Os Deuses da Mitologia escrita por kagomechan


Capítulo 139
APOLO - Cuidado Com o Que Pede


Notas iniciais do capítulo

no momento, estão nas Américas os grupinhos:
— Nova Roma: Frank, Lavínia, Hazel, Annabeth, Kayla, Grover, Percy, Piper,
— NY: Cléo, Paulo, Austin, Drew, Carter, Meg, Apolo e Zia
— Amazônia : Leo, Calipso,Magnus, Jacques, Alex, Festus, André (Brasileiro que tava na Nigéria e não sabe jogar futebol)

no momento, estão na África, os grupinhos:
— Nigéria : Olujime

no momento, os grupos que estão na EUROPA são:
— Indo para a Irlanda: Caçadoras de Ártemis (Thalia, Ártemis, etc), Clarisse, Reyna
— Inglaterra: Sam, Blitzen, Hearthstone, Anúbis, Sadie, Will, Nico.
— Indo para a Alemanha: Mestiço, Mallory // Maias-Astecas: Victoria, Micaela (a menina q parece Annabeth) e Eduardo (guri chato que o Mestiço deve estar querendo esganar), Ciara



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APOLO

Eu estava lá no teto da Casa do Brooklyn, onde o grifo deles tirava uma soneca e meu carro, minha carruagem do sol, estava estacionada. Não era todo mundo que tinha um grifo. Eu olhava para os prédios ao redor, passava direto pelo prédio, não muito longe dali, que lembrei ser onde Rachel coincidentemente morava enquanto me perguntava se ela estava lá. Tirei Rachel da mente e foquei nos prédios onde pares de olhos ficavam fitando a casa do Brooklyn e especialmente eu, ali no topo.

A casa do Brooklyn era vigiada todo dia por algum monstro e olha, não que eu tenha a lista completa de todos os monstros de todas as mitologias, até porque acho que não existia uma, mas a variedade dos poucos que eu já vi era bem grande. Ao menos posso dizer que tinha vários que eu nunca tinha visto na vida, e acho que posso dizer que colecionei uma quantidade de anos boa para essa fala ter algum peso.

Eu peguei o meu arco e preparei a flecha, ameaçando atirar em um que eu encarava de uma das janelas mas que eu só conseguia ver a silhueta. Quando comecei a mirar, ele se escondeu, mas eu não sou burro, sabia que isso ia acontecer e então acertei no que, três janelas pro lado, também me encarava. 

Ah como era bom ter todas as minhas habilidades de Apolo e não de Lester.

— Hey. - disse um dos magos surgindo atrás de mim, um que acho que tinha se apresentado como Sean - Minha vez de ficar de olho nos monstros.

— Boa sorte. - respondi, dando uma última encarada nos monstros - O pessoal já terminou de treinar?

— Estão de novo andando pra cima e pra baixo atrás de alguma coisa pra fazer. - disse Sean com um pequeno sorriso sem graça.

— Grande novidade… - resmunguei deixando a vigilância dos nossos vigilantes para ele e voltando para dentro da Casa do Brooklyn.

Cara, a lista de coisas pra fazer na Casa do Brooklyn não era muito grande. Claro, você podia brincar com o crocodilo albino deles (se você for acreditar no que dizem dele ser simpático) e a televisão realmente é bem vinda. Mas era difícil fazer qualquer coisa minimamente relaxante com todos, e principalmente Carter, andando de um lado para o outro preocupados com os demais espalhados por aí tentando salvar o mundo. 

—Temos que aproveitar que estamos livres para irmos para algum lugar ajudar! - insistia Meg, entrando na onda de preocupação.

— Sabemos disso. - lembrava Zia - Mas por enquanto não tem nenhum lugar que esteja precisando de nós e então estamos aqui, não estamos ficando sem fazer nada, mas sim nos preparando para o que vier. 

— Alguns pelo menos estão… - resmungou Carter e eu senti o olhar de todos sobre mim quando cheguei. 

— Quê? - questionei.

— Você fica aí sem fazer nada o dia todo! - reclamou Meg.

— Olha aqui, Megzinha… - resmunguei - Eu agora sou todo e plenamente Apolo. Treinar não vai fazer tanta diferença assim. 

— Não faz? - perguntou Carter. 

