Os Deuses da Mitologia escrita por kagomechan


Capítulo 132
ALEX - Atabaque para Iemanjá


Notas iniciais do capítulo

voltamos para a Nigéria para continuar a treta que o pessoal enfrenta por lá! o cap de hj é narrado pela Alex. boa leitura! :)


no momento, estão nos EUA os grupinhos:
— Nova Roma: Frank, Lavínia, Hazel, Annabeth, Kayla, Grover, Percy, Piper,
— NY: Cléo, Paulo, Austin, Drew, Carter, Meg, Apolo e Zia
no momento, estão voando, os grupinhos:
— Indo para Europa: Reyna

no momento, estão na África, os grupinhos:
— Nigéria : Leo, Calipso, Olujime, Magnus, Jacques, Alex, Festus, Adunni (gótica trança filha de Iemanjá), Eniola (filho mecânico, gosta futebol), Sarah (tbm gosta de futebol)

no momento, os grupos que estão na EUROPA são:
— Indo para a Irlanda: Caçadoras de Ártemis (Thalia, Ártemis, etc), Clarisse
— Inglaterra: Sam, Blitzen, Hearthstone, Anúbis, Sadie, Will, Nico.
— Indo para a Alemanha: Mestiço, Mallory // Maias-Astecas: Victoria, Micaela (a menina q parece Annabeth) e Eduardo (guri chato que o Mestiço deve estar querendo esganar), Ciara



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ALEX

O quarto que deram para nós era simples mas confortável. Tinha vários beliches com lençóis coloridos com formas e cores aparentemente tradicionais que pareciam quentinhos, dois armários grandes, três janelas que faziam um ar gostoso e sereno da noite entrar e uma mesa redonda no centro com cinco cadeiras ao redor. Em resumo, era um bom quarto compartilhado, mesmo que só tivesse um banheiro.

Mas pelo menos tinha um banheiro, pois assim eles também nós podemos fazer algo incrível que eu sentia falta, chamado banho. Olujime foi o primeiro a tomar conta do chuveiro enquanto Magnus atualizava o pessoal na Inglaterra de que havíamos chegado na Nigéria e estávamos bem. Estávamos de fato bem. Com barriga cheia e na fila para um bom banho no chuveiro, o que era certamente acima da média para uma aventura nossa. O problema, era que eu estava com um mal pressentimento e, quanto mais Leo e Calipso demoravam para voltar com Festus de barriga cheia, pior esse sentimento ficava.

— Magnus, desliga aí. - eu disse cutucando ele - Vamos atrás do Leo, da Calipso e do Festus. Eles estão demorando demais.

— Ok. Tchau. Vou atrás deles. - disse Magnus rapidamente para o pessoal, acabando com a ligação.

— Olujime. - eu disse em voz alta batendo na porta do banheiro - Vamos ver porque os outros ainda não voltaram, ok?

— Ok! - respondeu ele de dentro do banheiro - Qualquer coisa logo alcanço vocês. Mas eles devem estar bem.

— Acho que ele ainda não entendeu o tanto de sorte que a gente tem. - resmungou Magnus.

— Aqui não é tão grande. Não podem terem se perdido, podem? - perguntou Jacques - Estavam até acompanhados! Será que tudo aqui era uma armadilha para a gente e os africanos nos traíram?

— Vamos torcer para que esse não seja o caso. - disse Magnus - Mas acho difícil.

— Eu teria notado se tivessem mentindo. - respondi.

Fomos apressadamente para o lado de fora apesar de que eu sabia muito bem que eu não tinha ideia de para onde ir. Não conhecia quase nada ainda daquela pequena cidade. Só sabia onde era o lago por onde chegamos, o lugar onde comemos e o lugar onde dormiríamos. Com todos ali claramente se preparando para dormir, as chances de encontrar Adunni ou Sarah, para perguntar onde Eniola podia ter levado o pessoal, ficavam cada vez menores.

