Os Deuses da Mitologia escrita por kagomechan


Capítulo 122
NICO - Submundo Invernal


Notas iniciais do capítulo

olá! em dia de estréia de quarta temporada de Stranger Things kkk bem vindos ao novo capítulo! :3


no momento, estão nos EUA os grupinhos:
— Nova Roma: Frank, Lavínia, Hazel, Annabeth, Zia, Kayla, Grover, Percy, Piper, Meg, Apolo
— NY: Cléo, Paulo, Austin, Drew, Carter
no momento, estão voando, os grupinhos:
— Indo para Europa: Reyna

no momento, estão em alto mar, os grupinhos:
— Indo para Nigéria : Leo, Calipso, Olujime, Magnus, Jacques, Alex, Festus

no momento, os grupos que estão na EUROPA são:
— País de Gales: Caçadoras de Ártemis (Thalia, Ártemis, etc), Clarisse, Sam, Blitzen, Hearthstone, Mestiço, Mallory, Anúbis, Sadie, Will, Nico. // Maias-Astecas: Victoria, Micaela (a menina q parece Annabeth) e Eduardo (guri chato que o Mestiço deve estar querendo esganar).



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NICO

Quando estávamos subindo aquela escadaria toda sem fim no meio da névoa, eu já sentia um arrepio na nuca e uma sensação de que o cara que estava lá em cima era perigoso. Dava pra sentir a morte caminhando pelas paredes e então por todo lugar que era quase sufocante. Talvez por isso eu fui pego de surpresa por um par de braços cinzentos me puxando para sei lá onde.

As mãos cinzentas que surgiram do nada eram muito geladas, pareciam feitas de gelo puro e, quando me puxaram, a névoa ao meu redor ficou tão mais densa e fria, que era difícil lembrar que ainda era névoa. A mão que segurava a minha boca estava segurando tão forte que meu rosto doía pela pressão e pelo frio.

Consegui dar uma cotovelada em sei lá quem que estava atrás de mim. Não foi a melhor das cotoveladas, admito, mas foi o suficiente para o cara se desarrumar um pouco. Ao mesmo tempo, com a outra mão, segurei o braço dele e tentei ressecá-lo.

Parte de mim se arrependeu do toque pois era literalmente como tocar um bloco de gelo sem luvas. A pele que eu tocava já estava bem cadavérica desde do começo, mas até que começou a se ressecar, mas não tanto como eu imaginava. Mas, talvez por ter funcionado ao menos um pouco, ele me soltou tão bruscamente dando um empurrão, que aposto que a intenção era que eu caísse de joelhos no chão, mas consegui me equilibrar no último segundo.

Livre, me virei de uma vez, puxando a minha espada também, pronto para começar a luta, mas não vi ninguém, só névoa. Olhei tenso para a névoa se movendo lentamente no ar, tenso com a expectativa de ele surgir novamente, mas nada, só aquele silêncio desconfortável igual ao da escadaria. As partes onde ele tinha me tocado ardiam como queimadura, o que mostrava que ele era mais gelado do que imaginei.

Invocar mortos ali, contra o que, pelos meus chutes, era Hafgan, não parecia uma boa ideia. Pelo o que tinha aprendido, o cara era um deus celta do submundo, ou mortos, ou sei lá. Algo assim. Já tava difícil acompanhar de que cada inimigo era deus. Então invocar mortos ali era uma terrível ideia. Vai que ele roubava o controle deles? Afinal, ele tinha o próprio exército de celtas mortos ao redor do castelo.

Aliás, esperando ele aparecer do nada, notei que ali claramente não era a escadaria de antes. Andando lentamente em busca de algo, encontrei uma parede de pedra. Como eu tinha a sensação de que o cara surgia literalmente da névoa, ficar com as costas na direção da parede me pareceu uma boa ideia. 

O frio ali então aumentou tanto que eu podia ver fumaça saindo de minha boca e se misturando com a névoa. Agradeci por estar de casaco. Meus dedos, principalmente das mãos, doíam com o frio intenso. Minhas pernas ficavam geladas. Eu me vi querendo para o talvez-Hafgan aparecer logo para a luta me esquentar.

