Os Deuses da Mitologia escrita por kagomechan


Capítulo 138
ALEX - Minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá


Notas iniciais do capítulo

Minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá, seno A cosseno B, seno B cosseno A.
bem vindos de volta ao Brasil com esse cap novo narrado por nossa Alex.
divirtam-se :3


no momento, estão nas Américas os grupinhos:
— Nova Roma: Frank, Lavínia, Hazel, Annabeth, Kayla, Grover, Percy, Piper,
— NY: Cléo, Paulo, Austin, Drew, Carter, Meg, Apolo e Zia
— Brasil : Leo, Calipso,Magnus, Jacques, Alex, Festus, André (Brasileiro que tava na Nigéria e não sabe jogar futebol)

no momento, estão na África, os grupinhos:
— Nigéria : Olujime

no momento, os grupos que estão na EUROPA são:
— Indo para a Irlanda: Caçadoras de Ártemis (Thalia, Ártemis, etc), Clarisse, Reyna
— Inglaterra: Sam, Blitzen, Hearthstone, Anúbis, Sadie, Will, Nico.
— Indo para a Alemanha: Mestiço, Mallory // Maias-Astecas: Victoria, Micaela (a menina q parece Annabeth) e Eduardo (guri chato que o Mestiço deve estar querendo esganar), Ciara



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ALEX

Eu adorei o método de viagem de Iemanjá. Num minuto estávamos na Nigéria, e no outro estávamos no Brasil. Mas ao mesmo tempo, fez nossa viagem até a Nigéria parecer meio inútil. Poxa, a gente passou do lado do Brasil uns dias atrás!

— Bem que estava achando estranhamente familiar…. - disse André, olhando para o porto mais além. 

— Ah sim… - disse Iara - Iemanjá disse que teria um brasileiro no grupo. De onde você é?

— Salvador. - respondeu André. 

— Adoro Salvador! - disse Iara. 

— Onde no Brasil estamos exatamente? - perguntei. 

— Manaus! - explicou Iemanjá, olhando então para o resto do grupo - Vocês sabem onde fica?

— Ermmm…. Não. - admitiu Magnus - Nunca ouviu falar. 

— Só sabem ouvir falar de Rio de Janeiro também… - resmungou Iara - Manaus fica bem ao norte. No meio da floresta amazônica. 

— Oh! A floresta amazônica?! - perguntou Leo, olhando ao redor. 

— Isso mesmo. - disse Iara - Agora, prefiro não perder mais muito tempo aqui. Vamos para o meu barco que ele é melhor. Mais prático pra entrar na floresta do que esse. Podem deixar ele aí. 

— Nós conseguimos guardar ele no meu bolso. - disse Magnus, como se a afirmação fizesse total sentido para qualquer um que escutasse. 

— Calma. - disse Calipso repentinamente - Pra onde no meio da floresta vai levar a gente? 

— Para Pindorama. - explicou Iara - Bem, tem gente que chama o Brasil todo de Pindorama. Mas é outro Pindorama. Lá tem outros como você e vão poder ficar mais perto das confusões que estão usando a floresta e a complicação para se monitorar algo nela para a possibilidade dela chegar na pirâmide de Caral, no Peru. 

— Outros como nós? - perguntou Magnus. 

— Semideuses. - explicou Iara - Então, é o suficiente para confiarem em mim? Iemanjá já lhes deixou bem na minha frente. 

— Me parece suficiente. - disse Leo. 

— E você, ó dragão… - disse Iara olhando para Festus - Você pode chamar atenção então voe ali para o teto do porto. Nosso barco está do outro lado. Acenarei para você quando for para ir para o teto do novo barco.

Festus rugiu, confirmando que entendeu e então, um a um, saímos do barco, e não deixei de notar o olhar de canto de olho que alguns me lançaram. Minha pressa repentina sem explicações de sair da Nigéria claramente tinha sido notada. Magnus guardou o Bananão no bolso e seguimos pelo porto. Iara ia liderando nosso grupo e eu fui no final com Magnus.

