Os Deuses da Mitologia escrita por kagomechan


Capítulo 143
CARTER - Uma Surpresa no Central Park


Notas iniciais do capítulo

no momento, estão nas Américas os grupinhos:
— Nova Roma: Frank, Lavínia, Hazel, Annabeth, Kayla, Grover, Percy, Piper,
— NY: Cléo, Paulo, Austin, Drew, Carter, Rachel e Zia
— Indo para o Peru: Meg e Apolo
— Indo para o Peru: Leo, Calipso,Magnus, Jacques, Alex, Festus, André (Brasileiro que tava na Nigéria e não sabe jogar futebol)

no momento, estão na África, os grupinhos:
— Nigéria : Olujime

no momento, os grupos que estão na EUROPA são:
— Indo para a Itália: Caçadoras de Ártemis (Thalia, Ártemis, etc), Clarisse, Reyna
— Inglaterra: Sam, Blitzen, Hearthstone, Anúbis, Sadie, Will, Nico, Mestiço, Mallory // Maias-Astecas: Victoria, Micaela (a menina q parece Annabeth) e Eduardo (guri chato que o Mestiço deve estar querendo esganar), Ciara



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CARTER

Eu, Zia e Rachel nos encolhíamos de qualquer jeito embaixo de um grande pano de linho preto que mais parecia um lençol de casal. Uma magia no pano transformava aquilo na nossa capa de invisibilidade.

— Prontos? - perguntou Cléo olhando pelo olho mágico da porta - Ainda não estou vendo nenhum monstro, mas tenho certeza que eles estão escondidos só esperando vocês.

— Sim. E não podemos demorar muito. - falei. 

— Boa sorte… - disse Alyssa, uma das aprendizes que morava ali, que estava logo ao lado de Cléo para ser nossa ajuda em defesa caso fôssemos atacados.

— Espero seriamente conseguir chegar até o metrô. E sem problemas, de preferência. - disse Rachel.

— Certeza que quer ir junto? - perguntou Zia.

— Quero ver isso de perto. - disse Rachel apertando o taco de beisebol que tinha pegado emprestado de Félix, outro aprendiz.

— Então tá… - eu disse - Pode abrir, Cléo.

Cléo abriu a porta lentamente, provavelmente tensa de algum monstro surgir pulando do nada mesmo considerando que tinham proteções mágicas assim tão perto da casa. Alyssa colocou a cabeça para fora, fingindo que estava vendo a área de entrada da casa, enquanto eu, Zia e Rachel, escondidos e espremidos embaixo do lençol de linho, andamos para fora da casa, torcendo para os monstros não perceberem que havia alguém ali andando escondido por magia.

O nosso plano do dia era irmos o mais rápido possível até o metrô, e o peso das garrafas d’águas nas minhas costas me lembrava disso. As águas seriam usadas na magia do obelisco do Central Park na nossa tentativa de tentar repetir o feito que Sadie havia feito em Londres… se o sol ainda estivesse lá quando chegássemos.

Atrás de nós, eu ouvi a porta se fechando, mas eu tinha certeza que as meninas ainda estavam nos acompanhando pelo olho mágico ou pelas janelas. Já estava achando que iriamos dar sorte de nos afastarmos o suficiente para andarmos normalmente, quando senti um frio desconfortável que me arrepiou todo.

Nem tive tempo de sussurrar para as meninas se elas também estavam sentido aquilo, quando de repente um monstro pulou do alto de um dos prédios do lado oposto da rua da Casa do Brooklyn. Ele caiu com um baque no asfalto da rua, rachando-a toda… tinham terminado de reformar a rua alguns meses atrás... Ouvi a porta da Casa do Brooklyn se abrindo, mas não ousei olhar quem tinha saído.

O bicho era horrível. Pareciam ter saído de algum filme ou vídeo-game de terror. Era alto, com uns 2 metros pelo menos, e esguio com braços bem longos que quase tocavam o chão. Era bem corcunda mas, apesar disso, corria rápido demais para meu gosto. Dava para ver suas costelas muito bem, mas o pior era o rosto. Era uma mistura esquisita de rosto humano, lobo e veado acompanhado de enormes chifres de veado longos, afiados e retorcidos.

E antes que eu pudesse lidar com aquela aparência, ele pulou na nossa direção, claramente sabendo muito bem onde nós estávamos. Ele teria acertado a gente, se não fosse a dúzia de tijolos que acertaram-lhe na cara. Com certeza obra de Alyssa arrancando parte da parede de algum vizinho azarado. 

Eu peguei minha espada enquanto Zia arriscava colocar a mão pra fora do nosso lençol, numa clara esperança de ele ainda ser útil, e com um feitiço, explodia o monstro.

