Os Deuses da Mitologia escrita por kagomechan


Capítulo 140
CALIPSO - Cruzando a Amazônia


Notas iniciais do capítulo

olá! cap novo chegando!

no momento, estão nas Américas os grupinhos:
— Nova Roma: Frank, Lavínia, Hazel, Annabeth, Kayla, Grover, Percy, Piper,
— NY: Cléo, Paulo, Austin, Drew, Carter, Meg, Apolo e Zia
— Amazônia : Leo, Calipso,Magnus, Jacques, Alex, Festus, André (Brasileiro que tava na Nigéria e não sabe jogar futebol)

no momento, estão na África, os grupinhos:
— Nigéria : Olujime

no momento, os grupos que estão na EUROPA são:
— Indo para a Irlanda: Caçadoras de Ártemis (Thalia, Ártemis, etc), Clarisse, Reyna
— Inglaterra: Sam, Blitzen, Hearthstone, Anúbis, Sadie, Will, Nico.
— Indo para a Alemanha: Mestiço, Mallory // Maias-Astecas: Victoria, Micaela (a menina q parece Annabeth) e Eduardo (guri chato que o Mestiço deve estar querendo esganar), Ciara



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CALIPSO

Desde a Nigéria, Alex estava estranha. E pra piorar, não parecia tão afim assim de nos explicar o motivo do seu comportamento estranho, como o motivo de ter saído da Nigéria com tanta pressa e puxado a gente e o motivo de ter ido conversar a sós com Iara. Até André, que conhecia ela a pouco tempo, tinha notado o comportamento estranho dela.

Ela fazia parecer que tudo estava bem mas, quando, depois de um lanchinho, Iara nos levou para cabanas de madeira onde iríamos dormir para acordar bem cedo no dia seguinte, eu puxei Alex para longe dali, o máximo dentro da mata que eu ousava entrar. Magnus, como um fiel escudeiro dela, acabou indo junto. Com certeza meu próprio fiel escudeiro teria ido junto se não fosse porque eu o proibi de fazer isso.

— Nem tente desviar do assunto. - reclamei apontando para o rosto de Alex - Explique o motivo de tudo isso! Uma hora estávamos na Nigéria e do nada você nos arrasta pro Brasil?

— Foi mal. - disse Alex erguendo levemente os braços - Não dava para explicar antes com tanta gente por perto. 

— Tenha calma, Calipso. - pedia Magnus olhando ao redor provavelmente em busca de um ouvido extra. 

— Então aproveite que só tem a gente e a floresta para explicar. - pedi - Isso é, considerando que só tem a gente e a floresta agora mesmo. 

— Logunede me contou que a pirâmide no Peru vai ser atacada nos próximos dias e que tem algum espião lá na Nigéria. - explicou Alex.

Eu encarei ela por um tempo, processando essa informação. Explicava o receio dela de contar com outras pessoas por perto, afinal provavelmente não sabia se podia confiar em André. Mas não explicava uma coisa…

— E você acreditou porquê? - perguntei - Podia estar só tentando nos tirar de lá. 

— A gente não ia fazer tanta diferença por lá pra precisarem nos tirar. - opinou Magnus - Tinham bastante gente… olha como aqui tem pouca gente, por exemplo. Na pior das hipóteses, eles estão precisando mesmo da gente por aqui.

— Lá na Nigéria muitos nem poder tinham. - lembrei - Mas então… porque acreditou?

— Eu senti que era pra acreditar. - justificou Alex revirando os olhos - Sei que é uma justificativa besta. Elu disse que estava analisando de longe em quem podia confiar e eu chamei a atenção um pouco mais que os demais.

— Você realmente chama atenção por onde vai… - disse Magnus.

— E outra, faz sentido. - continuou Alex - A pirâmide do Peru é uma das preocupações né? Não tinha nenhuma da Nigéria. Se eles forem atacar alguma pirâmide que não temos certeza qual é a próxima, melhor estarmos perto de alguma pirâmide, do que muito longe. Ou acha que a gente vai conseguir sair de qualquer lugar do mundo pra seja lá onde for a próxima assim rápido? A gente deu sorte que as até agora foram em Las Vegas e no México.

— Também temos sorte que sabemos que o Egito é quase certeza. - lembrou Magnus - Imagina se a gente tiver que, do nada, ir lá pra algum lugar da Ásia?

— Aí eu quero ver. - disse Alex cruzando os braços e me encarando - Explicação boa o suficiente.

