Os Deuses da Mitologia escrita por kagomechan


Capítulo 144
JACQUES - Os Perigos Mágicos da Floresta


Notas iniciais do capítulo

bem vindos a mais um cap. era pra ter saído antes mas eu tava passando mal. desculpa
no momento, estão nas Américas os grupinhos:
— Nova Roma: Frank, Lavínia, Hazel, Annabeth, Kayla, Grover, Percy, Piper,

— NY: Cléo, Paulo, Austin, Drew, Carter, Rachel e Zia

— Indo para o Peru: Meg e Apolo

— Indo para o Peru: Leo, Calipso,Magnus, Jacques, Alex, Festus, André (Brasileiro que tava na Nigéria e não sabe jogar futebol)

no momento, estão na África, os grupinhos:

— Nigéria : Olujime
no momento, os grupos que estão na EUROPA são:

— Indo para a Itália: Caçadoras de Ártemis (Thalia, Ártemis, etc), Clarisse, Reyna

— Inglaterra: Sam, Blitzen, Hearthstone, Anúbis, Sadie, Will, Nico, Mestiço, Mallory

— Alemanha: Maias-Astecas: Victoria, Micaela (a menina q parece Annabeth) e Eduardo (guri chato que o Mestiço deve estar querendo esganar), Ciara



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JACQUES

Olha… pelo Boi-Tatá ser tão grande (e ainda por cima pegar fogo), era de se imaginar que seria moleza seguir o pessoal azarado o suficiente para estar montado nele… mas não. O topo das árvores amazônicas era ridiculamente fechado. Era mais fácil seguir os outros pelo barulho que o Boi-tatá fazia, ou pelos pássaros voando para longe ou até pelas árvores sacudindo do que realmente ver o bicho se movimentando.

Mas realmente deu pra ver quando o Boi-tatá foi atingido fortemente por alguma coisa grande e peluda e saiu rolando para o lado, derrubando árvores no meio do caminho e com certeza machucando os azarados que estavam nele, até que uma árvore mais forte impediu ele de continuar rolando mais ainda.

— Essa não… - resmungou Magnus.

— CALIPSO! - gritou Leo repentinamente mergulhando em direção a onde o Boi-tatá agora estava.

— ALEX, SEGURA! - gritou Magnus no meio do mergulho súbito, claramente se segurando no que fosse para não sair voando de Festus.

— Você se segure também, por favor! - reclamei.

— Tenham calma! - exclamou Angra atrás de nós mas foi ignorada no meio do desespero de Leo de ver se Calipso estava bem, aparentemente esquecendo que Iara e André estavam no Boi-tatá também.

Nós mergulhamos em direção a floresta e a bola de pelos que derrubou o Boi-tatá, com Alex tentando não deixar o cabelo de Magnus, em sua frente, entrar na boca dela. Assim que pousamos, vi que a bola de pelos que vi do alto não era uma, e sim duas. Dois monstros feiosos e bem altos, com talvez 2,5m no mínimo, ambos cobertos de pelos e com um olho só na cara e uma boca com presas na barriga. 

Festus rugiu, os monstros também. Nós saímos de Festus apressadamente após pousar enquanto os monstros iam em nossa direção. Um deles, com as duas mãos dadas e erguidas no alto, tentou socar a cabeça de Festus e o outro tentou dar um soco na cabeça de Leo. Ambos erraram. Mas o primeiro que tentou socar Festus com um golpe vertical acabou atingindo o chão e lá deixou um grande buraco.

— FESTUS! - gritou Leo preocupado.

— Ok, forte, mas burro. Essa é minha avaliação. - falei. 

— Concordo. - disse Alex. 

— Onde está Calipso?! - exclamou Leo tentando alternar sua atenção entra a luta com os monstros e procurar pela mata algum sinal de Calipso.

Leo ergueu as mãos na direção daquele que tentou lhe acertar e lançou chamas para transformá-lo num espetinho bem nojento e peludo. Provando que não era tão burro quanto eu esperava, o monstro desviou enquanto seu amigo já começava uma briga com Festus. Festus pulava para cima dele, rugia e cuspia fogo. O monstro desviava como dava, mas seu pelo já estava chamuscado.

