Os Deuses da Mitologia escrita por kagomechan


Capítulo 134
SADIE - A Biblioteca de Alexandria


Notas iniciais do capítulo

olá! bem vindos a mais um cap! e esse saiu rapidinho eim? divirtam-se :3


no momento, estão nos EUA os grupinhos:
— Nova Roma: Frank, Lavínia, Hazel, Annabeth, Kayla, Grover, Percy, Piper,
— NY: Cléo, Paulo, Austin, Drew, Carter, Meg, Apolo e Zia
no momento, estão voando, os grupinhos:
— Indo para Europa: Reyna

no momento, estão na África, os grupinhos:
— Nigéria : Leo, Calipso, Olujime, Magnus, Jacques, Alex, Festus, Adunni (gótica trança filha de Iemanjá), Eniola (filho mecânico, gosta futebol), Sarah (tbm gosta de futebol)

no momento, os grupos que estão na EUROPA são:
— Indo para a Irlanda: Caçadoras de Ártemis (Thalia, Ártemis, etc), Clarisse
— Inglaterra: Sam, Blitzen, Hearthstone, Anúbis, Sadie, Will, Nico.
— Indo para a Alemanha: Mestiço, Mallory // Maias-Astecas: Victoria, Micaela (a menina q parece Annabeth) e Eduardo (guri chato que o Mestiço deve estar querendo esganar), Ciara



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SADIE

Foi bom ter uma noite de sono em algo que parecia remotamente um quarto, mesmo que um quarto compartilhado e meio sujo de poeira. Depois de comer e ter a infeliz certeza de que o chuveiro não estava funcionando, nos preparamos e abrimos a porta. Eu estava alegre por receber aquele ar londrino com cheiro de chuva com um toque de poluição, seria bom se fosse cheirinho de chá. 

Em outra situação, quem sabe eu arriscaria até uma visita aos meus avós. Estava morrendo de saudade. Mas não tínhamos tempo para isso e não queria envolver meus avós nessa bagunça toda.

— Você sabe o caminho para o museu, Sadie? - perguntou Sam.

— Sei sim. - garanti.

— Quão estranho será parar no banheiro do museu para lavar o rosto? - perguntou Blitzen ao mesmo tempo que sinalizava provavelmente o mesmo para Hearthstone.

Hearthstone pareceu ter respondido, não sei se foi na própria resposta ou traduzindo o que Hearthstone disse, mas Sam falou:

— Um pouco, na melhor das hipóteses.

Fechei a porta do Nomo um pouco com medo de não conseguirmos abrir de novo quando voltássemos. Até abri e fechei outra vez antes de seguirmos em direção ao British Museum. Já passava bastante do meio dia quando chegamos diante da enorme fila de pessoas, turistas e grupos escolares entrando lá. 

— O museu fecha às 17 horas. - expliquei olhando para o relógio do meu celular - Temos 2 horas para tentar chegar na Biblioteca sem ninguém nos ver ou esperar até fechar para uma operação meio Noite no Museu.

— Podemos até aproveitar e de fato passear pelo museu como turistas normais. - disse Will.

— Numa outra ocasião, quem sabe. - disse Sam.

Da fila, encarei a enorme entrada do British Museum, mesmo alguém sem diploma de historiador, como eu, conseguia ver que a entrada era inspirada na arquitetura da Grécia Antiga. A entrada tinha enormes colunas com o topo enfeitado com dois caracóis que eu lembrava de ter visto em alguma aula de artes ou história e, em cima dessas colunas, havia um enorme triângulo que formava o teto. Nele tinha várias estátuas que, vou chutar, provavelmente eram de deuses gregos.

Do meu lado, estava um Anúbis meio quieto (mesmo para a média dele) também encarando o museu. Prontamente segurei a mão dele imaginando ao menos parte do motivo da rabugentisse dele.

— Tudo bem? - perguntei mesmo assim, para avaliar o terreno.

— Museus europeus com coleções egípcias não são exatamente lugares que gosto muito. - respondeu ele.

Claro que não. Ainda mais logo o British Museum. Deus ou não, o cara ainda era um egípcio da época do Antigo Egito prestes a entrar num museu cheio de objetos roubados do Egito, dentre esses objetos, a famosa Pedra Roseta. E se a gente for considerar a parte divina dele… bem… tenho certeza que tem uma múmia lá dentro e ele meio que deveria proteger elas.

— Quem sabe um dia eles devolvam as coisas? - perguntei - E os outros museus também.

— Pena que é tarde demais para devolverem as múmias que destruíram. - resmungou ele.

— O que eles fizeram com as múmias? - perguntou Nico, logo atrás de nós.

— Achavam que era um remédio super-natural e comiam e também transformavam em tinta. - respondeu Anúbis.

