Os Deuses da Mitologia escrita por kagomechan


Capítulo 131
WILL - A viagem para Londres


Notas iniciais do capítulo

no momento, estão nos EUA os grupinhos:
— Nova Roma: Frank, Lavínia, Hazel, Annabeth, Kayla, Grover, Percy, Piper,
— NY: Cléo, Paulo, Austin, Drew, Carter, Meg, Apolo e Zia
no momento, estão voando, os grupinhos:
— Indo para Europa: Reyna

no momento, estão na África, os grupinhos:
— Nigéria : Leo, Calipso, Olujime, Magnus, Jacques, Alex, Festus, Adunni (gótica trança filha de Iemanjá), Eniola (filho mecânico, gosta futebol), Sarah (tbm gosta de futebol)

no momento, os grupos que estão na EUROPA são:
— País de Gales: Caçadoras de Ártemis (Thalia, Ártemis, etc), Clarisse, Sam, Blitzen, Hearthstone, Mestiço, Mallory, Anúbis, Sadie, Will, Nico. // Maias-Astecas: Victoria, Micaela (a menina q parece Annabeth) e Eduardo (guri chato que o Mestiço deve estar querendo esganar), Ciara



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WILL

Depois de nossa merecida soneca utilizando as instalações de uma área de acampamento sem a permissão deles, antes de sair, espalhamos pro resto do pessoal as notícias sobre o que tinha acontecido, que derrotamos Hafgan e seu exército e que Mallory estava bem apesar de estar com memórias faltando. Depois voltamos até a praia onde tudo começou e lá, nosso grupo se separou. As Caçadoras, Clarisse e Ciara foram em direção à Irlanda na missão honrosa de devolver o corpo de Aaron para a família dele e de lá iriam se encontrar com Reyna. Enquanto isso, nossos amigos Maias e Astecas, numa leve mudança de planos, pegaram o barco de Sadie emprestado para irem até a Alemanha e continuarem a missão deles.

Ficar assim, do nada, tão longe do nosso barco era preocupante. Por isso Mestiço e Mallory foram com eles. Depois de deixar os maias e os astecas na Alemanha, eles voltariam com o barco até Londres, que era nosso destino, e lá nos encontraríamos. Também era uma boa chance para Mestiço e Mallory terem um tempo sozinhos, o que era óbvio que precisavam desesperadamente visto que Mallory ainda não se lembrava de muito. Seria melhor ainda se fosse uma viagem sem muitos acontecimentos e mais calma que a nossa.

Nosso ainda-nada-pequeno-grupo, que consistia então de mim, Nico, Sam, Sadie, Anúbis, Blitzen e Hearthstone, seguiu o caminho em direção a Londres depois de bem descansados. Eram quase 6 horas dirigindo aquele ônibus que arranjamos com Dagda até Londres então era impossível não pararmos para descansar e esticar as pernas um pouco no meio do caminho.

A última parada, a poucas horas de Londres e com o sol já se pondo, foi no estacionamento, cheio de árvores, de um hotel e um restaurante à beira da rodovia. Nossa motorista da vez, Sam, parou o ônibus no estacionamento e todos descemos para aproveitar as árvores e comida dos dois caldeirões que Dagda nos deu, que logo provaram-se ser literalmente infinitos. Não importa o tanto de comida que tirávamos dali, ela nunca diminuía a quantidade. 

Cada casalzinho ficou em seu canto, com todo mundo mais ou menos perto, comendo um pouco da sopa infinita do Dagda. Pera… Blitzen e Hearthstone são um casal? Não sei. Eu que não ia perguntar. Imagina se quebro a cara e não são, o que tem bem sentido também. De toda forma, era ao menos fato de que Sam tinha ao menos algumas velas para segurar.

Havia só duas árvores grandes na área que julgamos ser boa o suficiente para sentar e descansar e logo acabou virando uma certa disputa pelos troncos das árvores para se encostar. Hearthstone, Blitzen e Sam estavam sentados encostados em uma, ocupando todo o espaço ao redor do tronco. Acho que pra tentar economizar o espaço limitado da outra árvore… ou não, na verdade não acho que foi por isso, Anúbis estava sentado encostado na árvore e Sadie estava sentada na grama entre as pernas dele, com as costas apoiadas nele e me deixando rapidamente com inveja. Quem sabe um dia Nico ficasse mais confortável com demonstrações públicas de afeto.