Então, de repente, ficar de costas contra a parede se provou ser uma boa ideia pois, segundos depois a névoa rapidamente criou forma, uma meia forma de um cara, segurando uma espada ameaçadora e robusta feita de osso com uma caveira na base enquanto parte do corpo dele ainda era névoa.

Ele estava vestindo uma longa capa negra, mas dava para ver que a roupa por baixo era um terno verde tão escuro que quase parecia preto. O rosto dele era normal. Cabelo castanho, barba rala, olhos castanhos, só a pele que era cinzenta demais. Sem me deixar pensar muito, ele me encarou e logo me atacou com a espada dele, eu defendi. 

Tentei contra-atacar logo em seguida, mas ele era rápido. Ele aparou o meu golpe também. Ele era um cara difícil de acertar. Se defendia muito bem e às vezes ainda transformava mais partes do seu corpo em névoa, tornando-o difícil de acertar. Ele também era rápido, então era difícil tentar outra coisa além de defesas apressadas e eu queria fazer um teste com essa espada de osso dele. 

Por algum motivo, ele me olhava intensamente, como alguém que precisa de óculos, mas sem óculos, tentando ler um livro. Em seguida, ele logo começava a aparentar estar em dúvida ou curioso com algo que eu não conseguia entender.

— Ah… - ele disse como se subitamente entendesse algo e esse olhar de curiosidade sumiu - Você deve ser o tal filho do Hades.

Tinha vários jeitos possíveis de ele ter descoberto esse detalhe, então não me preocupei tanto com como ele percebeu isso.

— E você? Não vai nem se apresentar? - perguntei, tentando ver se ao menos ver se o ritmo dele diminuía - Meio injusto, não?

— Não. - respondeu ele secamente continuando a me atacar e eu continuava a me defender.

— Você… me separa dos outros, provavelmente para não ter que encarar todo mundo de uma vez só, e não mereço nem uma apresentação? - perguntei.

Eu queria parecer relaxado, mas a verdade era que estava sendo bem difícil conseguir me defender de todos os golpes deles. Não transparecer isso para a fala era bem complicado.

— Não. - respondeu ele novamente.

— Eu tô achando que você é o tal Hafgan que estavam falando tanto que roubou os mortos do Arawn. - comentei.

— Eu não roubei mortos! Eles são meus! - respondeu ele não parecendo tão alterado, mas com uma leve irritação que achei um bom sinal.

— Hafgan mesmo então. - concluí - Mas… como os mortos podem ser seus se, pelo o que eu entendi, é o tal Arawn que cuida do submundo e coisa e tal?

— Eu vou ter meu posto de volta! - disse Hafgan entredentes - O submundo será meu outra vez!

Ele começou a parecer mais irritado e isso deixou os golpes dele um pouco mais desleixados, o que também era bom, muito bom. Eu precisava disso. A troca de golpes continuou e isso fez a gente se mover pelo espaço. A névoa escondia o chão parcialmente, então não vi quando, de repente, tropecei numa escadaria que descia. Eu caí, então não consegui parar direito o golpe dele e eu caí tão nada graciosamente que a espada dele passou raspando me cortando no peito. Mas tenho que admitir que cair de bunda (e cotovelo) na escada doeu bem mais.

Minha súbita queda também pegou ele desprevenido, então eu consegui fazer o teste que eu queria, apontei a mão para a espada dele e me concentrei em tentar controlar o osso da espada. Funcionou, ele até tentou dar outro golpe, mas a espada começou a tremer, presa no mesmo ponto do ar. Então, tive uma ideia. A escada que me derrubou seria a mesma que eu estava subindo antes? Eu tinha que testar, então gritei:

— WIIIIIIIIIL!!

— O que está fazendo com a minha espada? - perguntou Hafgan sério.

Eu não iria conseguir segurar a espada dele ali por muito tempo e, pra piorar, eu sentia minha camisa começando a empapar de sangue.

— WIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIL!!! - tentei de novo, gritando o mais alto que podia, ousando virar mais o rosto na direção da escada.