— Ah é… tinha esquecido dessa… nojento.. - disse Will logo ao lado de Nico, ambos com cara de nojo

— Eles…. o quê?! - exclamou Blitzen - Que nojo! São pessoas mortas!

A conversa morreu quando chegamos na segurança e obrigada pela magia, névoa ou sei lá o que, pois ele não viu nada demais em um bando de adolescentes entrando no museu armados com espadas, varinhas, machados e etc. Passamos então pela segurança e fomos para a escadaria que levava até as colunas gregas.

Quando entramos, qualquer cara de arquitetura antiga sumiu pois logo surgiu um enorme salão redondo, com teto de vidro, extremamente moderno. O resto do pessoal, com exceção de Anúbis que parecia não ver nenhuma novidade ali, ficou chocado olhando para tudo ao redor. 

No centro do Salão, havia uma enorme sala redonda também que praticamente servia como uma coluna gigante para segurar o lindo teto de vidro. Uma escada bem longa começava de cada lado dessa sala, a rodeava e subia para o primeiro andar do museu, direto para a coleção egípcia, até onde eu lembrava. Ou melhor, metade dela. No topo dessa sala circular, quase beirando o teto, estava um texto, meio ruim de ler, indicando que alguma coisa ali, talvez a reforma daquele salão de entrada inteiro, era uma homenagem ao aniversário de alguma coisa da Rainha Elizabeth II.

— A coleção egípcia é dividida em duas partes. - expliquei pro pessoal - Uma subindo ali e outra indo ali pela esquerda, por aquele corredor ali, logo depois da coleção suméria.

— Essas duas metades são grandes? - perguntou Blitzen.

— Sim. - respondi.

— Vamos juntos então e nos dividimos dentro de cada sessão. - sugeriu Sam.

— Podemos começar logo pela que fica aqui no térreo. - completou Will.

Carter disse que, segundo Thoth, a entrada estava escondida em alguma parte da sessão egípcia do British Museum. Na primeira parte da área egípcia, nos separamos depois que eu e Anúbis fizemos um feitiço para ajudar o pessoal a ver pelo Duat também, para ver a porta escondida. Passamos por várias estátuas, objetos, papiros e até a própria Pedra Roseta, mas não achei nada de mágico escondido por lá. 

Estava esperando algo brilhar ou uma porta surgir, ou até alguém estranho aparecer querendo falar com a gente. Mas mesmo eu forçando a olhar pelo Duat, eu não via nada. Só um bando de turista tirando foto de vários artigos históricos. Cada buraco, mesmo que não fosse possível haver uma porta nele, eu olhei. Me grudei nas paredes até apalpar elas e os turistas me olharem achando que estava louca, mas não encontrei nenhuma porta mágica ali.

Acabamos lentamente nos reunindo de novo ao redor da Pedra Roseta, a super importantíssima Pedra com a mesma coisa escrita em grego, egípcio e demótico. A chave para os textos egípcios finalmente serem traduzidos depois de anos sem ninguém saber ler.

— Você sabe o que está escrito? - perguntou Sam olhando para mim e apontando para a Pedra Roseta. 

— Ah, nada muito interessante. - respondi - É só um sem graça decreto qualquer. “Os sumos sacerdotes e profetas bla bla bla, que vieram de todos os santuários do país a Mênfis ao encontro do rei Ptolemeu, bla bla bla.

— Legal, de fato dá pra entender alguma coisa da parte em grego. - disse Will.

— Não parece que aqui tenha alguma coisa. - disse Blitzen aparentemente traduzindo Hearthstone para nós - Vamos para o próximo andar.

— Se não está aqui, deve estar no próximo. - disse Nico - Não acham que deixaram passar nada né?

— Acho que não. - disse olhando para Anúbis.

— Também não acho que deixamos passar nada nesse andar. - respondeu ele.

Deixamos aquele andar para trás, fomos para a área central do museu de novo para subir a escada circular ao redor da sala central do museu. Chegando no primeiro andar, demos de cara com a segunda parte da coleção egípcia, que era bem maior do que a primeira. A parte central do museu, por dentro, era parecida com um quadrado. Aquela sessão egípcia ocupava toda aquela área de um dos lados do museu, de uma ponta até a outra, ocupando cinco salas. Certamente grande, mas a parte Greco-Romana era maior ainda.

A escada nos levou para a terceira das salas. Ou seja, tinha mais duas salas tanto para a esquerda, como para a direita. Íamos nos separar de novo para continuar a procurar, mas notei Anúbis parado encarando a múmia que tinha na sala da esquerda enquanto várias pessoas tiravam fotos dela.

