

— Festus já está voando mesmo. - explicou Leo se segurando na cadeira mais perto da porta escancarada - Mais alvos ajuda vocês a pousarem.

— Aí vai pular pra ele ignorando toda a queda livre que tem depois dele? - perguntou Magnus.

Festus rugiu provavelmente querendo dizer algo como “eu consigo distrair quem nos ataca sozinho”, e saiu voando. Seguindo Festus com o olhar, achei ter visto Angra também. Com agora três alvos, o tanto de ataques direcionados à nós realmente pareceu ter diminuído consideravelmente. 

— Meu carrinho… - choramingava Apolo enquanto continuava a desviar dos ataques.

Em certo ponto, eu notei que o que atacava a gente era uma mulher com cabeça de jacaré, uma roupa verde com detalhes de escamas e longos cabelos lisos e loiros. Só consegui ver ela por alguns poucos segundos antes de Angra repentinamente a atacar, a tirando do meu campo de visão e jogando-a para longe enquanto começavam a lutar. 

— É a Cuca mesmo… - disse André surpreso.

— Que poderes ela tem? - perguntou Alex - Além de tacar essas coisas na gente.

— E-Eu não sei… - gaguejou André.

— Vários. - respondeu Iara - É uma bruxa, afinal de contas.

Esses meros segundos de não ter ninguém atacando, enquanto Festus nos protegia, foram o que precisávamos para finalmente pousar o ônibus no chão. Nos demos meio segundo para respirar e recuperar nossa compostura, e saímos. Quando saí, minha vontade era beijar o chão, mas isso logo se transformou numa vontade de vomitar quando vi o tanto de corpos largados no meio do chão, com uma cidadezinha com paredes coloridas no horizonte.

— Q-Quem são todas essas pessoas largadas no chão?? - perguntou Magnus preocupado enquanto lutava com uns monstros.

— Moradores da cidade? - perguntou Alex enquanto sentia meu coração se apertar.

— Provavelmente. Mas talvez parte sejam semideuses… - disse Iara - Uns estão segurando espadas…

Não tive nem tempo para processar a imagem, quando vi monstros saindo da cidadezinha, indo em nossa direção. Apolo e Iara rapidamente saíram o ônibus e começou a atirar suas flechas contra eles, Leo fez o mesmo com suas bolas de fogo, Festus pulava nos monstros e os chicoteava com o rabo e Magnus, André e Alex se preparavam para quando os monstros estivessem mais perto (mesmo que nenhum deles estivessem com cara de quem queriam lutar de novo naquele dia). Quanto à mim, eu me concentrei o máximo que podia. Ainda estava pegando o jeito de usar magia fora de Ogygia, então foi com muito alívio (e joelhos bambos) que eu consegui invocar um espírito do vento para nos defender. Só um, afinal, se fossem espíritos demais, eu desmaiaria ali mesmo.

O espírito apareceu, os monstros ficaram perto o suficiente e o caos começou. Enquanto o espírito fazia seu trabalho, eu fazia o meu. Chutei um monstro feioso bem na cintura, derrubando-o no chão a tempo de Festus pisoteá-lo. Queria ainda recuperar e re-treinar minha habilidade de jogar maldições, então decidi fazer o teste com um monstro.

— VOCÊ! - gritei, gesticulando e aumentando ao máximo minha confiança de que aquilo ia dar certo, já que confiança é um passo importante - TE AMALDIÇOO A NÃO SAIR DAQUI VIVO! 

O monstro olhou para mim confuso, e começou até mesmo a rir colocando inclusive sua mão azul e cheia de garras e verrugas sobre a barriga inchada. Por um segundo admito que fiquei decepcionada, apesar de ter sentido o arrepio que percorreu meu corpo de uma maldição bem feita. Mas, felizmente, no segundo seguinte, Iara apareceu e deu um chute tão forte na cabeça do monstro, que ela parecia ser feita de purê de batata.

— Me ensina a dar um chute desses? - pedi.

— Tem certeza? - perguntou ela, já pegando o arco e flecha para atirar num monstro mais além, que ameaçava pular nas costas de Alex - Pode ser bem doloroso no começo.