— Talvez quando era pequeno ou no auge. Agora não tanto. - respondi - Pode perguntar pro seu cunhado. 

— Ele não é meu cunhado. - resmungou Carter. 

— Negação é a primeira etapa. - brinquei. 

— Egocêntrico como sempre. - reclamou Meg. 

— Hey! Não vem! Eu melhorei! - reclamei - Mas estou falando sério. E não estou completamente parado. Quem ficou de olho para que a casa de vocês não seja atacada enquanto vocês dormiram? E até mesmo agora? Ah é! Eu! Deviam aproveitar o momento de descanso porque logo ele deve acabar!

Peguei meu ukulele e, colocando a mim mesmo em meu momento de descanso, passei a realmente toca-lo na intenção de tocar algo relaxante para não só eu relaxar, como os outros também. Os ânimos pareciam muito exaltados. O problema foi que todos decidiram que queriam mais era se afastar de mim. Bem, azar deles.

—Vou mandar uma mensagem de Íris para Sadie. - declarou Carter, claramente cansado de esperar a irmã, que não respondia o telefone, responder. 

Eu queria ver o que essa mensagem de Íris iria nos trazer, então parei de tocar e me levantei para acompanhar. Todos se reuniram ao redor da pia da cozinha quando Carter, o egípcio já profissional em usar mensagens mágicas da deusa grega Íris, chamou por sua irmã criando um arco-íris simples com a água da torneira. 

Quando Sadie apareceu na mensagem, ela tinha claramente sido pega de surpresa, pois estava aparentemente andando. Vi Anúbis logo atrás dela e, logo atrás dele, o que pareciam ser estantes de biblioteca.

— Hey. - disse ela segurando o que parecia ser... não sei… uma bola? - Tudo bem aí?

— Porquê não me atendeu? Liguei umas 30 vezes.. - reclamou Carter.

— Eu estou sem sinal, pai. - resmungou Sadie revirando os olhos - Ainda estou. Estamos na biblioteca de Alexandria. Não tem sinal aqui.

— Legal! Ai queria estar aí… - admitiu Carter.

— Cadê o resto do pessoal? - perguntou Zia.

— Estavam lanchando. Tínhamos saído para recuperar o Sharur.  - disse Sadie exibindo a bola em suas mãos - Isso é o que sobrou dele. Vamos ter que dar um jeito de criar a haste para segurar. Vou falar com o pessoal… Será que esse treco de Íris anda comigo que nem celular, ou é que nem telefone com fio?

Sadie começou a andar de um lado para o outro, testando se a mensagem de Íris seguia ela. Achei meio engraçado Anúbis só fitando ela testando as capacidades da magia sem nada dizer ao invés de responder e poupar ela dos testes. Imagino que ele devia saber como funcionava as mensagens de Íris… ou não? Pegando a média de Hades de sociabilizar, imagino que a dele não seja tão alta assim também.

Bem, a gente estava ligado ao pequeno arco-íris da pia da cozinha, mas ela conseguiu fazer a mensagem de Íris acompanhar ela pela biblioteca. Carter por um segundo esqueceu da sua preocupação com a irmã e ficou só tentando ver o pouco da biblioteca que dava para ver pela mensagem. Tenho certeza que era isso porque ele até murchou quando Sadie passou por uma porta, saindo da área cheia de estantes e afins, e foi para uma área onde o pessoal sentava, relaxava e comia. Só que eu senti falta de duas pessoas ali… além de ter uma pessoa que eu tinha certeza que já tinha morrido uns séculos atrás, mas né… fazer o quê?

— Cadê Will? E Nico…? - disse parando para completar depois de uns segundos para fingir que não estava preocupado unicamente com meu filho… fingir não, também estava preocupado com Nico.

— Acho que estão lá dentro ainda… - respondeu Anúbis meio vagamente.

— Gente, achamos o Sharur! - declarou Sadie para o resto do pessoal ali, erguendo o que restava do Sharur nas mãos e notei como Sam pareceu aliviada - Só que falta metade dele… A haste… A não ser que queriam derrotar o Asag como se fosse um jogo de queimada.

— Ok… como resolvemos isso…? - perguntou Sam.

— Teria como fazer a haste que falta se tivermos o que precisamos para isso. - disse Blitzen.