— Você vai explicar pra gente o motivo daquela pressa toda pra sair da Nigéria né? - sussurrou ele.

— Eu vou… Mas lá não tinha como. - avisei enquanto olhava para nosso grupo - Espera estarmos sozinhos.

— Mais sozinhos ainda? - perguntou Magnus.

— É. Mais ainda. - insisti.

Eu notei um pouco o porto. O canto que estávamos era mais escondido, por isso provavelmente ninguém notou nossa estranha chegada com um barco extremamente chamativo, mas, andando, começamos a nos juntar lentamente à muvuca que era aquele porto. 

Os vários barcos que chegavam e saíam de lá pareciam de pessoas que moravam ali mesmo e de turistas empolgados com mochilas nas costas e celulares na mão. Era melódico ouvir o português, e não deixei de notar a semelhança com espanhol. Via também guias organizando seus turistas e gritando alguma coisa, seja o nome de algum turista perdido ou chamando uma pessoa que vendia um saquinho retangular transparente cheio de algo congelado dentro ou outras comidas que eu não conseguia identificar.

Inclusive, André ficou um pouco para trás, comprando uma das comidas.

Iara nos levou para um barco, ou lancha talvez, que parecia muito com o que saía com turistas. Era bem longo, mas baixo. Era fechado, com um teto e janelas nas laterais e tinha vários assentos um do lado do outro, como um ônibus. Cada fileira de cadeiras cabia quatro com um corredor vazio no meio. Pensando bem, acho que vou ficar com lancha mesmo, fazia mais sentido. 

Dentro do barco, havia alguém no lugar que era destinado claramente a quem iria o dirigir, pois havia um volante na frente do lugar dele. O lugar dele era logo na frente do barco, separado dos demais assentos. Era um rapaz, que tinha provavelmente a mesma idade de Iara e era também claramente indígena, pois também tinha o rosto pintado e um colar simples feito com pequenas continhas brancas, amarelas e pretas. Ele também estava sem camisa, só usava uma bermuda azul escura e chinelo.

— Podem entrar, fiquem à vontade. Só dividam cada um numa parte do barco para um lado não ficar mais pesado que o outro. - explicou ela.

Fomos entrando, com o rapaz ao volante nos encarando de leve com o canto do olho. Quando sentamos, notei que André tinha entrado e sentado do lado oposto que eu e Magnus sentamos e já estava chupando um dos saquinhos congelados que estavam sendo vendidos do porto.

— Claramente você já está se sentindo em casa. - comentei.

— Demais… apesar de que eu não esperava voltar tão cedo assim pro Brasil. - respondeu ele.

— O que é isso? - perguntou Magnus apontando pro saquinho congelado.

— Depende… - respondeu André - Cada parte do Brasil chama de um jeito. Geladinho, dindin, chupe-chupe… depende de pra quem você pergunta.

— Parece gostoso… - admiti.

Com todos já no barco, Iara ficou na frente do barco, fez um “joinha” com a mão. Provavelmente Festus já estava ansioso e de olho na gente, pois o mero movimento foi o suficiente para ele vir até nós e pousar no teto do nosso barco, balançando ele fortemente. Iara então jogou algumas bóias salva-vidas sobre ele e imagino que o resto havia apenas contato com a falta de visão dos mortais.

— Em Pindorama tem mais. - disse Iara, olhando para o geladinho-dindin-chupe-chupe de André, enquanto no barco e logo o rapaz ligava o motor da lancha.

— Não precisava ter gastado dinheiro então? - perguntou André, meio chocado.

— Precisava pois aposto que vai ficar com calor no caminho. - respondeu Iara - Aqui só tem água. Está ali no isopor no fundo do barco. Podem pegar a vontade.

