Os Deuses da Mitologia escrita por kagomechan


Capítulo 141
SAM - Antes do Sol se Pôr


Notas iniciais do capítulo

no momento, estão nas Américas os grupinhos:
— Nova Roma: Frank, Lavínia, Hazel, Annabeth, Kayla, Grover, Percy, Piper,
— NY: Cléo, Paulo, Austin, Drew, Carter, e Zia
— Indo para o Peru: Meg e Apolo
— Amazônia : Leo, Calipso,Magnus, Jacques, Alex, Festus, André (Brasileiro que tava na Nigéria e não sabe jogar futebol)

no momento, estão na África, os grupinhos:
— Nigéria : Olujime

no momento, os grupos que estão na EUROPA são:
— Indo para a Irlanda: Caçadoras de Ártemis (Thalia, Ártemis, etc), Clarisse, Reyna
— Inglaterra: Sam, Blitzen, Hearthstone, Anúbis, Sadie, Will, Nico.
— Indo para a Alemanha: Mestiço, Mallory // Maias-Astecas: Victoria, Micaela (a menina q parece Annabeth) e Eduardo (guri chato que o Mestiço deve estar querendo esganar), Ciara



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/747866/chapter/141

SAM

Era difícil saber sem olhar num relógio que horas eram ali na biblioteca subterrânea de Alexandria. Ainda assim, como eu fazia parte do pequeno grupo que acordava cedo (ou que nem dormia), quando terminei de lavar o rosto, ir no banheiro e etc tentando ficar mais apresentável, pois não tinha dormido tão bem, não me surpreendi em ver apenas Anúbis debruçado sobre os diversos papiros que deixamos sobre a mesa, tentando achar alguma resposta para os nossos problemas. 

Notei que havia papiros novos em comparação a quando eu deixei a mesa para trás e fui tentar encontrar algum canto para dormir na noite anterior, mas o sharur continuava silencioso no meio da mesa. Claramente Anúbis havia passado a noite ali ao invés de com Sadie no nosso canto de dormir, que basicamente era o que tínhamos jantado na noite anterior, já que a quantidade de almofadas e tapetes dali era bem convidativo.

— Sabah El Khiir. - resmunguei ainda com sono, dando-lhe bom dia em árabe.

— Sabah El Noor. - respondeu ele erguendo a cabeça e continuando em árabe enquanto eu notava o sotaque egípcio, tão diferente do árabe padrão e do árabe iraquiano - Resolveu que hoje era dia de treinar árabe de novo? 

— Pra ver se minha cabeça acorda logo já que, assim espero, Blitzen e Hearth logo vão acordar para tentarmos terminar de montar o Sharur. - respondi arriscando algumas palavras em árabe - Ou vai ver só quero aproveitar que finalmente tem alguém no meio de nossas confusões que entende. 

— Entendi… - respondeu ele suspirando e botando o papiro que lia para o lado e pegando outro. 

— Sem sorte? - perguntei sentando-me em uma das cadeiras e suspirando, cansada. 

— Você está bem? - perguntou ele, claramente notando minhas olheiras profundas. 

— Não dormi bem. - admiti - Fiquei preocupada com o que Carter disse quando ele ligou ontem de novo. Essa de profecia preocupante no Peru… e com o pessoal indo pra lá… Fiquei preocupada com eles. 

Ele ficou em silêncio um tempo, provavelmente pensando no que dizer, e então eventualmente respondeu:

— Eles estão num número bom e com bastante ajuda, ao menos segundo Carter e Alex passaram.

— Pensamento positivo então né? - perguntei - Mas não quero pensar nisso. Me diga como estão indo as pesquisas aí. Ficou a noite inteira procurando?

— Fiquei. - respondeu ele, abaixando o olhar para os papiros de novo.

— Passa muito as noites sozinho né? - perguntei - Não se incomoda?

— É só uma noite… - respondeu ele dando de ombros - Estou acostumado a ficar sozinho.

— Isso foi terrivelmente triste de se ouvir. - falei, e ele abriu um pequeno sorriso que não conseguiu esconder um traço de tristeza, decidi mudar de assunto - Mas… Encontrou algo? 

— Nada ainda. - respondeu ele - Mas ao menos consegui a certeza de que ao menos o papiro que procuramos existe… ou um dia existiu. 