Fui com passos cada vez mais rápidos para a Casa de Campo com Magnus me seguindo. Era o lugar com mais cara de importante e central que eu sabia ir por ali. Então quem sabe eu encontrava alguém que pudesse me responder para onde o pessoal tinha ido. Só que aí, de repente, quando estávamos bem perto da Casa de Campo, meia dúzia de pessoas saíram dela, prontas para a batalha… bem, quase todas, duas carregavam longos tambores além das armas.

— O que aconteceu? - gritei, na esperança de algum deles responder, mas fui completamente ignorada.

— Vamos seguir eles. - sugeriu Magnus.

— Vamos. - respondi começando a seguir o grupo.

— O que aconteceu? - perguntou Magnus tentando alcançar um cara, no final do grupo correndo a nossa frente numa esperança de conseguir alguma resposta.

— Recebemos um pedido de socorro do sul da vila. - respondeu o homem brevemente.

— ALEX! MAGNUS! - gritou Adunni atrás de nós, correndo para nos alcançar.

— Adunni! Que pedido de socorro é esse? - perguntei quando ela estava quase nos alcançando.

— Parece que foi Eniola quem mandou! Eu também recebi a mensagem no Whats App - explicou ela - Não sabemos mais nada além de que foi da casa dele. Seus amigos podem estar em perigo também.

— Pera, WhatsApp? - perguntei perdida.

— Temos um sistema de alerta de emergência para todos na vila ou para o exército pelo WhatsApp. - explicou ela - Não me diz que vocês são desses estrangeiros que acham que na África não tinha internet.

— Não é isso. É só que esperava que fosse algo mais mágico. - justifiquei.

— A maioria das pessoas aqui não tem ou entende quase nada de magia. - explicou Adunni - Tinha que ser algo mais acessível.

— O que importa é que mais um problema apareceu. - resmungou Jacques - Nossa sorte nos perseguindo, como sempre.

— Até você já entendeu. - respondeu Magnus.

— Antigamente eu não tinha que aguentar tanto problema assim… - disse Jacques suspirando pesadamente.

Continuamos correndo e, no meio do caminho, mais meia dúzia de pessoas, claramente pessoas que sabiam lutar apesar de mais uma com um tambor, se juntaram a nós. Sei lá qual o motivo do tambor. Motivação pro combate? Eu não tinha chute melhor do que isso.

Seguindo o povo correndo, logo chegamos numa casa que era parte mecânica de carros. Ela ficava claramente nos limites da cidade, pois o muro que construíam estava logo ao lado e, depois dele, o lago por onde chegamos. A porta da casa estava aberta, a luz estava acesa e a tv estava falando sozinha.

O primeiro indício de que as coisas não estavam bem foi que, nas margens do lago, estava Festus, largado no chão com parte do corpo na água. Do lado dele, estavam duas pessoas, um homem e uma mulher, preocupadas conversando exasperadas. Eu corri até Festus junto com Adunni e Magnus e me joguei de joelhos de qualquer jeito ao lado de Festus.

— FESTUS! - exclamei olhando para ele meio perdida, como se checava se um dragão mecânico estava funcionando? 

Meu coração já batia mais rápido tentando entender o que tinha acontecido e o que podíamos fazer. Eu percorri os olhos por Festus e vi uma pequena faísca aparecendo do pequeno buraco entre duas peças de metal. Não sabia dizer o quão bom sinal aquilo era.

— O que aconteceu? - perguntou Adunni não para mim, nem para Festus, mas para o homem que estava lá do lado quando chegamos.

— E-Eu não sei! - disse o homem - Estava dormindo no sofá e acordei com vocês chegando! N-Nem sabia que Eniola já tinha voltado pra casa!

— Mayana, por favor me diz que sabe onde eles devem estar ou se estão bem. - pediu Adunni, olhando para a mulher.

— Queria te dizer que sim. Sabem acordar o dragão? - perguntou a mulher, aparentemente chamada Mayana, que me passava uma energia de liderança.

— Não tenho certeza. Vamos tentar. - respondeu Magnus para ela, que afirmou com a cabeça e se virou para o resto do pessoal.