— Por pouco. - respondi suspirando.

— Melhor vocês irem dormir. - disse Iara repentinamente aparecendo atrás de nós e nos dando um susto, eu nem consegui ouvir ela chegando e, considerando o tanto de folhas e galhos no chão, isso era um feito - Não venham reclamar comigo quando eu tirar vocês da cama antes do sol nascer.

— S-Sim senhora! - disse Magnus, claramente tendo levado um susto também.

Magnus puxou Alex para a nossa cabana e eu fui logo atrás. Era uma cabana de madeira confortável com uma beliche de madeira numa parede ao lado de uma porta que ia para um banheiro, uma rede em dois cantos e uma outra beliche entre as redes que, ao invés de ter uma cama embaixo, tinha uma escrivaninha com um frigobar ao lado e em cima da escrivaninha, algumas camisetas limpas para nós usarmos se precisássemos. Considerando o tanto que eu tinha suado no caminho pra cá, as camisetas eram bem vindas.

Ao lado de uma das redes, havia uma grande janela com uma tela para mosquitos onde Festus observava o interior do quarto. Com certeza ele tinha escolhido aquela janela pois Leo já havia tomado aquela rede para si.

Leo olhou para mim com um olhar curioso, claramente querendo saber o que tinha acontecido na conversa que tive com Alex. Mas, como André estava ali e não sabíamos se podíamos realmente confiar nele, ignorei o olhar pidão de Leo.

— Tá tudo bem? - perguntou André, que tinha pegado a outra rede para si.

— Está sim. - respondi, indo para o banheiro com uma camiseta nova nas mãos.

Enquanto tomava banho, pensei sobre a situação e sobre o que Alex tinha me falado. Esperava que a intuição dela estivesse realmente certa… embora eu não gostasse da ideia de ir correndo para o Peru lutar tão pouco. Mas era melhor do que estar no continente errado para tentar evitar os problemas de acontecerem.

Mas logo ficou difícil de pensar, a água quentinha foi muito bem vinda depois de tanta correria. Acho até que depois disso meu corpo entrou no automático, pois logo estava enrolada no lençol branco da beliche em cima da escrivaninha. Ao lado, eu ouvia Alex e Magnus aparentemente atualizando o pessoal ainda nos Estados Unidos e na Europa sobre os nossos acontecimentos, enquanto André ia tomar banho também.

Para conseguir o fraco sinal de wifi que tinhamos, Alex tinha que ficar de pé na cama mais alta da beliche que ela tinha pegado com Magnus e ainda esticar o braço o mais alto possível. Só aí ela conseguiria mandar mensagem para o pessoal.

— Não é mais fácil usar Mensagem de Íris do que fazer esa acrobacia toda? - perguntou Leo.

— Desculpa se eu não tenho moedas gregas pra gastar pra cada mensangenzinha que precisamos mandar pro resto do pessoal. - disse Alex enquanto Magnus tentava ler também o que acontecia na tela do celular.

— Desculpa se quando eu uso um celular eu viro um alvo para monstros móvel. - resmungou Leo.

— Apolo está vindo pra cá também… - ouvi Magnus dizer repentinamente, mas mal me mexi na cama para ouvir isso - Junto com Meg. Parece que conseguiram uma previsão do futuro dizendo que as coisas vão ficar feias no Peru.

— Que legal, estamos finalmente ficando cheios de deuses para ajudar. - disse Alex - Ao invés de só deixarem os problemas para nós.

— Foi Rachel quem fez essa previsão? - perguntou Leo.

— Foi o que eles disseram. - respondeu Magnus - E que não parecia mais no meio da floresta, e sim já nas montanhas e que… muita gente morre…

— Nesse “muita gente morre”, estava a gente? - perguntei.

— Eles não sabem responder. - admitiu Magnus suspirando pesadamente. 

— Espero pensar que não. - falei.

— E eu espero que ele chegue a tempo. - disse Magnus - Morrer não está no meu top 10 coisas favoritas.

— Pra quem não gosta, você até que morre demais, especialmente lá no Hotel. - disse Alex.

Estávamos claramente aproveitando o fato de André estar tomando banho para contar para os outros de nossas descobertas e tudo mais, afinal, não sabíamos se podíamos confiar nele. Contudo, minha atenção foi diminuindo até que, em algum ponto, eu acabei caindo no sono. Não sei quanto tempo dormi. Senti que não foi mais do que alguns segundos, pois logo senti repentinamente Leo tentando me acordar gentilmente.