No caminho, eu já estava com calor agora! Ainda assim, nós todos ficamos sentados, mas Iara ficou de pé na frente do barco, e lá continuou mesmo quando ele começou a pular com o rápido movimento quando cruzava o rio.

— Estou me sentindo um guia de turismo, mas… vamos lá… - disse Iara - Esse é Jaraguari, é meu esposo. O inglês dele é meio ruim, então ele está com vergonha de falar com vocês. Estamos cruzando o Rio Negro e vamos entrar na Amazônia, para entrar em Pindorama. Vocês não podem contar o caminho para ninguém, não que vão conseguir lembrar. Se localizar profundamente dentro da floresta e sem trilhas não é pra qualquer um. Vai demorar um pouco, então fiquem à vontade.

— Pode deixar. - disse Calipso - Fomos arrancados do nada da Nigéria. Um tempo sem fazer nada é bem vindo.

— Bem, aproveite pois não garanto que vai ter tempo de ficar sem fazer nada quando chegarmos em Pindorama. - disse Iara.

— Irei então. Obrigada por avisar. - agradeceu Calipso.

— Bem, continuando meu momento de guia de turismo temporária… - disse Iara - Ali, do lado onde o barco saiu, é a cidade de Manaus. Como notaram, tem muito turista estrangeiro que lembra que o Brasil não é só Rio de Janeiro e São Paulo e vem para Manaus, geralmente para conhecer a Amazônia…

— É porque a Amazônia eles lembram que existe. - comentou André.

— Verdade. - concordou Iara, rindo de leve - Enfim… ali, onde tem aquela cúpula ali com a bandeira do Brasil, é o Teatro Amazonas. Se tiverem tempo, depois de salvar o mundo, recomendo uma visita. É muito bonito. De verdade. Tá que tem muita inspiração na Europa e tal, mas tem muito Brasil lá também. E se olharem ali, de onde estamos nos aproximando… Vão ver o Encontro das Águas… 

 Ela não precisou explicar mais, ao bater o olho identifiquei algo que o nome resumia tudo. Uma água marrom e barrenta se encontrava com a água bem negra, de onde começamos, e as duas não pareciam gostar de se misturar.

 - É o encontro entre o Rio Negro e o Rio Solimões… que é o nome dado a esse trecho do Rio Amazonas. - explicou Iara, gesticulando com a mão, fazendo pouco caso dos dois nomes para o mesmo rio.

— Professora Iara! - exclamou Leo repentinamente levantando a mão - Porque não se misturam? Densidade? Composição?

— Densidade, velocidade e temperatura. - respondeu, repentinamente Jaraguari, mostrando que sabia alguma coisa de inglês sim.

— Isso aí. - disse Iara dando leves tapinhas na cabeça de Jaraguari, como parabenizando um cachorrinho.

Ele estirou a língua para ela, e ela estirou a língua de volta para ele. Outro barco de turista passou perto de lá, e vi que o barco até parava, bem na divisa entre as águas, e as pessoas tiravam fotos e colocavam a mão na água bem felizes. Mas não tínhamos tanto tempo assim para turistar. 

— Bem, vou deixar vocês descansarem e aproveitarem o passeio. - disse Iara, se sentando logo atrás de Jaraguari.

Jaraguari continuou dirigindo e logo estávamos num rio unicamente barrento, que minha recente aula chutava ser o Amazonas. Por vários minutos, até mais de uma hora, continuamos seguindo o rio. Repentinamente, o rio ficou mais apertado, e eu entendi porque o Bananão não ia conseguir fazer o trajeto. No caminho, vimos outros barcos, com moradores ou turistas mesmo, e também casas construídas nas margens do rio com colunas de madeira sustentando a casa no ar ou casas que simplesmente boiavam.