— Tenho sim. - garanti.

— É tudo sobre força nas pernas… - explicou ela, se colocando ao meu lado e apalpando a própria coxa - Principalmente na coxa. Tem que botar toda sua força mas deixar o pé firme, para não o machucar. Assim…

Ela então puxou um monstro pelo saiote dele quando ele tentava passar por nós tentando alcançar Apolo, e demonstrou o chute novamente. Dessa vez, reconheci que foi mais leve, pois o monstro só caiu desacordado.

— Não exagere da primeira vez. - disse ela reconhecendo talvez a pergunta que passou pelos meus olhos de porque aquele foi diferente.

Corri até um monstro ali perto que se aproximava de nós e repeti o chute. Não deve ter ficado tão bonito quanto o de Iara e meu pé doeu com o impacto, mas pelo menos consegui derrubar o monstro, que não ficou desacordado, mas certamente ficou confuso demais para se levantar.

— Muito bem. - disse ela - Foi um ótimo primeiro chute.

— Não sei se meu pé concorda. - respondi, resistindo a vontade de me agachar para massagear um pouco meu pé.

— Você vai pegando o jeito e fortalecendo o pé com o tempo. - disse ela.

— Parece que tem alguém lá na frente lutando! - gritou Apolo atirando uma flecha perto de onde ele queria apontar - Ali! 

Repentinamente, Angra surgiu, emergindo de uma das casas mais além, claramente na sua luta contra a Cuca, que a atacava sem dar um segundo de sossego, e Angra parecia estar tendo dificuldades. Mas ela estava muito longe para a gente alcançar, isso é, se ignorássemos o fato que tínhamos um dragão mecânico voador. 

— Parece ter mais gente além da Angra! - gritou Leo.

— Tô escutando mais gente gritando… - disse Alex - Em espanhol!

Leo já estava montando em Festus, mas eu corri atrás dele. Ele olhou pra mim e eu tive apenas uma leve ideia da confusão que acontecia ao nosso redor enquanto o espírito de vento que eu invoquei transformava um dos monstros em um pequeno redemoinho e ele gritava num idioma que eu não conhecia, provavelmente me xingando.

— Tem certeza? - perguntou ele enquanto uma forte chuva repentinamente começava, com trovões e tudo.

— Não vou deixar você ir sozinho. - falei.

— Vocês conseguem lidar com tudo aqui sozinhos? - perguntou Leo apressadamente para Magnus - Vamos ajudar a Angra. Ela tá sozinha.

— Conseguimos! - garantiu Apolo - Vai ajudar a Angra!

— Não! - gritou Iara no segundo antes de Festus decolar - Vocês não vão aguentar enfrentar a Cuca!

— E vai deixar Angra morrer? - perguntou Leo.

— Ela volta! É imortal! - lembrou Iara - Vocês não!

Foi aí então que dezenas de relâmpagos caíram em terra. Queimando e tostando diversos monstros. Eu e Leo nos encolhemos sobre Festus, que tentou do seu próprio jeito se encolher também. Um após o outro, os monstros caíram com os trovões, até que só restaram nós e as meia dúzia de pessoas que lutavam mais à frente.

Nós olhamos para elas, era um mero grupo não muito diferente do nosso. Inclusive, julgando pela expressão no rosto deles, tínhamos em comum o fato de também não entenderem de onde vieram os trovões. Ainda assim, a chuva continuava a cair raivosa e a luta de Angra mais além continuava e, pelo barulho de gritos, rugidos que ouvia, ainda tinha mais coisa mais além, escondida nos muros da pequena cidadezinha.

Alex, que estava mais à frente no nosso grupo, já ia dar um pequeno passo na direção do grupo e abrir a boca para perguntar algo, quando um enorme trovão caiu bem no meio do espaço que separava os grupos. Nesse ponto, surgiu um homem, musculoso, com cabelos negros bem lisos e olhos completamente verde, sem a parte branca que olhos normalmente tem. Ele usava um estranho chapéu dourado que, de certa forma, me lembrava o sol, uma capa vermelha e uma saia longa e reta azul com detalhes verdes e vermelhos.