— Aqui só tem livros. - disse a pessoa extra, Hipátia.

— Hipátia… né? - perguntei - Você não tinha morrido?

— Longa história… - disse Hipátia suspirando lentamente - E… você é?

— Apolo! - declarei, esquecendo-me por um momento que estava mais Lester que Apolo, então troquei para Apolo, Apolo mesmo, na frente dela.

— Ah… - disse ela não tão impressionada assim, para minha total surpresa, e logo voltando para o assunto original - Mas talvez o Nomo tenha… sabem onde fica? Eu nunca fui lá mas… talvez… 

— Dormimos lá. - respondeu Sadie enquanto eu ainda lidava com a falta de surpresa de Hipátia, Meg notou, e ficou silenciosamente rindo da minha cara enquanto eu voltava a Lester disfarçadamente - Não lembro de ter visto nada do tipo. Se bem que tinha muito cômodo lá cheio de entulho e poeira. 

— Eu não vi todos. Os cômodos. - admitiu Blitzen - Pode muito bem algum lugar ter ao menos os restos de uma forja?

— Tinha uma área aberta lá no último andar também. - disse Anúbis - Tinha uns entulhos lá também.

— E talvez um forno? - perguntou Blitzen na expectativa.

— Podemos ir lá checar. - se ofereceu Sam - O resto de nós pode ficar aqui, terminando de conseguir achar o feitiço que precisamos.

Hearthstone então sinalizou algo, o qual Blitzen traduziu para:

— Hearth disse que acha que viu coisas largadas com cara de ferramentas de forja.

— Não tiveram ainda nenhuma novidade quanto ao feitiço? - perguntou Zia.

— Nada. - respondeu Sadie - Ao menos não quanto ao feitiço. Mas descobrimos que tem um gênio em Istambul que pode ser a nossa solução para ver aqueles três pedidos lá. Faz sentido né? Quando estiver ok para sairmos daqui, iremos lá procurar.

Foi nesse momento que Will e Nico surgiram e eu, e acho que os demais também, não deixamos de notar que Nico estava com olhos um pouco vermelhos.

— O quê… - comecei a perguntar para entender o que tinha acontecido, mas fui rudemente interrompido por Will.

— Alguma novidade? Do que estão falando? - perguntou ele, claramente mudando de assunto.

— Como completar o Sharur… - disse Sadie, ajudando Will na troca de assunto.

Eu deixei o assunto ficar no Sharur e em coisas importantes já que Will tinha se esforçado em claramente não deixar ninguém perguntar porquê Nico estava com aquela cara. Mas só porque deixei o assunto continuar, não queria dizer que eu não ia tentar descobrir o que tinha acontecido com Nico. Então fiquei lá, analisando a situação.

Então notei como Nico, quietinho lá no fundo tentando se misturar com a parede, notou com o canto do olho que Anúbis também estava encarando ele com o mesmo olhar de preocupação que eu também estava. Mas parecia que rolou alguma pergunta silenciosa que provavelmente era na linha de  “está tudo bem?”, porque Nico afirmou disfarçadamente com a cabeça e Anúbis parou de encarar ele.

Mas eu continuei sendo curioso, continuei encarando Nico, isso é… até eu notar que Anúbis estava me encarando com uma cara que me fez desistir e olhar pra qualquer outra coisa. Repentinamente o armário da cozinha parecia muito interessante. Que dinâmica de irmão mais velho e irmão mais novo era essa que estava nascendo?

— Mas mais importante que isso… - disse Meg repentinamente, me atraindo de volta para a conversa que eu nem sabia mais em que ponto estava - O Apolo que está sendo preguiçoso ou é verdade que deuses não precisam treinar?

— Como assim? - perguntou Sam.

— É isso aí que ouviu… - explicou Meg explicando absolutamente nada extra.

— Ai explica direito também! - reclamei - Eles ficam brigando comigo porque eu não fico treinando com eles para quando a gente tiver que ir pra guerra! E eu falei que não vai fazer tanta diferença! Eu não vou ficar melhor no arco-e-flecha ou algo assim!

— Pode ser que não, mas… é útil lutar em equipe, não? - perguntou Carter.

— É um bom ponto. - concordou Anúbis e eu fiquei quieto, era um bom ponto mesmo.