— Acham q-

Tinha começado a perguntar, mas repentinamente fomos atingidos pelas costas. Senti o taco que Rachel segurava batendo na minha cabeça tal como senti o asfalto e o cotovelo dela quando caímos dolorosamente. Zia caiu ao meu lado, Rachel em cima de nós dois. O pano ficou torto, já mal nos cobrindo mais quando um segundo monstro, igual ao primeiro, rosnou com raiva. Foi ele quem nos derrubou. Ele logo aproveitou que estava perto e agarrou Rachel pelo braço, arranhando-a com as garras longas que tomavam uma grande parte de sua mão. 

— ME SOLTA! - gritava ela batendo repetidas vezes no monstro com o taco de beisebol com o braço livre - SEU FEIOSO! NOJENTO! ASQUEROSO!

O monstro era tão alto e forte, que ele tirou Rachel do chão facilmente, e a expressão de dor no rosto dela mostrou que isso não tinha sido muito agradável, assim como não era agradável o sangue escorrendo pelo braço dela. Mas Alyssa, como uma boa aprendiz de Geb, logo veio ao nosso resgate transformando o chão embaixo do monstro em areia movediça enquanto Zia cuidava do monstro que apareceu primeiro.

Eu avancei com minha khopesh em direção ao pescoço do monstro que segurava Rachel, mas ele segurou minha espada com suas mãos cheias de veias com uma irritante facilidade. Nessa hora, eu pude ver gelo se formando na lâmina da espada, tamanho era o frio que o monstro exalava. Com uma olhada rápida com o canto do olho, notei que o braço de Rachel estava na mesma situação. 

Sentindo urgência na situação de Rachel, pois frio intenso e corpo humano não costumam combinar muito bem, eu e Alyssa nos dedicamos totalmente em soltar Rachel dali. Mesmo com apenas um braço livre, o monstro conseguia bloquear perfeitamente os meus ataques, mas fazer o mesmo com também os tijolos que  Alyssa jogava contra seu rosto, era outra história.

Rachel fechava os olhos, protegendo-o dos fragmentos de tijolos que caiam na direção dela, quando eventualmente a combinação de tijolos na cara, areia movediça nos pés e meus ataques fizeram o monstro cair no chão de costas, desequilibrado, carregando Rachel junto.

— Será que podem me salvar sem me matar no processo? - reclamou ela.

— Desculpa! - falei ao cravar a espada no peito do monstro, torcendo pra ele ser o padrão normal de monstro que morre com o coração perfurado.

Já notei que algo estava estranho pois senti que minha espada estava tentando perfurar algo muito duro, ao invés de um órgão. Preocupado, e provavelmente ficando mais pálido, eu olhei para o monstro, que fixou os olhos em mim como se nada tivesse acontecido além de um corte meio profundo e incômodo, mas não mortal. Ele largou Rachel, o que foi bom, mas ele segurou minha espada com a mão que segurava Rachel antes que eu conseguisse puxá-la de seu corpo, o que foi ruim.

Tentei puxar minha arma para fora, mas o monstro a segurava ignorando qualquer corte que acontecia. Rachel rolou para o lado, para longe do monstro, que eu via que estava pronto para me dar um soco no rosto. Mas não dependo 100% de minha espada… talvez 60%... ou 70%... de toda forma, na hora do desespero, gritei a palavra mágica que veio a minha mente.

— SA-MIR! - gritei instintivamente lançando um feitiço no monstro.

Vários hieróglifos surgiram no corpo do monstro enquanto ele caía e gritava pela dor causada por esses mesmos hieróglifos. Ele soltou minha espada em meio a dor, e eu a puxei do buraco em seu peito. Troquei então um olhar de um segundo com Rachel, que estava ofegante e segurando o braço ensanguentado, quando uma explosão aconteceu atrás de mim.

Me virei a tempo de ver Zia rolando pelo chão depois de ter explodido o monstro com o qual ela lutava. Mesmo claramente arranhada, ela logo se reergueu e lançou mais chamas contra o monstro, que juntava seu grito de dor ao das pessoas que nada tinham a ver com tudo aquilo, que começaram a correr e gritar também, provavelmente imaginando que havia acontecido algum ataque terrorista ou explosão de gás.

— Você tá bem? - perguntou Cleo para Rachel começando a curar o braço ensanguentado dela.

— Admito que já estive melhor, mas vou sobreviver. - disse Rachel.

Deixei Cleo curando Rachel e fui tentar lidar com o monstro que eu havia enfeitiçado com meu feitiço de dor. Já que acertar o coração não era suficiente, resolvi ir para a cabeça, por mais que a ideia me perturbasse. Ao olhar para o monstro, notei preocupado que o ferimento que minha espada havia aberto em seu peito estava se fechando de uma forma gosmenta como se o monstro fosse feito de massinha.