— Por favor, Mayana, ajude meu filho. - pediu o homem, pela cara, o pai de Eniola.

— Essa é a intenção. - disse Mayana se virando para o resto dos guerreiros e falando bem alto  - Vamos nos espalhar e procurar por algo. Aqueles com maior afinidade com a água, procurem por ela também.

Todos se espalharam e eu, Magnus e Adunni ficamos focados ao redor de Festus tentando acordar ele… mesmo sem saber como fazer isso. Magnus ficava dando pequenos tapinhas no rosto de Festus, chamando o nome dele e eu grudei o ouvido no corpo dele, pois tinha a impressão de que ouvia algum barulho bem baixo vindo dele, o que podia ser um bom sinal.

— Isso funciona mesmo para acordar ele? - perguntou Adunni claramente duvidando da tática de Magnus, que sinceramente eu também não sentia tanta firmeza.

— Não sei. Não conhecemos ele a tanto tempo assim e eu nunca conheci outro dragão robô. - admitiu Magnus.

— Shiu… Tô tentando ouvir aqui. - pedi -  Acho que tem algum ruído.

Quando ficou tudo mais quieto, ouvi de fato um ruído vindo de dentro de Festus. Era um ruído que lembrava um pouco um carro tentando ligar, mas sem conseguir, só que mais baixo. Felizmente, do nada, esse ruído aumentou de volume muito rápido e Festus acordou praticamente vomitando água em Magnus, que estava logo na frente do rosto dele.

— EI! - gritou Magnus quando virou algo do vômito de Festus, que pelo menos parecia ser só água e mato - Eca…

— Festus! O que aconteceu? Onde estão os outros? - perguntou Adunni enquanto Festus tossia, tirando a água que havia entrado dentro dele.

— O DRAGÃO ACORDOU! - declarou a mulher que ainda estava por perto.

— Festus, o que aconteceu? Onde estão os outros? - perguntei.

Festus pulou, pronto para uma batalha que não acontecia. Estava todo nervoso e desorientado e fazendo uns barulhos estranhos de faísca. Ele não parecia normal. Não sou engenheira, mas o comportamento dele me fazia pensar que algo havia sido danificado. Mesmo sem entender nada do que ele rugia, tenho certeza que ele estava procurando por Leo e Calipso. Ele ficava rugindo para a água e rodando em círculos, a cada vez indo mais para o fundo da água, mas sem ousar ir muito fundo.

Logo tudo ficava com caos com eu e Magnus tentando entender o que Festus queria e entrando na água atrás de algo mas com armas na mão. Adunni também estava desesperada e, ao nosso redor, os guerreiros que guiaram o caminho até ali estavam todos espalhados pela margem do lago, com exceção dos com tambores que ficaram um pouco distantes, sem tocar ainda nada nos tambores. Tudo aconteceu em alguns poucos segundos entre Festus acordar e, de repente, um dos guerreiros gritar algo que eu não entendi pois não foi em inglês.

— O que ele disse? - perguntei para Adunni enquanto os outros guerreiros ficavam exasperados e começavam a gritar e exclamar outras coisas em iorubá.

— Duas pessoas que estavam com a gente no começo desapareceram. - explicou Adunni.

— O quê? Como? Será que não ficaram para trás? - perguntou Magnus.

— Eles chegaram até aqui, segundo o pessoal. - disse Adunni olhando extremamente atenta para a superfície do lago.

Todos ficaram tensos e em silêncio olhando para a superfície do lago com a lua refletida. Estava muito escuro e silencioso, a única luz era da lua e o único som era o de pequenos animais. Estava tão tenso e silencioso que eu até fiquei preocupada que Magnus e Adunni estivessem conseguindo ouvir o meu coração bater agitado. Até Festus parecia ter entendido que agora era hora de ficar quieto e prestar atenção no que acontecia ao nosso redor.

Um barulho repentino à esquerda de algo grande saindo e se escondendo rapidamente na água e um grito atraiu a todos:

— IBRAHIM! - gritou alguém chamando o nome de outra pessoa, que não deve ter tido uma sorte tão boa naquela noite.