— Bem, vão descansar por hoje e resolver suas coisas… - disse Zia - Se não tem nenhuma novidade, nós também não temos muita coisa.

— Qualquer coisa avisa, tá? - disse Sadie.

— Óbvio. - respondeu Carter.

A mensagem de Íris terminou e quando fui perceber, Meg já estava olhando irritada para mim com os braços na cintura.

— Amanhã você vai treinar também! - insistiu ela.

— Por que não hoje? - perguntou Zia.

— Ô! Não piora minha situação! - implorei para Zia.

— Porque hoje eu já estou cansada. - explicou Meg.

— É um argumento válido. - disse Carter suspirando lentamente - Queria que tivessem dado alguma coisa pra gente fazer.

— Cuidado com o que deseja porque coisa pra fazer significa problema para resolver. - lembrei.

Peguei meu ukulele de novo e sai tocando indo para um canto no sofá que já estava chamando de meu. Carter, mesmo ansioso, também se largou no sofá e, pelo o que eu pude notar, ficou conversando no celular (ou tentando) com o resto do pessoal espalhado por aí. Mas como os semideuses não são tão ligados assim em celulares, imagino que não era tão fácil.

Mas claro que o universo sentiu o desespero de Carter e Meg por alguma coisa pra fazer, pois repentinamente a campainha tocou freneticamente. Não só a campainha, a pessoa que estava na porta também batia nela desesperada. Eu e Carter estávamos mais perto, e fomos até a porta seguidos por Zia e Meg. Notei com o canto do olho alguns dos magos aparecendo na escada também. 

Todo mundo estava muito pronto para a luta, mas ninguém tinha muita certeza se queria abrir a porta. Nos aproximamos de vagar de porta, prontos para lutar.

— ABRE A PORCARIA DA PORTA! - gritou a voz que eu reconheci imediatamente como sendo de Rachel.

Meg foi mais rápida, logo estava abrindo a porta aos gritos de Zia.

— Não abra assim! - gritou Zia.

— É A RACHEL! - gritamos eu e Meg ao mesmo tempo.

Quando a Meg abriu a porta, Rachel entrou apressadamente na casa com o capuz do moletom que vestia escondendo seu rosto muito bem mas fazendo um trabalho bem mais ou menos em esconder a cabeleira vermelha dela. Atrás dela, tentando entrar na casa também, estava um monstro feio monstro meio homem meio caribu, com olhos vermelhos intensos. No breve segundo entre Rachel entrar e Meg fechar a porta novamente eu atirei com minha flecha, acertando o monstro na testa. 

Sentia que aquilo não seria o suficiente para aquele monstro em particular, mesmo sem saber de onde ele era e que mostro era esse, mas pelo menos estávamos seguros novamente e eu mostrei pro monstro quem é quem manda.

Com a porta segura, assim como os demais, eu me virei para Rachel, que estava claramente aliviada, puxando o capuz do moletom da sua cabeça. Sua cabeleira ruiva pareceu explodir para todos os lados quando ela fez isso.

— Está tudo bem? - perguntou Meg, mas Rachel ignorou ela completamente e foi andando a passos rápidos na minha direção ainda com o olhar meio preocupado.

— Eu não fiz nada! - falei, erguendo as mãos em rendição.

— Você tem que ir pro Peru, agora! - exclamou ela.

— Como assim eu tenho que ir pro Peru agora? - perguntei, perdido.

— Não tenho tempo para explicar, você tem que ir pro Peru e saia ainda hoje! Vá o mais rápido possível! - alertou Rachel.

— O que está acontecendo no Peru? - perguntou Carter.

— Não sei. - respondeu Rachel bem ansiosa - Mas sei o que vai acontecer se não chegarem a tempo. Muita gente vai morrer. Então faça favor de sair daqui agora mesmo!

— Tá mas… pra onde no Peru? - perguntei.

— Eu não sei também… - admitiu Rachel.

— Você não tá ajudando muito Rachel… - resmunguei.

— Eu também vou. - disse Carter.

— Não. Você fica aqui. - disse Rachel e Carter olhou para ela sem entender.

— Por quê? - perguntou ele lentamente.