Os dois caldeirões com a sopa e sua versão vegetariana estavam no meio do caminho entre as duas árvores e eu era o último faltando colocar minha parte da comida infinita, ou melhor, o último interessado em comer alguma coisa, pois Anúbis ainda não tinha tocado em nada. 

— Acho que a gente deveria ter ido junto com Mestiço e Mallory. - dizia Blitzen entre uma colherada e outra.

— Os dois precisam de um tempo entre eles. - respondeu Sam enquanto Hearthstone também sinalizava algo - E preferencialmente tranquilo… e eu não poderia ir de qualquer jeito.

— Muito complicado essa de dividir a atenção. Queria estar aqui com você e Hearth, ao mesmo tempo queria ter ido com o Magnus e a Alex pra Nigéria e ao mesmo tempo queria ir com o Mestiço e a Mallory… - admitiu Blitzen - Magnus e Alex já devem ter chegado né?

— Espero… - disse Sam e logo a conversa ficou focada em ESL e consequentemente eu não conseguia mais acompanhar.

— O cheiro está bom… - disse Anúbis em outra conversa totalmente diferente só que com Sadie.

— Quer experimentar? - perguntou ela já preparando a colher antes mesmo de ele responder.

— Acho que sim. - respondeu ele e ela prontamente levou a colher até a boca dele e ele afirmou com a cabeça.

— Bom né? - perguntou Sadie voltando a comer - Ainda bem que Dagda deu esses ensopados para nós. Seria terrível ficar fazendo essa viagem e tendo que parar toda hora para encontrar comida ou simplesmente ficar sem energia por estar com fome.

— Super concordo! - disse enquanto terminava de colocar minha comida em um dos pratinhos de plástico que arranjamos no caminho, e fui na direção da árvore que Nico dividia com Anúbis e Sadie.

— Falando nisso, eu tenho uma pergunta meio… burra… - admitiu Anúbis.

— Você com uma pergunta burra? - perguntou Sadie incrédula e eu até estava também, então fui me sentando em meu cantinho, ao lado de Nico, curioso com a pergunta.

— Qual é a sensação de ficar com fome? - perguntou Anúbis.

— Você… não sabe? - perguntou Sadie.

— Bem… eu sei a teoria. Sei que se morre de fome se ficar muito tempo sem comer, que deve ser uma sensação horrível, que isso deixa a pessoa bem mais magra e assim em diante… - tentou-se explicar ele - Era provavelmente a morte mais comum quando o Nilo não inundava, então a parte técnica entendo bem, mas… a sensação não, especialmente quando não é ainda a fome mortal. O mesmo para a sede.

— Ahm… bem… - disse Sadie pensativa - A fome, e a sede também, do dia a dia é bem diferente com certeza, apesar de eu nunca ter chegado nesse extremo de ficar muitos dias sem comer ou beber.

Sadie foi tentando encontrar as suas palavras para explicar como era fome e sede mas minha atenção mudou completamente. Fui olhar para Nico, que estava quieto demais, para tentar incluí-lo na conversa, mas já estranhando a necessidade de ter que fazer isso. Nico estava se dando bem com Anúbis desde do começo dessa confusão toda (um lado bom que iria sair disso provavelmente), nem uma vez eu tive que incluí-lo em conversa nenhuma se fosse entre os dois. Que orgulho.

Mas, não precisei olhar por mais do que um segundo para confirmar que ele não parecia normal. Nico parecia meio quieto e pensativo (ao menos considerando a média dele). Eu ignorei as conversas dos outros e decidi focar toda minha atenção em Nico, então, olhei para ele, que remexia sua sopa pensativamente, e perguntei:

— Quer compartilhar o que passa na sua cabeça?

— Não muito, pra falar a verdade. - admitiu ele suspirando pesadamente.

— Tem certeza? - perguntei - Sabe que qualquer coisa estou aqui.

— Não tenho certeza… - respondeu ele - Mas obrigado. Talvez mais tarde.