Quanto mais seguíamos o rio, menos pessoas nós víamos. Logo o que nos distraía era o canto dos passarinhos, as árvores balançando nas margens e um eventual aparecimento de algum animal. Um boto, não um golfinho, segundo André nos explicou, aparecendo rapidamente na água. Um jacaré tomando um banho de sol na margem do rio. Uma garça graciosamente pousada num galho fino que saía do meio da água.

Era tudo muito lindo e muito intocado, ou levemente intocado e cada vez mais intocável quanto mais entrávamos na floresta. Mas era uma paz tão grande que até me esqueci dos problemas que nos seguiam e os que íamos enfrentar. 

Não tinha mais noção de quanto tempo tinha passado, mas Leo já estava até cochilando no lugar dele. A lancha tinha diminuído tanto a velocidade gradualmente conforme o rio diminuía de largura. Se eu colocasse a mão para fora, e esticasse um pouco, eu devia conseguir alcançar alguns dos galhos que ficavam surgindo das águas nas margens. Duvidava que ainda estivéssemos no Rio Amazonas. Devia ser outro rio, bem menos famoso e mais apertadinho.

A nossa lancha já parecia abrir caminho entre as árvores e folhas, depois de um tempo, eu notei que as árvores estavam realmente saindo da nossa frente magicamente, abrindo caminho para a lancha passar. E depois, atrás de nós, elas se fechavam de novo, como se nada tivesse acontecido. Festus resmungou em cima do barco, provavelmente notando o mesmo que eu. Aquilo era um ótimo sinal para indicar que estávamos de fato chegando.

O rio era tão pequeno, e as árvores tão densas, que eu não conseguia ver nem o céu, nem o caminho à nossa frente, nem atrás de nós, nem do nosso lado. Depois de algum tempo, com as árvores que escondiam absolutamente tudo abrindo caminho para nós, uma levíssima chuva começou a cair. Daquelas que nem vale a pena pegar um guarda-chuva. Então nós aparecemos em uma clareira com várias construções redondas com um campo de futebol no canto e um balanço feito com um banco de dois lugares.

Jaraguari parou o barco numa escada que começava da parte mais seca do chão e continuava descendo até ser engolida pela água e sumir de vista. Iara saiu para amarrar uma cordinha do barco à uma tora de madeira que fazia parte da escada e, enquanto ela fazia isso, notei que as pernas dela pareciam ter começado a soltar um levíssimo, quase imperceptível, brilho verde-azulado quando em contato com a chuva leve.

— Bem-vindos à Pindorama. - disse Jaraguari.

Enquanto Festus praticamente saltou e planou do barco, pousando tranquilamente no campo de futebol, saímos do barco com um pouco de dificuldade, pois ele se mexia quando cada um tentava sair. Iara até estava lá, na escada, estendendo a mão para quem precisasse de uma ajudinha extra para chegar no chão firme. Eu precisei, pois quase caí quando vi um boto cor de rosa, me encarando, mas quando ele viu que tinha sido visto, voltou pra debaixo dela.

— Não liga pra ele. - disse Iara - É o Boto… não um boto-cor-de-rosa. Mas O Boto. 

— Pera… tipo… - disse André - O Boto-cor-de-Rosa? Da lenda?

— Ele mesmo. - disse Iara - Não sou a única da lista do dia de vocês. Se prepare. Mas vou ficar devendo o Saci… sempre perguntam… ele prefere ficar no canto dele.

Quando saí do barco, um pouco perdida na conversa dos dois, notei que não estava numa clareira necessariamente, pois ainda era muito pouco do céu que eu conseguia ver. Árvores estupidamente enormes cobriam a área com suas folhas. Tipo, enormes mesmo. Gigantes. Com troncos bem grossos, tão grandes que daria para montar uma casa dentro da base de um, e que ficavam rodeando o lugar todo no formato da letra “C”. Só havia uma área realmente aberta, que era aquela onde desembarcamos.

— São Sumaúmas. - disse Iara, notando meu espanto pelas enormes árvores - O maior tipo de árvore da Amazônia.