— É melhor você continuar aqui. Vai ser útil aqui. Mas alguém tem que ir pro Peru e o Apolo chega mais rápido. - explicou Rachel - Vocês devem saber pra onde ir quando chegarem lá.

— Isso tudo veio de uma profecia que teve? - perguntou Meg.

— Infelizmente. - admitiu Rachel - Então por favor, vá pro Peru, se encontre com Leo, Calipso e mais umas pessoas por lá. Meg, você também.

— Leo e Calipso estão na Nigéria… - disse Zia.

— Só sei que eles vão estar no Peru então… POR FAVOR… é muito importante… - implorou Rachel.

— Se eu começar a ir pra lá, você explica direito no caminho? - perguntei pra Rachel.

— Quer que eu vá também? - perguntou ela confusa.

— Eu estava pensando em só você contar pra gente por mensagem de Íris ou ligação enquanto a gente vai já que está com tanta pressa… - expliquei - mas se quiser ir.

— Não vou. Mas você tem que ir. Vai vai vai! Pega suas coisas cadê seu carro? - falava pressa apressadamente - Meg, prepare suas coisas!

— Tá… Tô indo… - respondi meio perdido olhando para Zia e Carter sem sentir ter alguma escolha. 

Num piscar de olhos tudo virou uma correria enquanto preparava tudo para ir e Meg pulava no banco de trás com Pêssego nos braços.

— Que desespero. - resmungou ela - Mal deixaram eu trazer uns achocolatados comigo… 

— Pêssego. - disse Pêssego.

— Você supera. - respondi.

Vendo a gente se preparar pra sair, estavam Rachel, Carter, Zia e Sean, que certamente não estava entendendo nada por tanta gente surgir assim na sua vez de ficar de olho nas coisas.

— Não sabe mesmo onde no Peru? - perguntei uma última vez, esperança é a última que morre.

— Não… - admitiu Rachel, chateada.

— Ok. - respondi. - Segura aí atrás, Meg.

Eu liguei o carro e acelerei em direção ao nada, para a beirada do telhado. Admito que fiz isso com o coração apertado, já que a magia não estava tão confiável assim. Por meio segundo, o carro obedeceu a gravidade fielmente e começou a cair, e esse meio segundo foi o suficiente para meu coração fazer uma cambalhota e eu ter que respirar fundo, ele caiu, e vi o monstro que dei uma flechada na testa ainda vivo, olhando para nós. 

Mas então o carro logo se arrumou, como se o seu fosse uma pista recém-asfaltada. Eu respirei aliviado, e ouvi Meg e Pêssego fazendo o mesmo no banco de trás. Fiquei então torcendo para que o carro aguentasse pelo menos até conseguirmos deixar Nova Iorque para trás. Tentar lidar com o trânsito de Nova Iorque com certeza não combinaria com a pressa de Rachel.

— Erm… Apolo… - disse Meg. 

— Quê? Não esqueceu nada né? - perguntei.

— Não. - disse ela - Olha pra trás….

Eu olhei e vi que um pássaro muito esquisito estava nos seguido. Na verdade era o mesmo monstro de antes, a minha flecha no meio da testa dele estava de prova. Mas agora ele tinha um par de asas vermelhas que eu tinha certeza que não estavam ali antes.

Ele tremia de um jeito esquisito, como se estivesse tendo um ataque epilético no ar, então eu percebi que ele estava se transformando, deixando de ser metade homem, metade caribou, e agora ficando metade homem, metade… sei lá… a sensação era de demônio mesmo. 

O bicho que eu não fazia o que raios era mudou de forma ficando com grandes asas vermelhas e um rosto branco esquelético salpicado de vermelho com um símbolo no meio da testa que eu não reconheceria mesmo se a minha flecha não estivesse atrapalhando minha visão nesse ponto.

— Meg, pega o volante… - eu pedi tenso no mesmo momento que o monstro gritou num idioma que eu não reconhecia mas soava meio indígenas.

— Quê? Eu!? - exclamou ela quando o monstro avançou velozmente em nossa direção.

— PEGA A DROGA DO VOLANTE! - gritei deixando o banco vazio para ela e pegando meu arco e flecha.