Então, bem de distante, eu ouvi a voz de Will respondendo escada abaixo:

— Nico!

Era toda a prova que eu precisava para confirmar que aquela era a mesma escada. Meio tonto pelo esforço de prender a espada no mesmo lugar, me levantei o mais rápido que consegui, apesar da relutância de minha bunda dolorida com a queda, e bem a tempo desviei de um soco de Hafgan, que desistiu de usar a espada e soltou-a. 

— NICO! ESTAMOS INDO! - gritou Will novamente.

A espada dele caiu no chão e eu ataquei com a minha de baixo para cima tentando cortar o braço estendido dele. Até senti a minha espada entrar em contato com algo, mas esse algo logo sumiu, se misturando com a névoa e desaparecendo. No segundo seguinte, ele de repente reapareceu em outro lugar e conseguiu acertar um forte soco no meu rosto.

O soco foi muito forte. Muito. Tive a sensação de ter quebrado alguma coisa e até o gelo da mão dele eu senti, mas não podia pensar nisso ainda, tive que me concentrar para tentar não sair rolando escada abaixo. Isso sim não seria muito bom. Tentei me segurar na parede que não estava muito longe de mim, meus pés escorregaram dois degraus, acabei caindo novamente e escorrendo mais um degrau, mas pelo menos não saí rolando nem caí muito feito apesar das dores intensas na bunda e agora no rosto também.

Enquanto eu fazia essa cena de queda nada majestosa, Hafgan pegou sua espada no chão e foi se aproximando de mim, degrau por degrau.

— Sabe, tudo estava indo muito bem antes de vocês aparecerem. - disse ele - Bem que Naunet avisou que vários tentavam nos atrapalhar.

Ousei abrir a boca para responder, mas logo senti que isso seria uma ideia terrível. O soco dele claramente me machucou muito. Minha boca se encheu de sangue e doía tanto que nem conseguia cuspir, deixei o sangue vazar por conta própria. Tentei me levantar então e esse processo se mostrou lento demais, tão lento que Hafgan me alcançou e me agarrou pelo pescoço e eu senti meu pescoço começar a queimar de frio dolorosamente.

Ele começou a me enforcar, pessíma combinação para as queimaduras por congelamento, e posicionou sua espada como se quisesse me empalar. Não sei se ele esqueceu que eu conseguia parar a espada dele um pouco, por ser de osso, ou se ele achava que eu estava machucado demais para conseguir. Bem, eu não estava, mas por pouco. A espada dele começou a tremer, presa no mesmo lugar no ar, impedindo que ele usasse ela.

Hafgan não gostou disso, por isso sua mão começou a apertar mais forte o meu pescoço. Eu geralmente só ressecava as pessoas com o toque da minha mão, mas era tudo pele minha, né? Então tentei me concentrar para fazer o mesmo com a pele do pescoço em contato com a mão dele. 

Me concentrar nisso e na espada dele era talvez um pouco demais, mas mesmo assim tentei ajustar a minha espada na minha mão para conseguir usar como se fosse um punhal e apunhalar ele. Mas minha cabeça ficava tonta, meu pescoço doía muito, e só quando eu já estava desistindo, uma expressão de dor dele mostrou que o toque no meu pescoço tinha começado a ressecar sua mão.

O cara era um deus, com certeza não iria demorar muito para se curar caso me soltasse, mas ele teria que me soltar, e foi o que acabou fazendo. Eu tossi, o que foi muito doloroso, mas me esforcei para lidar com a dor.

— Você é terrivelmente irritante. - reclamou ele olhando para a mão e antebraço ainda mais cadavéricos do que o normal, combinando com o outro braço, onde eu já tinha feito o mesmo.

Naquele momento, com uma preocupação a menos, tentei apunhalar ele com a minha espada. Dada a minha posição e condição, o ângulo e a força não foram dos melhores, mas consegui fazer um pequeno, mas profundo, corte na lateral do corpo dele. 