Eu estava longe do ponto onde o tal coisa pareceu ter atacado mais uma vez e logo se escondido na água, então, quando ele atacou uma outra vez, revelando uma longa, grossa e enorme cauda de cobra surgindo da água, eu só fui levemente empurrada pelas ondas formadas quando o monstro usou a cauda como um chicote, atingindo as meia-dúzia de guerreiros mais perto dele. Foi um ataque forte e rápido, e o peso da cauda certamente não ajudava a deixar ele mais delicado. Consequentemente, o ataque fez mais do que produzir uma onda, pois a meia-dúzia de pessoas atingidas caíram no chão ensanguentadas e não acordaram (eu torci para terem só desmaiado).

Eu e Magnus começamos a correr na direção do monstro com a água dificultando nossas tentativas, mas Adunni ficou para trás pois, por algum motivo, parou para tirar os sapatos. Nesse meio tempo, a parte do corpo do monstro que deveria ser a boca de uma cobra (se o monstro fosse uma cobra) saiu da água também para atacar. Assim, entendi que nosso inimigo era um tipo de sereia que sinceramente até seria bonita se não fosse a sede de sangue estampada nos olhos e que pulou da água rapidamente dando um susto em todos, agarrando um dos guerreiros pelo pescoço e puxando, num piscar de olhos e bem grosseiramente, para baixo d’água.

— É UMA MAMI WATA! - gritou Adunni.

— Achei que elas eram pacíficas. - disse um cara por perto.

— Depende. - respondeu outro.

— O que é uma Mami Wata? - perguntou Magnus.

— É como uma sereia. - disse uma mulher perto de nós - Ela leva as pessoas para um reino paradisíaco perfeito do qual nunca vão querer sair. Talvez seja lá que Eniola e seus amigos estão.

— TOQUEM O ATABAQUE PARA IEMANJÁ! - gritou Mayana e eu não entendi o que ela quis dizer.

Ignorei o fato que eu não entendi o que Mayana queria dizer, considerando que talvez fosse só eles misturando inglês com iorubá, como notei que faziam. Mas não consegui ignorar quando Adunni passou do meu lado correndo sobre a água com pés descalços e um arpão na mão. É sobre a água. Ela foi até onde a tal Mami Wata sumiu pela última vez e então pulou de cabeça lá. Pra completar minha confusão, me distraí por um segundo quando o pessoal dos tambores começou a tocar num ritmo que, em ocasiões melhores, me dava vontade de dançar.

— Eu vou com ela. - disse para Magnus.

— Tem certeza? - perguntou ele.

— É um monstro aquático, como vamos lutar aqui fora? - perguntei e logo pulei na água menos graciosamente que Adunni, mas ao menos virei um tubarão depois disso (isso ela não tinha feito, então pontinhos pra mim).

Nadei o mais rápido que consegui na direção que Adunni foi e logo eu vi ela batendo os pés, indo cada vez mais profundamente no lago, sem nenhum sinal da Mami Wata. Quando eu cheguei perto dela, ela levou um susto (com razão). Lagos não eram lugar de tubarões brancos. 

Como ela não sabia quais poderes eu tinha, ela provavelmente achou que eu era um monstro e decidiu me atacar, o que era péssimo. Ela lançou o arpão contra mim, eu desviei no último segundo e, torcendo pra não acabar morrendo afogada e segurando o meu ar, voltei para minha forma original com uma mão impedindo qualquer água de entrar pelo meu nariz e boca e outra mão erguida no sinal universal de “me poupe, por favor. não vou te atacar, seja legal comigo.”

No segundo que vi o entendimento surgir no rosto dela, eu voltei a forma de tubarão, já que assim pelo menos conseguia respirar ali.

— Desculpe. - disse Adunni, mesmo embaixo d’água enquanto um pequeno redemoinho d’água puxava de volta para a mão dela o arpão que ela tinha atacado em mim - Pode se transformar em tubarão então? Ou em qualquer coisa.