Contudo, quando Festus pulou na direção dele e o monstro lhe agarrou pelo pescoço, bastou uma joelhada em Festus para a lataria amassar e ele cair no chão com movimentos estranhos e artificiais. 

— VAI FICAR PARADO AÍ MAGNUS? - reclamei, doido para entrar em ação.

— Não posso demorar nem um segundo a mais agora é? - reclamou Magnus me puxando do colar e logo eu estava pronto para entrar na briga.

Alex tinha conseguido ser mais rápida e já lançava seu garrote contra o monstro que havia acertado Festus. Mangus partiu pra cima do monstro com quem Leo lutava e tentou ajudá-lo a derrubar o monstro. Era uma dança perigosa pois eu sentia o fogo que Leo lançava chegando perto demais de Magnus pro meu gosto, mas, repentinamente, Angra pousou atrás de nós. 

O fogo que rodeava ela era tão intenso que fazia o de Leo parecer até gelado. Ela deu uma pequena corridinha até o monstro que Alex lutava sozinha e, com uma agilidade invejável, deu um salto seguido de um belo chute na bochecha do monstro. O monstro não teve nem tempo de entender o que estava acontecendo, logo estava caído no chão e Angra se colocava sobre ele, impedindo-o de se levantar. 

— Alex, saia de perto. - disse Angra e Alex prontamente atendeu a ordem.

Num piscar de olhos o fogo ao redor dela explodiu, queimando tudo ao redor, transformando ela própria e o monstro numa enorme fogueira que ficou a centímetros de queimar a gente. Queria prestar mais atenção na linda cena que era, mas tive que focar na luta de Magnus e ajudá-lo com os golpes.

Eu gastei toda a minha atenção tendo certeza que Magnus conseguiria se proteger de qualquer ataque do monstro, já que já tínhamos prova suficiente de que os socos dele doíam bastante. Na primeira brecha que conseguimos, atingimos o monstro na cintura, do lado daquela bocarra estranha dele. Queria que isso tivesse feito um estrago maior, mas a pele do monstro era difícil de cortar. O que poderia ser um corte profundo que levaria a um sangramento fatal, não passou de um corte levemente preocupante e incômodo.

Leo tentou lançar chamas nele, mas o monstro agarrou a mão de Leo e rugiu na sua cara, sujando-o todo de baba. Por um segundo, eu pensei “eca”, mas logo Leo gritou quando o monstro começou a apertar sua mão forte demais. 

Sem pensar duas vezes, logo Magnus usou toda a sua força para cortar fora o braço do monstro que segurava Leo. Eu ajudei também, claro. Senti minha lâmina tremer, não conseguimos cortar fora completamente, mas foi suficiente para fazer uma cena bem nojenta e bem mais “eca” do que ter baba de monstro na cara.

O monstro gritou de dor, sangue dele jorrava do braço e logo o garrote de Alex estava lhe apertando o pescoço, já que agora ela estava livre já que Angra estava cuidando sozinha do adversário dela. Alex claramente usou toda a sua força, seus dedos estavam vermelhos e aquilo devia estar doendo muito não só para ela, mas para o monstro também, pois o monstro nem parecia ter mais forças para gritar. Alguns segundos de esforço depois, a cabeça do monstro (ou o que dava pra chamar de cabeça já que a boca do monstro estava na barriga) caiu no chão.

O monstro caiu morto ao lado do pedaço de carvão que era o monstro que Angra havia derrotado. Já Leo, não tendo mais adversários, apesar do desespero por Calipso e da mão provavelmente machucada, foi primeiro checar se Festus estava bem. Vi o olhar dele se acalmar gradualmente enquanto checava as partes do dragão de metal que, apesar de tudo, estava acordado e interagindo com o dono. 

— Essa decaptação me trouxe lembranças… - disse Magnus enquanto Angra recolhia para dentro de si toda chama que não havia controlado o suficiente e acabou queimando uma parte da floresta.

— Lembranças… - disse Alex rindo e eu me juntei a ela na risada.

— Que tipo de lembranças vocês podem ter com uma decapitação? - perguntou Angra após apagar todo o fogo.

— Ela me decapitou no dia em que nos conhecemos. - explicou Magnus como se isso fosse totalmente normal, achei engraçado, porque pra eles até que era - Leo, quer que eu veja sua mão?