Não me deixei perder tempo analisando isso, e ataquei o pescoço do monstro com toda a minha força, mas uma khopesh não é uma espada ideal para decapitações. Por causa de sua lâmina curva, ela é melhor com ataques cortantes poderosos em membros ou torsos, em vez de cortes precisos, como decapitação. Então me vi num processo nojento e que me fazia sentir um psicopata. Felizmente, logo Alyssa me ajudou, acertando-o com vários tijolos mais, engolindo-o com a areia movediça ao máximo possível apesar da dificuldade, para ao menos o deixar ainda atordoado e preso. Logo o vizinho estaria com a casa toda sem o revestimento externo de tijolos meio comuns ali no Brooklyn, mas ela não parava. 

Contudo, ficar constantemente atacando o monstro no pescoço não parecia ser suficiente para deixar ele quieto no lugar e eu não estava tão afim de partir para combate corpo-a-corpo novamente. Resolvi então me concentrar no feitiço de dor, já que ele o mantinha imóvel ao menos, mas não parecia que teríamos muito progresso ali. Tentava alternar com minha espada enquanto o feitiço ainda durava, enquanto sentia que cada vez mais minha espada ficava mais gelada.

Atrás de mim, sentia o calor exalado pela luta de Zia. Estava ocupado demais para olhar, mas torcia para que tudo estivesse bem. Ela era bem forte, mas a força do monstro que ainda não sabíamos o nome (e duvidava que iríamos descobrir) me preocupava. Acho que nunca havíamos tido tanto problema com os monstros que ficavam de olho na Casa do Brooklyn.

— Acho que consegui! - disse Zia extremamente ofegante.

— Zia! Cuidado! - gritou Cleo.

Fui contra as recomendações de não dar as costas aos seus inimigos e me virei para Zia no momento certo de ver um terceiro monstro, exatamente igual aos outros dois, correndo na direção dela como um touro pronto para acertar o toureiro. Zia rolou para o lado, mas parecia exausta e bem machucada. Tinha usado magia demais provavelmente.

Alyssa deixou-me sozinho com o monstro para criar areia movediça sobre os pés do novo inimigo, já que ele estava fazendo uma curva para ir em minha direção. Mas nem precisava, pois o que eu estava lidando conseguiu se concentrar o suficiente em meio a dor para me dar um chute na altura da cintura. Considerando que os pés dele eram cascos, doeu muito.

Eu caí no chão a magia se desfez e o monstro lentamente foi se levantando, tentando procurar as próprias forças.

— Alguém vota em correr? - perguntou Rachel. 

— Apoio! - gritou Zia, correndo até mim, atingindo o monstro que me acertou com uma boa quantidade de fogo, me dando assim tempo para me levantar.

Ao me levantar, notei que o primeiro monstro que Zia havia lutado estava se desintegrando, completamente morto, finalmente. Mas não sabia se ela tinha forças para se livrar de um segundo. Estava visivelmente cansada. Seria fogo o ponto fraco do monstro? Fazia sentido considerando que perto dele era tão frio. De toda forma, nós três seguimos correndo para o metrô enquanto Alyssa e Cleo correram para dentro da Casa do Brooklyn em segurança, mas não sem antes Alyssa criar uma grande área de areia movediça entre nós e os dois monstros, para que conseguíssemos ganhar alguns segundos preciosos.

Com dois monstros para lidar, seria sorte demais considerar que eles iriam se dividir quando nós também nos dividíssemos, mas a Casa do Brooklyn estava muito bem protegida, então os dois monstros correram atrás de nós. 

Por onde nossos dois perseguidores passavam, pingava sangue dos cortes e machucados daquele que consegui ferir, mesmo que esses cortes estivessem se curando mais rápido do que eu gostaria. Minha cintura doía muito devido ao chute. Cada passo era uma tortura. Zia parecia estar correndo basicamente na força do ódio e Cléo não tinha tido tempo de curar completamente os cortes de Rachel.

Zia sacrificou então alguns segundos de corrida para ir mais devagar, se virando para eles e tentando lançar um feitiço em pelo menos um deles. Uma pequena explosão, causada pelo feitiço, tomou conta da rua. O feitiço acertou mais ou menos, pois ambos tentaram desviar. Um conseguiu, outro não.

O que foi acertado rolou para o lado, derrubando uma placa de proibido estacionar e fazendo um homem ali perto gritar de susto. O braço do monstro também virou uma sopa de sangue graças ao ataque. O que não foi atingido, por outro lado, pulou na direção de Zia com a boca escancarada, pronto para fazer um estrago, mas eu não iria deixar.