— Como assim? - perguntei achando um pouco estranha aquela conversa em árabe sobre magia já que estava tão mais acostumada a… bem… textos religiosos.

— Alguns papiros estão mencionando um outro papiro que sinto ter o que a gente precisa, ao menos julgando como eles falam dele. - explicou ele. 

— Vamos encontrar esse papiro então. - falei, suspirando pesadamente - Insha'Allah.

— Bom dia… - resmungou Blitzen se aproximando com Hearthstone, interrompendo então nosso treinamento de árabe.

"Bom dia" sinalizou Hearthstone também.

— Bom dia. - respondi, deixando o árabe de lado.

— Bom dia. - respondeu Anúbis baixinho como se ele quisesse que a gente esquecesse que ele estava ali mas também não queria ser mal educado.

— Hipátia estava juntando algumas coisas de café da manhã para gente. - disse Blitzen apontando com o dedão para o caminho por onde ele veio.

"Tá aí uma boa anfitriã." eu disse levantando-me da cadeira e logo tentando sinalizar também para ajudar Hearth " Já comeram? "

"Não." sinalizou Hearth e logo senti minha barriga roncando.

— Vamos lá então. - respondi tanto para Blitzen e para Hearth, mas ao começar a andar, eu parei e me virei para Anúbis, já lá olhando apenas para os papiros na sua frente, e perguntei - Não quer vir também?

Eu senti Blitzen ficar um pouco tenso ao meu lado enquanto Anúbis ergueu a cabeça com uma expressão de leve surpresa que dizia “Está mesmo falando comigo?”. Ao meu lado, Hearthstone complementou meu pedido sinalizando “vem”. Anúbis olhou para nós mas, depois de olhar para Blitzen, respondeu:

— Não, tudo bem. Podem ir.

— Certeza? - perguntei, mas Blitzen já tinha começado a andar enquanto Hearth ficava em dúvida entre acompanhar e me esperar.

— Tenho. - respondeu Anúbis.

Desistente, fui atrás de Blitzen junto com Hearthstone e, quando alcancei Blitzen, não contive a necessidade e perguntar.

— Será que dá pra ao menos deixar menos na cara que tem medo dele?

— Eu não tenho medo dele… Só não confio muito. - justificou Blitzen, sinalizando apenas - Já viu a cara que ele faz quando está irritado? Como quando aquele cara machucou Sadie lá no País de Gales ou quando Mestiço quase conseguiu comprar briga com ele. Também não notou que, se ele quiser, se livra da gente bem fácil?

"Ele é legal… " sinalizou Hearthstone.

— Até pisarem num calo dele. - respondeu Blitzen com a voz e sinais ao mesmo tempo.

Como o cantinho onde havíamos jantado no dia anterior havia virado um dormitório, Hipátia havia arrumado nosso café da manhã num outro lugar exatamente igual só que no outro extremo da biblioteca. Quando chegamos lá, ela estava lá junto com Alexandre, terminando de arrumar sobre a mesa alguns pratos com croissants, bolos e até chocolate quente, todos com certeza vindos da lanchonete do museu.

Por um segundo, me perguntei quanto custava comer na lanchonete do museu, pois o cheiro estava muito bom e a qualidade das comidas parecia ser boa.

"Bom dia." sinalizou e falou Hipátia.

Nós três respondemos ela e logo nos sentamos nas almofadas ao redor da mesa. Aqueles croissants estavam me atraindo bastante, mas me segurei por alguns segundos mais.

— Obrigada por preparar as comidas para nós. - falei.

"Ah, é o mínimo." disse ela "Faz tempo que ninguém vem aqui e Alexandre acha engraçado o pessoal da cantina do museu sem entender o que aconteceu."

" Vão sair depois de comer para consertar o sharur?" sinalizou Alexandre.

"Sim… né?" sinalizou Blitzen olhando para mim, e afirmei com a cabeça enquanto já levava o croissant para a boca.

"Eu… estava pensando em ficar aqui…" sinalizou Hearthstone.

"Porquê?" sinalizamos eu e Blitzen ao mesmo tempo.

" Sou mais útil aqui." sinalizou Hearth " Sinto que posso aprender mais magia para ser mais útil nas lutas que vierem."