— Ah… - disse Angra encarando os dois enquanto Leo se erguia, ignorava Magnus, e saía correndo na direção onde o Boi-tatá estava caído, deixando Festus repousando conosco.

— Decisão meio burra… - resmunguei.

— Não ande assim sozinho na floresta. É fácil se perder por aqui e difícil de achar. - alertou Angra, indo atrás dele e nos chamando com a mão para ir também.

— O que eram aqueles monstros? - perguntou Magnus enquanto corríamos apressados atrás de Angra. 

— Eram Mapinguaris. - explicou Angra fitando o corpo do Boi-tatá mais além, enquanto ele lentamente se erguia, provando que estava vivo - Um dia foram pessoas, mas agora são o que vocês viram. Acho bem provável que vamos encontrar mais no caminho. Já estamos bem na fronteira com o Peru afinal de contas. Daqui pra frente os problemas só aumentam.

Ok, pode até ser fácil se perder na Amazônia, mas assim… o Boi-tatá deixou um rastro de árvores derrubadas por onde saiu rolando e precisou de uma árvore bem robusta para impedir que ele continuasse caindo. Então não acho que Leo ia se perder. Ainda mais porque o Boi-tatá acordou, se remexeu lentamente e logo atrás dele surgiu Iara andando na nossa direção carregando nas costas André desacordado e bem ferido. O coitado tava tão machucado que eu tinha minhas dúvidas se ele não estava morto. Sangue até pingava por um dos braços dele e a perna estava num ângulo estranho.

— Cadê a Calipso?! - perguntou Leo desesperado indo até Iara, que provavelmente só não estava tão machucada por causa de magia potencialmente divina.

— Não encontrei. - disse ela negando com a cabeça e olhando para Leo com dó - Desculpe. Acho que ela rolou em outra direção.

Isso claramente não foi o suficiente para Leo, que logo saiu correndo para procurar rastros de Calipso.

— Fiquem aqui. - ordenou Angra enquanto corria atrás de Leo antes que ele se matasse ou virasse comida de onça. 

— É… fiquem aqui… - concordou Iara enquanto deitava André delicadamente no chão de terra.

— Eu consigo curá-lo. - disse Magnus encarando Alex momentâneamente claro, se tínhamos algum espião na Nigéria e André estava na Nigéria e podia ser espião, quem sabe Magnus conseguisse ver alguma coisa nas memórias que visse de André quando o curasse. 

— Ele é todo seu então. - disse Iara.

— Como vamos encontrar Calipso? - perguntou Alex enquanto Magnus curava André e Iara olhava o que uma vez foram dois Mapinguaris.

— Se Leo conseguir ficar calmo ao invés de sair correndo pra todo lado, podemos tentar achar rastros. - disse Iara - Ela deve também ter caído rolando, então deve ter deixado rastros para trás.

Boi-tatá se aproximou de nós, sibilando com sua língua gigantesca, e Iara acariciou-o no focinho. Alguns segundos depois, Angra voltou carregando forçadamente Leo pelo braço. Ele parecia emburrado, e Angra sem paciência.

— Já disse… - dizia Angra - Se você parar de ficar correndo para todo lado, vamos tentar melhor encontrar rastros dela.

— Dela quem…? - resmungou André, lentamente recobrando a consciência enquanto Magnus continuava a curá-lo.

— Calipso. - respondeu Magnus - Não sabemos onde ela está.

— O que aconteceu? - perguntou André colocando a mão na cabeça com uma expressão de dor.

— Dois Mapinguari acertaram o Boi-tatá com força e ele saiu rolando com a gente em cima. - respondeu Iara - Você caiu mais perto de mim, então te trouxe pra cá. Mas Calipso não sabemos onde foi parar.

— Hmm… - resmungou André.

— Só mais um pouco e vai estar bem. - disse Magnus.

— Valeu… - disse André fracamente.

— Vamos procurar Calipso antes que seja tarde demais! - insistiu Leo.

— Nós vamos! - brigou Iara - Mas não adianta nada se você se perder no processo.

— Eu me viro. - disse Leo.

— Não dura uma semana sozinho na floresta. - disse Iara.