— Acorda, Raio de sol… - disse ele gentilmente - Estamos saindo.

— Mas já? - perguntei, coçando o olho e olhando para a janela, ainda meio escura.

Com sono e com o cabelo todo pra cima, eu desci da beliche e tentei arrumar meu cabelo quando Júlia, a menina que estava grudada na televisão quando nos recebeu, me ofereceu uma sacolinha que parecia ter bastante comida dentro. 

— Obrigada. - respondi.

— A Iara tá esperando vocês lá fora já. - explicou ela.

— Pena… queria ter ficado aqui mais. - admitiu Leo.

— Podem vir visitar quando as coisas estiverem mais calmas. - convidou Júlia.

— Acho que vou aceitar eim… - falei enquanto saía da cabana e imediatamente parei, meio chocada, ao ver, alguns metros dali, Iara conversando com um cavalo com chamas no lugar da cabeça.

Quer dizer, ao menos ela parecia estar conversando, eu ouvia a voz de Iara mas só ouvia um relinchar meio arrepiante vindo do cavalo. Iara, por outro lado, falava mas eu não entendia direito pela distância e pela pouca familiaridade com português, mas ela parecia preocupada ao se virar para ir na direção de Tupã.

— O que é esse cavalo? - cochichou Leo para Júlia.

— É a Beatriz. Ela é uma mula sem cabeça. - respondeu Júlia que também parecia curiosa com o conteúdo da conversa e seguia também Iara com o olhar - Daqui a umas horas ela vai virar gente de novo. Ela mora não muito longe daqui.

O objetivo de Iara, Tupã, estava no meio do caminho que levava até o barco observando a nossa preparação quando Iara chegou para falar com ele. Eu observei os dois conversando, mas a única certeza que eu tive era que não estavam falando em português mais.

— Você ouviu algo? - perguntei para Júlia.

— Não… - admitiu ela - Se for para saber, Iara vai contar depois para vocês quando estiverem no caminho.

— Você não vai? - perguntou Leo.

— Não… vou ficar aqui com os outros tomando conta das coisas. - respondeu Júlia - Vocês não conheceram os outros pois eles chegaram depois que vocês foram dormir. Mas Iara vai com vocês, melhor guerreira aqui não tem.

— “Guerreira”? - perguntou André repentinamente surgindo atrás de nós, vindo da cabana - Não só sereia e pronto?

— Ela é uma sereia? - perguntou Leo - Mas ela tem pernas.

— Não quando está na água. - respondeu Júlia - Mas sim… ela é uma grande guerreira. Está precisando estudar mais os mitos do próprio país, eim?

— Já tô vendo que preciso mesmo… - admitiu André.

— Ela era uma guerreira bem forte do povo dela. - explicou Júlia - Aí coisas aconteceram, ela morreu e Jaci, a deusa da lua, transformou ela em protetora das águas.

— E sereia…? - completou Leo.

— E sereia.  - concordou Júlia.

— Hmm… - respondi.

Enquanto Tupã e Iara conversavam, Jaraguari, o marido de Iara, preparava o barco, Alex e Magnus riam conversando sobre alguma coisa e Diego estava, na cadeira de rodas, olhando preocupado para a mata mais densa dali. Me perguntei o que ele estaria esperando, até que na escuridão da noite e da mata, comecei a ver uma luz se aproximando.

Essa luz foi crescendo e logo fui sentindo o calor, como se fosse uma fogueira gigante. Logo todos estávamos prestando atenção na luz. Eu tinha algumas opções do que era aquilo, nenhuma era boa e, por Magnus, Alex e Leo se preparando para algum combate, imagino que eles também não tinham opções muito boas. Contudo, de dentro da mata o que surgiu como fonte daquela luz toda, foi uma mulher.

Sua pele inteira queimava como fogo, seus olhos eram completamente brancos e bem luminosos. Seus cabelos eram vermelhos e luminosos, como o próprio fogo. Ela estava com uma camiseta preta de banda de rock com um anjo meio estranho desenhado e escrito “ANGRA”. Também usava shorts pretos e curtos e um par de coturnos altos. Incrível como a mata não queimava só com a presença dela, a única explicação era que ela estava controlando isso.

Ela olhou para nós brevemente, mas se aproximou de Diego, abriu um doce sorriso e depositou um beijo no topo da cabeça dele.