" Ainda não conseguiu fazer nenhuma magia sem ser as de runas. " sinalizou Blitzen em resposta.

" Ainda." repetiu Hearth, claramente esperançoso.

" Está tentando aprender alguma magia?" sinalizou Alexandre, perguntando para Hearth - Achei que estivesse só procurando a que precisam.

"Estava já desde antes de chegar aqui tentando aprender a egípcia mas… sem sucesso.. " admitiu Hearthstone.

"A egípcia é muito diferente da nórdica, acho." sinalizou Hipátia "E muito mais velha. Vá tentando por outras mais perto… já tentou os sigilos islandeses?"

" Não… " sinalizou Hearthstone com os olhinhos brilhando.

"Vou deixar alguns materiais separados para você." sinalizou Hipátia com um sorriso e saindo determinada para separar o material de estudos para Hearth.

"Acho que consigo?" questionou Hearth.

"Claro que consegue!" motivou Blitzen.

Eu continuei a devorar meu café da manhã, e Hearthstone parecia feliz pela oportunidade de tentar aprender magia islandesa. Blitzen, por outro lado, por mais que parecesse feliz pela empolgação de Hearthstone, também estava preocupado em deixar ele para trás. Mas Hearth garantiu várias vezes que ficaria bem. Assim, quando Will chegou para tomar seu café da manhã, eu e Blitzen nos levantamos para irmos para o Nomo Britânico em busca de uma forma de consertar o sharur.

No caminho para o lado de fora, passamos então na mesa onde havíamos deixado o sharur, a mesma mesa onde havia deixado Anúbis só que, dessa vez, quando nos aproximávamos, Sadie vinha se aproximando devagar na direção contrária, na ponta dos pés e vestindo a jaqueta de Anúbis. Vinha na ponta dos pés pois estava nas costas de Anúbis e claramente queria dar um susto nele. Com isso, provavelmente só Nico estava dormindo.

— Sei que está aí atrás. - disse Anúbis repentinamente, fazendo ela suspirar e revirar os olhos.

— Chato. - resmungou ela mas, ainda assim, enquanto eu peguei a bola que era o sharur, ela se aproximou e deu um beijo na bochecha dele - Bom dia.

— Bom dia. - respondeu ele com um pequeno sorriso, pegando a mão direita dela e dando um beijinho nas costas da mão dela.

— Que meloso. - brinquei, mas a verdade era que tinha uma certa inveja e muita saudade de Amir. 

— Já vão para o Nomo? - perguntou Sadie - Lembram o caminho? Hearthstone não vai com vocês?

— Sim, sim e não. - respondeu Blitzen.

— Ele preferiu ficar para tentar aprender alguma magia nova. - expliquei.

— Não querem que eu vá no lugar dele então? - ofereceu Sadie - Como vocês vão sair com o sharur pela segurança? Não acho que a névoa, glamour ou etc vá funcionar já que ele era uma peça do museu mesmo.

— É uma boa ideia… - falei, pensando nisso.

— Eu vou ser arrumado? - perguntou o sharur na minha mão lentamente, como um velhinho que estava processando tudo.

— É o que vamos tentar fazer. - falei.

— Ah… mal posso esperar… - disse ele com uma voz sonhadora - Faz tanto tempo que não tenho um cabo…

— Hipátia preparou café. Quer que esperemos você comer? - perguntei enquanto apontava na direção de onde viemos.

— Não. Eu vou lá, pego alguma coisa e vou comendo andando. Não quero atrasar vocês. - disse ela se levantando.

— Eu mostro onde é. - disse Blitzen.

Os dois saíram com passos apressados, me deixando (de novo) sozinha com Anúbis e o sharur. 

— Não liga pro Blitzen… - me peguei dizendo.

— Está tudo bem… Sério. - disse ele - Faz parte.

Enquanto eu pensava que tinha entendido direitinho porque a Sadie dizia que ele tinha que sociabilizar mais, ela voltou junto com Blitzen e um croissant na boca e um pedaço de bolo na mão.

— Bora. - disse ela.

— Tome cuidado. - disse Anúbis para ela.

— Quando eu não tomo? - perguntou Sadie.