— Você está muito longe de qualquer cidade ou estrada! - ralhou Angra apontando para cara de Leo claramente irritada - Na melhor das hipóteses você vai dar de cara com alguma comunidade indígena que não teve contato com ninguém fora da floresta e eles não vão ser amigáveis com você e você vai trazer vírus para eles! Então pare de querer explorar a floresta por conta própria. Assim que você resolver ficar calmo nós vamos atrás da sua namorada.

— Já consigo me levantar… vamos procurar por ela. - resmungou André se levantando lentamente enquanto Magnus parava a sessão de cura e Leo ficava cabisbaixo e emburrado.

— Tem certeza? - perguntou Alex.

— Tenho. - insistiu André dando um pequeno sorriso e logo se espreguiçando lentamente, testando os membros e tal, ao se levantar - Um pouco doído só, mas nada que não possa lidar. Cada segundo importa agora não?

— Bem… Se é assim… Fiquem CALMOS… - disse Iara encarando Leo - E me sigam.

— Tá… - resmungou Leo, respirando fundo, olhando para Festus, que lentamente tentava se levantar - Consegue andar?

Seja lá qual era a tradução do rugido fraco que Festus deu, Leo pareceu ter ficado suficientemente satisfeito.

— Quando encontrarmos ela, eu faço uns reparos em você, amigão. - prometeu Leo, mas logo ele olhou preocupado para Iara - Vamos conseguir encontrá-la… né?

— Se não conseguimos… daremos um jeito. - prometeu Iara, se virando para a mata.

Fomos seguindo Iara enquanto ela abria caminho pela mata. Não era fácil. Ao menos para nós, ela parecia não ter problemas em andar por ali de chinelos. O processo envolvia passar por baixo ou por cima de troncos, tomar cuidado com cipós, tentar não tropeçar em galhos baixos e escondidos e dar a volta por buracos e tocas que poderiam ter algum animal dentro. E a escuridão com apenas o fogo de Angra para nos ajudar deixava tudo pior. Não sabia nem dizer se a destruição causada pelo Boi-tatá saindo rolando tinha deixado o trajeto melhor ou pior de se trafegar. Só sabia dizer que certamente era estranho ter uma cobra daquele tamanho nos seguindo como um cachorrinho.

— Ei… - sussurrei para Magnus - Conseguiu ver algo útil das memórias?

— Não… - sussurrou ele de volta, dando uma olhada em André, mais além, para ter certeza de que ele não ouvia nada.

— O que viu? - perguntei.

— Achei pessoal demais… não quero sair contando assim. - respondeu Magnus - Mas saiba que não foi nada de útil pra saber se ele é um espião ou não.

— Acho que achei algo… - disse Iara nos distraindo de nossos cochichos.

Paramos nossa conversa e olhamos para ela. De fato, ao lado dela havia uns galhos quebrados que formavam uma pequena trilha, como se algo tivesse caído por ali… tipo uma pessoa. Mas o mais peculiar era que no final dessa trilha, havia névoa.

— É normal ter névoa por aqui? - perguntou Leo.

— Não desse jeito. - respondeu Iara.

Quando estávamos encarando a névoa, de lá ecoou uma gargalhada fina e malévola que parecia tentar fraquejar nossa coragem de entrar ali.

— Kurupi… - resmungou Angra.

— Saúde… - disse Alex.

— Kurupi. Essas risadas são de Kurupis. - explicou Angra - Bichos pequenos que vive nas partes mais densas da floresta e que gosta de atormentar todos... Dentre outras coisas não tão simpáticas.

— Eles não conseguem criar névoas assim. - lembrou Iara.

— Sinal que não estão sozinhos. - respondeu Angra - Se a amiga de vocês caiu naquela direção, que é o que parece, então ela está em perigo.

— Fiquem alertas. - pediu Iara.

Dado que a situação tinha piorado, começamos a correr em direção a névoa, por mais idiota que a ideia parecesse ser. Entramos na névoa com todos prontos pra entrar numa luta, o que significava que Magnus me tirou de seu colar e ficou pronto para entrar na briga também. Ainda bem, pois isso me poupou de provavelmente ter que ouvir o coração dele batendo, pois todos estavam muito silenciosos e tensos, como se do nada fossemos protagonistas de filme de terror.