— Oi mãe… - entendi ele dizer.

— Pessoal… - disse Iara para nós - Essa é Angra. Achei que ela poderia ser útil pelo o que eu ouvi falar das outras pirâmides…

— Achei que ia mandar Diego… - disse Angra, cruzando os braços demonstrando claramente que não gostava da ideia de seu filho ir com a gente, espero que por ser perigoso.

— Diego é um dos melhores guerreiros que temos aqui… Não podemos abrir mão dele assim. - explicou Iara - E os semideuses que vivem aqui já tem problemas demais para lidar. Não podemos simplesmente deixar a Amazônia desamparada.

— Vai chamar Boitatá também? - perguntou Angra.

— Vou. Só peço que não queime o barco, ok? - reclamou Iara, fazendo Angra abrir um pequeno sorriso meio desafiador. 

— Ainda com raiva daquela vez em Foz do Iguaçu? - perguntou Angra, soltando uma pequena risada.

— Deu sorte que ainda não tinham inventado a internet, se não a gente ia estar pra todo lado! - reclamou Iara, revirando os olhos e indo para o barco.

Me entreolhei com Leo, Magnus e Alex, e fomos atrás de Iara, para o barco. André logo nos seguiu também e Angra, depois de conversar um pouco com Diego, fez o mesmo. Angra ficou sentada no teto do barco, dividindo espaço com Festus, enquanto Iara rapidamente deu um beijo de despedida em Jaguari e o barco começou a andar. 

Quando o barco começou a andar, mesmo que estivesse dirigindo ele, Iara ainda falou conosco e nos explicou um pouco mais do que havia planejado para hoje. Enquanto ela falava, eu abri minha sacola de café da manhã e comecei a beber o suco de caixinha que estava lá e comer uns pãezinhos com gosto de queijo.

— É o seguinte pessoal, antes de qualquer coisa, Beatriz trouxe uns rumores meio preocupantes até nós… - disse Iara - Segundo ela, aparentemente a Cuca se juntou aos nossos inimigos.

— A Cuca? - perguntou André parecendo meio surpreso.

— É. - concordou Iara - Para os gringos perdidos… A Cuca é uma bruxa, o que por si só já é suficientemente problemático.

— Não me surpreenderia também se encontrarmos uns Aya Uma no caminho… - disse Angra - É um monstro Inca e como estamos indo para a fronteira com o Peru...

— Já vi que os problemas prometem. - eu disse - Certeza que só nós somos o suficiente para lidar com tudo isso?

— Estamos indo pegar Boitatá no caminho também, mas… é, nós vamos ter que ser suficiente. - disse Iara - Também pedi para Guaraci tentar entrar em contato com Inti, o deus do sol inca. Talvez consigamos alguns semi deuses incas para nos ajudarem também. Eles estão em uma quantidade de números melhor do que nós.

— Desculpe a pergunta, talvez meio burra… - disse Leo - Mas não vai demorar muito para chegarmos na fronteira com o Peru de barco? E o barco sequer consegue chegar até lá?

— Não se preocupe. - disse Iara - A floresta se molda até certo ponto quando entramos e saímos de Pindorama. Vocês foram parar mais no meio dela do que imaginam. Mas tem razão, o rio não chega até lá, ainda mais considerando que depois vêm as montanhas. Mas tenho solução para isso também.

No teto, ao lado de Angra, Festus rosnou algo, provavelmente oferecendo seu poder de voo para nos levar. Mas éramos muitos, eu ao menos duvidava que ele conseguiria.

— Não dá Festus… - disse Leo entendendo o mesmo que eu - Somos muitos. Mas talvez depois eu possa ficar dos céus acompanhando?

— Pode ser, mas não agora… - disse Iara - A floresta ainda está se moldando e você se perderia. Quando encontrarmos Boitatá será melhor.

— Quem é Boitatá? - perguntou Magnus.

— Vocês vão ver. - disse Iara.

Continuamos por mais alguns minutos enquanto o sol dava as caras lindamente no horizonte, refletindo na água. Paramos então em um grande lago e Iara, sem mais nem menos, ficou de pé na frente do barco.

— Esperem aqui. - disse ela pulando na água.

Admirei a coragem dela por um segundo, mas quando ela submergiu, logo uma bela cauda apareceu para me lembrar que ela era uma sereia. Por alguns minutos ficamos lá, em silêncio, com apenas a floresta fazendo qualquer barulho que fosse.

