Os Deuses da Mitologia escrita por kagomechan


Capítulo 133
LEO - A Primeira Noite na África


Notas iniciais do capítulo

olá olá! bem vindo a mais um cap q saiu.. bem... bem.. depois do planejado.
mil perdões.
era pra ele ter saído no final de outubro, quando eu cheguei de viagem, mas eu cheguei tão desanimada com essa fic por causa da quantidade decrescente de comentários, q me fez ter a certeza de q a fic tá uma bosta e aí né... complicado ter força pra escrever. mas vou continuar pra terminar de contar a história que planejei e né...
enfim... bom cap


no momento, estão nos EUA os grupinhos:
— Nova Roma: Frank, Lavínia, Hazel, Annabeth, Kayla, Grover, Percy, Piper,
— NY: Cléo, Paulo, Austin, Drew, Carter, Meg, Apolo e Zia
no momento, estão voando, os grupinhos:
— Indo para Europa: Reyna

no momento, estão na África, os grupinhos:
— Nigéria : Leo, Calipso, Olujime, Magnus, Jacques, Alex, Festus, Adunni (gótica trança filha de Iemanjá), Eniola (filho mecânico, gosta futebol), Sarah (tbm gosta de futebol)

no momento, os grupos que estão na EUROPA são:
— Indo para a Irlanda: Caçadoras de Ártemis (Thalia, Ártemis, etc), Clarisse
— Inglaterra: Sam, Blitzen, Hearthstone, Anúbis, Sadie, Will, Nico.
— Indo para a Alemanha: Mestiço, Mallory // Maias-Astecas: Victoria, Micaela (a menina q parece Annabeth) e Eduardo (guri chato que o Mestiço deve estar querendo esganar), Ciara



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LEO

Saí correndo seguindo o túnel de água criado por Iemanjá até a superfície segurando Calipso pela mão bem forte. Me sentia o próprio Moisés, vendo a água formando um túnel ao nosso redor, por mais que aquilo não tenha sido uma divisão de um mar ao meio. Mas tudo bem.

— Você está bem? - perguntei pela milésima vez enquanto chegava na superfície com Calipso.

— Só com a cabeça meio pesada. Relaxe. - disse ela também pela milionésima vez. 

— É a minha também… - respondi meio desconfortável - Quanto tempo ficamos lá embaixo?

— Não sei. - respondeu Magnus logo atrás de nós - Só sei que ficamos alguns minutos tentando acordar vocês. Alex tentou salvar vocês, mas foi pêga também e pouco depois Iemanjá chegou quando o pessoal chamou ela com uns tambores.

Eu tentei salvar Calipso quando ela foi puxada. Acho que está claro já que não deu muito certo. Era só olhar para aquela sereiona que pronto, já era. Minha cabeça ficou leve e, do nada, eu não lembrava de onde estava de fato. A nova realidade que se formou para mim era impossível, até porque minha mãe estava nela.

Não é nada legal quando seu adversário te sequestra e te deixa preso em um mundo falso que dói demais quando você percebe que é falso. Imagino que Calipso tenha visto alguma coisa também. Afinal ela dizia que estava bem mas não parecia realmente bem. Parecia estar pensando em outra coisa. Acho que eu também estava com a mesma cara. Não é exatamente fácil se recuperar depois de ser bruscamente acordado de um mundo lindo e feliz onde se divertia com a sua mãe e aí, do nada, tem que lembrar que ela já morreu.

Mas não quero pensar nisso agora. Já temos muito o que resolver. Todos saímos em fileira, correndo para fora do lago em direção a gritaria e confusão que a margem do lago era. Dentre os que estavam no fundo do lago, um dos guerreiros nigerianos teve que ser carregado pelos amigos, que pareciam também estar nas últimas forças, mas no geral estava tudo bem. Quer dizer, se for ignorar quem estava tendo que lutar com a sereiona lá enquanto Iemanjá tirava todo mundo do fundo do lago. 

Contudo, logo eu não conseguia acompanhar a luta mesmo se quisesse, pois imediatamente Festus correu em nossa direção, rugindo e balançando o rabo todo feliz. Festus pulou em cima de nós, derrubando a mim e a Calipso no chão. Não consegui evitar rir um pouco, mas não tivemos tempo para aproveitar que estávamos bem.

— Está tudo bem, garoto. - eu disse tentando, inútilmente, diminuir um pouco a alegria dele - Quem bom ver que está bem também. Fiquei preocupado.