— Quando quiser. - respondi me esticando para dar um rápido beijo na bochecha dele.

Ele logo ficou bem vermelho enquanto tentava ficar sério e não mudar de expressão, o que sinceramente achei fofo. Ao nosso redor, os outros também não estavam tão cheios de energia assim. Com certeza poderíamos ter mais alguns minutos, ou dias, descansando em algum lugar mas, por enquanto, já era lucro não termos inimigos e nem chuva. Seguindo a falta de energia geral, foquei na minha comida, mas constantemente olhando para Nico, tentando deduzir algo pelo silêncio dele. 

Aí, do nada, com o canto do olho vi uma luz surgir do lado que Sadie estava. Eu e Nico nos viramos prontos para entrar em combate mas, no final das contas, foi só uma mensagem de Íris de Carter dando um susto em todos nós.

— Você me assustou! - reclamou Sadie - Não podia ter ligado?

— Apolo disse que assim seria mais seguro… - justificou Carter olhando lentamente para Sadie e logo ficando vermelho notando como ela estava sentada - Ahm… Sadie...

— Eu… - disse Sadie só esperando enquanto todos acabavam se reunindo ao redor para acompanhar também qual era o recado.

— Aconteceu algo? - perguntou Blitzen.

Carter respirava fundo e logo, atrás dele, no que parecia ser a sala da Casa do Brooklyn, apareciam Apolo, Meg e Zia. Meg estava devorando um pacote de Ruffles aparentemente sozinha, ou ao menos não estava oferecendo para ninguém.

— Ahm acabei de voltar de uma reunião com os deuses. - disse Carter claramente tentando focar e acho que não dar uma de pai, quando não era, e dar uma bronca em Sadie por simplesmente estar fazendo o que eu queria estar fazendo com Nico - E… muita coisa aconteceu lá e conseguimos algumas informações sobre coisas que vocês vão precisar fazer aí no Reino Unido.

— Muita coisa! - acrescentou Apolo - Até tem a Biblioteca de Alexandria no meio!

— Biblioteca de Alexandria? - perguntei confuso e curioso.

— É! Thoth e Atena salvaram parte dela e a cultivaram. - disse Carter empolgado -  E tem um monte de coisa sobre isso e também tem a possibilidade de conseguirem derrotar o monstro que segue Sam.

— Conte mais! Por favor! - pediu Sam.

Foi uma longa explicação que Carter nos passou que incluía como acessar a biblioteca, o fato do Sharur, a única arma capaz de matar o Asag, aparentemente estar no British Museum graças à Atena, e o fato dos magos do Egito estarem escondidos no Sudão, perto da fronteira com o Egito, tentando montar um exército com vários outros povos. Resumindo, várias boas notícias para nós.

Outras boas notícias, eram os deuses toparem ajudar… do jeito deles… na pior das hipóteses, ao menos meu pai estava ajudando agora sem medo de Zeus transformar ele em mortal de vez. A preocupação de alguém tentar ocupar o lugar vago deixado por Hafgan, não era boa notícia para nós. Teríamos que ficar de olho nas coisas pela Europa ainda.

Além disso, ainda tinha o detalhe de que teríamos que encontrar um gênio. Legal saber que gênios existem e tal mas saber que ele poderia estar em algum lugar da Europa OU da Ásia não ajudava muita coisa. 

— Bem que na época que a biblioteca queimou achei que Thoth estava escondendo algo… - comentou Anúbis.

— As partes do British Museum vão ser fáceis. - disse Sadie - Conheço o museu como a palma da minha mão. Não deve ter lugar que eu fui mais.

— Você não tem cara de ser viciada em museu, sem ofensa. - comentei.

— Não sou. - respondeu Sadie com um sorriso torto - É que… meu pai é egiptólogo e eu só o via duas vezes por ano porque ele estava viajando com o Carter e ainda por cima não tinha minha guarda, que acabou ficando com meus avós, que pra piorar não gostam muito dele… então eu gostava de ir até lá e ficar umas horas na parte egípcia… me sentia mais perto dele assim. 

— Sadie… - disse Carter todo cabisbaixo.

— Desculpe por ter perguntado… - falei.