— Com muita sobra com a segunda colocada, pela cara. - respondi.

No final da escada, de cada lado, havia uma alta palmeira, aproveitando o sol que as sumaúmas deixavam passar. Entre as sumaúmas, várias outras palmeiras e diversas outras árvores, cipós e matos que eu nem ousava tentar batizar, ocupavam o lugar dividindo o espaço com pássaros estupidamente coloridos que cantavam tranquilamente. A chuva fazia um ruído de fundo leve, como um back-vocal para o canto das aves e o farfalhar de folhas de macaquinhos se escondendo de nós.

— Que… uau… só… uau… - disse Magnus ao meu lado, expressando tudo o que eu queria dizer mesmo.

Tudo que eu queria dizer tirando o susto de, na janela de uma das casas, um rosto que nos observava de longe ter se escondido repentinamente. 

— Venham… - disse Iara guiando o caminho justamente para aquela casa, a maior de todas.

Seguimos ela ainda assim, como uma fileira de turistas estrangeiros embasbacados olhando para tudo quanto é lado, constantemente vendo algo simplesmente estupidamente lindo. Perto da casa redonda, notei que o telhado era feito de palha, e que todas as janelas tinham tela para mosquito. 

Na porta de madeira, havia um poema entalhado. Parei curiosa, deixando as pessoas passarem por mim, e tentei botar meu portunhol à ativa, não conseguia entender o significado de todas as palavras nem o som certo de cada sílaba, mas a ideia geral era clara. Estava escrito:

 

Minha terra tem palmeiras. 

Onde canta o Sabiá, 

As aves, que aqui gorjeiam, 

Não gorjeiam como lá.

 

 Nosso céu tem mais estrelas,

Nossas várzeas têm mais flores,

Nossos bosques têm mais vida,

Nossa vida mais amores.

 

Em cismar, sozinho, à noite,

Mais prazer encontro eu lá;

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá.

 

Minha terra tem primores,

Que tais não encontro eu cá;

Em cismar – sozinho, à noite –

Mais prazer encontro eu lá;

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá.

 

Não permita Deus que eu morra,

Sem que eu volte para lá;

Sem que desfrute os primores

Que não encontro por cá;

Sem qu’inda aviste as palmeiras,

Onde canta o Sabiá.”

 

Do que eu peguei do poema, era um poema bonito, sem dúvida. Mas vozes dentro da casa que entramos chamaram minha atenção e resolvi focar no que havia lá dentro. Era como uma sala de estar ou de boas vindas, não sei, só sei que Festus olhava tudo pela janela e tinha uma moça com o braço enfaixado deitada numa rede assistindo Netflix junto com um rapaz, sentado numa cadeira de rodas, que eu não tinha a menor ideia de como conseguia rodar do lado de fora, que era uma mistura de terra e lama.

Ao ver os dois, Iara colocou as mãos na cintura, numa óbvia pose de mãe dando bronca, e trocou para português. Mais uma vez, foi hora de colocar meu portunhol em ação.

— Quem deixou você sair da enfermaria? - questionou Iara olhando para o menino.

— Tupã… - respondeu ele e Iara não insistiu, aquilo provavelmente respondia tudo e acabava com as chances dela de perguntar qualquer coisa que fosse.

Jaraguari então comentou algo com Iara que nenhum portunhol iria conseguir traduzir, pois não era português, ao menos isso eu conseguia dizer. Então ela se virou para nós e falou:

— Fiquem aqui um momento. Vou chamar Tupã para falar com vocês. Esses são Diego e Júlia. Eles são legais. - disse Iara voltando para a porta - Se apresentem, ok?

Quando ela fez isso, eu imediatamente lembrei do que Logunéde me contou em segredo, e fui atrás dela, deixando todos confusos para trás. 

— Alex? - perguntou Magnus, me seguindo.

— Senhora Iara! - chamei, ignorando Magnus.