Eu também estava bem aliviado de ele estar bem. Achei que tinha consertado Festus bem o suficiente para ficar completamente submerso e aprova d’água, mas a luta que tivemos antes do pessoal chegar e pouco depois que Calipso foi engolida pela água provou o contrário. Acho que algum lugar não estava vedado bem o suficiente.

— Ficou tão preocupado assim por mim também? - perguntou Calipso para Festus - Own. Obrigada.

— Agora não, Festus. - falei dando leves tapinhas na lataria - Ainda temos que lutar.

Isso foi o suficiente. Ele saiu de cima de nós com um pulo para trás e rosnava em direção a luta, pronto para se juntar a ela.  

— Então… O que perdemos? - perguntei, tentando me situar.

— Sarah e Adunni estão lutando... - respondeu Alex forçando os olhos para tentar acompanhar a luta embaixo d’água - Ao menos até onde sei.

— ALGUÉM VAI AJUDAR ELAS! - gritou Eniola - ELAS NÃO VÃO AGUENTAR UMA MAMI WATA SOZINHAS.

— Mami o quê? - perguntou Calipso.

— Wata. - respondi - Ah… acho que ouvi o Eniola falando isso quando ela te puxou. É o nome do bicho.

— Como elas estão conseguindo não serem pegas pelo feitiço dela? - perguntou Alex.

— Adunni já lutou contra uma Mami Wata uma vez uns dois anos atrás, quando teve que ir pra uma missão em Gana. Mas ela não estava com tão pouca ajuda naquela vez. Acho que aprendeu como evitar. - disse Eniola claramente nervoso com as mãos apertadas firmes num punho e praticamente rangendo os dentes - Droga, se eu tivesse qualquer poder que fosse para conseguir ajudar.

— Um dos brasileiros está lá também. - disse alguém - Não sei o nome dele. Uma luta assim na água é complicado. Não temos muito o que fazer e entrar com um barco é pedir pra morrer.

— Akin foi atrás de filhos de Xangô. - comentou alguém atrás de mim. 

Foquei na luta enquanto o povo falava, mas mal dava para ver nada por cima da água. A maior parte da batalha parecia acontecer debaixo dela, o que certamente limitava as participações e a tentativa de acompanhar. Quando o longo corpo da Mami Wata chegava perto da superfície ou chegava a sair um pouco, eu conseguia ver uma das meninas da água e uma segunda pessoa presa ao corpo da sereiona. A conta não fechava, era para haver pelo menos três pessoas lá embaixo pelo o que entendi. 

Ainda assim, algumas pessoas tentavam jogar flechas, lanças ou poderes. “Algumas” apenas. Acho que estavam com medo de acertarem os amigos. Ameacei subir em Festus para ajudar mais de perto, mas Iemanjá me parou.

— Calma. - disse ela - Tenho uma ideia.

Antes de ela falar qual era essa ideia, da água surgiu uma moça carregando Sarah desacordada sobre os ombros. Isso explicava porque a conta não fechava. Rapidamente correram para ajudá-la a deitar Sarah na areia enquanto ela falava:

— A Mami Wata pegou ela no feitiço dela. - explicou a moça - Mas está bem, acho.

— Tirem todos da água. Podem deixar a Mami Wata comigo. - disse Iemanjá esticando o braço na frente de uns que tentaram se juntar a briga, como Alex - Quem conseguir atacar sem sair daqui da margem, fique a vontade.

— Tem certeza? - perguntou Alex.

— Não podemos deixar que a Mami Wata pegue vocês novamente em seu mundo dos sonhos. - explicou Iemanjá - Não vai ser tão simpática dessa segunda vez.

— Festus, consegue voar? - perguntei enquanto fazia uma vistoria rápida nele e ele rugiu em resposta - Vamos tirar eles de lá.

Eu subi em Festus e imediatamente ele subiu no ar. Atrás de mim, logo veio a Alex se transformando em um grande e enorme pássaro branco e quase parecia um animal mitológico de tão grande, mas eu sentia que era um animal bem normal mesmo. Acho que eu já tinha visto ele em algum lugar até. Acho que o nome era harpia… não a mitológica.

Do alto, com ouvidos atentos a qualquer barulho estranho vindo de Festus, vi a sombra (e por poucas vezes o corpo mesmo) da Mami Wata. Considerei por alguns segundos se valia a pena mergulhar, talvez Festus não aguentasse. Só que aí, logo Iemanjá facilitou nossa situação e começou a controlar a água do lago, que já se mexia tanto quanto o mar por causa da luta, limitando o tanto que a Mami Wata conseguia se mover.