Nós três nos viramos e caminhamos para deixar a biblioteca para trás. Mas, antes de chegar no museu mesmo, enquanto ainda mastigava o croissant, Sadie pegou o sharur com sua mão livre (já que a outra segurava um pedaço de bolo) e então ela começou a guardar o sharur num… nem sei como descrever. Era como se ela tivesse aberto um pequeno buraco negro na realidade e começasse a usa-lo como bolsa. O bolo teve o mesmo destino já que provavelmente não iam gostar de ver ela andando com comida pelo museu também.

— Assim não vão achar quando passarmos pela segurança, né? - disse ela dando uma piscadela para mim.

— Boa ideia. - respondi.

Depois disso, deixamos a biblioteca para trás cautelosamente. O museu já tinha aberto e a exposição egípcia, por onde saímos, já tinha alguns visitantes tirando fotos dos vários objetos expostos ou lendo as plaquinhas com as informações desses. Fingindo que éramos mais três desses mesmos turistas, fomos andando pelas exposições, parando para ler uma plaquinha aqui ou ali ou tirar uma foto aqui ou ali, para disfarçar melhor. Afinal, tudo podia estar normal, mas uma hora ou outra eles iam perceber que havia um item faltando na exposição da suméria.

Acabei puxando eles para a parte sobre o Oriente Médio enquanto pensava se havia alguma coisa realmente “britânica” no “museu britânico”, pois, naquele ponto, acho que já tinha visto menção do mundo inteiro ali. Esquecendo que Sadie era dali, acabei mencionando isso em voz alta. Achei que ela fosse ficar na defensiva, mas na verdade ela apenas suspirou.

— É… - disse ela - Por mais que o British Museum seja um lugar muito legal, muitos povos pedem de volta o que está exposto aqui. 

— Não é possível que tudo isso tenha sido conseguido de forma meio… estranha… é? - perguntou Blitzen.

— O viciado em história é meu irmão. - defendeu-se Sadie - O que eu sei é de partes do Partenon, que a Grécia pede de volta e a Pedra Rosetta, que o Egito pede de volta. Dada a história nada simpática da Inglaterra, acho que tem muito mais. 

Deixamos o museu e passamos pela segurança sem problemas enquanto eu fiquei pensativa sobre aquilo. Fomos andando até que em silêncio, enquanto Sadie comia seu bolo. Minha cabeça estava no pessoal do Brasil indo para o Peru e em Mestiço e Mallory, que foram dar carona para os astecas e maias até a Alemanha. Eu torcia para estarem bem. 

Alguns dias antes, ainda no barco, Will havia distribuído alguns dracmas entre nós, caso nós precisássemos falar com alguém pela mensagem de Íris. Enquanto pensava em Magnus, Alex, Mallory e Mestiço, as moedas pareceram pesar em meu bolso. Devia ser madrugada ainda no Brasil, ou algo assim, mas bem cedo de toda forma. Alex havia dito na noite anterior que iam passar o dia viajando então achei melhor usar minha moeda do dia para tentar entrar em contato com Mestiço, que estava calado a um tempo já.

Eventualmente, chegamos no Nomo Britânico, que estava exatamente como deixamos (Ainda bem).

— Hearth disse onde ele viu as ferramentas que pareciam de forja? - perguntei para Blitzen.

— Em um dos últimos andares. - falou ele - Mas acho bom olharmos tudo. Vou pesquisar os andares pra cima.

— Posso procurar nos andares para baixo. - falou Sadie olhando para mim - Pra cima, até onde notei, tem mais coisa. Então pode ir com ele.

— Ia sugerir o mesmo. - falei.

Assim, nos dividimos para buscar se tínhamos tudo para completar o sharur. Blitzen e eu iríamos olhar os andares superiores, mas Blitzen iria começar do telhado e iria descendo enquanto eu faria o oposto. Com o tanto de poeira ali, não era uma busca muito agradável. Meu nariz já estava reclamando de ter que abrir gavetas tão empoeiradas que a cor original delas havia se tornado um mistério.