— Você… vai para esse lado, ok? - disse passando o braço ao redor do braço dele e o levando para a sala da direita, para bem longe da múmia, e indicando a sala da múmia pro resto do pessoal - Nico, Will, olham esse lado aí, por favor?

— Pode deixar! - disse Will.

— Quero ir para o outro. - respondeu ele.

— Pra você pegar a múmia? - sussurrei - Não. Outro dia a gente rouba o museu. Um problema de cada vez. Você está de castigo comigo.

— Dificilmente um castigo, mas tudo bem… - resmungou ele olhando por cima do ombro em direção a múmia, que estava aparecendo em no mínimo duas selfies ao mesmo tempo - Eu aguento só olhar, não precisa se preocupar tanto comigo. Tirar foto com uma múmia, que eles aparentemente esquecem que é uma pessoa, está longe de ser a coisa mais irritante.

— Mesmo assim, deixa eu te poupar um pouco de ficar irritado e angustiado. - pedi enquanto Blitzen, Hearthstone e Sam checavam uma área perto de nós e eram atraídos pelos objetos em exposição.

— Eu estou bem. - garantiu ele.

 - Olha o tanto de ferramentas… e ferramentas diferentes. Para o que será que servem? - resmungou Blitzen pensando em voz alta ao nosso lado, focado no mostruário.

— Uhum. E eu sou a rainha da Inglaterra. - falei revirando os olhos - Acha mesmo que a essa altura eu não reconheço quando começa a brotar aí a sementinha do mal humor?

— Ganchos como este foram usados para remover o cérebro pelo nariz. - resmungou Sam aparentemente lendo a nota sob algum objeto - Raios-X de múmias às vezes mostram pequenos ossos na cavidade naval, causados ao remover o cérebro.

— Imagina a primeira pessoa que fez uma múmia falando “hey, temos que enfiar isso aqui no nariz pra tirar o cérebro.” - disse Blitzen, exasperado, mas sussurrando - A pessoa devia bater muito bem da cab-

— Eu fiz a primeira múmia. - disse Anúbis interrompendo Blitzen.

— Q-Quer dizer… genial! - corrigiu Blitzen apressadamente enquanto Sam e Hearthstone seguravam a risada - C-Com certeza alguém genial. Ser o primeiro a fazer algo não é fácil. Ah! Ouviram? Acho que o Will me chamou. Vou para o outro lado ver o que ele quer.

Blitzen saiu apressadamente mas, apesar de ele estar claramente com medo de ter ofendido Anúbis, o que aconteceu foi o oposto. Ele claramente parecia ter achado graça da reação de Blitzen, mas não tanto quanto Sam e Hearthstone. Hearthstone inclusive disse alguma coisa com Língua de Sinais e eu fiquei orgulhosa de ter entendido alguma coisa, afinal tivemos um pouco de aula no caminho até Londres. 

Reconheci quando Hearthstone colocou a mão aberta na frente do rosto e então afastou e fechou a mão. Como se estivesse montando um focinho. O sinal foi o como Hearthstone tinha batizado Anúbis (aparentemente a comunidade surda batiza as pessoas com o próprio sinal porque sair soletrando nome é um saco ou algo assim) e significava lobo, devido à falta de um sinal prático para “chacal”. Hearthstone tinha perguntado qual ele preferia entre lobo e cachorro, e ele disse que chacais são mais próximos de lobos então, deu nisso. 

O meu era o de “ouro”, por causa do meu cabelo e porque a forma que o sinal era e se mexia até combinava com minha personalidade. Ao menos eu sentia que combinava e Hearthstone também. Mas, voltando, o fato é que notei que estavam falando de Anúbis e Anúbis pareceu ter notado isso também, mas não pareceu ter entendido muito mais do que eu.

— O que foi? - perguntou ele.

— Hearthstone acha que Blitzen vai ficar com medo de Anúbis mesmo depois que essa confusão se resolver. - traduziu Sam.

— Também acho. - falei - Qual é o sinal de Blitzen?

Começou então uma breve aula de Língua de Sinais, na qual eu e Anúbis aprendemos os sinais “Blitzen”, “Sam”, “Hearthstone”, “confusão” e “medo”. Certeza que até o final do dia eu já teria esquecido ao menos metade e confundido a outra metade entre si, mas era um grande avanço. 

Íamos voltar a procurar pela entrada da biblioteca, quando Nico se aproximou de nós.

— Acho que achamos. - disse ele indicado Will e Blitzen, do outro lado, na última sala, com a cabeça acenando para nós de longe.

Fomos até onde Will e Blitzen estavam, passando direto pela múmia. Chegamos num cantinho muito estrategicamente localizado onde a parede se dobrava criando uma parte escondida das câmeras e ainda tinha, nos escondendo das pessoas também, uma espécie de muro do Antigo Egito remontado no meio da sala. E lá, no cantinho mais escondido de qualquer olhar curioso, estava uma porta que não estava lá de fato.