— SEGURE! - gritou Iemanjá segundos antes de catapultar Adunni para a minha direção e para fora da luta.

— FESTUS! - gritei, mas ele já sabia o que fazer.

Adunni gritava, mas Festus voou na direção dela rapidamente e a agarrou com as patas. Ouvi um grito que podia ser de susto ou de dor vindo dela no mesmo momento.

— Foi mal pela pegada não muito simpática. - disse - Iemanjá pediu pra tirar vocês de lá.

— Tudo bem, só por favor não me derruba! - pediu Adunni apressadamente e com voz apavorada. 

Nem sei se Iemanjá ia lançar o brasileiro para nós também, mas a Mami Wata claramente não gostou do começo de tentativa de fuga, pois saiu da água se erguendo tentando me agarrar. Festus voou para mais alto enquanto minha atenção era atraída pelo tal brasileiro preso no corpo da Mami Wata. Ele estava agarrado a uma espada que estava fincada nela e já tinha aparentemente sido empurrada para mais baixo no corpo de cobra dela pois um longo corte vertical havia sido formado.

O coitado parecia bem abalado e encharcado. Seus dreads estavam para todos os lados, alguns se desmontando. Mesmo assim, ele olhou para mim e cara… não fazia nem sentido físico o que ele fez, mas eu sou o cara que solta fogo e estava voando num dragão de metal, então quem sou eu pra questionar? Ele puxou a espada para fora, quando a Mami Wata começou a ser empurrada para a água, como uma árvore recém cortada, por uma onda de Iemanjá, e começou a correr em direção à cabeça dela mesmo considerando que ela devia estar formando um ângulo de 85 graus e tinha escamas que eram com certeza escorregadias.

Doido? Com certeza. Mas ele continuou aproveitando a chance para alcançar a cabeça dela e acho que a intenção era decapitá-la. Mas ela foi mais rápida. A Mami Wata agarrou ele pelo pescoço no último segundo e tudo o que precisou foi olhar dentro dos olhos dele e pronto, ele desistiu de atacar. Alex foi rápida e voou para a cara da Mami Wata, arranhando-a com suas garras… e o cara começou a cair.

— FESTUS! MERGULHA PARA PEGAR ELE E DEIXA ELE COMIGO. - pedi e Festus rugiu imediatamente atendendo ao pedido.

Ele mergulhou antes de eu terminar a frase, eu respirei fundo, segurei firme em Festus com uma mão enquanto a outra já se preparava para ter forças para segurar uma pessoa que parecia ter o dobro do meu tamanho em questão de músculos e então, PA! O impacto do corpo do garoto com o meu não foi nada suave. Eu quase caí, ele quase caiu.

Festus resmungou alguma coisa enquanto eu tentava recuperar meu equilíbrio e tive a ligeira impressão de Adunni falando alto:

— Acho melhor voltar para a margem logo! - pediu Adunni.

— SIM! - gritei meio desesperado - FESTUS! POR FAVOR.

O garoto e eu estávamos numa situação meio precária e instável. Ele estava na minha frente mole e torto demais, qualquer movimento errado iria terminar de deslizar pro lado e cair. Eu, todo torto e inclinado para trás, sendo esmagado pelo peso do brasileiro, usava toda minha força para manter nós dois em cima de Festus mas também estava mais torto que o ideal. 

Os nós dos meus dedos doíam pela força que eu fazia para tentar segurar o garoto pela camiseta dele branca e preta de aparentemente algum time de futebol. Do jeito que ele estava torto, com a cabeça meio para baixo e as pernas meio para cima, ele ainda ser azarado e cair de cabeça no chão. Eu o segurava pelas coxas e pelo pano da camisa desesperadamente, enquanto a cabeça ficava pendurada na lateral do corpo de Festus. Cada milímetro que eu sentia do tecido escapando era desesperador, assim como cada movimento do corpo de Festus embaixo da minha bunda.

— Pelos deuses… depois vou ter que te pedir desculpa por essa cena nada gloriosa… - resmunguei tentando me distrair da pressa que estava para chegar logo no chão.

Eu notei Alex voando atrás de nós e torci para ela aguentar carregar o brasileiro caso ele caísse. Porque as pessoas eram tão pesadas? Eu sentia a calça do brasileiro começando a abaixar já que eu o segurava pelas pernas e ele pendia pela cabeça. Droga. Segurei a camiseta dele com mais força e me perguntei se a distância, cada vez menor, que nos separava do chão ainda era mortal em caso de uma queda. Provavelmente sim, considerando que ele cairia de cabeça caso isso acontecesse.