— Não. Tudo bem… - respondeu ela, não parecendo que estava de fato “tudo bem”, mas também tive a sensação que uma vez foi pior - Faz parte né? Às vezes sua mãe morre e consequentemente, seu pai fica bem ausente e aí seu pai se funde com um deus egípcio que não pode sair do submundo e aí sim que você não vê mais ele. Só mais um dia normal na vida dos irmãos Kane.

Se Carter tinha qualquer intenção de reclamar sobre qualquer coisa que fosse com Sadie, com certeza essa vontade morreu depois disso. Eu queria compensar de alguma forma pela pergunta e quebrar aquele clima ruim que ficou, mas não sabia bem como. Notei que claramente não era o único. Carter estava com uma cara pensativa também, Anúbis já tinha entrelaçado os dedos de uma das mãos com os dela enquanto a outra colocava uma das mechas do cabelo dela atrás da orelha, provavelmente para facilitar para ele ver o rosto dela direito.

— Gente… eu disse que tá tudo bem… - disse ela notando o climão que ficou.

— ABRAÇO EM GRUPO NA SADIE! - gritei.

— Pera! Quê? - exclamou ela no pouco segundo que ela teve antes de eu ir para cima dela puxando Nico junto - PERA! A SOPA!

— WILL! PERA! - exclamou Nico também.

Sadie e Carter começaram a rir, especialmente Sadie, que ainda estava tentando salvar o resto de sua sopa, com perigo de cair no meio daquele bolo que se formou comigo, Nico, ela e Anúbis. Sem se juntar à nossa bagunça, Sam começou a rir também. 

— Só solto quando me abraçarem também! - reclamei.

Praticamente só eu estava abraçando qualquer um ali no começo, e os outros estavam só tentando sobreviver ao ataque de abraço, então minha reclamação era muito válida. Nico foi o primeiro a responder ao abraço e imediatamente eu senti que ele estava menos emburrado e preocupado com o que deixava ele cabisbaixo antes. Sadie, do jeito que dava considerando que tinha um resto de sopa para manter viva, foi a próxima.

— Anda… Vem! Inventou de ficar com mortais, agora tem que se juntar às nossas loucuras e baboseiras também. - reclamei vendo que Anúbis ainda não tinha feito nada e estava, vermelho como um tomate, parecendo tentar fugir e evitar o contato disfarçadamente.

— Verdade. - concordou Sadie rindo.

— Tá… tá… - resmungou ele bem aborrecente emburrado, mas logo se juntou no abraço em grupo.

Apesar do quase desastre de sopa derramada, foi um abraço legal, ao menos eu achei e sei lá… não acho que os outros discordariam, nem que fosse só lá no fundo. Até mesmo Nico e Anúbis que certamente estariam na final de uma competição para ver quem era mais anti-social. Mas, ainda assim, certamente os outros ficaram felizes quando eu os soltei… especialmente os dois.

— Bom ver que são amigos… - disse meu pai que parecia estar segurando a risada.

— Não conte isso pra ninguém. - reclamou Anúbis, ainda vermelho, apontando pro meu pai.

— Não vou. Prometo. - respondeu Apolo com a mão no peito - Não quero acabar com sua reputação com a turma dos deuses emo-góticos e acabar no seu lado ruim.

— Também prefiro que meu pai não saiba. - acrescentou Nico.

— Também não quero ficar do seu lado ruim. - acrescentou meu pai.

— Ih, acho que sua reputação só vai ladeira abaixo agora… - disse Sadie rindo apertando as bochechas, ainda vermelhas, de Anúbis entre uma das mãos.

— Infelizmente eu concordo… - resmungou ele, mas logo começando a fazer o mesmo com a bochecha dela - Culpa sua.

— Devo lembrar que você quem começou quando roubou meu primeiro beijo naquele cemitério? - perguntou ela soltando a bochecha dele e ele logo fez o mesmo com as dela.

— ONDE? - exclamou Blitzen.

— Diferente. - disse Meg rindo.

— Tanto lugar pra um primeiro beijo… - comentou Sam e eu quase comentei o mesmo mas fechei a boca ao notar que parecia fazer sentido quando se parava pra pensar.