A porta era claramente mágica e era feita de luz roxa, só vista se a pessoa focasse na camada do Duat. Nico arriscou tocar na maçaneta, que parecia mais uma pintura 2D do que um objeto 3D, e conseguiu sem problemas.

— Deve ser aqui mesmo né? Não tem como ser algo normal essa porta. - disse Will olhando ao redor, para ver se alguém olhava na nossa direção.

Nico então girou a maçaneta e a porta, sem nenhum mistério, se abriu para dentro. Nos entreolhamos e encaramos a escuridão que parecia haver lá dentro. Com uma rápida olhada para os turistas ao redor, entramos um a um, o mais rápido e silenciosamente possível, na escuridão.

Não havia nada além da plena escuridão, por isso fiquei receosa em fechar a porta. Era muita responsabilidade como a última a passar. Ao menos a porta ainda parecia existir do outro lado.

— Acho que pode fechar… - disse Sam, embora não sentisse muita firmeza na voz dela.

— Também, mas… - disse, meio receosa.

— Eu sei. - respondeu Sam.

Torcendo para não me arrepender disso, fechei a porta. O pequeno ‘click’, comum de portas, pareceu enorme no meio daquele vazio. Mas, de repente, aquilo não era mais um vazio. Várias colunas enormes começaram a aparecer, formando um corredor na nossa frente. A base da cada coluna era iluminada e os estilos delas não combinavam nada entre si. Algumas eram claramente egípcias, com o topo bem colorido imitando papiros ou flores de lótus e outras eram gregas, com o topo liso, ou com os mesmos caracóis que as colunas do British Museum tinha ou com um bando de flores e folhas bem frufruzentas.

Começamos lentamente a andar seguindo o corredor de colunas iluminadas que aparecia diante de nós. Queria dizer que não ouvíamos mais nada além dos nossos passos, mas era claro que não estávamos sozinhos. Algo enorme parecia se rastejar e respirar na escuridão, nos deixando tensos.

Depois de sei lá quantas colunas, começou a aparecer uma construção de fato que parecia uma mistura de arquitetura grega e egípcia. Havia primeiro um grande portal exatamente como os gigantescos portais, com portas, que comparativamente eram minúsculas, mas que eram enormes ainda assim, que os egípcios gostavam tanto. Este portal era seguido por dois corredores com colunas gregas que rodeavam o pátio que vinha logo depois da entrada.

No centro do pátio, havia um espelho d’água com algumas flores de lótus flutuando e, mais além, depois de uma enorme escadaria, havia uma entrada bem grega praticamente idêntica à entrada do British Museum. A diferença era que, bem na frente da entrada, tinha uma mesa com uma moça  semi-transparente e uma estátua, ambos debruçados sobre uns livros e papéis. 

— Annabeth ia adorar ver tudo isso. - disse Will quando paramos, encarando a mulher e a estátua, que nos encaravam de volta.

— Hades é um hipócrita… - resmungou Anúbis logo ao meu lado.

— Porquê? - perguntei sem entender o motivo do comentário repentino.

— Aquela… é Hipátia de Alexandria. - explicou ele aos sussurros - Está morta a uns 1600 anos. Filósofa, matemática, astrônoma… a lista é longa. Provavelmente a primeira mulher a ser uma matemática.

— Já virei fã. - resmungou Sam logo do outro lado de Anúbis - Devemos nos preocupar com ela?

— A não ser que tenha mudado ou guarde muito rancor nesses 1600 anos, não. - respondeu Anúbis.

— Como ela morreu? - perguntei apressada quando vi a mulher se erguendo para nos receber… ou assim eu esperava, enquanto a estátua ficava para trás, no meio do caminho da entrada.

— Assassinada. - respondeu ele.

— Tá aí um ótimo jeito de morrer e não guardar rancor. - respondi sarcasticamente.

— Sarcasmo? - perguntou Anúbis.

— Sarcasmo. - respondi.

— Bem-vindos a Antiga Biblioteca de Alexandria. Atena avisou que viriam. Eu sou Hipátia de Alexandria e aquele… - disse Hipátia com um doce sorriso, virando um pouco para indicar com a mão a estátua, lá atrás, que estava de braços cruzados nos esperando como um guarda-costas da biblioteca - Aquele é Alexandre. 

Hipátia, ou o fantasma dela, parecia ter uns 40 e poucos anos, tinha um cabelo castanho bem claro e ondulado que estava preso num coque frouxo no alto da cabeça. Ela também usava aqueles vestidos bem gregos cheios de pregas que a deixava bem elegante. 