— Estão todos fora da água? - ouvi alguém ofegante correndo até Iemanjá e perguntando quando estávamos já bem perto do solo.

— Sim. - disse Iemanjá bem cheia de certeza enquanto Festus, já a poucos centímetros do chão, soltava Adunni e ela rapidamente saía de baixo para Festus finalmente pousar.

— Rápido, por favor. - pedi. 

Por mais que Festus já estivesse no chão, a pouca altura certamente ainda era problemática para alguém caindo de cabeça no chão com todo o perigo ainda de quebrar o pescoço. Assim, nas minhas migalhas finais de forças, Adunni, toda ensopada e cansada, junto com Eniola, tiraram o brasileiro dos meus braços e logo deitaram ao lado da Sarah. 

Magnus estava logo ao lado de Sarah, tentando acordar ela e checando se estava bem. Como ele parecia brilhar e segurava o braço dela firmemente, acho que ela estava mais do que só presa no mundo perfeito que a Mami Wata criou para ela.

Eu desci de Festus com minha bunda e pernas doendo pelo esforço que fizeram em tentarem me prender à Festus e Calipso correu em minha direção. Tentei disfarçar a dor para não ficar humilhante demais. Então, quando olhei para Iemanjá, logo ao lado, notei que ela mal piscava.

— Tudo bem? - perguntou Calipso.

— Sim. - respondi enquanto Alex pousava ao nosso lado e trocava para sua forma normal.

Iemanjá usava a força da própria água para impedir que a Mami Wata, que erguia seu corpo da água bem alto, chegasse perto demais de nós. Iemanjá criava uma coluna d'água que rodopiava fortemente ao redor da Mami Wata. 

Então um trio de pessoas chegou correndo e, dentre elas, estava Olujime, que me olhou completamente perdido com uma cara de “o que raios vocês aprontaram enquanto eu estava ocupado?”

—Três pessoas serão suficientes? - perguntou Iemanjá mal desviando o olhar da briga - Bem, imagino que vá ter que ser.

— Banjoko e eu somos gêmeos. - disse a única menina do trio recém chegado apontando para um rapaz muito parecido com ela no trio formado por os dois e Olujime. 

— Bom. - disse Iemanjá apesar de eu não ter entendido o que o fato de eles serem gêmeos mudava na situação - Tentem fritar ela, por favor. 

Olujime parecia meio perdido, provavelmente por ser um recém chegado ali, mas se aproximou da margem do lago junto com os gêmeos.  

Mesmo com a coluna d'água de Iemanjá, quem conseguia atacar de longe o fazia. Eu estava na lista tentando jogar bolas de fogo contra a Mami Wata nas raras vezes que alguma parte de seu corpo ficava alcançável apesar da água. E devo dizer que ela parecia não gostar mesmo das minhas bolas de fogo. Eu via a pele dela ficando seca e queimada, e seus olhos começando a olhar mais para mim do que para os demais.

Toda vez que eu sentia minha cabeça começando a ficar meio leve e tonta, eu abaixava o olhar torcendo para a distância ser um fator que deixava o feitiço dela mais fraco.

— Não toquem na água. - disse a mulher dentre os gêmeos.

Era tudo o que Iemanjá precisava, ela, com muita concentração, dividiu sua atenção em dois: manter a Mami Wata longe, e criar uma enorme bola d’água com vários animais que viviam no lago dentro. Achei legal ela ter lembrado deles.

Olujime e os gêmeos entraram na água, até elas ficarem a um palmo de alcançar os joelhos. Eles elegeram as mãos na altura da cintura e começaram a sair faíscas azuis das mãos deles. Essas faíscas então viraram raios. Uma expressão de concentração e esforço apareceu no rosto de Olujime e os gêmeos então a eletricidade se espalhou pelo lago. 

Como uma clássica cena da Equipe Rocket tentando capturar o Pikachu, a Mami Wata imediatamente começou a gritar quando a eletricidade produzida pelo trio se espalhou pelo lago e ela começou a fritar. A Mami Wata começou a pender para o lado, e então para o outro, e para o outro. Era como se a gravidade não soubesse onde derrubar ela.