— Então… - disse Sam enquanto Blitzen parecia repassar tudo para Hearthstone não ficar perdido - Algo mais que deveríamos saber?

— Obrigado por trocar de assunto… - resmungou Carter - Bem… erm… a batalha vai toda convergir no final pro Egito provavelmente. Nas pirâmides de Gizé ou a de Djoser. A biblioteca escondida de Alexandria tem uma saída pra Nova Biblioteca de Alexandria, então pode ser que vire um atalho útil para chegarem no Egito mais rápido.

— Anotado. - respondi.

— Quando vão chegar em Londres? - perguntou Zia.

— Estamos só a entre uma ou duas horas de lá. - respondeu Sam.

— Sadie, pegou o endereço do Nomo de Londres para ficar lá caso queiram dormir, descansar e etc? - perguntou Carter.

— Sim. - garantiu Sadie - Mas… certeza que vai dar certo? Não disse que ele está vazio?

— Com certeza vai estar no mínimo cheio de poeira e teia de aranha. - respondeu Carter - Mas é melhor do que nada.

— Vamos ver no que dá. Vai que essa biblioteca de Alexandria tem um cantinho bom para dormir? - perguntei.

— Ao menos temos a comida infinita do Dagda. - disse Nico.

— Vamos deixar para entrar no British Museum nos últimos horários, aí ficamos lá até fechar. - disse Sam.

— Para isso temos que esperar até amanhã. - disse Sadie - Ele com certeza já fechou por hoje.

— Ganhamos um dia de descanso então? - perguntei esperançoso.

— Tomem cuidado. - pediu meu pai.

— Relaxa. - falei - Nós sabemos e os deuses celtas não estão deixando aquele Asag irritante entrar no Reino Unido.

— Sabem alguma coisa do pessoal da Nigéria? - perguntou Blitzen aparentemente repassando a pergunta de Hearthstone.

— Já ia perguntar o mesmo. - disse Sam.

— Ainda nada. - respondeu Zia - Assim que nos mandarem algo, passamos para vocês.

— Obrigado. - disse Blitzen.

— Por favor. Obrigada. - disse Sam - Vamos terminar de comer e então voltamos para estrada, que tal?

— Pode ser. - concordou Blitzen.

— Sim. - disse Sadie.

E foi exatamente isso que fizemos. A mensagem de Íris acabou, terminamos de comer, arrumamos nossa bagunça, esperamos um tempo para Sam fazer sua oração do pôr do sol, e voltamos para o ônibus. Todos foram entrando e eu fui tentando enrolar para eu e Nico sermos os últimos para que assim eu conseguisse ver que ponto do ônibus estava mais vazio para que eu pudesse puxar Nico para lá. 

Na parte da frente do ônibus, começava uma aula de ESL para Sadie e Anúbis que provavelmente, assim como eu, ficavam incomodados por não conseguirmos incluir Hearthstone tanto assim nas conversas. Eu com certeza deveria me juntar a aula, mas estava preocupado com Nico.

— Essa é a hora que você vai começar um interrogatório sobre o que está na minha cabeça? - perguntou Nico enquanto Sam ligava o ônibus e começava a andar.

— Ainda bem que me conhece já muito bem. - respondi - Mas só se quiser, claro. Mas aqui estamos mais sozinhos então… imagino que seja mais fácil caso você queira conversar. Mas se preferir também, podemos ficar aqui sem tocar nesse assunto até o final da viagem.

Nico suspirou e ficou quieto. Não o pressionei, deixei ele ter o tempo dele. Fiquei esperando até que eventualmente começou a chover, provando que tínhamos saído na hora certa. Eventualmente, Nico suspirou de novo e eu senti que era agora que vinha a explicação.

— Naquela hora, no barco… - disse Nico baixinho, para ter certeza que era só eu que escutava - Eu perdi o controle de novo…

— É nisso que estava pensando? - perguntei no mesmo tom de voz.

— Sim… - respondeu ele - Você se machucou, fiquei irritado e eu não lembro mais nada, mas já entendi o que aconteceu. Foi que nem na vez contra o Bryce. Eu não melhorei nada.