— Ha-wi! - exclamei invocando um enorme punho mágico para socar o bicho.

Ele foi arremessado e caiu acertando a parede de uma loja e rachando-a. Prontamente Rachel se aproximou, provavelmente querendo ajudar de alguma forma, e com toda a força que tinha acertou o monstro na cabeça com o taco de Beisebol de Félix enquanto eu me tremia levemente com o frio que os monstros soltavam.

— Toma isso seu feioso! - disse ela acertando-lhe com o taco com a força que seu braço parcialmente-curado permitia.

O problema foi que o taco se quebrou facilmente em contato com o monstro, já tendo dado tudo de si naquela confusão. De toda forma, Zia prontamente lançou fogo contra ele, que gritou de dor. Mas logo o que havia sido atingido anteriormente estava pronto para se vingar. Eu repeti o meu soco mágico contra ele ao mesmo tempo que o monstro que Zia tacava fogo juntou toda a determinação dele e agarrou-a pelo pescoço apesar de claramente estar mais fraco do que antes. Provavelmente devido ao fogo.

— ZIA! - gritou Rachel para acabar tendo o pescoço agarrado também.

Eu me virei para elas sem muito tempo para resolver a situação, pois logo o outro monstro iria se recuperar do soco que eu dei. Rapidamente peguei minha khopesh e juntei toda a força do meu braço, torcendo para isso ser suficiente, e ataquei o braço do monstro que segurava Zia. 

Não foi o suficiente para cortar fora, até porque senti a resistência de antes de como se tivesse algo mais duro ali no meio, mas foi para fazer ele soltá-la. Ela tossiu, aliviada e tocando o pescoço, que agora estava extremamente vermelho, enquanto eu repetia o processo com Rachel antes que o monstro resolvesse contra-atacar. Assim que o fiz, Rachel caiu de joelhos no chão e o monstro que soquei se levantava dolorosamente.

Quanto ao monstro que havia agarrado as meninas, com ambos os braços cortados e o corpo queimado, ele já não tinha muita força. Parecia realmente prestes a morrer. Um pouquinho mais de fogo talvez fosse a solução (se é que Zia ainda tinha isso dentro dela). Mesmo acabado, o monstro estava com olhos cheios de determinação e ódio. Mas o sol refletindo na vitrine perto dele me lembrou da pressa que estávamos.

Eu puxei Rachel apressadamente para longe do monstro, já que ela tossia dolorosamente com a mão sobre o pescoço, que estava bem vermelho e aparentemente queimado. Zia parecia estar melhor, ao menos estava com uma expressão de intensa raiva quando soltou um Ha-di no monstro que tentou lhe estrangular. A explosão balançou meus cabelos e levantou um cheiro de queimado, mas o monstro caiu aparentemente desmaiado no chão.

— Vamos. - eu disse, ajudando Rachel a se levantar - Enquanto eles não estão com força.

— Acho que eu mesma também não estou com tanta. - disse Rachel.

— Vamos! Temos que aproveitar o sol. - falei puxando Zia pelo braço. 

Só que com um rugido, o monstro que eu havia socado se levantou e correu em nossa direção. Felizmente, o outro não se mexeu. Talvez estivesse morrendo (ou assim torci).

— SA-MIR! - gritei lançando o feitiço de dor no monstro.

— Vamos! - disse Zia, agora me puxando.

Continuamos a correr e tudo o que precisamos foi duas curvas em outras ruas para os monstros nos perderem de vista. O fato de um deles estar desmaiado sem dúvida nos ajudou bastante, até porque logo minha magia de causar dor se desfez. De toda forma, logo entrávamos ofegantes no metrô. 

O metrô estava infelizmente cheio. Não havia lugar para sentarmos, mas ao menos não estávamos numa lata de sardinha completa. Ofegante, olhei para Zia e Rachel, ambas com marcas no pescoço as quais tocavam com cara de dor. 

—Tá doendo muito? - perguntei ridiculamente sem saber o que perguntar enquanto colocava a mão sobre minha cintura, que doía agudamente. 

— O maldito além de apertar também me queimou um pouco. - respondeu Zia, apesar de que ela não parecia tão ruim, ao contrário de Rachel. 

— Eu também. - disse Rachel. 

— Quando voltarmos podemos pedir para a Cléo fazer algo para melhorar. - sugeri e logo olhei para Rachel - Vai querer na volta ir pra sua casa ou pra nossa?

— Se importa se eu dormir na casa de vocês hoje? - perguntou ela - Queria cuidar com calma e sem perguntas do meu braço e pescoço.