A gritaria começou na margem do lago por causa do medo de ela cair logo em cima de nós. O grupo de pessoas se estendia ao redor da margem, do lado que o lago beirava a vila, por alguns poucos metros já que havíamos atraído a atenção de alguns moradores. Foi perto de uma das pontas dessa aglomeração que a Mami Wata resolveu cair. As pessoas correram para não virar panquecas, mas ninguém se feriu quando a Mami Wata caiu espalhando água, lama e terra para todo o lado.

Olujime e os gêmeos caíram de joelhos exaustos, claramente tendo usado toda a energia elétrica que tinham. Com a Mami Wata desacordada, mas ainda viva, e fora o suficiente da água, os guerreiros gritaram algo que eu não entendi no idioma iorubá e a meia dúzia saudável e de pé correu na direção da Mami Wata. 

Alguns segundos depois de entender o que eles faziam, eu, Alex e Magnus nos juntamos (embora eu tenha me arrependido da decisão. Cada passo era uma tortura para mim.). Algumas alfinetadas de espadas, lanças e adagas foi tudo o que precisou para a Mami Wata repentinamente começar a secar, ficar cinza e então virar pó.

Eu suspirei aliviado, os outros também. Contudo, não houve comemoração. Os guerreiros, claramente cansados, simplesmente sentaram ou deitaram no chão.

— E isso, imagino, termina nossa irritação dessa noite, creio eu. - disse Iemanjá, devolvendo os animais do lago para a casa deles depois de uns minutos com apenas o som da floresta mais além chegando aos nossos ouvidos.

— Será que posso dizer que não foi tão difícil assim ou isso é pedir por mais problema? - perguntou Olujime.

— É certamente pedir por mais problema. - comentei. 

— Olujime está certo. - disse Adunni se aproximando de nós - Uma Mami Wata é um problema bem irritante, de fato, mas completamente “lidável” considerando que temos muita gente aqui. Ainda mais uma sozinha. 

— A impressão que tenho é como se quisessem apenas nos cansar, não nos aniquilar. - comentou Iemanjá - Não sei se isso é só um pedaço mais mole no coração de Nanã e Oxum ou se realmente faz parte do plano delas.

— Quando Xangô volta da reunião em Nova York? - perguntou Adunni.

— Talvez amanhã no final da manhã ele já esteja aqui com Oxumaré. - respondeu Iemanjá.

— Falando nisso… Não consegui perguntar antes mas… - disse Alex - Acho que um orixá apareceu para mim e, sei lá… foi por isso que eu vim. Ele… ou ela… não sei, não disse nada, mas fiquei curiosa.

— Como ele ou ela era? - perguntou Iemanjá.

— Bonito, forte, mas baixinho e com um olhar muito sério. Eu tinha a sensação de que meio que não parecia nem homem, nem mulher, mas também às vezes um ou outro. - descreveu Alex - Usava uma saia dourada florida com uma espécie de avental azul por cima. Tinha brincos de argolas enormes e na frente do rosto, escondendo-o, estavam penduradas várias pérolas que iam de um lado para o outro. Como um colar, que por algum motivo a pessoa resolveu colocar na frente da cara, ao invés de pendurado no pescoço.

— Deve ser Logunede. - disse Iemanjá aparentando meio preocupada - Essa questão de gênero confuso e o resto da aparência me parece muito com Logunedé. Eu não saberia explicar com qual gênero ele se identifica.

— Logunedé é… ruim? - perguntou Alex - Ou bom?

— O mundo não é tão preto e branco. Isso é uma pergunta complicada, mas ele está mais para bom. - disse Iemanjá - Como muitos seres, somos muito moldados pelas crenças dos mortais. Os greco-romanos que o digam. Têm praticamente dupla personalidade.

— Ah sei. - eu disse - Vocês também têm algo assim? Duas civilizações adorando vocês de formas diferentes?

— Ah sim. - disse Iemanjá - Logunedé particularmente muda razoavelmente quando se compara ele aqui na Nigéria com ele no Brasil. E a dominação islâmica e cristã realmente complicou a questão de gênero de Logunedé. 

— O que… elu… pode querer comigo? - perguntou Alex chutando que talvez o melhor uso de gênero fosse o neutro - Ele está por aqui?

— Não. Não o vejo faz tempo. - respondeu Iemanjá - Talvez esteja em seu momento solitário, às vezes ele tem isso. Talvez esteja com Oxum. É difícil dizer. Ele é difícil de prever pois não sabemos se ele está num dia mais brasileiro ou mais nigeriano e mais homem ou mulher.