— Melhorou bastante sim! - reclamei - Você aguentou bastante considerando que logo depois estávamos em outra luta. 

— Ainda assim, perdi o controle completamente. - resmungou ele - E se fosse alguém que não merecia? Ou se algum acidente acontecer?

— Bem… é uma preocupação válida…. - eu disse, lentamente, tentando ganhar tempo para pensar no que dizer - Mas não aconteceu dessa vez.

— Mas e se acontecer da próxima? - perguntou Nico.

— Aí você tem tempo pra focar um pouco nisso para que não aconteça isso da próxima vez. - sugeri, segurando apertado na mão dele - Talvez… foco no talvez, tá? Se você tentar respirar fundo quando acontece algo que sabe que vai te irritar bastante.

— O problema vai ser lembrar disso na hora. - disse Nico.

— Eu te lembro. - prometi.

— Como você vai me lembrar se a única coisa que vai conseguir me deixar tão irritado assim é ferirem você? - questionou Nico o que, tenho que admitir, fiquei lisonjeado e provavelmente vermelho - Mais fácil eu não deixar ninguém chegar perto de você.

— Não tem como você estar sempre em todo lugar. - respondi - Melhor seria se não tivesse que se preocupar com isso? Com certeza. Mas se acontecer, tente lembrar de respirar fundo e pensar um pouco… por exemplo… tinha gente lá para me curar e também para impedir que eu me machucasse mais. Não era um beco sem saída.

— Certo… - disse Nico suspirando pesadamente.

— Você não está sozinho para lidar com as coisas. - lembrei.

Aproveitando o momento, e porque eu até achei fofo ele preocupado comigo, deitei a cabeça no ombro dele (por mais que eu tivesse que me inclinar bastante para isso). Afinal, eu tinha uma inveja pendente para resolver e acho que os assentos do ônibus formavam uma semi-privacidade que seria suficiente para Nico não ficar desconfortável e sem graça com um pouco de carinho.

Nico realmente recebeu o carinho de bom grado, tanto que até deitou a cabeça sobre a minha e resmungou bem baixinho:

— Obrigado.

— De nada. - respondi.

Ficamos lá por um tempo… até minhas costas reclamarem do tanto que estava inclinado, e acabamos trocando a ordem das cabeças para ficar mais confortável considerando nossas alturas. No meio do caminho, o pessoal da Nigéria ligou, Sam estava no volante, mas consegui ouvir Magnus falando com Blitzen.

— Deram até comida para a gente… Leo e Calipso foram até com um cara que eu esqueci o nome pegar um pouco de óleo pro Festus, aquele dragão de metal lá, comer. Estamos aqui no nosso quarto esperando por eles agora. - explicava Magnus no viva voz - A Sam consegue ouvir daí?

— Consigo! - exclamou Sam lá do volante - Mas tô muito focada aqui no trânsito então me conte depois as coisas, Blitzen, por favor!

— Conto! - prometeu Blitzen e deduzo que a conversa era videochamada, pois logo nenhum dos dois falaram mais nada mas ainda ouvia resmungos, risadas e outros barulhos da chamada, provavelmente tinham trocado para ESL para incluir Hearthstone melhor na conversa.

Eu já estava quase pegando no sono, as luzes intensas e maior movimento nas ruas já provaram que a gente estava em Londres, e a voz de Alex me acordou:

— Magnus, desliga aí. - disse ela na chamada - Vamos atrás do Leo, da Calipso e do Festus. Eles estão demorando demais.

— Ok. Tchau. Vou atrás deles. - disse Magnus.

O silêncio voltou pro ônibus, só ouvia o barulho do motor até que Sadie se levantou e foi ajudar Sam a encontrar o caminho para o tal Nomo londrino. Eventualmente, o ônibus parou e Sam declarou:

— Chegamos.

Eu olhei pela janela e vi pequenos prédios de época, imprensados uns contra o outro, como se fosse um único longo prédio com várias entradas e com certeza paredes lá dentro que separavam tudo, que certamente me passavam a visão de “Inglaterra”. Me senti em alguma série ou filme britânico. Não sei o que eu esperava de uma base abandonada de magos, mas só via um bairro residencial… se bem que isso não era muito diferente da Casa do Brooklyn.