Repentinamente, matando a todos do coração, da água irrompeu uma enorme cobra cuspindo fogo. Tão grande que conseguiria esmagar nosso barco com facilidade. Todo seu corpo estava repleto de chamas e vários olhos amarelo-alaranjados e ameaçadores logo olharam para nós.

Eu, Leo, Magnus e Alex ficamos prontos para atacar, mas Angra logo nos impediu simplesmente falando:

— Fiquem quietos. 

— M-Mas… - gaguejou Magnus.

— Esse é Boitatá. - explicou Angra ao mesmo tempo em que Iara surgia no novo da água, puxando seu corpo, com uma bela cauda para cima do barco e notei, surpresa, como a tinta que ela usava no rosto não tinha nem sequer começado a sair apesar dela ter entrado na água.

— Ele vai com a gente e vai ser nossa carona. - explicou Iara enquanto a cauda dela virava um par de pernas.

— COMO É QUE É? - questionou Magnus enquanto a cobra gigante ia para a margem da água, constantemente nos encarando.

— Relaxe, ele só queima quando quer. - garantiu Iara.

— Não estou tão mais relaxado assim. - disse André.

— Não sei se isso é muito tranquilizador. - admiti.

— Ainda bem que sou a prova de fogo… - disse Leo - Na verdade… agora dá para eu ir no Festus acompanhando vocês?

— Dá. - disse Iara - Só cuidado para não nos perder de vista.

— Eu vou com você. - eu disse, olhando para Leo.

— Claro. - disse Leo.

— Não cabe mais um? - perguntou André.

— Até que cabe. Mas é isso… e se segure bem. - disse Leo.

Nós três esperamos então até Magnus, Alex e Iara montarem em Boitatá. Iara ia com naturalidade, claramente já tendo feito isso antes, Alex, por outro lado, parecia que estava indo para uma excitante nova experiência. Angra não parecia precisar da ajudinha do Boitatá e o barco parecia que ia ficar ali mesmo.

Boitatá sibilou quando todos subiram e algumas chamas e fumaça saíram de sua boca. Ele ergueu um pouco a cabeça, erguendo-a, fazendo Magnus gritar um pouco desesperado enquanto se agarrava no corpo de serpente e Angra apontou para o céu.

— Melhor já irmos subindo. - disse ela.

Dos pés dela, surgiram chamas e ela logo subiu para cima da copa das árvores. Eu e os demais montados em Festus a acompanhamos. Ainda bem que havia um lago ali, se não seria muito complicado subir já que não havia muito espaço entre a copa de uma árvore e outra.

Com mais um rugido, Boitatá começou a rastejar rapidamente pelo chão e logo entendi porque Angra queria que estivéssemos no céu logo. Apesar do tamanho, o bicho era bem rápido. Desviava das árvores com zero dificuldade e era tão ágil que com certeza teríamos nos perdido do resto do grupo se não fosse Angra firmemente de olho no caminho. Mesmo do alto, eu conseguia ouvir os gritos de Magnus e Alex, que não pareciam exatamente se divertindo com o passeio.

Continuamos naquele ritmo meio frenético que me deixou com raiva dos demais por algumas horas por irem tão rápido, até pararmos numa pequena clareira já perto de um pôr do sol. Quando pousamos de novo para nos juntar aos demais, Alex e Magnus estavam vomitando num canto, atrás de uma árvore e o Boitatá, sibilando, parecia até rir deles.

— É normal… - disse Iara - Depois vocês se acostumam.

— Porque paramos? - perguntei.

— Para descansarem, comerem e vomitarem. - explicou Iara.

— Você realmente previu a parte do vômito? - perguntou Leo.

— Infelizmente… - admitiu Iara suspirando brevemente - Sei que não é muito legal mas, infelizmente Boitatá é um jeito muito rápido de chegarmos na fronteira com o Peru.

— Não podia ter avisado antes… ?  - reclamou Magnus com a voz embargada de trás da árvore antes de vomitar novamente.

— Falta muito? - perguntou André. 

— Mais um pouco e estamos no Acre. - respondeu Iara - Então recuperem suas energias pois com a fronteira tão perto, provavelmente os problemas também vão começar a surgir… e eu não estou falando só de vômito.

— Podem lavar a boca e beber a água daquele riacho ali. - disse Angra apontando com o nariz para um filete de água que corria ali perto.