— Sabe onde talvez possa encontrá-lo? - perguntou Alex.

— Não se preocupe com isso. - respondeu Iemanjá com um sorriso doce que parecia muito sorriso de mãe - Tiveram uma viagem longa seguida de uma luta. Vão dormir e descansar. Irei tentar encontrar mais informações. Amanhã talvez tenha alguma resposta para sua curiosidade.

— Mas… - tentou Alex.

— Não se preocupe. - disse Iemanjá novamente - Vocês já se preocupam com coisas demais mesmo com a pouca idade. Ao menos essa noite, descanse. O mundo não irá acabar de hoje para amanhã.

— Com todo respeito mas, tem certeza? - perguntou Magnus - Geralmente nossos fim do mundo tem uma janela de tempo bem curta para serem resolvidos.

— Não ouvimos nada de nenhuma janela de tempo ainda. - disse Calipso.

— Não tem nenhum lugar que eu saiba que se vocês chegarem nesse momento fará alguma diferença maior do que se chegar amanhã. - disse Iemanjá - Descansem. Vão precisar de energia para continuar seguindo em frente.

Eu, Calipso, Olujime, Magnus e Alex nos entreolhamos e silenciosamente pensamos se era seguro realmente só ir dormir e pronto. Eu estava de fato muito cansado, pelo menos. Olhando mais além, vi que os outros guerreiros iam embora, mas uns ficavam para trás parecendo que iam ficar de guarda ali. Aparentemente só estavam esperando ter mais certeza de que a tal “irritação da noite” terminava ali.

Sarah e o brasileiro também tinham acordado. Sarah foi embora junto com Adunni e Eniola, os três parecendo exaustos e aliviados por estarem todos bem, e o brasileiro me encarou, murmurou um “obrigado” em inglês e foi embora com os outros.

Alex foi a primeira a dar de ombros.

— Talvez uma noite de sono não faça mal mesmo. - disse ela.

— Não estou em condições de discordar. - disse Calipso.

Fomos então praticamente nos arrastando, exaustos, de volta para a vila para onde nós iríamos descansar. Cada passo que eu dava doía nas minhas pernas. Não me surpreenderia se eu tiver cortado elas no corpo de Festus. Alex e Magnus foram guiando o caminho já que eu e Calipso não havíamos conhecido ainda o lugar onde dormiríamos. No silêncio do caminho, foi difícil não ver minha mente indo para as memórias feitas pelo mundo perfeito que Mami Wata criou. 

No mundo que ela criou para mim, eu e minha mãe nos divertimos alternando fazer um upgrade em Festus com atacar uma bandeja de churros. Lembrar do sorriso dela de empolgação quando nosso aprimoramento em Festus ficou pronto agora doía muito. 

Olhei então com o canto do olho para Calipso e a cara dela não estava das melhores também. Então peguei a mão dela.

— Tudo bem? - perguntei.

— Tudo. - mentiu ela com um sorriso pequeno e falso.

— Ih raio de sol, não me convenceu não. - respondi - Não quer conversar?

— Não quero preocupar você. - respondeu ela.

— Tarde demais, eu já estou preocupado. - falei.

— É que… eu preferiria que essa luta tivesse sido só porrada e pronto. - explicou ela - Ela te pegou também né?

— No mundo de sonhos? Sim… - respondi cabisbaixo e respirando fundo, já sabia que tinha uma chance de ser esse o motivo que deixava ela com a cara meio triste e pensativa.

— Meu pai estava lá e… - disse Calipso olhando para frente, para Magnus e Alex, creio que com medo de eles estarem escutando - A Mami Wata criou uma memória falsa da época da guerra dos Titãs e… olhando assim, depois de tudo que aconteceu, me fez chegar a conclusão que meu pai não me ama, não de verdade. Lá no fundo eu já sabia, mas… ainda dói.

— Imagino que seja complicado mas... você não precisa do velhote egoísta. - respondi - Todos na Estação Intermediária somos sua família agora. É uma nova vida agora que deixou Ogigia.

— É… acho que tem razão. - disse ela com sorriso não inteiramente feliz ainda, mas bem melhor.

— Amanhã é um novo dia. Vamos encerrar logo esses traumas do dia, que já está tarde, e amanhã a gente reseta tudo. - falei - Existem poucas coisas que uma boa noite de sono não resolva.


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Notas finais do capítulo

por hoje é isso.
beijinhos.
por favor comentem.
e até o prox cap



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