— Claro. - eu disse - Será bem vinda pra ficar quanto tempo quiser. Sem falar que temos mais proteção… 

— Obrigada. - respondeu Rachel - Não seria legal mesmo se resolverem invadir minha casa. 

— Eu posso curar um pouco mas é bom que Cléo dê uma olhada mesmo. - disse Zia tocando o pescoço de Rachel para curá-la de uma forma disfarçada dos outros passageiros. 

— Cuidado para não usar magia demais. - lembrei, vendo que ela parecia que ia desmaiar a qualquer momento - Usou bastante conte os dois feiosos até. Sem falar do terceiro que conseguimos matar no meio do caminho.

— Só um pouco. Não se preocupe. Tem aí todas as coisas pro feitiço né? - perguntou Zia e eu afirmei com a cabeça e bati levemente no bolso com o celular. 

— Nem pense em fazer. - falei - Já usou magia demais. 

— O Egito também tem oráculos? - perguntou Rachel repentinamente. 

— Oráculos? - perguntou Zia, provavelmente tentando entender a brusca mudança de assunto. 

— Bem…. O Antigo Egito até que tinha. - eu disse, fechando a cara momentâneamente por causa da dor na cintura - Tenho a impressão de que só não eram tão populares como na Grécia. Não sei. Mas sei que dizem que Alexandre o grande foi em um num templo de Amon em Siwa. 

— Isso é no Egito …? - disse Rachel, segurando o braço cortado - Siwa. 

— Isso. - afirmou Zia, se aproximando de Rachel, escondendo Rachel do resto dos passageiros do metrô, para curar o braço dela.

— Não… - disse Rachel - Tudo bem. Economize sua magia. O pior a Cleo já curou e o pescoço tava incomodando mais. Agora é só um arranhão muito irritante.

— Tem certeza? - perguntou Zia.

— Tenho. - disse Rachel - Você está com uma cara horrível!... Sem ofensa.

— Tenho que concordar… também sem ofensa. - falei.

— Sua cara não está muito melhor. - disse Zia se aproximando para curar minha cintura, mas eu segurei seu pulso para impedi-la disso.

— Eu sobrevivo. - respondi.

— Na volta vamos parar pra comer alguma coisa. - sugeriu Rachel - Isso ajuda?

— Pode ser. - falei - O pessoal vai gostar também que levemos algumas coisas já que está complicado abastecer a casa direito com tantos monstros na frente.

— E o nível dos monstros nos vigiando parece ter aumentado também… - disse Zia.

— Mas como estamos falando… - disse Rachel - Oráculos? Siwa? Era esse o nome?

— Sim. Siwa é uma cidadezinha no meio do deserto, bem longe do Nilo, ao contrário de como as cidades costumam ser no Egito. - disse Zia, exausta, encostando na parede do vagão de trem.

— Então é um cargo que vocês têm vago? O de oráculo. Ou não? - quis saber Rachel. 

— Atualmente? - perguntei. 

— Sim. - confirmou Rachel - Porque sou o Oráculo do Acampamento Meio sangue. 

— Ah, então sim…. Tá vago. - eu disse, surpreso de eu nem me surpreender com algo como o cargo que ela tinha para si - Na verdade nem sei se o cargo existe.

— Tá querendo se candidatar? - perguntou Zia abrindo um sorriso e Rachel deu de ombros levemente, com medo de mexer demais o braço recém-curado.

— Quero ajudar na situação toda… e vocês são meus vizinhos. - disse Rachel - Mas eu terei que voltar para o Acampamento Meio-Sangue em breve…

— Se quiser ficar com a gente até voltar para o Acampamento, seguirá sendo bem-vinda. - falei.

Depois disso, fomos conversando até o Central Park como se aqueles assuntos mágicos e mitológicos fossem normais para todos. Seria um bom lugar para relaxar depois daquela confusão, mas tínhamos trabalho para fazer. Quando chegamos lá, fomos literalmente correndo (apesar dos protestos de nossas pernas e da minha cintura) até o obelisco que ficava lá, a Agulha de Cleópatra… apesar do obelisco não ser dela. Ele deixava um gosto amargo na boca. Me fazia lembrar do obelisco de mesmo nome em Londres, que tinha o título desonroso de ser também o lugar onde minha mãe morreu. 

Pensando nisso, lembrei de como foi exatamente em seu xará londrino que Sadie e os demais fizeram o primeiro teste da magia. Sadie deve estar nesse momento mais presa em memórias dolorosas, cheias de saudade e talvez até algumas de tempos felizes do que eu. 

— Rápido. - motivou Zia - Não falta muito para o sol se pôr.

Obedeci prontamente a Zia pegando o celular no bolso para acompanhar as etapas chatas do feitiço. 