— Ah! Londres! - exclamou Sadie - Que saudade!

— Você morou quanto tempo aqui? - perguntei. 

— Quase sete anos. - respondeu ela - Vim para cá aos 6 anos.

Ela certamente parecia cheia de saudade, pois foi a primeira a descer do ônibus. Nós a seguimos e nos reunimos diante de um dos prédios… ou seriam apartamentos? Vou ficar com a segunda opção. Logo atrás de mim, Blitzen e Hearthstone desceram carregando os caldeirões com nossa comida infinita.

Como estava de noite, e o chão molhado provava que até a pouco estava chovendo, a rua estava vazia, o que era muito bom para nós. Sadie, com o celular na mão, olhava do celular para a casa e para a rua, com certeza checando o endereço por uma segunda ou terceira vez. Ela tirou do bolso uma chave que entrou perfeitamente no buraco da porta.

Sadie destrancou a porta, que abriu com um rangido que provava o quão velho e largado era o lugar. Com um passo receoso, ela entrou no nomo e nós a seguimos, um atrás do outro. Nós entramos num dos lugares mais cheios de poeira e eu já vi, mas era possível ver que um dia teve seu charme (e foi limpo). Ao cruzar a porta, senti um leve arrepio que, depois de entrar e sair da Casa do Brooklyn tantas vezes, eu já conseguia deduzir que era uma barreira de proteção, mas ali foi muito mais fraca.

Hearthstone, o último de nós, fechou a porta e nós fomos levemente surpreendidos com o eco enorme que a porta fez quando foi fechada. Ali claramente estava bem vazio.

Eu esperava que fosse mais apertado, considerando a distância entre duas portas quando se via o prédio pelo lado de fora, mas de um lado havia um espaço bem generoso para uma sala de estar, com lareira e sofás meio anos 20, azuis celestes, com detalhes de metal dourado e que ficavam na frente de uma enorme janela que dava para a rua onde estávamos. Do outro lado, ainda havia uma cozinha tão datada quanto a sala e no corredor, entre os dois, uma longa escada que subia e também uma que descia para o subsolo. 

 O mesmo eco de antes se repetiu quando Hearthstone e Blitzen deixaram nossa comida infinita na bancada da cozinha espaçosa. Hearthstone até abriu a geladeira para ver o que tinha ali, mas apenas duas aranhas bem pequenas saíram correndo com mais medo de nós do que nós dela. Considerando o potencial que uma geladeira esquecida tinha para coisa nojenta, acho que ela ter apenas aranhas era uma vitória. Mas falo isso pois não sou Annabeth.

— Aqui parece ser até grande. - disse Sadie. 

— Será que tem água no banheiro? - perguntou Sam.

— Hearthstone quer saber se não querem se separar para ver tudo e ter certeza que estamos sozinhos. - traduziu Blitzen. 

— É exatamente assim que as coisas começam a dar errado em filmes de terror. - falei. 

— Não estamos num filme de terror. - disse Sam. 

— Até onde sabemos. - acrescentou Nico. 

— Já te coloquei pra ver Scooby Doo? - perguntei pra Nico. 

— Não… - respondeu ele. 

— Você nunca viu Scooby-Doo? - perguntou Sam surpresa.

— Meio complicado se atualizar de tudo quando se nasceu na época da Segunda Guerra Mundial. - disse Nico.

— É tão fácil esquecer que você é mais um idoso no grupo. - disse Sadie. 

— Ei! - reclamou Nico. 

— Bem, de toda forma, mais um pra vermos quando voltarmos. - falei - Vamos torcer pra se que nem Scooby Doo, que tudo dá certo no final. 

Assim, bem Scooby-Doo nos separamos em dois grupos para explorar o lugar. Era um lugar claramente abandonado e o silêncio parecia mostrar que estava vazio, mas ninguém teve coragem de falar nada nem gritar para confirmar isso. Passei por um lavabo e segui em direção a escada que descia enquanto o outro grupo subiu as escadas.