Ainda bem que Blitzen começou olhando do telhado pois, lá, escondida embaixo de algumas caixas de papelão e vasos de planta vazios, estava uma pequena forja. Eventualmente, Sadie veio até nós com uma caixa de papelão com alguns itens que ela não tinha certeza serem de forja ou só de construção no geral mesmo. Isso encheu Blitzen parcialmente de esperança, pois alguns deles eram sim de forja, mesmo que fosse a minoria. Depois foi só questão de eu e Sadie revirarmos os andares faltantes atrás das coisas que Blitzen nos descrevia enquanto ele arrumava a forja (o que envolvia tirar uma quantidade absurda de lixo dela).

Pode ter parecido simples falando assim, mas levamos algumas horas para juntar tudo que Blitzen iria precisar. Cada objeto que faltava ou cada cômodo para buscar demoravam alguns vários minutos para serem resolvidos.

— Nem acredito que conseguimos. - eu disse, cansada, entregando o sharur para Blitzen.

— Depois dessa, eu mereço um banho. - disse Sadie - Sinto a poeira até no meu cabelo.

— Vá. - falei - Podemos revezar. Vou ficar aqui ajudando o Blitzen.

— Ai mal posso esperar… - disse o sharur de  forma sonhadora enquanto Sadie ia atrás de um banho.

— Você por acaso conhece uma espada chamada Sumarbrander? - perguntou Blitzen.

— Ouvi falar, mas não tive o prazer de conhecer acho… - admitiu o sharur - Minha memória não é como era antes.

— Era a espada de Frey. - expliquei.

— Quem é Frey? - perguntou o sharur.

— O deus nórdico da paz, fertilidade, verão e etc. - explicou Blitzen.

— Ah então não. - disse o sharur - Os nórdicos são muito depois do meu tempo de auge. Eu devia estar largado e esquecido na areia na época. Mais dormindo do que qualquer outra coisa.

Depois de ao menos lavar minhas mãos, para me livrar de ao menos parte da sensação de sujeira, me juntei a Blitzen nos reparos do sharur. Blitzen estava bem concentrado e por isso, nem ousei puxar qualquer conversa que fosse.

Quando Sadie voltou do banho, virou minha vez de tomar banho e logo depois estávamos as duas banhadas e Blitzen estava concentradíssimo em seu trabalho, já mal precisando de nós. Então aproveitei para deixar Sadie de prontidão para ajudar Blitzen enquanto eu ia até um banheiro para tentar mandar uma mensagem de Íris para Mestiço e Mallory.

Esperei alguns segundos, ansiosa, e logo a imagem de Mestiço se formou com Mallory ao fundo, olhando o mar passando na beirada do barco. Mas logo estranhei os olhos vermelhos e a fungada que ele deu.

— VOCÊ ESTAVA CHORANDO?! - exclamei surpresa.

— NÃO TAVA NÃO! - reclamou Mestiço.

— O que aconteceu? - perguntei preocupada.

— Nada… - resmungou ele.

— “Nada” nunca é realmente nada. - respondi.

— Só umas conversas que eu tava tendo com a Mallory, tá? - reclamou Mestiço - Nada mais que você precisa saber.

— A memória dela tá melhorando? - perguntei.

— A passo de lesma, mas tá. - respondeu Mestiço - Já deixei os mexicanos onde precisavam, e estamos voltando. Vamos por onde o Rio Tamisa desagua no mar e seguiremos até chegar em Londres.

— Tiveram algum problema? - perguntei.

— Nada que não conseguissemos lidar. - respondeu Mestiço.

— Quando chegarem então, vão para o British Museum, especificamente para a parte egípcia que fica no andar de cima. - expliquei - Vão achar uma porta estranha, aparentemente mágica, escondida na sala mais à esquerda, onde tem uma peça bem grande, acho que é o pedaço de um túmulo. Atrás dele vai estar a porta. Ela leva até onde estamos.

— Entendido. - disse Mestiço - Até o final do dia estamos aí. Como estão Magnus e Alex?

Gastei os próximos minutos explicando a situação do pessoal no Brasil correndo para o Peru. O tempo deu perfeitamente, pois já no final da explicação, Sadie surgiu no banheiro.

— Blitzen falou que terminou. - disse ela.

— Ótimo! - falei, me virando para Mestiço de novo - Nós falamos quando vocês chegarem.

— Sim. - respondeu ele e a ligação acabou.

Segui Sadie até a forja, e logo ouvi as exclamações de felicidade do sharur.