Eu tinha certeza que ele iria voltar a me enforcar ali mesmo, e ele até começou a se aproximar por um segundo. Mas no segundo seguinte ele fez uma expressão de surpresa, sumiu na névoa e uma lança passou cortando por onde ele estava antes, me dando um susto e caindo no chão depois da escada.

— NICO! - gritou Will, bem perto.

Olhei na direção da voz, escada abaixo, e vi Clarisse subindo correndo seguida de Will e então dos demais. Clarisse foi imediatamente para a lança, sua lança, e meio que ficou de guarda enquanto Will se ajoelhava ao meu lado, suspirava aliviado e começava a me curar.

— Não me mate assim do coração. - pediu Will e sim, eu estava bem aliviado também de ele estar ali mas percorrendo os olhos por mim bem preocupado - Seu pescoço e seu rosto.. estão… bem… é… vou te curar…

— Quem te pegou? - perguntou Sam.

— Ou “o que”... - disse Mestiço.

— Calma. Não fale nada. - pediu Will olhando para mim intensamente com aqueles olhos azuis dele, segurando gentilmente meu rosto enquanto brilhava como uma lanterna humana - Parece que ele quebrou a mandíbula e tá com o pescoço todo manchado e com bolhas. Deve estar doendo muito. Mas o corte no peito está me preocupando também. Está sangrando muito.

— Magnus tá fazendo falta… - resmungou Blitzen abraçando o próprio corpo - Aqui tá muito frio.

Sam e os demais ficaram ao nosso redor como uma boa barreira de proteção procurando por Hafgan, mas ele não estava em lugar nenhum. O cara claramente tinha se escondido na névoa de novo. O silêncio desconfortável e aquele arrepio na nuca, que passava uma sensação de que algo iria acontecer logo, estava de volta.

Saía fumaça pela boca de todos, Hearthstone esfregava os braços com frio e dava passinhos pequenos mais para perto de Will, que seguia iluminado como uma lanterna e logo atraiu meu olhar de novo.

— Tá parecendo… - resmunguei lentamente olhando para Will e mexendo a boca o mínimo possível, quando senti a mandíbula melhorando - aquele filme… que você colocou...

— Enrolados? Tava pensando o mesmo. - disse ele na hora entendendo do que eu estava falando e começando a rir de leve - Brilha linda flor. Teu poder venceu. Traz de volta já, o que uma vez foi meu.

— Preferia estar em Enrolados do que nesse cenário de filme de terror. - disse Blitzen enquanto Will terminava meu rosto e pescoço e começava a curar meu corte no peito parecendo cada vez mais cansado.

— Você está bem? - perguntei.

— Tô. - garantiu ele apesar de não aparentar tão bem assim.

— Já curou gente demais por hoje, né? - quis saber.

— Talvez… - disse ele com um sorriso fraco - Quanto antes terminamos por aqui, melhor. 

— Quem é o nosso adversário? - perguntou Ciara.

— Pronto. Curado. - declarou meu médico oficial.

— Hafgan. - respondi, me levantando lentamente.

Devo ter parecido bem triste me levantando, e Will também, pois logo Mestiço nos puxou, levantando um depois do outro.

— A perna perde a força rapidinho a essa altura de uma batalha depois que a adrenalina dá uma abaixada né? - perguntou Mestiço.

— E-Enfim… - eu disse tentando ignorar a pequena cena - Hafgan gosta de se esconder na névoa e aparecer do nada. Tem uma espada de osso. Luta bem. É forte, rápido e estupidamente gelado. Diz que os mortos são dele e não do Arawn, inclusive, fica irritado se você sugerir o oposto.

— Acho que ele tem medo de nos enfrentar ao mesmo tempo. - disse Mallory - Por isso tentou nos separar e lidar com o Nico sozinho, mas não contava que ele não seria exatamente tão fácil de matar.

— O cara é um deus. - lembrou Blitzen - Acha mesmo que ele teria que separar a gente assim?

— Olha… - eu respondi - Ele é bom de luta e o fato de se esconder na névoa complica muito, mas até agora não vi nenhum poder muito espetacular além de se esconder na névoa e ser gelado demais a ponto de queimar.