— Illapa. - disse Iara.

— Vejo que cheguei a tempo. - respondeu o homem seriamente, Illapa - Guaraci me pediu para vir dar uma força para vocês. Sou Illapa… deus inca do raio, da chuva e da guerra.

Ao mesmo tempo, no grupo à frente de nós, todos se curvaram lentamente, claramente mostrando que esse cara era importante ou pelo menos deveria ser respeitado (ou assim ele esperava).

— E vocês aí atrás, deduzo serem os semi deuses incas… - disse Iara.

— S-Si… - disse um deles, o aparentemente mais velho, depois de uns segundos de hesitação provavelmente decorridos do idioma.

— Precisamos de uma ajudinha aí com a Cuca provavelmente… - disse Alex - Acha que pode nos ajudar ali também?

— Temo que não… - disse Illapa - Já que…

Ele então parou, como se tivesse notado alguma coisa, e então, tão brevemente quanto surgiu, ele desapareceu, nos deixando, novamente, desamparados. Nós e os incas nos entreolhamos completamente perdidos, até que um grande rugido se ergueu no silêncio acompanhado de grandes barulhos de destruição, mostrando que o que se aproximava, se aproximava rápido.

Grande ajuda, o cara mal chegou e já largou a gente pra se virar com seja lá o que se aproximava… e ainda no meio de uma forte chuva.

— Presentaciones para después. - disse o líder dentre os incas.

— De acuerdo. - respondeu Leo.

Nos preparamos para o que seja lá o que vinha, e o que vinha logo se revelou como uma espécie de dragão montado por um rosto que eu me lembrava bem, mas não sabia o nome.

— Supay… - resmungou Leo, colocando um nome no rosto.

O estranho dragão controlado pelo Supay avançou em nossa direção como uma bala de canhão. E quando digo “nossa direção”, digo de mim, Leo e Festus. Todos fizemos o que podíamos para desviar e contra-atacar, mas o dragão agarrou Festus pelo pescoço, nos desequilibrou e continuou nos empurrando.

Eu quase caí de Festus, então me segurei bem enquanto tentava soltar qualquer ventinho que fosse para derrubar Supay também. Mas o pior era que como o dragão dele tinha agarrado Festus pelo pescoço e continuado seu voo rápido e feroz para frente, Festus (com a gente em cima) era carregado de qualquer jeito parcialmente ao lado de Supay e seu dragão. Isso significava que minha perna e a de Leo eram constantemente esmagadas entre os dois dragões quando eles se chocavam e também que Supay estava a uma distância perigosamente curta.

Eu sentia o sangue escorrendo pela minha perna e a dor aumentando conforme ela era repetidamente esmagada pelo balanço dos dragões que era piorado com Festus tentando se soltar e Leo tentando também acertar Supay tanto quanto ele tentava nos acertar. Mas enquanto Leo ia com suas chamas, Supay parecia tentar nos agarrar com suas mãos sem parecer se preocupar muito com as chamas. Leo xingou, o Supay agarrou-lhe o braço quando foi tentar queimá-lo, e Leo gritou tão alto e tão agudo que doeu meus ouvidos.

— LARGA ELE! - gritei eu mesma.

Apressadamente, me concentrei para tentar invocar dois espíritos do vento pelo menos e jogar contra Supay, mas mesmo que tivesse a intenção de demorar no máximo um segundo, o Supay foi mais rápido que eu e me agarrou pelo braço.

Meu próprio grito se misturou com o de Leo enquanto a dor aguda invadia meu braço como se milhares de agulhas estivessem caindo sobre ele. Tudo ao meu redor ficou preto e quando vi a mim mesma na minha frente, soube que não era porque tinha desmaiado ou morrido ou qualquer coisa do tipo, era uma visão que Supay forçava em mim com seus poderes. No segundo seguinte, eu vi a minha imagem à minha frente morrer queimada nas mais diversas chamas incandescentes.