— Por favor, “senhora” não! Só “Iara”. - reclamou Iara - Fique lá que eu já volto.

— É importante… - insisti, olhando ao redor. Com a distância que estávamos e a porta fechada e a Netflix passando um episódio de Lúcifer, duvidava que alguém lá dentro conseguisse ouvir - e privado…

Ela notou minha preocupação e olhou para mim e para Magnus por um segundo. Afirmou com a cabeça e chamou a gente para segui-la. Ela levou nós dois para uma área que só tinha árvores, nada mais, e eram tantas que chegar lá precisou de um pouco de atenção. Quem tentasse ver de longe, teria que olhar duas vezes para nos notar.

— O que aconteceu? - perguntou ela, subitamente séria.

— Logunéde me falou para avisar para você ou Tupã algo importante. - falei - E ninguém mais que estava lá na Nigéria podia ouvir.

— Então André não podia… - concluiu Iara - O que é?

— São duas coisas. Primeira, tem algum espião na Nigéria contando tudo para Nanã e Oxum do que acontece e delas, chega em Naunet. - avisei - Segundo, depois de amanhã à noite começam a marchar para atacar a pirâmide de Caral, no Peru, eles estão marchando da fronteira com Brasil até lá, escondendo-se na floresta.

— Por isso a pressa e o silêncio… - percebeu Magnus.

— Bem que achei que estava tudo calmo demais no caminho até aqui. - comentou Jacques.

Iara pareceu que tinha acabado de receber muito peso em suas costas, mas não surtou. Apenas ficou séria, respirou fundo e falou:

— Então temos muito o que fazer.

— E pouco tempo. - completei.

— E pouco tempo. - concordou ela, subitamente, parecendo uma guerreira - Volte para seus amigos. Vou levar isso à Tupã. Se temos um espião, já sabem que está aqui e pior, que você falou algo comigo.

— Me pareceu muito urgente… cada segundo contava… e não sabemos se é o André. - argumentei.

— Mas não sabemos que não é. - disse Iara - Se for, só não deixarmos ele reportar nada. Fique de olho nele e deixe comigo. Até o final do dia descobriremos se ele é nosso espião.

Ela então deu as costas para nós, e voltou a andar pelo caminho que tinha começado a ir antes. Quanto a mim e à Magnus, fomos voltando lentamente para onde estavam os outros.

— Acho que isso explica a pressa e tudo mais… - disse ele - Mas vai ter que explicar pro pessoal.

— Depois de termos certeza que dá pra falar isso em voz alta. - falei - Ou se tivermos chance de ficarmos a sós com Leo e Calipso.

Abri então a porta da sala de estar e Leo, Calipso e André já estavam conversando tranquilamente com Diego e Júlia, principalmente André com os dois, na verdade. 

— Onde foram? - perguntou André, ao nos ver chegar.

— Fiquei enjoado do barco, perguntei pra Iara se tinha um banheiro aqui pra… botar tudo pra fora. - respondeu Magnus salvando o dia com a mentira - Tava meio desesperado.

— Aquele barco balançava mesmo… - disse André.

— As canoas são piores. - disse Júlia, uma menina baixinha, de voz doce, de uns 15 ou 16 anos, meio gordinha e claramente tinha ao menos descendência do extremo leste asiático.

— Vocês não eram exatamente o que eu imaginava quando Iara disse que Iemanjá ia mandar algumas pessoas para nos ajudar. Tipo.. cara… precisava sair de Salvador, pra ir pra Nigéria, para parar no Norte do Brasil? - perguntou Diego, rindo. 

Ele era um cara de cabelo encaracolado castanho, de uns 17 anos, não sei se era pelo joelho enfaixado que ele estava na cadeira de rodas, mas o braço estava muito mais enfaixado.

— Isso porque chegar na Nigéria já não foi um voo muito direto. - respondeu André - Vou ver se consigo voltar pra lá de graça. Tava legal lá.