Como se motivado por nossa conversa, Hafgan se materializou na frente de Clarisse e a olhou intensamente, tal como ele tinha feito comigo no começo do nosso confronto. Ela quase começou a ir para cima dele, mas então parou. Ela ficou estática, tremeu e deu um passo para trás. Ao meu redor, os outros faziam o mesmo quando trocavam olhares com Hafgan. Logo, todos, menos eu, pareciam estar travados e morrendo de medo. Eu fiquei confuso e Hafgan abriu um sorriso.

— Agora sim. - disse ele - Por um segundo achei que tinha perdido meu olhar especial.

— Ah… - deixei escapar ao notar algo.

Tinha sido assim que ele provavelmente tinha percebido que eu era filho de Hades. Aquele olhar parecia magicamente deixar todos com medo, mas não parecia funcionar comigo. Provavelmente porque Hades tem o mesmo poder mas… me pareceu que o do meu pai era numa escala muito maior. Hades fez todo o exército de Cronos tentar fugir dele, aterrorizados… mas ali estava um pequeno grupo de semideuses só travados de medo mesmo.

— Acordem! - eu disse puxando o rosto de Will para olhar para mim.

Will pareceu lentamente recobrar a consciência, mas eu não podia ficar o tempo todo ali, pois notei com o canto do olho que Hafgan estava indo para Clarisse. Me esforcei pra parar a espada dele novamente e aproveitei os breves segundos que isso me rendeu para ficar na frente de Clarisse e consequentemente do resto do grupo.

— CLARISSE! ACORDA! - gritei enquanto Hafgan largava a espada, sumia e aparecia atrás de mim, alguns degraus abaixo, tomando o machado de Mestiço das mãos dele.

Eu me virei tentando chegar a tempo até Mestiço, mas ele estava longe. Hafgan segurou ele pelo pescoço e quando eles começaram a ser engolidos pela névoa, tal como Hafgan tinha feito comigo, Will conseguiu se livrar o suficiente para atirar uma flecha no ombro de Hafgan pois mirou olhando para o chão.

— Consegui? - perguntou Will.

Hafgan se virou irritado para Will, pronto para atingir a cabeça dele com o machado roubado do Mestiço, mas eu não iria deixar de jeito nenhum. A essa altura eu já estava mais perto, então consegui, com toda a minha força, atacar Hafgan com um golpe de baixo pra cima, arrancando fora um dos braços e machucando muito o segundo já que ambos seguravam o machado.

Ele gritou de dor, o toco cortado começou a congelar e então Hafgan decidiu me atacar segurando o machado com uma única mão. Eu me preparei para me defender, mas ele sumiu no último segundo me deixando vendo nada.

— Onde ele foi? - perguntou Will ao meu lado confuso.

— Não sei. - respondi olhando ao redor enquanto Will nem ousava deixar de olhar pro chão.

Sem ele ali, os outros lentamente foram voltando ao normal. Eles estavam confusos tentando se achar de novo, mas eu e Will estávamos tensos. 

— Aquele maldito. - resmungou Mestiço.

E foi esse mesmo maldito que, mais rápido do que conseguimos acompanhar, surgiu atrás de Clarisse, agarrou-a e sumiu com ela tal como ele tinha feito comigo. Não tivemos tempo de fazer nada, mas felizmente, ouvimos o grito dela vindo de mais acima, não tão longe quanto Will me pareceu antes quando gritei atrás dele.

— ME LARGA SEU DESGRAÇADO! - gritou Clarisse.

— Eles parecem estar logo acima de nós! - disse Sam.

— Tem que ter outra escada por aqui! - disse Blitzen.

Nem conseguíamos ver o tamanho daquela sala, já que a névoa era densa demais. Nosso melhor chute, era torcer para ali ser mesmo uma torre, ou seja, circular, e que talvez fosse uma escada tal como a anterior, de pedra e grudada na parede. Então começamos a correr com a mão na parede apesar do medo de surgir algo para nos atrapalhar no meio daquela névoa extremamente densa. Os gritos da Clarisse nos motivavam assim como notar que a sala realmente parecia fazer um círculo.