Notei, dentre algumas coisas, que a escada para o subsolo, ao contrário da que subia, descia em espiral, ao redor de uma pilastra de madeira com nichos esculpidos. Em cada nicho, havia uma pequena estátua de um deus egípcio com o nome escrito na base. Passei por deuses como Rá, Shu, Tefnut, Geb, Nut e os nomes continuavam conforme descia, e não surpreendentemente, uma hora até apareceu a pequena estátua de Anúbis.

— Não acha estranho? - perguntei, me virando para ele que havia me seguido junto com Sadie e Nico, após a divisão de nosso grupo - Ter estátuas e pinturas suas por aí? Tipo, pessoas rezam para você. 

— Me acostumei. - respondeu ele dando de ombros.

— Isso é uma livraria? - perguntou Sadie ligando a lanterna do celular e apontando a luz para o destino final da escada em espiral e, de fato, lá estava uma biblioteca, mesmo que muitas das prateleiras estivessem vazias.

— Espero que a Biblioteca de Alexandria não seja tão deplorável. - disse Nico.

— Mas será que algo interessante foi deixado para trás? - perguntou Sadie.

— Por enquanto, vamos confirmar que estamos sozinhos. - sugeri.

A biblioteca continuava por mais alguns andares mas, no final das contas, não havia mais nada ali além de uma biblioteca depressiva e um banheiro esquecido. Começamos então a subir, para explorar mais da parte de cima com os demais. Voltamos para o térreo e começamos a subir. Olhando para cima da escada, ali devia ter pelo menos mais uns três andares e, pelo o que percebi quando chegamos no primeiro, havia muitos quartos. Todo o primeiro andar era composto de quartos, com banheiros próprios. Como tinha quartos dos dois lados do corredor, eu tive certeza que a visão de fora do tamanho do apartamento não era compatível com seu interior.

— Gente… - disse Sadie olhando para cima - Acharam algo?

— Só quartos. - respondeu Blitzen - A maioria vazia. Mas tem dois com um colchão esquecido e outro com a parte de madeira de uma cama.

— Se tivermos energia para a limpeza, dá para dormir muito bem aqui. - disse Nico - Ainda temos os sofás.

— Com certeza é acima da nossa média. - concordei.

— Venham ver isso! É lindo! - exclamou Sam.

Fomos subindo e subindo, passando por vários quartos até que alcançamos Sam e os demais. Eles estavam diante de uma porta que levava para o telhado do apartamento. Lá, havia uma laje contornada pelo telhado de fato, que escondia aquela área de quem tentasse ver da rua. Era menos espaçoso ali e tudo que havia era um amontoado de vasos de tamanhos diferentes com flores mortas dentro. Não era nada demais… se você ignorasse a vista, pois lá longe dava para ver as luzes de enormes e modernos prédios com arquitetura que fariam Annabeth babar. Londres podia ser velha, mas parecia que tinha seu lado moderno afinal de contas também.

— Por favor diz que vocês tem alguma magia de limpeza pesada. - pediu Blitzen - Seria tão bom dormir sem ser no mar, nem num ônibus, nem ao ar livre… Não tô nem ligando para a poeira. Esse é o nível de cansaço que eu estou.

A expectativa de ter uma noite acima da média foi o que nos motivou a insistir na arrumação do lugar, mesmo que mínima. Não parecia nada agradável dormir em sofás e colchões cheios de poeira e sabe-se lá mais o quê, então tentamos limpar eles o máximo possível usando jeitos normais e mágicos até conseguirmos algo suficientemente bom.

Nos separamos pelos sofás e colchões, eu e Nico tendo que dividir colchões já que não havia um para cada, Sam fez sua última oração do dia e dormimos como uma pedra. Acordei no dia seguinte com Sam se levantando.

— Não fica com preguiça de acordar cedo para essa primeira oração? - perguntei letárgicamente mais dormindo do que acordado.

— Essa já é a segunda. Já é meio dia. - respondeu ela - Já está bom de todos acordarem. Logo temos que ir para o British Museum.

— Só mais cinco minutos, mãe. - resmunguei fechando os olhos de novo.

— Só faltam você e Sadie. - disse Blitzen de algum lugar que eu não me preocupei em procurar.


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Notas finais do capítulo

por hj é só, próxima fic a ser atualizada é do Anúbis. até o prox cap :3



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