— Eu tenho uma haste! - exclamava ele em felicidade, se ele tivesse um rosto, certeza que estaria chorando.

— Que bom que gostou. - disse Blitzen segurando a arma - Admito que não é meu melhor trabalho, considerando a situação das ferramentas e tudo mais da forja, mas dei meu melhor.

— Está linda! Obrigado! - disse o sharur.

— Vai aguentar uma briga, né? - perguntei, pegando a arma e pesando na minha mão.

— Creio que sim. - disse Blitzen - Ela é toda sua pra acabar com aquele Asag.

— Obrigada, Blitzen! - exclamei - Você sempre se supera.

Sorri satisfeita e testei o peso da arma em minhas mãos com alguns movimentos simples. Estava mais acostumada com um machado, mas uma maça seria bem vinda também. Ainda mais se ela fosse a promessa para acabar com aquele bicho.

Como tínhamos que voltar antes no museu fechar, Sadie guardou as coisas de novo em seu bolso mágico, Blitzen tomou um banho bem merecido e voltamos para o British Museum. Quando chegamos na entrada da biblioteca, onde Alexandre pegou nossas memórias, demos de cara com Hearth, Will, Nico e Anúbis que estavam com pressa e logo nos puxaram apressadamente para a direção de onde havíamos acabado de vir.

— O que foi? Pra que tanta pressa? - perguntei, enquanto Hearth puxava a mim e a Blitzen enquanto Anúbis fazia o mesmo com Sadie.

— Hearthstone talvez achou a magia que precisamos pra desfazer a magia dos obeliscos. - explicou Will rapidamente - Vamos rápido até o obelisco mais próximo para testar antes que o museu feche e o sol se ponha.

— Porque sol? - perguntei.

— Precisamos de sol. - respondeu Will.

— E dá tempo? - perguntou Blitzen - Onde fica esse obelisco mais próximo? Tem um em Londres?

— O obelisco de Tutmósis III, que chamam de “A agulha de Cleópatra”… - respondeu Anúbis olhando preocupado para Sadie, que ficou pálida ao ouvir aquele nome.

— É perto? - perguntou Blitzen, claramente não notando a cara que Sadie estava fazendo.

— 15 minutos de metrô daqui. - disse Will.

—  Não tem um em Nova York com o mesmo nome? - perguntou Blitzen.

— Tem. - respondeu Anúbis - Nenhum é da Cleópatra.

— Sabem nem dar nome direito. - resmungou Nico.

Dessa vez não disfarçamos muito nos fingindo de turistas quando chegamos no British Museum mesmo. Ao invés disso, saímos rapidamente, torcendo para não estarmos parecendo muito estranhos, e fomos direto para o metrô, que felizmente era ali perto, só a três minutos de caminhada. Entramos na estação grande e bonita, cheia de vidro, num cruzamento movimentado com pessoas andando pra cima e pra baixo com sacolas de compras enquanto ônibus vermelhos de dois andares passavam. Foi só dentro do trem que tivemos uns 10 minutos para respirar.

A cara de Sadie não era das melhores, e eu via como Anúbis, Will e Nico estavam olhando, preocupados com ela. Mas, pelos olhares de questionamento de Will e Nico, só Anúbis sabia o motivo da expressão dela.

— Quer ficar na saída do metrô? - perguntou Anúbis - É bem do lado pelo o que Will viu.

— Não…Eu consigo. Não é nada.  - respondeu ela abrindo um pequeno sorriso para ele, como se tentasse fingir que estava tudo bem. 

— É certeza que vai funcionar? - perguntou Blitzen.

— Não. - respondeu Will - Por isso temos que tentar.

Eu estava curiosa e queria perguntar o motivo de Sadie estar com aquela cara, mas também não queria que Sadie me visse perguntando o motivo. Ou talvez fosse melhor perguntar pra ela quando ela estivesse melhor, não sei. Só sei que tive que controlar minha curiosidade durante todo o curto trajeto do metrô até chegarmos numa bela estação que nos levou a um pequeno parque, bem nas margens do Rio Tamisa. Na saída, compramos duas garrafas d’água numa pequena lanchonete, Anúbis disse que precisariam de água no feitiço.