Quando a névoa nos envolveu completamente, paramos de correr pois mal conseguimos ver nada na nossa frente. A combinação de noite e névoa deixava tudo muito difícil de ver, mas era bem claro cada pequeno barulho de galhos de árvore mexendo ou pequenas risadas no além. Ali parecia mais frio e eu me sentia arrepiado mesmo que não tivesse pelos. Não precisava ser muito genial para entender que ali havia algo de muito errado, uma presença sinistra ou algo do tipo que acompanhava a sensação de estar sendo observado.

Magnus engoliu em seco, o Boi-tatá sibilou, algo baixo passou correndo ao nosso lado, e todos se viraram na direção do som, que logo se perdeu na densidade da névoa. Uma mão esguia com garras afiadas na ponta feita de névoa se formou na surdina e roçou no pescoço de Alex.

Ela se sobressaltou no primeiro toque, eu vi três trilhas de sangue se formarem quando a mão deslizou no pescoço de Alex, cortando-o de leve mesmo quando ela pulou e se virou atrás de algum atacante, mas a mão desapareceu. 

— Tudo bem? - perguntou Magnus, pálido como a lua.

— Algo me cortou … - disse Alex tocando a nuca e voltando com os dedos sujos de sangue - Mas não é profundo. 

Repentinamente, várias risadas maléficas começaram ao nosso redor. Dezenas delas vindas de tudo quanto é lado, mas a névoa não deixava a gente ver de onde. 

O Boi-tatá, que de pequeno não tem nada, foi o primeiro a reagir. Ele sibilou, e até rugiu e logo derrubou tudo que estava em seu caminho para nos envolver de forma protetora com seu corpo. Os risos pararam e então, na névoa, brevemente consegui ver uma figura grande e corpulenta com dois pares de chifre um em cima do outro. Iara atirou contra ela e o Boi-tatá avançou com a bocarra aberta pronto para engolir o dono daquela forma. Mas acertaram apenas névoa, mais nada.

Parece que aquilo havia sido suficiente para mostrar pra eles quem mandava, e que nós tínhamos uma cobra gigante que pegava fogo e não tínhamos medo de usá-la. A névoa se dissipou e vi, por um segundo, dezenas de seres grotescos, pequenos e roliços, correndo para a proteção da escuridão da floresta, mas não sem antes Iara acertar uma com seu arco e flecha, Angra outra com suas chamas e Alex com seu garrote. 

Três criaturas caíram no chão enquanto dezenas de outras fugiram. Nossas três heroínas do dia certificaram-se que alguma das três criaturas ainda estava viva, seja para acabar de vez com elas ou interrogar sobre os paradeiros de Calipso, até que uma fraca voz atraiu nossa atenção.

— Leo… 

Todos reconhecemos essa voz na hora e, ao buscar a origem da voz, felizmente encontramos Calipso, escondida embaixo de um grande tronco parcialmente quebrado e oco.

— CAL! - exclamou Leo enquanto Magnus me colocava de volta no colar e eu sentia ele fraquejar um pouco pelo esforço das últimas lutas somadas às curas.

— Tudo bem aí? - perguntei.

— Tudo. - respondeu Magnus.

Leo correu até ela e ajudou-a a sair de seu esconderijo. Estava machucada, mas só com alguns arranhões, e estava mancando muito. O pé também parecia estranho, inchado ou algo do tipo.

— Como você sobreviveu à queda e a esses bichos? - perguntou Leo.

— Sorte.. eu acho… - respondeu ela enquanto Leo checava cada centímetro dela. 

— Bota sorte nisso. O André ali chegou mais morto do que vivo. - falei.

— Ainda bem que Magnus estava aqui pra me curar… - disse André - Ainda estou meio quebrado mas, nada que eu não possa aguentar.

— Quer que eu te cure também? - perguntou Magnus.

— Não! Não… tudo bem… - disse Calipso apressadamente - Acho que com um pouco de descanso eu já melhoro um pouco. Temos que economizar energia também não é? Não quero abusar de vocês.

— Daqui pra frente só vai ficar pior. - disse Iara olhando para Calipso de cima pra baixo, enquanto Boi-tatá a encarava e sibilava quase na cara dela com aquela língua dele.