Era uma imagem terrível por si só, mas o pior foi que eu senti cada dor que acontecia com a minha cópia. Eu gritava e chorava, me via implorando para de fato morrer mesmo, quando a imagem voltou ao começo. Eu olhando para mim mesma. Ainda sentia a dor das queimaduras latejando em meu corpo, mas como um mero fantasma do que eram antes, quando repentinamente minha cópia foi morta mais uma vez, dessa vez caindo de uma grande altura, e tudo se repetiu, incluindo a dor, até tudo voltar para o começo de novo.

Em desespero, notei que estava presa num loop. Vi a mim mesma morrer das mais diversas formas grotescas e nojentas sentindo a dor de cada uma delas. Eu gritei, muito, até minha garganta doer e minha voz falhar. A cada morte que minha cópia sofria, a dor se espalhava pelo meu corpo e antes que eu me recuperasse, tudo voltava do começo para um novo tipo de morte. Vi e senti a morte por veneno, a morte afogada e as de mais diversas combinações de ferimentos terríveis, grotescos e indescritíveis.

Tentei me convencer que era tudo falso, uma mera visão. Tentei me puxar de volta para a realidade e soltar os espíritos de vento que havia me esforçado em preparar. Creio que deva ter conseguido ou Leo me soltou do Supay ou qualquer coisa do tipo, pois numa hora estava presa naquele loop doloroso de mortes, e na outra estava caindo em total queda livre.

Confusa demais e ainda me recuperando da visão, não registrei o que acontecia ao meu redor, nem onde estava Leo e Festus, só registrei o mero segundo que um espírito de vento me agarrou, impedindo que a visão acertasse minha morte em queda livre. Delicadamente, ele me deitou no chão e então sumiu.

Quando tentei processar o que acontecia ao meu redor, logo notei Angra de pé, congelada numa pose de ataque completamente envolta de gelo, como num grande cubo. Suas mãos e pés estavam presos em algemas grossas de metal presas ao chão e, ao lado dela, estava a tal Cuca, vindo em minha direção. Agora de perto, eu via seu colar feito de pequenos ossos e que ela segurava um rolo de papiro que brilhava.

— Vamos guardar os dois para o almoço do Pishtaco… - disse a Cuca, fazendo um gesto na minha direção e logo eu senti algemas me prendendo pelos pulsos e tornozelos também.

Fiquei curiosa em quem eram “os dois”. Não tinha forças para me virar, será que era Leo, que afinal estava comigo? E com quem ela falava? Era com o Supay? Eu tentava manter minha consciência ativa, para responder essas mesmas questões apesar da cabeça latejante, corpo dolorido, olhos pesados e braço doendo muito… muito… o braço que Supay tinha segurado doía tanto que arrancá-lo parecia ser uma opção bem interessante.

— As interrupções que Naunet mencionou acabaram chegando… por mais que eu duvidasse… - dizia a Cuca,  enquanto eu usava toda a concentração que me restava, meu espanhol mediano e meu muito latim, para traduzir o que ela falava.

— Sim. - respondeu a pessoa com quem ela falava, fora do meu campo de visão, e parecia ser uma voz que eu conhecia - Eles aparecem em toda parte… Deve ser o grupo dos Estados Unidos.

— O da China que não seria. Muito longe. Vamos apressar então… - disse a Cuca - Já temos tudo o que precisamos mesmo.

— Acha que é uma boa ideia? - perguntou a pessoa que logo entrou no meu campo de visão, e reconheci como sendo Illapa, e creio que o choque ficou óbvio em meu rosto, pois ele olhou para mim por um segundo. 

Apesar de ter confirmado que eu estava acordada, ele não fez nada, apenas continuou a falar com a Cuca. Quando a Cuca estava de costas para ele, andando de um lado para o outro planejando os próximos passos, ele olhou para mim, sério. Alguma coisa no seu olhar me convenceu a parar minhas tentativas de me levantar… fingir de morta e desacordada começava a parecer mais proveitoso. Eu queria ouvir aquela conversa e outra… o que eu poderia fazer contra aqueles dois, sozinha, considerando que Angra já tinha perdido?