— Alexandre o Grande ou só Alexandre? - perguntou Blitzen.

— Só Alexandre mas não deixe ele saber que disse isso. - disse Hipátia se virando para nós novamente - Venham, vou explicar para vocês como funciona.

Ela virou de costas para nós e foi caminhando de volta para a mesa dela. Nós nos entreolhamos por um segundo mas a acompanhamos mesmo com a estátua dela ainda nos encarando. Chegando perto, pude observar a estátua amiga dela, Alexandre, melhor. Me lembrava muito aquela estátua de Michelangelo bem famosa, só que viva. 

Logo atrás dele, estava a longa porta de entrada da biblioteca, fechada. Em cada lateral da enorme porta da entrada, havia ainda duas enormes estátuas, uma que reconheci ser Thoth, outra que chutei ser Atena. 

— Eu preciso fazer o cadastro de vocês no sistema da biblioteca. - disse Hipátia pegando um bando de folhas com as bordas desgastadas, mas douradas - Depois veremos se a biblioteca vai permitir que entrem ou não.

— Tem a possibilidade de a biblioteca não permitir? - perguntou Nico.

— Sempre tem. - admitiu Hipátia afirmando com a cabeça.

— O que acontece então? - perguntou Will - Só viramos as costas e vamos embora felizes para tentar achar o que precisamos em outro lugar?

— Emm… não… - disse Hipátia com um sorriso torto - Nosso segurança vai ter que tomar conta de vocês, e não estou falando de Alexandre. A biblioteca deve ser um segredo que só os permitidos podem saber que existe, sabe? Não podemos arriscar que o que aconteceu em Alexandria e Júlio César.

— Sua segurança deve ser a coisa que ouvimos no caminho… - chutei.

— Ele mesmo. - confirmou Hipátia.

— Torcendo pra biblioteca deixar a gente passar então. - disse Blitzen e logo Hearthstone disse algo para ele, que não foi traduzido para nós nem nada, mas aparentemente chamou a atenção de Alexandre, que ergueu uma sobrancelha prestando muita atenção em Blitzen e Hearthstone.

— Depois de feito o cadastro na biblioteca, - continuou Hipátia - Vocês vão ter que pagar a entrada.

— Pera. Não falaram nada de entrada para nós. - reclamei.

— Relaxa. Não é nada complicado nem nada monetário. - disse Hipátia - Com intuito de preservar e aumentar o acervo da biblioteca, que admito que está meio esquecido desde que inventaram a tal Internet, cada vez que um visitante entra, ele tem que deixar um conhecimento. 

— Não me parece “nada complicado” - disse Sam. 

— Não se preocupem. - disse Hipátia mais uma vez - Alexandre fará a parte de buscar nas memórias de vocês algum conhecimento que seja interessante. Como estamos mais focados em conhecimentos antigos, principalmente de magia, matemática, filosofia e astronomia, e também mais concentrada em conhecimentos de povos específicos, principalmente gregos, romanos e egípcios, vocês com certeza vão ter algo para complementar. Vamos ao cadastro então?

— Vamos… - disse Sam - Do que precisa?

— Só do seu nome verdadeiro completo, não seu nome secreto, e local de nascimento para que a biblioteca entenda quem são. - explicou Hipátia pegando uma pena e se debruçando sobre o papel brilhante.

— Sammirah Al-Abbas. Boston, EUA. - disse Sam e imediatamente o papel brilhou e, depois de uns segundos que Hipátia olhou para Sam meio tensa, um brilho envolveu Sam e depois desapareceu, fazendo Hipátia suspirar aliviada.

— Ótimo. - disse Hipátia - Próximo.

— William Andrew Solace. Austin, EUA. - disse Will e o processo se repetiu, incluindo a luz.

— Nico di Angelo. Veneza, Itália. - disse Nico.

— Uhh Veneza… - comentei enquanto a luz brilhava ao redor de Nico.

— Dizem que é bonito. - comentou Hipátia, sonhadora e largado a pena para responder algo para Hearthstone em língua de sinais, pegando ele de surpresa.

— Você sabe ESL! - exclamou Blitzen surpreso enquanto Hearthstone dizia algo para Hipátia, seu nome e local de nascimento, reconheci das minhas aulas o nome de Hearthstone no meio de tudo.

— Tive que aprender para me comunicar com Alexandre. - admitiu ela escrevendo os dados de Hearthstone - Acho que vocês vão se dar bem. É raro aparecer alguém que sabe para ele poder conversar. É raro aparecer qualquer pessoa pra começo de conversa.

Hearthstone, agora brilhando por um segundo, olhou para Alexandre, ambos pareciam ansiosos para conversar entre si sem depender da tradução de ninguém ou de prestar atenção nos lábios dos outros. Mas, enquanto isso, nosso cadastro na biblioteca continuava.