Em resposta, virei um peixe palhaço, o Nemo, sabe? Notei ela segurando a risada por um segundo. Mas obviamente logo voltei para a forma de tubarão. Eu que não ia enfrentar um monstro daqueles sem ter um conjunto mortal de dentes afiados.

Quase levei um susto quando a tal Mami Wata surgiu das profundezas na direção de Adunni, com os braços erguidos na direção dela, com unhas bem longas e a boca aberta. Adunni lançou o arpão dela, a Mami Wata tentou desviar mas era difícil desviar com uma cauda daquele tamanho. 

O arpão atingiu em cheio a cauda, sangue começou a sair de lá mas, como não estávamos ali para brincar, enquanto a Mami Wata gritava de dor, eu nadei bem rápido até lá e mordi a cauda, aumentando o dano. Revoltada, a sereia-cobra me chicoteou para longe e senti meus dentes rasgarem a pele dela nessa hora. 

A chicoteada que ela me deu me deixou meio desorientada e com dor no lugar da pancada (que seria a minha cara, no caso), a resistência da água acho que ajudou a não ser tão ruim quanto a chicoteada que ela deu fora d’água, mesmo que a minha cara estivesse doendo muito. Não tinha tanta certeza se o sangue flutuando na minha frente era só dela ou tinha um pouco de meu também. Provavelmente a segunda opção.

Desviando a atenção do sangue flutuando na minha frente, notei que, logo embaixo de mim, presos dentro de uma enorme bolha e deitados no chão do lago, estavam Leo, Calipso, Eniola e mais algumas pessoas que eu não conhecia. Eles pareciam dormir muito bem, o que me fez lembrar da explicação breve que a Fulana deu de que a Mami Wata levava as pessoas para um mundo perfeito do qual não queriam sair.

— ALEX! CUIDADO! - gritou Adunni quando eu comecei a pensar em ir tentar salvar o pessoal.

Me virei, ou melhor, nadei fazendo um círculo ao redor de mim mesma, e vi a Mami Wata vindo rapidamente em minha direção. Senti minha cabeça doer por uns segundos quando olhei para os olhos dela, mas Adunni, que tinha recuperado seu arpão, distraiu a Mami Wata e acabou me ajudando. Adunni se aproximou rapidamente, com a água a impulsionando e, sem se desgrudar do arpão, fincou a arma nas costas da Mami Wata.

— COMO OUSA?! - gritou a Mami Wata, provando que sabia falar.

— Você quem começou, querida. - respondeu Adunni com um sorriso, adorei - Eu tava muito bem me preparando para encerrar o dia com um bom banho quente.

Irritada, a Mami Wata começou a nadar bem rápido formando um redemoinho forte ao redor de nós que nos pegou e nos deixou completamente desorientadas e tontas.

Eu sentia meu estômago se embrulhar e minha cabeça ficar tonta. Tudo girava ao meu redor e era difícil conseguir entender qualquer coisa que fosse. A própria Mami Wata passava rapidamente pela minha vista e Adunni também. Elas eram uma das poucas coisas que eu conseguia identificar. No meio dessa bagunça, teve uma hora que eu vi, ou achei ter visto, Sarah, a menina que havíamos conhecido brevemente junto com Eniola na hora da janta, puxando Adunni para fora do redemoinho.

Como eu fui confundida por ela como um animal qualquer, e aposto que Adunni estava precisando de uns segundos para vomitar, até porque eu também queria vomitar, eu fui esquecida dentro do redemoinho, sem conseguir me mexer. Mami Wata já tinha entendido que eu não era um animal qualquer (até porque ali não era lugar de tubarão, não era como se fosse difícil), então ela repentinamente me agarrou, perfurando dolorosamente minha barriga com as unhas e a mão forte e me puxou nadando rapidamente para longe.

Seu rosto estava bem perto do meu e seus olhos me olhavam intensamente, minha força foi sumindo, vi meu sangue flutuando na água, minha visão foi ficando turva. Me sentia sendo carregada numa intensa correnteza marinha e mal notei quando voltei lentamente ao normal. Por algum motivo, a água não parecia ser mais um problema para respirar. 