— Podemos descansar um pouco por aqui? - perguntou Calipso - Só uma hora pelo menos…

— Hm… Talvez… - disse Iara olhando para Angra, que deu de ombros - Mais um pouco e estamos no Peru. Imagino que as coisas lá vão estar bem pior e vocês certamente tiveram um baque já.

— Acha que conseguimos continuar sem ninguém nos notar? - perguntou Alex.

— Vamos mais devagar agora e vai ser melhor. - prometeu Iara - Não temos mais muito até o Peru mesmo. Agora precaução é mais importante que velocidade.

— Isso significa que podemos descansar, né? - perguntou Calipso - Afinal está de noite também e não vai adiantar lutarmos tendo virado a noite.

— De fato. - concordou Angra - Mas é mais discreto viajar a noite. Podem dormir por duas horas…  Mas depois disso, só no Peru.

— Tenho que fazer uns concertos em Festus também. - disse Leo, ajudando Calipso a ficar de pé ao se apoiar nele.

— E a sua mão? - perguntou Magnus - Precisa de uma cura?

— Acho que vou aceitar. - disse Leo - Acho que quebrei um dedo pelo menos. 

— Aproveitem então as duas horas. - disse Iara.

— Você podia aproveitar pra tirar uma soneca pra ter mais bateria para lutar e dar uma de médico. - falei para Magnus.

— Farei isso. - disse Magnus.

— Mas antes… - disse Alex - Os bichos pequenos ou a sombra grande que vimos, qual deles era o tal Kurupi.

— Os pequenos. - explicou Angra enquanto Magnus se aproximava de Leo e curava logo sua mão.

— Alguma ideia do que pode ser a coisa grande? - perguntou André.

— Tenho alguns chutes… - disse Angra - Mas não tenho certeza de nenhum. 

— Também. - concordou Iara - Acho, no mínimo, que aquilo é mais preocupante do que os Kurupi. 

— Acha que estamos sendo observados a partir de agora por aquela coisa? - perguntou Leo

— É bem provável. - disse Iara - Apesar de que não sinto que estamos sendo observados no momento. Mas temos que com certeza sermos mais cautelosos a partir de agora. 

— Por enquanto, procurar um lugar para descansar não deve dar nada tão ruim… - perguntou Calipso. 

— Creio que não. - disse Iara olhando-lá de cima a baixo, parando mais no joelho parcialmente dobrado de Calipso, provavelmente onde estava o machucado que a fazia mancar e que deveria ser pior do que só o ralado que conseguíamos ver. 

Gastamos alguns minutos nos certificando que tínhamos uma área mais segura para descansar. Iara claramente sabia onde estava, pois nos guiou sem dificuldades até um pequeno rio como se soubesse que ele ia estar ali na quinta árvore à direita da terceira árvore à esquerda. Eu sinceramente não ia querer subir no Boi-tatá depois daquela queda feia, mas Calipso estava mancando demais, então no caminho até o riacho ela acabou indo nele mesmo assim, junto com Alex. Boi-tatá fez um C ao redor de nós com o rio fechando o C. Os barulhos da noite e da floresta eram bem relaxantes. 

Comemos o que tínhamos trago para comer, incluindo o que Iara pegou na mata para nós. Magnus, Alex, André e Calipso se deitaram para dormir, Leo ficou consertando Festus e Angra e Iara ficaram conversando perto do rio. Claro, eu fiquei lá, sozinho e entediado. Todos tinham um motivo para descansar, Alex estava claramente tirando a oportunidade para descansar um pouco, Magnus tinha usado alguma magia, André e Calipso tinham se ferido (apesar de que mesmo ele tendo passado pela cura de Magnus e ela não, André ainda parecia pior do que Calipso).

Sem ter com quem conversar, no começo fiquei aproveitando como era relaxante ali. Era fácil esquecer do resto do mundo. Pensei por um momento na bela Contra-corrente… Mas logo fiquei entediado. Sei lá… algo parecia errado. Mas não sabia dizer o que.