Finalmente, achamos uma escada subindo e seguimos por ela. Ela nos levou até um alçapão de madeira fechado. Eu abri sem pensar duas vezes e meus olhos reclamaram da súbita claridade, estávamos do lado de fora.

O sol súbito me fez demorar alguns segundos para perceber que um pouco de neve entrou quando abri o alçapão. Na verdade, quando botei a cabeça para fora, todo o chão daquele último nível da torre estava coberto de neve. Bem no meio da área circular, estava Clarisse, bem machucada, com vários cortes feios, profundos e preocupantes. O sangue dela sujava a neve e o corpo marcado com várias queimaduras de frio e bolhas. Mas ela era durona. Ela também segurava a lança dela, infelizmente quebrada ao meio, fincada bem funda no abdômen de Hafgan. A lança estava tão funda, que chegou a ponto de ter aparentemente feito ele cuspir sangue, julgando pelo sangue escorrendo pelo queixo dele. 

Hafgan sangrava quando Hearthstone lançou uma runa bem contra sua cara, Clarisse caiu na neve e Sam se transformou num leopardo das neves que rapidamente venceu a distância até Clarisse e a puxou pela roupa até nós enquanto ela gritava de dor mesmo com a neve facilitando o deslize do corpo. Will foi rapidamente atendê-la, eu torcia para ele não desmaiar de fraqueza no meio do atendimento.

 Eu avancei lentamente pela neve, que chegava aos meus joelhos, para enfrentar Hafgan caso necessário enquanto ele, com fogo queimando em seu rosto, gritava de dor. 

Mestiço pegou um outro machado de suas costas e lançou girando contra Hafgan tal como ele tinha feito já algumas vezes. Mas, ao contrário das outras vezes, Hafgan segurou o machado com um braço de gelo que estava no lugar do braço que cortei fora. O gelo aumentava, envolvendo o machado, apesar de eu ter notado que o machado tinha conseguido quebrar parte do gelo com o impacto. Sem falar que o gelo também pingava, graças ao calor do fogo.

— Eu… lutei contra Arawn… mais vezes do que posso contar… - disse Hafgan enquanto o fogo ainda queimava ele mas ia diminuindo de intensidade - Acha mesmo que eu não sei lidar com um pouco de fogo? Eu vou ter o submundo de volta para mim. Arawn já o teve por tempo demais. Ele vai ver o que ele vai ganhar por transformar o submundo numa terra de eterno verão e por me humilhar anos atrás!

Mestiço, que ousou olhar para Hafgan para lançar o machado, acabou travando quando Hafgan olhou irritado para ele. 

— MESTIÇO! ACORDA! - gritei fazendo apressadamente uma bola de neve e tacando na cara de Mestiço.

Notei que a bola de neve foi efetiva e logo voltei a olhar para Hafgan, que parecia bem acabado apesar de tentar mostrar confiança. O rosto dele estava todo queimado, o cabelo tinha buracos, uma mão estava segurando um machado de Mestiço, e a outra era um bloco de gelo disforme envolvendo um segundo machado, também de Mestiço. Ele respirava com dificuldade e um resto de lança em seu abdômen fazia ele sangrar sem parar.

Começou então a nevar, principalmente sobre Hafgan, ajudando a apagar o fogo que restava mas… sei lá, nossas expectativas pareciam boas apesar de ele claramente ser um adversário muito difícil.

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Hafgan e Arawn são quase um o oposto do outro. e como os celtas passavam muito as coisas de forma oral, tem uma confusão de qual era o que representa também as estações frias ou as quentes. Uns dizem ser o Hafgan que representa as estações frias, outros que é o Arawn. Eu tô indo no Hafgan ser o das estações frias pq a explicação do pq é ele achei com mais sentido pq o Arawn fez do submundo celta uma “comovente e eterna terra de verão” então né.. faz mais sentido o Arawn ter poderes de verão no pacote deus do submundo e o Hafgan ter poderes de inverno no pacote ex-deus do submundo.



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