Tudo ficou preto ao meu redor, minha cabeça parecia desconfortavelmente mais leve, praticamente vazia. Então tudo parou de fazer sentido e nada mais importava. Senti minha cabeça viajando para longe, senti como se estivesse tentando lembrar de algo de muito tempo atrás. Era uma sensação esquisita, tinha um vazio também, como se eu tivesse esquecido algo importante. Onde eu estava mesmo?

Parei para pensar um pouco, tentando lembrar o que eu estava fazendo, mas a soneca parecia tão boa.

— Alex, acorde, voltei com mais materiais para fazer a vasilha que queria. - disse meu abuelo e meu coração se apertou ao ouvir a voz dele.

Acordei lentamente, e lá estava ele, com um doce sorriso e os materiais embaixo do braço, pronto para me ajudar com a vasilha. Eu me sentei no sofá na qual estava deitada, com coração quentinho e uma estranha sensação enquanto arrumava as coisas na mesa na frente do sofá.

Olhei ao redor, reconhecendo com dor no coração a casa do meu avô, aconchegante como sempre. Então, se ela estava aconchegante como sempre, porque me doía vê-la? Passei os olhos pelos armários antigos, facilmente mais velhos do que eu, lembrando bem quais as gavetas tinham memórias preciosas. 

Vi mais além a sala de jantar, com uma mesa e cadeiras bem rústicos, de madeira. Aquela mesma mesa tinha sido a mesa de pelo menos dois bolos de aniversário meus. Cada cadeira ao redor da mesa tinha, em cada lado do encosto, um enfeite que parecia um grande peão de xadrez. Lembrei bem do dia quando arranquei um dos peões sem querer depois de brincar tanto de girar eles e sofri para colocar de volta, sem que meu avô notasse. Nunca mais toquei neles.

— Finalmente vou aprender a mexer com cerâmica também? - disse Magnus ao meu lado, me tirando de minhas memórias espalhadas pela casa.

— Sim. - respondeu meu avô dando uma pequena risada - Mas faz tempo que não tenho um aluno novo. Então me desculpe se estiver meio enferrujado.

— Impossível. - respondi meio no automático, mas sentindo cada vez mais intensamente que algo ali estava errado, muito errado.

Magnus colocou a mão dele sobre a minha e sorriu de um jeito muito fofo mas, por algum motivo, eu não consegui responder ao sorriso dele.

— Está tudo bem agora. - disse Magnus - Seu pai está bem longe. Ambos seus pais, diga-se de passagem.

— Não é isso… - resmunguei, mas sem saber qual era o problema de fato.

— Argh, não acredito até hoje como seu pai te trata… - disse meu avô suspirando lentamente e fitando a mesa com um olhar triste - Me faz perguntar onde eu errei. Mas Magnus está certo, está tudo bem agora.

— Realmente não é todo pai que destroça a filha de tantos jeitos, emocionalmente e fisicamente, e ainda larga ela para viver na rua. - admiti.

— Você nunca viveu na rua. - disse meu avô - Eu estou aqui, não deixaria que isso acontecesse. 

— É. - concordou Magnus, parecendo confuso me fazendo duvidar se eu tinha de fato vivido na rua - Você mora aqui com seu avô já tem alguns anos.

Moro? Magnus parecia certo disso, minha cabeça queria acreditar nisso, mas porque aquela informação também parecia tremendamente errada? Porque ver meu avô doía tanto em meu coração? 

Meu avô começou a explicar para Magnus todo o básico de como começar a fazer uma peça simples de cerâmica, focando primeiramente apenas na parte teórica, mas eu continuava tentando entender o que acontecia. Foquei naquela dor que sentia no peito e senti meus olhos lacrimejando. Então, senti um arrepio e fome. 

Esse arrepio logo virou frio e a fome ficou mais intensa. Era o frio que eu sentia vários invernos e várias noites dormindo ao relento e a fome que eu sentia vários dias morando na rua. Lembrei então de Magnus dizendo alguma vez “Eu já vi você antes. Você estava no abrigo da juventude na rua Winter?”