— Vai lendo para mim para eu conseguir ficar com as mãos livres? - perguntei estendendo o celular pra ela. 

— Claro. - respondeu ela pegando o celular. 

Ela deu os passos para mim e eu fui repetindo. Não tinha confiança de decorar tanta coisa. Ela listava e apontava quais hieróglifos eu tinha que encontrar brilhando na superfície do obelisco e me mostrava a tela quando eu tinha que dizer algo e lembrava-me das etapas com água também.

— Aponte para o sol. - ela disse e eu fiquei com o coração apertado quando o fiz.

Já mal tinha sol. Foram alguns segundos tensos esperando pela magia conseguir pegar a força do sol. Mas suspirei aliviado quando a magia e o sol se conectaram. 

— Que legal… - disse Rachel. 

Eu continuei seguindo as instruções de Zia até mesmo na parte que a magia nos enganava, parecendo que o obelisco já estava ok ao invés de brilhando num vermelho intenso e ameaçador, mas que na verdade ainda pedia uma segunda etapa envolvendo escrever "Ma'at" no chão com água. 

Uma luz pura e gostosa explodiu do obelisco, nos envolveu e eu senti que tudo estava bem ali. Podia ser impressão, mas até os passarinhos do Central Park pareciam mais alegres e cantores. Nesse ponto, Rachel foi até mim repentinamente me agarrando pelos ombros. 

— É isso! - exclamou ela - Essa era a minha visão. 

— Certeza? - perguntei - Só isso? 

— Aquelas plantas na imagem eram o Central Park então? - perguntou Zia - Tem certeza?

— 74,89% de certeza. - respondeu Rachel.

— Isso foi bem específico. - respondi - Mas não é um número tão grande quanto gostaria. 

— Podemos ir vendo no que dá também. - disse Rachel, dando de ombros. 

— Mas o que tinha aqui de tão específico que eu que tinha que vir? - perguntei, olhando para o obelisco que já era envolvido pela noite - Qualquer um na casa da vida poderia ter vindo fazer esse feitiço. 

— Às vezes… pode ser que não era que TINHA que ser você. Mas sim que a visão me mostrou que era você. - sugeriu Rachel - Não é tão fácil entender visões. 

 - Acho que era mostrando que tinha que ser você mesmo. - disse uma voz feminina que era familiar.

Nós três ficamos alertas, especialmente quando uns arbustos perto de nós se mexeu. O que quer que estivesse ali, não era muito grande. Eu tinha meus chutes, se minha memória estivesse certa, acho que conhecia aquela voz. Dos arbustos logo surgiu uma gata amarela esbelta que logo se transformou em ninguém menos do que Bastet. Bastet abriu um sorriso pra mim e eu respirei aliviado. Ela era realmente o chute que tinha de quem era a dona da voz. 

Ela não tinha mudado nada. Óbvio. Era um dos lados bons de ser imortal. Bastet continuava com seu cabelo preto liso que ia quase até os ombros, os olhos amarelos que lembravam o de um gato e usava um collant com estampa de onça. 

— Fiquei preocupada que não conseguiria me aproximar de vocês sem monstros notarem… - disse ela - Estão com tantos monstros observando a Casa do Brooklyn pelo o que ouvi falar. Ainda bem que vocês saíram de casa… 

— Bastet! - exclamei surpreso.

— Eu mesma. - respondeu ela feliz olhando para mim e para Zia - Nossa… Vocês certamente cresceram. 

— Desde quando está aqui? Está aqui escondida dos outros deuses? - perguntei - Porque está aqui?

— Calma, tá parecendo até a Sadie. - respondeu ela fazendo pouco caso com a mão - Osíris me mandou… Seu pai na verdade… Ou tanto faz né? Já que estão fundidos…

— Como meu pai está? - perguntei, sentindo meu coração se apertar de saudade por uns segundos.

— Preocupado e tentando lidar com outros que querem vir ajudar Naunet. - explicou Bastet dando de ombros - Mas não está sozinho nessa. De toda forma, ele achou que estava sendo injusto e me mandou pra dar uma ajuda para você… Considerando que achou injusto que o cachorro já está com Sadie. Achou que seria bom cada um ter uma ajuda.

— Então achou que eu estava merecendo uma companhia divina? - perguntei achando graça.

— Sim. - explicou ela dando de ombros - Também enviou um barco mas… esse não é permanente, é só emprestado. Você já tem seu barco, então não abuse.

— Sadie levou ele para a Europa com mais algumas pessoas. - explicou Zia.

— Eu sei. - disse Bastet - Por isso trouxe mais um barco. Vocês vão ser bem úteis mais perto da Casa da Vida, no Egito… ou melhor… temporariamente no Sudão. Temos muito o que falar.