— Blitzen, filho de Freya e Bili. Nidavellir. - disse Blitzen logo ganhando sua luzinha temporária.

— Sadie Kane. Los Angeles, EUA. - eu disse, e o mesmo aconteceu.

— Anúb… - tentou dizer Anúbis mas foi interrompido.

— Não. Nome verdadeiro. - disse Hipátia - Egípcio, no seu caso. 

— Inpw. Ahm… Saara, Egito? - disse ele.

— Saara é muito amplo.- reclamou Hipátia - É o melhor que pode fazer?

— Infelizmente sim. - respondeu ele e Hipátia logo deu de ombros e escreveu os dados dele também.

Ela olhou para ele meio tensa por uns segundos, talvez pela incerteza do lugar, mas logo relaxou quando ele também brilhou por um segundo. Hipátia se levantou e foi até o lado de Alexandre, que estava com as duas mãos abertas com as palmas para cima.

— Para pagar a entrada, só segurar em uma das mãos do Alexandre. - disse ela ao mesmo tempo que sinalizava.

Eu fui a primeira a me arriscar a checar se tinha algo a compartilhar com a biblioteca. Senti minha cabeça pesada e, ao mesmo tempo, uma névoa começou a envolver todos nós até não conseguirmos ver mais nada além de nós mesmos no centro da névoa, que começava a se moldar. A névoa se moldou formando duas pessoas, uma delas sentada e debruçada sobre uma mesa, a segunda se aproximando.

— Bom dia.…Apesar de que você parece ainda estar dormindo. - disse a forma sentada com a voz que reconheci como sendo a de Anúbis.

— Ah! - exclamei ao reconhecer a voz ao mesmo tempo que a névoa terminava de se formar e a ficar colorida, formando perfeitamente uma Sadie, claramente recém acordada, e um Anúbis na mesa que dava um beijo na mão da Sadie de névoa. Eu me lembrava desse dia.

— Realmente me sinto ainda dormindo. Sabe no que estou pensando? - disse a Sadie de névoa. 

— Em quê? - perguntou o Anúbis de névoa.

— Na irônia de um bando de hieróglifos milenares sendo escritos numa folha de caderno com caneta esferográfica. - respondeu a Sadie de névoa olhando para a folha nas mãos do Anúbis de névoa, o nosso feitiço para apontar onde Naunet aprontava no Google Maps.

A cena então sumiu, voltando a ser névoa completamente, com exceção da folha de caderno com o meu feitiço. A folha caiu no chão quando a mesa sumiu, e Hipátia simplesmente a pegou, enrolou num tubo, e sorriu.

— Legal! - disse Will - Minha vez!

Will segurou na mão de Alexandre e logo outra cena se formou. Dessa vez, era uma figura que estava sozinha e logo se provou ser o próprio Will. Ele estava concentrado lendo o que parecia ser um longo texto no computador e, pela cara dele, parecia um texto curioso.

— Tratamento de peito aberto (OCM) com a consequência de fechamento esternal retardado (DSC) tem sido descrito como um método útil método no tratamento de insuficiência cardíaca grave, hemorragia incontrolável… - resmungava ele parecendo ler o texto mas só resmungar parte dele -. .. Uma preocupação de que a esternotomia aberta prolongada resultaria em complicações infecciosas causaram hesitação precoce em usar esta técnica. Análises retrospectivas posteriormente mostraram baixa incidência de infecção…

A cena se desmontou de novo, dessa vez, a “folha” que caiu foi o artigo que antes estava na tela do computador que caiu como se a magia que usavam para procurar nossas memórias tivesse até uma impressora embutida. Da mesma forma que antes, Hipátia pegou a folha, enrolou-a, e voltou para seu canto.

— Como fazem isso? - perguntou Will - Não é como se eu me lembrasse de cada palavra daquele artigo.

— Mas você o leu. - disse Hipátia - E para nós é suficiente. Alexandre consegue puxar o que você vivenciou, mas não lembra.

— Podemos… restringir… quais pedaços de memória vocês vão pegar? - perguntou Anúbis.

— Não. - disse Hipátia com um sorriso amarelo - Mas não se preocupe. Qualquer coisa que seja mais… segredo divino… Thoth e Atena já podem ter nos suprido de tanto que eles vieram aqui. Principalmente nos primeiros anos.

Enquanto Hipátia falava, Sam foi até Alexandre e logo a imagem trocou novamente. Sam estava mais nova e estava num amplo espaço aberto que parecia ser o pátio de uma garagem de aviões particulares. Ela, e mais meia dúzia de pessoas, todas homens, estavam ouvindo as instruções de um professor que estava ao lado de um pequeno avião particular, ensinando algo.