— Eu vivi na rua. - eu disse, confiante, olhando para Magnus.

— Ah? - respondeu ele, perdido, saindo da aula dele - Não morou não. Não tem como esquecer algo assim.

— Exato, não tem como esquecer algo assim. Você também morou. - respondi - Dois anos, você disse quando nos conhecemos em Valhalla.

— Valhalla? - perguntou Magnus perdido - Nos conhecemos na escola, Alex… Tá tudo bem com você?

— Alex, está se sentindo bem? - perguntou meu avô visivelmente preocupado.

— Estivemos ao mesmo tempo no abrigo da juventude na rua Winter, mas não nos falamos. - continuei - Odiávamos aquele lugar. 

— Será que não teve um pesadelo e está confundindo as coisas com a realidade? - perguntou meu avô com um sorriso de pena - Uma vez, quando eu era jovem, tinha tentado marcar para dormir na casa de um amigo, mas ele não podia. A noite sonhei que ele tinha trocado os planos e agora podia. Acordei achando que era verdade.

— Não. Não é isso. - declarei me levantando e sentindo as lágrimas rolando pelo meu rosto - Vovô… você já morreu. E tudo isso é falso.  É só um reino paradisíaco perfeito para eu não querer sair.

Sem qualquer aviso, meu avô pulou todo o espaço que nos separava e começou a me enforcar. Ele estava com uma expressão assustadora que não combinava em nada com ele, mas certamente combinava com meu pai. Notar isso doeu no fundo do meu coração, mas tentei ser forte.

Chorando, eu não fiz nada além de fechar os olhos. Aquilo não era real. Eu não estava na casa do meu avô, estava na Nigéria, lutando contra um monstro que havia me prendido ali. Tudo isso era falso, ou assim eu apostava que a magia da Mami Wata funcionasse, por mais que o aperto na garganta parecesse bem real. 

Gradualmente, a dor na garganta foi sumindo e, quando abri os olhos novamente, ao invés da casa do meu avô e meu avô com um rosto assustador tentando me enforcar, vi a água ao meu redor e Magnus bem na minha frente, suspirando aliviado.

— Fiquei preocupado, estava com um corte terrível na barriga. - disse ele.

— O… o que aconteceu? - perguntei me sentando lentamente enquanto notava que estávamos eu, ele, Leo, Calipso, Eniola e mais um grupo de pessoas, dentro de uma bolha embaixo d’água.

— Você, Adunni e Sarah estavam lutando contra a Mami Wata. - explicou ele e algo passou rapidamente atrás de mim, raspando em nossa bolha de proteção, tão rápido que não deu para ver direito e logo estava se afastando de novo - Você se feriu e a Mami Wata te deixou aqui, presa na magia dela como os outros. Iemanjá nos ajudou. Os tambores eram para chamar ela, pelo o que eu entendi.

— Temos que nos juntar à luta! - disse Leo se levantando devagar - Ela danificou Festus!

— Vamos sair daqui primeiro. - disse Magnus apontando para a cabeça para um estranho corredor que havia se formado - Quanto antes sairmos, mais chance temos de ganhar pois não vamos ser um problema para Iemanjá.

— Ela precisa ir para a luta ao invés de ficar tentando nos resgatar daqui. - completou Jacques.

A água havia se moldado formando um pequeno corredor que parecia ir da nossa bolha, até a superfície. Na entrada desse corredor, estava Iemanjá, que olhava tensa para a luta que acontecia pelo lago. Luta essa que eu mal conseguia acompanhar, mas sem dúvida fiquei preocupada quando Sarah surgiu na bolha, sendo atirada pela parede dela, rasgando-a e caindo no chão ensanguentada.


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Notas finais do capítulo

por hoje é só :3
comentem por favor!

vamos ficar até o final do mês sem mais capítulos pq eu vou viajar. e tbm pq vou ficar na esperança da galera q n leu os últimos caps, conseguir me alcançar. especialmente os q leem as 2 fics.
enfim, beijinhos e até o prox cap



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