Foi um caos, o carro começou a perder altitude, eu atirei de qualquer jeito no monstro, bem na asa dele, Meg gritava me xingando de nomes muito feios que me fizeram perguntar onde ela tinha aprendido enquanto tentava pegar o volante para si. O monstro ficou com raiva e mesmo com a asa ferida, continuou nos perseguindo, diminuindo a distância cada vez mais.

— NIVELA A DROGA DO CARRO! - gritei preparando a segunda flecha, que atirei e atingiu a testa dele novamente, mas sem muito efeito.

— EU NÃO SEI DIRIGIR CARRO QUE VOA, SEU IDIOTA! - gritou Meg de volta.

O carro sacudia de um lado para o outro perdendo gradualmente a altura. Eu sentia meu cérebro chacoalhando com as tentativas de Meg de desviar dos prédios de Nova Iorque, que já estavam passando em alta velocidade ao nosso lado e até arrancaram um retrovisor.

— VOCÊ ME DEVE UM RETROVISOR! - gritei enquanto preparava minha terceira flecha.

— DÁ PRA MATAR O MONSTRO OU TÁ DIFÍCIL?! - gritou Meg.

— PÊEEEEEEEEEEEEEEEESSEGO! - gritou Pêssego.

— VEM FAZER MELHOR! - gritei de volta.

— NÃO! TODO SEU! - gritou Meg.

A terceira flecha era minha escolhida, concentrei força nela, ignorei Meg gritando e me xingando e o monstro chegando cada vez mais perto. A flecha começava a brilhar em dourado no arco, o monstro estava cada vez mais perto, gritando e com certeza xingando em algum idioma. Suas garras arranharam a lataria traseira por um segundo quando eu atirei minha querida flecha no meio de sua testa.

A luz da flecha explodiu tanto no arco, como na testa dele. O monstro gritou. Forcei meus olhos a ficarem abertos e vi a testa dele queimando com a flecha que, finalmente, conseguiu atravessar até o outro lado da cabeça dele. Então, obviamente, o monstro começou a cair, finalmente, morto. Para minha alegria. 

Fiquei fitando ele caindo lentamente até se espatifar na calçada, causando vários gritos. Queria ver como os mortais e a névoa iam explicar essa.

— SE JÁ TERMINOU AÍ, SERÁ QUE TEM COMO VOLTAR ANTES QUE EU MATE A GENTE? - gritou Meg desesperadamente.

— Ah tá… desculpa… - eu disse e rapidamente tomei o volante pra mim, a tempo de desviar de um prédio e nivelar a altura do carro novamente.

Eu respirei aliviado, e olhei rapidamente para Meg, que estava descabelada e com os óculos tortos. Ela se arrumou, me olhou irritada como se eu que tivesse mandado o monstro nos seguir, e ficou uns segundos tentando se recuperar.

— Aquele bicho foi o que tava seguindo a Rachel né? - perguntou ela.

— Era. - falei.

— Estão mesmo de olho na gente… ainda bem que a gente conseguiu sair. Rachel estava com tanta pressa… - disse Meg.

— Você não esqueceu nada mesmo né? - perguntei - Não tô afim de voltar.

— Não. - disse ela - Eu chequei tudo. O que foi toda aquela pressa? Não deu nem pra entender direito.

— Eu não sei também. - admiti - Isso aí foi porque Carter e você ficaram de um lado para o outro agoniado por algo pra fazer.

— Aí quem ganha coisa pra fazer é a gente? - perguntou Meg.

— Injusto né? - perguntei - Aqui estou eu, de babá…

— Eu não preciso de babá… - resmungou Meg.

— Quando tiver idade pra dirigir a gente conversa. - respondi.

— Eu dirigi não tem 10 minutos. - disse ela.

— E foi horrível nisso! - respondi.

— Se a gente tá vivo ainda, então eu fui bem. - disse Meg, dando de ombros.

Olhei com o canto do olho a cidade de Nova Iorque lentamente se afastando no horizonte, isso é, até que vi Meg colocando o pé no banco.

— Dá pra parar de colocar o pé no banco!? - reclamei.

— Chato. - resmungou Meg e logo uma mensagem de Íris chegou até nós e eu já sabia que era de Rachel antes mesmo de ela aparecer com Zia e Carter aos fundos.

— Muito bem, agora é a hora de explicar direito o motivo desse desespero. - pedi.