— Eu tinha pensado em ir para a Ásia junto com o resto do pessoal… - falei - Acha que já tá perto de termos que ir todos para o Egito?

— Não acha melhor conversarmos sobre isso em casa? - perguntou Zia.

— Não quero que vejam que estou com vocês agora. - justificou Bastet - Pode ter certeza que aqueles monstros de olho ao redor da casa de vocês estão relatando tudo para Naunet e Nyx.

— Ela já se recuperou por Las Vegas então… - deduzi.

— E está raivosa, pelo o que sei. - revelou Bastet, claramente achando graça da raiva de Nyx - Quem fez as honras de fazer ela ter que fugir? 

— Apolo e Kayla. - disse Zia.

— Melhor eles tomarem cuidado então. - disse Bastet.

— Você também ajudou bastante. - disse Carter.

— Só segurei Nyx para que não se mexesse. - disse Zia.

— Eu não me surpreenderia se os monstros de olho na Casa do Brooklyn estiverem interessados em acabar com você então… - disse Bastet - Como um bônus para Nyx.

— Deve ficar com mais raiva ainda agora que Zia matou um dos monstros que estavam de olho. Ou talvez até dois… - disse Rachel.

— Sabem que monstro era? - perguntou Bastet.

— Parece que só morriam com fogo. - respondi - Eram bem gelados, altos e esguios. Tentei acertar com o coração, mas eram duros como pedra.

— Hm… - resmungou Bastet - Não sei… Já tem tanta mitologia nessa bagunça toda que é difícil saber tudo. De toda forma, embora eu não possa me aproximar da Casa do Brooklyn no momento, concordo que deveríamos sair daqui. Vamos para um restaurante para que vocês possam recuperar as energias. Estão com caras horríveis.

Nos arrastamos pelas ruas de Nova York não muito diferentes das pessoas que terminavam de se arrastar para fora dos trabalhos agora que o sol já tinha ido embora, e quando percebi, estávamos devorando batatas fritas e sanduíches ridiculamente altos feitos com pão de forma numa lanchonete perto do Central Park. Minha cintura doía, mas estava aliviado em estar sentado agora.

Fiquei surpreso com alguns segundos com o leve desespero com o qual Zia comia, claramente tentando se sentir menos acabada do que estava. Bastet estava sentada logo na minha frente, e, ao parar de olhar para Zia, notei que ela estava encarando nós dois com um sorriso.

— Que foi? - perguntei.

— Estou feliz em ver vocês…  - admitiu ela - E ver como cresceram desde que nos vimos. Será que conseguimos falar com a Sadie? 

— Ela deve estar dormindo. - respondi - Com certeza teve um dia bem longo.

— Amanhã ligamos então… Sobre amanhã… - disse Bastet colocando na mesa uma caixa do tamanho de uma caixa de celular - Abra.

— Já vamos partir amanhã? - perguntou Zia enquanto eu abria a caixa vendo que, dentro dela, havia um barco de brinquedo para montar.

— Esse é o barco que conseguiu? - deduzi.

— Vamos ver se é possível. Podemos conversar os detalhes. Até porque falaram em ir para a Ásia… Mas sobre o barco… Esse aí é novidade, eim? - disse Bastet - Admito que ficamos com inveja do barco que ouvimos falar que seu amigo nórdico tem. Thoth se sentiu no dever de inventar algo perto… Mas não deixe ele ouvir que acho ainda o dos nórdicos mais prático, afinal é mais fácil de montar e carregar.

— Porque precisa montar? - perguntou Rachel.

— Acho que ele se inspirou nos barcos que tínhamos antigamente e usamos para ir até Punt com a Hatshepsut, por exemplo. - explicou Bastet - Eles se desmontavam para que pudessem ser carregados por terra e então remontados quando chegassem na água de novo. Talvez tenha algum detalhe mágico por trás disso tudo, não sei dizer… Tudo o que sei é que, por favor, não o monte num lugar fechado.

— Como sabia que estaríamos no obelisco? - perguntou Rachel.

— Eu não sabia. Foi sorte… - admitiu Bastet - Fiquei sabendo por Thoth que iriam provavelmente conseguir a oportunidade de desfazer a magia do obelisco. Achei que com um tão perto, era só questão de tempo até descobrirem e virem testar. Como por onde cheguei era mais perto do obelisco do que da Casa do Brooklyn, resolvi checar as coisas por lá para ao menos falar para vocês se o obelisco estava sendo vigiado ou não. Nisso, reconheci Carter e Zia correndo para o obelisco.