Lá, realmente bem na margem do rio, bem no centro de uma pequena escadaria que levava a uma parte mais baixa que provavelmente em tempos antigos havia servido como um pequeno porto para botes e barcos pequenos, estava um obelisco egípcio.

O pessoal passando ali tranquilamente provavelmente não estava notando, mas o obelisco estava envolto numa luz vermelha com vários hieróglifos flutuando em sua superfície, também em vermelho. 

— Ok erm… quem faz? - perguntou Will enquanto encaramos o obelisco.

— Eu nem vi o feitiço… - disse Sadie olhando para Anúbis - É muito difícil?

— É mais detalhista que difícil. - respondeu Anúbis - Não parece precisar de tanta magia pois usa a própria energia que já está no obelisco e no sol.

— Porque se alguém além de nós e o pessoal da Casa da Vida conseguir fazer, será bom para resolvermos logo o máximo de obeliscos possível. - disse Sadie - Afinal muitos estão espalhados por aí.

" Eu quero tentar. " sinalizou Hearthstone depois de chamar a atenção de todos para si.

Anúbis então pegou no bolso dele um celular e Sadie logo abriu um pequeno sorriso.

— Vi que meu presente foi útil? - perguntou ela.

— Hipátia não deixou a gente sair com o papiro… - justificou ele.

— Então ensinei seu namorado a usar a câmera do celular. - disse Will todo orgulhoso.

Anúbis então mostrou a foto para Hearthstone e com o pouco de ESL que ele havia aprendido até agora e com uma ajuda de Blitzen, ele conseguiu ensinar o que Hearth deveria fazer. Houve uma breve discussão sobre precisar ou não dizer em voz alta. Ninguém parecia ter muita certeza. Então, para a primeira vez ao menos, acabaram concordando em Anúbis dizer as palavras que fossem necessárias. Eles repassaram o processo todo e Anúbis deu a garrafa d’água, já aberta, para Hearthstone, e a outra, ainda fechada, para Blitzen. Mesmo tendo repassado tudo, ainda assim, a cada etapa Anúbis lia da imagem, toda em egípcio, o que deveria ser feito e repassaria ação necessária para Hearthstone.

— Hey, tá tudo bem? - sussurrei para Sadie enquanto os três se viraram ao lado do obelisco.

— Tá… tá sim… - respondeu ela olhando rapidamente para mim mas sem verdade na voz. 

Voltei a fitar Hearthstone na sua primeira tentativa de mexer com magia egípcia. Vi Anúbis apontando para um hieróglifo específico que Hearth tinha que colocar a mão em cima, especificamente com a mão esquerda. Quando Hearthstone tocou no hieróglifo, o hieróglifo parou de se mexer e ficou brilhando debaixo da mão dele. Tudo parecia ter ficado desconfortavelmente silencioso.

Ao nosso redor, as pessoas despreocupadas começavam a nos evitar. Provavelmente estavamos parecendo para eles como um bando de adolescente desocupado pronto para aprontar alguma coisa ilegal. Ignorei-os sem dificuldade.

Os outros hieróglifos continuaram se movendo por toda a extensão do obelisco, como se fossem uma sopa de letrinhas enquanto Anúbis começava a ler algumas coisas em egípcio seguindo o texto escrito na foto do celular. Era engraçado de ouvir, quando eu parava pra pensar em quão morto estava o idioma. Hearthstone, já tendo sido previamente instruído, ficou sacudindo fortemente a garrafa d’água em direção ao obelisco para que ela o molhasse.

Ele então apontou para outro hieróglifo que Hearthstone logo colocou a mão sobre. O processo de frase dita e hieróglifo tocado se repetiu por mais três vezes até que Anúbis levantou dois dedos juntos de uma mão para Hearthstone e ele indicou com a cabeça que tinha entendido. Claramente Hearth já tinha aprendido o que fazer naquele momento, pois, largou a garrafa d’água, já vazia, enquanto Blitzen abria a segunda garrafa d'água. Hearth fechou a mão deixando apenas dois dedos levantados. Os dois dedos estavam bem grudados um no outro e logo eram a única parte de Hearth que tocava o obelisco.

Hearth olhou com o canto do olho para Anúbis, que bateu no peito com a mão livre duas vezes como se dissesse “hey, lembra que você tem que colocar a mão direita sobre o peito com a mão fechada”. Hearthstone repetiu o gesto e continuou dali, puxando o braço que tocava no obelisco para longe.