— É limpa? - perguntou Magnus.

— A nascente é aqui perto. - respondeu Iara.

Tendo agora uma fonte de água e a comida das nossas sacolinhas, estava mais fácil tirar alguns minutos para se recuperar apesar de Magnus e Alex estarem em dúvida se realmente queriam comer e voltar a montar em Boitatá. Alex sugeriu que a gente trocasse de lugar, eu não queria aceitar, mas eu e André acabamos cedendo e eu tenho certeza que, secretamente, Leo estava muito feliz de Festus estar mais acostumado com ele e vice-versa.

Eu não estava tão animada para subir no Boitatá, mesmo com ele sibilando aparentemente de forma amigável quando eu me aproximei. Ele era tão grande, com o corpo tão grosso a ponto de passar da minha altura, que eu precisei de uma ajudinha de André para subir. Ele, por outro lado, desobedeceu algumas leis da física para subir, assim como Iara, que subia com a tranquilidade de estar subindo num cavalo qualquer.

Eu respirei fundo e logo o Boitatá começou a serpentear pela floresta rapidamente. Eu sentia meu corpo ameaçando escorregar e então segurava com mais forte no corpo escorregadio dele, abraçando-o com meus braços e minhas pernas apesar do fogo que queimava em todo o seu corpo e não me queimava nada. Minha cabeça chacoalhava e o verde da floresta passava rápido na minha visão. Era uma sensação horrível. A única coisa mais firme que eu conseguia ver era Iara, na minha frente, sentada tranquilamente mais perto da cabeça do Boitatá.

A viagem por si só era bem desconfortável e confusa, mas logo notei que havia algo estranho quando a direção mudou subitamente de uma vez só e o Boitatá começou a rolar, e me esmagando no processo. Eu senti dor por todo o meu corpo, principalmente a cabeça. Antes que eu percebesse, eu estava rolando sozinha pela mata, não mais com Boitatá me esmagando no processo.

Minha boca estava com gosto de sangue, eu sentia meu nariz escorrendo e dor no meu corpo inteiro. Minha visão estava embaçada, eu não conseguia mexer meu corpo, mas eu consegui identificar o verde da mata antes de desmaiar.

Não sei quanto tempo se passou quando acordei novamente, mas estava tudo escuro. Com a luz da lua mal conseguindo entrar na floresta densa, eu não conseguia ver muita coisa na minha frente. Meu corpo doía, e eu não conseguia me mexer. Minha cabeça latejava fortemente e eu sentia o gosto de sangue na minha boca e o sangue grudado no meu rosto depois de escorrer do nariz. Também tinha certeza que eu havia me cortado em alguma coisa principalmente nos braços. Consequências de ser esmagada por uma cobra gigante e continuar rolando pela floresta. 

Eu já estava sentindo que ia desmaiar de novo quando ouvi uma risada maléfica vindo de algum lugar da mata. Me forcei então para ficar acordada e procurar pela voz. Meu corpo se recusava a obedecer qualquer comando, só manter os olhos abertos e olhando ao redor já gastava uma boa parte da minha energia e força de vontade.

Meu coração deu um pulo quando, dentre as árvores, eu vi uma estranha figura me encarando. Eu só via sua silhueta e olhos bem redondos e amarelos me encarando, mas via que era pequeno. Tinha um corpo redondo e roliço, mas braços e pernas muito longos e nada naturais que se agarravam em uma árvore alta e um longo cabelo desgrenhado. Quando uma outra risada maléfica ecoou pela floresta, tive a certeza que ele era a fonte dela.

Tentei gritar e chamar por Leo, mas o máximo que saiu da minha voz não passava de um pequeno ruído fraco e sem energia. Talvez nem o bicho ali ao lado tinha conseguido me ouvir.

Meu coração deu um pulo quando o bicho pulou da árvore. Meu cérebro gritava para eu correr, mas meu corpo não me obedecia. Pra piorar, sentia minha cabeça querendo desmaiar novamente mesmo quando o bicho correu na minha direção até ficar tão perto que seu nariz esquelético tocou no meu e eu pude ver seus longos e afiados dentes, como os de uma piranha. 

O bicho riu novamente, eu novamente falhei em tentar gritar e minha visão escureceu mais uma vez. A risada do bicho foi a última coisa que eu me lembrei antes de desmaiar mais uma vez.

 


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Notas finais do capítulo

por hj é só! até o prox cap!



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