— Pede pra Iara pedir pra Iemanjá uma carona de volta. - sugeriu Júlia.

— Agora tá complicado pra isso, mas geralmente alguém daqui vai pra lá… passear mesmo. - disse Diego - O que não é o caso agora.

— Não… a gente já tinha problemas demais, e agora mais esse… - disse Júlia, suspirando pesadamente - É coisa demais pra gente.

— Quais outros problemas? - perguntou Calipso.

— Ah, só o normal, sabe? - perguntou Diego - Garimpo e desmatamento ilegal, tráfico de drogas… não se engane pela beleza da floresta. Tem lugar que se você entrar assim delicadinha com seus cachinhos dourados, você não sai não. É cada tipo de monstro lá dentro. E antes fosse de monstro mágico que estou falando. É do ser humano mesmo. 

— Duvido que alguém conseguiria fazer algo comigo… - ameaçou Calipso - Cachinhos dourados ou não.

— Todos tentamos ajudar… mas, como disse, é demais pra gente. - disse Júlia - Mesmo com aqueles, como eu e Diego, que resolvemos descobrir mais sobre quem éramos e ajudar.

— Vocês são semideuses? - perguntou Leo - Iara disse que teria mais aqui.

— Sim. Eu sou filha de Akuanduba e Diego de Angra. - explicou Júlia.

— Tipo a banda? - perguntou André, fazendo Júlia rir e Diego revirar os olhos.

— Sempre isso… - resmungou Diego.

— É, tipo a banda. - respondeu Júlia ainda rindo - Eu vim lá de São Paulo ajudar e Diego veio de Brasília. Tem mais alguns na enfermaria, mas no geral são poucos os que estão aqui. A maioria nem sabe de nada, e vive em alguma cidade aí pelo Brasil, ou são filhos de algum deus com algum indígena, aí eles geralmente ficam com os povos deles, mas também ajudando, pois os problemas estão em toda parte. Vocês são semideuses também?

— E mais importante que isso, onde conseguiram um dragão de metal? - perguntou Diego.

— Legal né? - perguntou Leo enquanto Festus rugia de orgulho de si mesmo - O nome dele é Festus. Ele é basicamente um “projeto” feito à várias mãos por vários anos pelos filhos de Hefesto, como eu.

— Hefesto, grego, legal! - comentou Diego.

— Vocês todos são gregos? - perguntou Júlia - Sempre quis ir pra Grécia. Atenas parece linda. Algum de vocês é de lá?

— Não somos literalmente gregos… tipo… não nascemos na Grécia. Mas nossos pais são deuses gregos… - corrigiu Leo - Eu sou de Houston, Texas.

— Mas, nem todos também somos filhos de deuses gregos… - respondi - Eu e Magnus somos de deuses nórdicos. Eu de Loki e ele de Frey.

— LOKI!? - exclamou Júlia com uma voz bem fina, e eu já estava sentindo algum medo ou preconceito vindo, mas não, era o oposto - ELE É TÃO GOSTOSO! Ao menos o Tom Hiddleston é.

— Te garanto que não tem NADA a ver. - garanti.

— E você? - perguntou Diego para Calipso.

— Não sou uma semideusa… - disse Calipso - Sou Calipso, uma titã… ou ex-titã… filha de Atlas.

— Oh… Calipso é? - perguntou Júlia, com um sorrisinho estranho.

— Moça, desculpa a pergunta… - disse Diego - Mas por acaso a lua te traiu?

Júlia e André caíram numa gargalhada que apressadamente tentaram esconder. Eu não entendi qual a graça, olhei para Magnus, e ele também não. Leo e Calipso também não pareciam muito melhor.

— Foi mal… - disse André - Piada interna.


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Notas finais do capítulo

por hoje é só. até o prox cap :)
comentem porfavorzinho com chocolate ♥
beijinhos



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