— Qual é a sua ideia para nos levar até o Sudão agora? - perguntei - Queria ver se meu tio e todo mundo mais está bem, mas temos que nos preocupar com se eles vão conseguir fazer a magia em mais pirâmides.

— Já fizeram duas das sete pirâmides e estão indo para a terceira. - disse Zia.

— Tentaram fazer a na China mas não conseguiram porque o exército que tinham na China não era tão grande. - disse Bastet, me fazendo lembrar da reunião no Olimpo que participei - Devem tentar alguma na Ásia em breve de novo… no decorrer do tempo desdes que isso tudo começou, Naunet conseguiu arrumar vários aliados poderosos, como Nyx.

— E Quetzalcoatl? - perguntou Zia.

— Sim. - concordou Bastet - Foi bom que conseguiram derrotar Hafgan no Reino Unido… deve atrasar as coisas pela Europa.

— Sabe quem deve estar na Ásia então? - perguntou Rachel.

— Ouvi dizer que pode ser algum japonês… ou até mais de um… mas não tenho certeza. - admitiu Bastet.

— Será que tem alguém na Oceania? - perguntou Zia.

— Deve ter, apesar da falta de pirâmides por lá. Ao menos até onde eu sei. - disse Bastet - Afinal, rebelar os rios e mares ainda é importante. Talvez por isso o pai do seu amigo novo não esteja dando as caras para ajudar também. Deve estar bem ocupado.

— O Percy? - perguntei - Ele é filho de Poseidon né?

— Ele mesmo. - confirmou Bastet - Tem outros além de Ártemis tentando controlar as águas. De toda forma, nossa comunicação não é tão boa pra saber qual a situação na Ásia direito. São muitos deuses afinal de contas e as panelinhas acontecem frequentemente.

— Acha que conseguimos entrar em contato com os semideuses na Ásia? - perguntou Zia - Ajudaria bastante.

— Não sei… - disse Bastet pensando - Vou tentar conseguir algo do tipo para vocês…  Mas, considerando que, até onde eu saiba, também tem bastante gente ajudando por lá, tal como vocês descobriram já outros povos até agora, não acho que precisam ir em grande quantidade para a Ásia.

— Mas estamos falando de achismos até agora. - disse Zia.

— Parcialmente. - disse Bastet - Sei que quem quer que seja o grupo que está na China, parece ser forte e bem informado o suficiente pra ter impedido a primeira tentativa de uma pirâmide na Ásia. 

— Até agora só chegamos atrasados em tudo… - resmunguei, suspirando pesadamente.

— Bem, acho que conseguiram atrasar na Europa. - disse Bastet sorrindo - Isso é bom. Sem Hafgan e seu exército, eles não podem sequer tentar na Europa assim tão cedo. Ficaram um passo à frente já por lá. E Thoth confirmou a teoria de que estão tentando espalhar ao máximo as pirâmides pelo mundo, então sim… as chances são grandes de que eles farão alguma coisa na Ásia além de na Europa e na África.

— E na África ficamos entre basicamente Egito e Sudão… - disse - Ao menos até onde sei..

— E então se conseguirem no Peru, não devem tentar mais nada nas Américas e podemos focar nossos esforços no resto. - deduziu Zia.

— Exato. - concordou Bastet.

— Alguma coisa na Oceania? - perguntou Rachel.

— Não que tenhamos achado… - admitiu Zia.

— Tudo bem, me convenceu a ir para o Sudão. - falei.

— No caminho podemos passar no Obelisco de Israel também. Ou até o que fica na pontinha da Itália. - disse Bastet - E então usamos o Canal de Suez para chegar até o Sudão.

— O Nilo não seria melhor? - perguntou Zia.

— Melhor evitar o Egito o máximo possível. Por enquanto. - disse Bastet - Estão bem em alerta por lá. Até o Canal de Suez é arriscado. Mas com tanto barco por lá e tentando ficar mais do lado da Arábia Saudita, talvez nós consigamos dar sorte. Qualquer coisa também, se necessário, conseguimos usar o próprio Mar Vermelho para chegar até a Índia. É uma das opções de onde tem pirâmides, certo? Considerando que estamos em Nova York, é provavelmente mais rápido ir por lá pelo Canal de Suez e o Mar Vermelho do que pelo Canal do Panamá e o Pacífico.

— É uma viagem longa de toda forma. - eu falei, pensando naquele trajeto - O barco é rápido?

— Sem as paradas, em dois ou três dias devemos chegar no Sudão. - falou Bastet.

— Vamos para o Sudão então… - falei - Vou atualizar os demais do que você nos disse e de que estamos indo para lá.


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Notas finais do capítulo

por hj é só :) obrigada por ler. por favor comentem e até o prox cap



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