Um filete de energia vermelha conectava o obelisco e a ponta do dedo dele. Esse filete escapou do dedo dele quando Hearthstone repentinamente apontou para o sol, que estava se pondo. O filete saiu voando para o sol rapidamente e então o vermelho começou a mudar para um belo branco. Assim que o branco chegou na metade do filete, Hearthstone apontou para o topo do obelisco. O filete que estava no sol então rapidamente foi para o topo do obelisco e a luz explodiu fortemente, me cegando por alguns segundos.

Quando consegui enxergar de novo, vi que agora o obelisco estava todo envolto numa linda luz branca.

— Deu certo! - falei, acreditando que aquilo era tudo que precisávamos.

— Ainda não. - disse Anúbis se aproximando de Hearthstone e mostrando para ele a tela do celular.

Claramente ele já tinha instruído Hearth o que fazer, pois ele se ajoelhou, estendeu a mão para Blitzen, que a molhou com a água da garrafa e então começou a desenhar no chão os hieróglifos que Anúbis mostrava. Curiosos, acabamos nos aproximando lentamente para ver. 

O trabalho de Hearthstone em copiar os hieróglifos da imagem não era fácil. Mas ele claramente deu seu melhor para desenhar os cinco símbolos. Dois que estavam empilhados entre si e então três que estavam empilhados entre si logo ao lado. Pareciam uma foice, um retângulo com a ponta cortada, um braço, um semicírculo e um retângulo com dois pequenos “V”, como gramas, em cima.

— Ma’at… - sussurrou Sadie ao meu lado.

O símbolo feito com água brilhou. A luz branca que envolvia o obelisco pareceu derreter dele, ocupando todo o chão e então se distanciando lentamente até desaparecerem no horizonte. E então, tudo estava normal de novo.

— Conseguimos? - perguntou Will e notei como o olhar de Hearthstone brilhava com sua primeira magia egípcia feita com sucesso.

— Conseguimos. - falou Anúbis.

"Parabéns!" sinalizamos eu e Blitzen ao mesmo tempo e foi fofo ver como Hearthstone corou diante da parabenização.

— Um problema a menos… - disse Sadie, suspirando.

— Água, sol, mão esquerda ou direita, pareceu tudo bem aleatório pra complicar. - disse Blitzen enquanto Will pulava de felicidade e abraçava Nico.

— Não. Foi bem egípcio. - disse Sadie e Anúbis confirmou com a cabeça.

— O ideal seria água sagrada… - disse Anúbis - Que significava água do Nilo… mas dada a distância do Nilo e o estado atual… seja dele… ou até do Tâmisa… uma garrafa d’água pareceu mais seguro… e limpo…

— Porque não estão mais felizes? Conseguimos! - disse Will.

— Isso vai fazer alguma diferença considerando as pirâmides e o tanto de outros obeliscos por aí? - perguntei.

— Só se fizermos o mesmo em todos os obeliscos. - disse Anúbis.

— Que são quantos? - perguntei, já preocupada - Podemos espalhar pelo pessoal esses passos e transcrever a parte em egípcio em algo legível. Temos bastante aliados a essa altura. Cada um pode cuidar de um.

— Só aqui no Reino Unido tem 4. - disse Sadie - Tem outro nos EUA. Outro na França…

— O em Israel que vimos… - lembrei e meu coração doeu ao pensar em TJ.

— Turquia também tem um. - disse Anúbis - Egito e Itália tem vários.

— Vamos nos dividir com o pessoal do Acampamento Meio Sangue e do Acampamento Júpiter. - disse Nico - Tem as caçadoras também… e acho que podemos contar com os astecas e maias se necessário.

 Alheia a nossos planejamentos de como separar todo mundo, Sadie pegou seu celular, que aparentemente estava tremendo em seu bolso. Ela então olhou para mim, claramente preocupada, e virou a tela para mim que mostrava um ponto luminoso, que parecia até saltar levemente da tela do celular e atravessar sua película, indicando o Peru. Não sabia se Alex e os demais tinham chegado já no Peru, mas os problemas claramente já.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

por hj é só! :) até o prox cap



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Os Deuses da Mitologia" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.