— Tem uns dias já que estou tentando pequenos fragmentos de visão. - explicou Rachel mexendo no bolso do moletom - Sempre desenhava eles para lembrar e tudo mais. Até hoje a pouco não fazia tanto sentido. Mas hoje vocês apareceram…. 

Do bolso do moletom ela tirou um bolo de papéis. Desses, ela pegou o primeiro, um desenho apressadamente feito com lápis de cor. Reconheci eu no desenho com meus lindos cabelos loiros. Ah, Meg, Leo e Calipso pareciam estar lá também, e outras pessoas, mas essas foram as que reconhecer. 

O desenho tinha sido claramente feito com pressa então eu tinha que deduzir que éramos nós. Mas quantas pessoas com aquele cabelo loiro lindo existiam por aí? E que andam com uma pirralha de roupas chamativas como um semáforo, um cara com fogo na mão, uma moça com trança? Tinha outras pessoas ali, mas essas foram as que eu reconheci. 

Estávamos no que parecia um deserto cercado por montanhas. Estávamos de joelhos e aparentemente machucados, mas estávamos muito melhor do que as várias pessoas não identificadas ao nosso redor. Eu engoli em seco com o quão brusco e tenebroso era o traço dessas pessoas no desenho.

Mas, o único traço de Peru que eu vi ali, foi que e Meg estávamos vestindo um xale bem tradicional peruano só que com uma lhama tricotada na frente de cada um, uma das poucas coisas detalhadamente desenhada ali, então dava uma sensação de estar atraindo nosso olhar para o xale, como se ele fosse importante.

— Você deduziu que o problema era no Peru porque eu tô com um xale de lhama? - perguntei.

— Onde mais você vai arrumar um xale de lhama? - perguntou Rachel.

— Dá pra pedir pra qualquer vovó fazer eu acho… - disse sem muita convicção.

— Nem parece que é o deus da profecia! - reclamou Rachel.

— Só estou te testando pra ver se sua lógica está certa! - reclamei - Tipo um professor!

— E outra, Peru é um dos lugares que falaram que tem pirâmide né? - perguntou Rachel - Na pior das hipóteses vocês vão lá só chegar que tá tudo bem. Mas tem outro desenho…

Ela pegou outro desenho e esse tinha menos significado que o primeiro, era basicamente um rolo de papiro, com alguém segurando e a mesma paisagem de deserto ao fundo. Eu não reconheci o papiro, mas Carter, sei lá como, reconheceu.

— Esse é o livro de Thoth? - perguntou ele.

— Ao menos as inscrições na borda parecem… - disse Zia.

— Então o livro de Thoth está provavelmente no Peru… - concluiu Carter - É.. outro motivo pra alguém ir chegar.

— E como você quer que eu encontre? - perguntei e Rachel deu de ombros.

— Se eu descobrir algo mais, eu aviso. - disse ela pegando o terceiro e último desenho.

Nele, estava claramente Carter, mas o desenho ainda estava incompleto. Não dava para ter a menor ideia de onde ele estava, a única coisa que dava para perceber era que ele estava parcialmente rodeado de uma mata verde, o que certamente não combinava muito com as montanhas arenosas que eu e Meg estávamos.

— Parte do Peru é a Amazônia, isso ainda pode ser por lá… - avisou Carter.

— Eu sei… mas não sei… - disse Rachel toda sem coerência - Não acho que seja lá. Parece errado. Quando terminar eu aviso onde pode ser.

— Você sabe quem são as pessoas que estavam… mortas… perto de nós? - perguntou Meg cuidadosamente.

— Não… - admitiu Rachel, cabisbaixa.

— Olha, eu sei que seu dom de profecia está em dia… mas eu espero muito muito muito que você esteja errada. - falei - Até porque, mais parece que você está tentando impedir algo de acontecer.

— Eu sei disso… - admitiu ela.

— Como você sabe se o fato de a gente estar indo para o Peru não é o que faz a profecia acontecer? - perguntou Meg.

— Não sei. - admitiu Rachel - Então, por favor, tomem cuidado pra não deixar nada acontecer, tá?

— Ah, claro, fácil falar! - reclamei.


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Notas finais do capítulo

desculpa a demora! por hj é só! até o prox cap!



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