— As partes principais de uma aeronave, como sabem, são a fuselagem, asas, empenagem e superfícies de controle. O que é a fuselagem? - perguntou o professor.

— A fuselagem é a parte do avião onde estão fixadas as asas e empenagem. - disse a Sam de névoa - Ela aloja os tripulantes, passageiros, carga, os sistemas do avião e, em muitos casos, o trem de pouso, o motor e etc.

— Quais os tipos de fuselagem? - perguntou o professor.

— Tubular, monocoque e semi-monocoque. - respondeu um dos alunos.

— O que é a empenagem? - perguntou o professor. 

— Um conjunto de superfícies destinadas a estabilizar o voo do avião. - respondeu um aluno enquanto o professor dava tapinhas numa parte da cauda do avião, vou chutar que a tal empenagem - Geralmente compreende superfícies horizontais e verticais.

— Para que serve cada tipo de superfície de empenagem? - perguntou o professor.

— A horizontal se opõe à tendência de levantar ou abaixar a cauda. - disse Sam enquanto o professor apontava para a parte horizontal da cauda e depois para a vertical - E a vertical se opõe à tendência de desviar para a direita ou esquerda. 

A aula continuou um pouco mais com o professor conferindo que os alunos sabiam onde era cada parte do avião, qual o nome delas, para que servia e como funcionava. A lembrança então se desfez por completo até ficar uma bolinha brilhante no chão. Hipátia pegou a bolinha e, dela, saiu uma pequena imagem, do tamanho de uma mão, reproduzindo desde o começo a mesma lembrança.

Hearthstone foi se adiantando para ser o próximo enquanto eu sentia uma clara resistência em Anúbis e Nico.

— Não tô nem um pouco afim de compartilhar nada também. - ouvi Nico resmungando para Anúbis - Acha que a gente consegue escapar?

— Não… - resmungou Anúbis.

— Cada um tem que dar a própria memória como entrada? - perguntei para Hipátia enquanto a memória de Hearthstone se formava - Um não pode pagar pelo outro?

— Não. - respondeu Hipátia - É para que assim entenda a importância de o que está guardado aqui e porque aqui só os escolhidos podem visitar, não qualquer um.

Na lembrança de Hearthstone, ele também estava bem mais novo do que eu conhecia. Ele estava deitado no chão do que eu acho ser o quarto dele e estava todo debruçado sobre um livro. Estava escuro, claramente de noite, e ele parecia ler escondido com ajuda de uma lanterna. O livro tinha uns símbolos estranhos ao lado de textos claros, como se fosse uma explicação de cada um desses símbolos. Seriam esses símbolos as tais runas que Hearthstone usava como fonte de magia? Acho que sim.

Não havia nenhum som na memória, absolutamente nenhum. O que achei meio desconfortável. Mas logo ela acabou deixando para trás o livro que Hearthstone lia, que Hipátia logo pegou e abraçou carinhosamente. Com o tanto de coisas na mão, ela teve um pouco de dificuldade de dizer algo para Hearthstone. A única coisa que eu entendi foi “obrigada”.

Em seguida, foi Blitzen. Na memória que se formou, estavam ele e Hearthstone, e não pareciam tão diferentes. Blitzen de névoa estava construindo alguma coisa que parecia uma cama de bronzeamento e Hearthstone estava logo ao lado, sentado no chão, onde estavam espalhadas várias folhas que pareciam ter os planos daquela mesma cama de bronzeamento que Blitzen mexia. Hearthstone de névoa tinha pegado uma dúzia das folhas e as lia. 

— Isso deve funcionar. - disse Blitzen de névoa com a voz e depois com sinais.

Blitzen de névoa parou a construção um pouco e começou uma conversa, toda em sinais. Infelizmente, não entendi uma só palavra. Mas seja lá o que foi dito, o Hearthstone de névoa sorriu. 

O Blitzen de névoa se sentou ao lado do Hearthstone de névoa e ambos olharam para a cama de bronzeamento. Eventualmente, Blitzen  de névoa pegou um dos papéis, chamou a atenção do Hearthstone de névoa e começou a dizer alguma coisa com linguagem de sinais. 

A memória se desfez deixando só as folhas com o planejamento da cama de bronzeamento no chão, e Hipátia as recolheu.

— Não entendi… - admiti, triste por não saber mais sinais.

— Ah, foi um cama de bronzeamento que eu fiz customizada para Hearthstone. Como elfo de luz, ele não consegue ir para Nidavellir, onde tem pouca luz. - disse Blitzen que, assim como Hearthstone, estava meio vermelho, Will sorriu, e eu entendi o porquê de todas essas reações - Não faz bem para ele. A ideia era resolver isso.