Magnus estava até roncando e ninguém estava prestando atenção em nós, Alex e André dormiam mais silenciosamente, e Calipso também… até o momento que ela se sentou lentamente. Ninguém pareceu notar. Achava que ela provavelmente só queria ir ao banheiro (o que deveria significar a árvore mais privativa que achasse) ou sei lá… vai ver ela não conseguia dormir. 

Ela olhou para todos os outros, se demorou mais em André, que estava de costas para mim e que era o que dormia mais perto dela, o que eu já estranhei um pouco… Ela se ajoelhou ao lado dele, de costas para mim, fez algo que não vi e se virou para Magnus.

Achei tudo estranho. André parecia tremer e, quando ela virou-se para Magnus, vi que ela estava com uma adaga com sangue fresco na mão. Tudo fez sentido então. Quer dizer, nem tudo. Porque Calipso tinha aparentemente atacado André e ia para Magnus? Não sei. Só sei que não ia deixar aquilo continuar.

— MAGNUS! CUIDADO! - gritei ao mesmo tempo que me transformei e impedi que Calipso se aproximasse e tentasse cortar a garganta de Magnus.

Magnus e os demais acordaram com um susto, todos olharam para nós, mas eu não pensei duas vezes, continuei atacando Calipso que se defendia com sua adaga.

— PORQUE ESTÁ ATACANDO A CALIPSO?! - gritou Leo.

— O que está acontecendo?! - exclamou Alex.

— MAGNUS! CURE O ANDRÉ! - gritei desesperado travando uma luta contra Calipso, impedindo-a de chegar perto dos outros. 

— Ah? - perguntou Magnus perdido, até que viu André se debatendo com sangue jorrando do pescoço tentando prolongar o que parecia ser seus últimos segundos de vida. 

— ELA TAVA TENTANDO MATAR O MAGNUS NA SURDINA! - gritei - E ATACOU O ANDRÉ! 

Foi um caos. Magnus praticamente voou pra cima de André para curá-lo desesperadamente torcendo para não ser tarde demais, o Boi-tatá rugiu, Iara apontou o arco e flecha para Calipso, Festus e Leo correram para se colocar entre Calipso e qualquer um que tentava atacá-la.

— Calma! Calma! - pedia Leo.

— Leo… - disse Iara com calma olhando para as pernas de Calipso.

— Deixa eu conversar com ela primeiro! - pediu ele, pálido como a lua, olhando com pavor para Magnus com as mãos completamente sujas de sangue tentando desesperadamente curar André, que o olhava com o olhar vidrado e apavorado.

— Por favor… aguenta André… por favor… - implorava Magnus.

Segui o olhar de Iara e acho que entendi em parte. Com a confusão toda, acho que ela tinha parado de fingir que estava mancando. Sim, fingir. Pois com o calor da batalha e o caos todo, eu consegui notar, ela não estava simplesmente mancando, as pernas tinham tamanhos diferentes… 

— Calma. D-Deve ter um motivo. - tentava Leo que parecia prestes a ter um ataque de ansiedade ou de choro - P-Podem tê-la ameaçado a fazer algo contra nós o-ou…o-ou enfeitiçado ela…

— Leo… - tentou Iara novamente - Essa não é a Calipso.

— Que história é essa? Sou eu sim! - chorou Calipso - Estão mentindo para você! Vai mesmo acreditar nela? Você me conhece! Eu pareço diferente de alguma forma? Por favor, acredite em mim… deixe-me explicar…

— V-Vamos ouvi-la… - disse Leo, claramente apavorado. 

— E-Eu não tive escolha… - disse Calipso com os olhos cheios de lágrimas - Vocês sabem que eu nunca faria nada do tipo sem motivo. 

— Ah, por favor, deixe de drama… - reclamou Angra, revirando os olhos - Conhecemos a floresta muito bem. Você é um Chullachaqui, não é?

— Chulla-o-que? - perguntei.

— Agora você está só inventando nomes! - disse Calipso, fungando o nariz em meio ao choro - Estão tentando te enganar Leo! Elas são as verdadeiras vilãs!

— Chullachaqui é um monstro Inca… - explicou Iara - Consegue fingir ser outra pessoa com perfeição. Com um detalhe, não consegue mudar o fato de que tem uma perna maior que a outra e um pé maior que o outro.

— Ohh…. - eu disse, olhando de novo para as pernas desiguais de Calipso-não-Calipso.