— Claro que acho… - disse a Cuca - Você deveria ser mais decidido, Illapa.

— É que mais parece que você quer aproveitar que tem o Livro de Thoth com você. - disse Illapa.

— Claro que quero… - respondeu a Cuca - Que dedução idiota! Você tá batendo bem da cabeça hoje? Estão nos atacando, vamos logo para Caral e aproveitar o Livro de Thoth para isso! Estou a semanas tentando decifrar essa bosta.

— Logo vai acabar seu tempo e vai ter que dar para o próximo né? - perguntou Illapa, dando uma segunda breve olhada para mim novamente - Entendo que Naunet e Quetzalcoatl queiram passar o livro pela mão de o máximo de entendedores de magia possível… 

— O que você bem sabe… - rebateu a Cuca, fechando a cara para Illapa.

— Não me olhe assim… - rebateu Illapa - Só parece que está muito perto para conseguirmos fazer a pirâmide de Caral… depois de tanto estresse… parece difícil de acreditar. Com isso fica faltando só quatro pirâmides… as duas da Ásia… a da Europa… que vai ter que ser adiada já que conseguiram derrotar Hafgan… e, claro, a de Gizé no Egito, e podemos reescrever as histórias e as crenças… 

— Ao custo simplório de várias vidas… - completou a Cuca.

— Ainda bem que sobra gente ainda para nos adorar apesar da alta taxa de morte. Não queremos um apocalipse até o final apesar de tudo. - disse Illapa - Mas não quer esperar Pishtaco vir para fazer a magia?

— Não… - respondeu Cuca, parecendo ficar de mal humor - Você parece mais idiota hoje. De toda forma… olha o que eu consegui descobrir como fazer graças ao Livro de Thoth apesar de tudo.

A Cuca começou a resmungar algumas palavras, das quais peguei algumas poucas palavras. Nada suficiente para entender o contexto, mas suficiente para identificar o antigo egípcio. Do campo de visão horrível que eu tinha, vi algo como um redemoinho vermelho surgir no meio do chão e sugar não só a Cuca e Illapa, mas também a mim, Angra e, já dentro do redemoinho, com meu corpo rodando no meio do nada, vi que a outra pessoa capturada era de fato Leo. Infelizmente, nenhum sinal de Festus.

Caí de qualquer jeito no chão e vi que estava num lugar completamente diferente, no meio do deserto cercado de montanhas. Havia meia dúzia de turistas sob um toldo simplório de madeira, mas com um mero gesticular das mãos, a Cuca lançou contra eles uma rajada de pequenos objetos que reconheci como sendo uma das coisas que ela jogou contra nós. Os turistas caíram no chão, cortados e provavelmente mortos e eu comecei a tentar arranjar forças nos meus membros para me levantar.

Tudo em mim doía, mas ouvi Leo ao meu lado resmungando alguma coisa enquanto ambos éramos ignorados pela Cuca. Com muito esforço, consegui me colocar de quatro enquanto ela parava diante de um aglomerado triste de uma ruína feita de pedras amareladas de mais diversos tamanhos, que reconheci como sendo os restos da pirâmide de Caral. Illapa parou ao lado dela e olhou dela, para nós dois. Não conseguia entender o que se passava na cabeça dele… eram comportamentos tão estranhos.

Cuca começou a proferir um feitiço qualquer, os restos da pirâmide começaram a brilhar em roxo e uma terceira pessoa entrou no meu campo de visão. Um homem extremamente magro, branco como papel, de cabelos loiros, olheiras negras e profundas e olhos aterrorizantes.

— O que eu perdi? - perguntou o homem.

Ocupada com o feitiço, Cuca apenas apontou para nós com a cabeça enquanto Illapa acompanhava a cena toda com o olhar. O homem misterioso olhou para nós e abriu um sorriso agonizante com dentes como o de um tubarão.

— Guardaram um lanchinho para mim pelo visto…  - disse ele.

 


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Notas finais do capítulo

por hj é só, até o prox cap :)



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