— Funcionou? - perguntou Will, esperançoso.

— Claro! - exclamou Blitzen, talvez não gostando de ter seu trabalho questionado.

Só faltava Anúbis e Nico. Os dois se entreolharam claramente nem um pouco a fim de reviver qualquer memória que fosse do passado. Parecia que eles estavam tendo uma conversa silenciosa enquanto se encaravam.

— Relaxa, Nico. - disse Will - Não vai ser tão ruim.

— Eu vou e então você vai? - perguntou Anúbis e Nico pareceu surpreso por um segundo, e eu também. 

Era quase como se tivesse nascendo ali um sentimento meio irmão mais novo e irmão mais velho. Achei fofo e fiquei orgulhosa dele de fato estar conseguindo se dar tão bem com Nico.

— Valeu. - resmungou Nico bem baixinho.

Meio receoso, Anúbis se aproximou de Alexandre e sem ter para onde fugir, e talvez até querendo dar um exemplo para Nico, ele pegou na mão de Alexandre. A imagem começou a se formar, mas o que chegou primeiro foi o som de música. Ela soava bem… antiga. Não sei descrever. Não sei se posso dizer que os instrumentos são mais básicos ou mais crus… não sei. Mas isso não significava que a música era ruim, não. Ela me fazia lembrar do deserto e da água, e ao mesmo tempo dava vontade de dançar. 

O Anúbis de névoa, nem um dia mais novo, apareceu sentado na beirada de um teto com todo seu modelito Antigo Egito (que eu gosto) que basicamente era meramente um saiote preto, sandálias, o mesmo colar de ouro da ankh que ele até hoje usa e o lápis-de-olho-que-não-se-chama-lápis-de-olho. O teto que ele estava rodeava um pátio aberto para o céu, de onde vinha a música.

 A arquitetura de tudo era bem típica do Antigo Egito, que, na memória, ainda era novo, tanto que as cores das paredes e das colunas estavam fortes e vibrantes, e não desgastadas pelo tempo e pela areia.

No pátio aberto para o seu, acontecia claramente uma festa. Tinha dançarinas, pessoas comendo, bebendo, conversando e rindo. Dançarinas que… diga-se de passagem, o visual e dança ousadas me lembraram algo.

— Parece dança do ventre. - comentei - Só que… mais complicada, intensa e… 

Não tive coragem de comentar sobre as roupas das dançarinas.

— É porque é. - comentou ele que, apesar da inocência da cena (se ignorasse as roupas das dançarinas), ainda parecia tenso.

— Olha, não precisava ter medo. - disse Hipátia - Não tem nada de secreto dos deuses. A biblioteca só achou interessante finalmente saber como soava e se dançava as músicas do Antigo Egito, hoje em dia perdidas. Afinal imagens nas paredes não tem movimento e áudio.

No meio da multidão, duas pessoas chamavam atenção pelo tanto de ouro que vestiam, uma mulher enormemente grávida e um cara dando em cima de outra mulher. A grávida pareceu notar Anúbis sentado na beirada do teto, e começou a chamar a atenção dele com mímica, aparentemente chamando ele para a festa, e ele recusou.

— Quem são a moça e o cara cheios de peças de ouro? - perguntei.

— Rainha, futuramente Faraó, Hatshepsut e Faraó Tutmosis II. - explicou Anúbis.

Então outra pessoa apareceu no teto perto de Anúbis, uma mulher elegante segurando duas taças. Ela vestia um vestido com o corpete feito de pequenas pecinhas de ouro, cabelo negro trançado em dezenas de trancinhas e pele negra.  Ao mesmo tempo, o Anúbis do presente ficou pálido.

— In iry ib. - disse a mulher em egípcio.

De repente, a mulher e logo a cena inteira foi consumida por uma névoa negra que eu logo percebi que vinha do presente quando vi a cara do Anúbis do presente também. Parecia uma memória simples e descomplicada, mas claramente ele não queria dividir aquele pedaço, principalmente aquela mulher. Então entendi com toda certeza quem ela era. Ele tinha me contado sobre ela já. Ela era Anput, a ex do Anúbis.

 


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Notas finais do capítulo

só quem lê "A Morte das Areias do Saara" conhece a Anput e essa cena hehe fiquem a vontade para ir ler se quiserem. N precisa conhecer A Crônica dos Kane, o Hades e a Perséfone aparecem e os outros deuses egípcios tbm e uns sumérios tbm, além de várias personalidades históricas egípcias. é do mesmo tamanho que essa com a diferença que tem vários arcos de treta ao invés de uma treta só. começa do Anúbis recém-nascido e, até o momento, ele está na história com 1777 aninhos. praticamente um bebê ainda kkk
beijinhos e até o próximo cap ♥



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