— Olha só que besteira estão inventando! - disse Calipso entre lágrimas, voltando a dobrar o joelho arranhado disfarçadamente - Isso nem faz sentido!

— Porque só voltou a fingir que a perna está machucada agora que mencionei isso então? - perguntou Iara enquanto Leo olhava para Calipso - Esqueceu que tinha que disfarçar a perna como machucada para não notarmos que não é por causa de um machucado que está mancando?

— Ficou com medo de tentarem te curar e estranharem que ainda estava mancando? - perguntou Angra.

A Chulla-Calipso olhou para nós com raiva e, num piscar de olhos, estava com aquela mesma adaga que tentou usar para tirar a vida de Magnus pressionada contra a garganta de Leo. Ela deixou o rosto grudado ao de Leo, claramente desafiando Iara a atirar nela com Leo estando tão próximo.

— E se eu for? - perguntou Chulla-Calipso - Não vai arriscar acertar ele também, não é?

— Só que se não é a Calipso, então significa que eu não vou me importar em fazer isso. - disse Leo imediatamente pegando fogo nas costas.

Chulla-Calipso pulou para trás, soltando um pequeno grito de dor ao se afastar das chamas e Iara aproveitou a deixa para atirar sua flecha. A flecha atingiu o ombro de Chulla-Calipso, que imagino que agora queríamos viva pois, estamos, oficialmente, sem saber onde Calipso estava.

— Não matem-na. - disse Iara seriamente com um olhar que me fez ter certeza que eu não queria nunca ser inimigo dela.

Alex atacou-a com o garrote, mas a Chulla-Calipso tinha uma agilidade e facilidade em desviar dos ataques que fazia ela parecer que se mexia como um macaco ou… sei lá… o Homem Aranha sem teia. 

Eu tentei atacar também aproveitando a facilidade que era não ter Magnus me empunhando e me forçando a obedecer a física e alcance de seu corpo. Tentei acertar  Chulla-Calipso nas pernas, ela pulou e pousou com uma cambalhota. O Boi-tatá mergulhou pronto para colocá-la dentro da boca, mas no último momento a  Chulla-Calipso mudou de forma. Ela ficou bem menor e, com isso, o Boi-tatá acabou errando o alvo.

Ela se transformou num pequeno ser da altura do joelho de Magnus, com pele verde, olhos como meia lua e uma única perna como uma pata de bode. Nem tive tempo de processar essa nova imagem, e logo ela já era um macaquinho de pele marrom com um topetinho branco no topo da cabeça.

Chulla-Calipso-Macaquinho pulou para as árvores quando Iara falou:

— Angra… 

— Já sei. - respondeu Angra.

A Chulla-Calipso-Macaquinho se agarrou num galho, Angra atingiu a base do galho e eu entendi imediatamente o que elas faziam. Antes que a Chulla-Calipso-Macaquinho percebesse, atingi onde Angra atingiu, o ganhou caiu junto com a Chulla-Calipso-Macaquinho que, tendo que obedecer as leis da gravidade, logo foi acertada por uma flecha de Iara, que já previa o local que ela passaria quando caísse.

Com um ruído de dor igual a um macaquinho, a Chulla-Calipso-Macaquinho caiu e logo se transformou numa onça, a qual o Boi-tatá colocou parcialmente na boca. Chulla-Calipso então mudou de forma de novo, se transformando num rapaz indígena que parecia bastante com Iara.

— Por favor… - implorou Chulla-Calipso, preso na boca do Boi-tatá, olhando para Iara, que cortou um cipó e amarrou os pulsos dele.

— Rosto errado. - disse Iara parando diante da Chulla-Calipso e cruzando os braços - Melhor já ir pensando em nos contar onde Calipso está. Não vai conseguir piedade de mim com o rosto do meu irmão.

— Vão me torturar se eu não contar? - perguntou Chulla-Calipso rindo - Os bonzinhos não fazem coisas assim.

— As crianças talvez não… Mas vai querer mesmo me testar? - perguntou Iara enquanto eu me perguntava como estava André, mas não queria arriscar tirar os olhos da Chulla-Calipso - Já afoguei homens por menos.

 


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Notas finais do capítulo

até o prox cap!



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