Descendentes: Desenvolvendo Sentimentos escrita por Lanan Tannan


Capítulo 4
Capitulo 3 - Smells Like Teen Spirit


Notas iniciais do capítulo

Eu estou desanimando postar aqui...

Mesmo assim, fiquem com esse capitulo que eu gosto muito e obrigada aos que estão lendo ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/741740/chapter/4

Sou o pior no que faço de melhor

E por esta dádiva me sinto abençoado

Nosso pequeno grupo sempre existiu

E sempre existirá até o fim

I'm worse at what I do best

And for this gift I feel blessed

Our little group has always been

And always will until the end

— Smells Like Teen Spirit (Nirvana)

 

Local: Ilha dos Perdidos, Esconderijo de Mal, Evie, Jay e Carlos

Hora: 12h27m, sábado

 

Mal acordou sobressaltada com o barulho de um objeto de metal caindo. Esfregou os olhos e pode ver Evie abaixando-se para pegar seus fones de ouvido que deixara cair.

— Desculpe, Mal.

— Não foi nada. – A garota se espreguiçou e observou a amiga. Esta usava uma calça preta manchada, uma blusa branca azul de manga longa com um símbolo de uma coroa destacando-se no centro da blusa. – Vejo que acordou disposta hoje. Como sempre.

— Você devia se arrumar. – Evie foi até sua cama e pegou uma jaqueta azul e seu inseparável colar de rubi. – Os garotos já vão chegar.

— Tomara que eles tragam alguma coisa, estou morrendo de fome. – Mal reclamou, mas levantou e foi se arrumar devidamente. Passou-se poucos minutos, até que ela voltasse vestindo uma calça roxa e um casaco igualmente roxo com vários retalhos em diferentes tons purpuras e verde. – Você viu minhas luvas?

— Se forem as pretas de couro e sem detalhes estão bem ali. – Evie terminou de arrumar seu colar e apontou para o outro lado do lugar, especificamente embaixo da escada da entrada. – Como foram parar lá não é nenhum mistério.

— Não enche. – Mal abaixou-se para pegar as luvas e encontrou apenas uma do par. – A outra não está aqui. Ah, vai assim mesmo.

— Meninas, estamos subindo. – A voz de Carlos soou pelo esconderijo, saída do sistema de comunicação que o mesmo havia instalado.

— Já está pronta, Evie? – Mal levantou-se e viu a amiga ainda em frente ao espelho, o que não respondia nada já que ela sempre estava em frente de um espelho.

— Prontinha. O que achou? – Evie piscou e sorriu de lado.

— Se tinha alguém que não era apaixonado por você antes, hoje vai estar. – Jay respondeu, descendo as escadas acompanhado de Carlos. – Tudo pronto?

— Já são quase uma hora, bora passar na Slop Shop e pegar alguma coisa para comer. – Carlos revelou e apontou para a saída. – Vamos?

As garotas sorriram sinistramente e então todos os quatros correram porta a fora.

 

...

— Deixa com a gente.

As garotas assentiram enquanto Jay e Carlos iam em direção ao estabelecimento onde costumavam sempre “comprar” comida. Elas sentaram em uma das poucas mesas que estavam dispostos no antigo pavimento de refeição – foi destruído depois de ser local de incontáveis brigas, o que acarretou muito prejuízo para Gaston, decidindo então fechar seu “comércio”.

Ambas as garotas sentaram em silencio, Evie rapidamente pegou seu espelho para arrumar o que quer que ela estivesse vendo de errado em seu cabelo que, como sempre, estava perfeito. Mal sentou-se de frente para a amiga e pôs a mão direita sobre a mesa, tamborilando os dedos lentamente sobre esta.

Havia uma coisa que estava incomodando a filha da Malévola. A verdade era que não havia dormido muito bem. Não, não era isso. O problema mesmo foi o que aconteceu enquanto dormia. Foi a segunda vez que teve aquele sonho. Um garoto misterioso sentado próximo a um lago. A garota não entendia o que era aquilo, porque aquele lugar com toda a certeza não pertencia a Ilha dos Perdidos. Era muito claro, com o céu limpo, ela havia visto até mesmo um pássaro – coisa que não existia na ilha, apenas nos livros que ninguém gostava de ler.

De toda forma, ela ainda não havia contado para ninguém sobre esse sonho, mas foi isso que a fez pensar em como seria viver fora daquela barreira insuportável.

Mal ergueu os olhos da mesa e olhou para Evie. Franziu o cenho ao notar que a amiga sorria de modo malicioso, seus olhos fixos em um ponto atrás de Mal.

— Ev, o que você está... ah, isso. – Mal interrompeu sua própria pergunta quando se virou para ver o que tanto a garota de cabelos azuis encarava com aquela expressão descaradamente sedutora. Era o filho de Morgana, Mordred, que olhava embasbacado para Evie. – Você vai lá?

— Não preciso. – Evie deu de ombros e olhou para a amiga sorrindo. Não havia passado nem mesmo meio minuto quando o filho de Morgana apareceu ao lado da mesa das garotas. Elas riram baixinho e a de cabelos azuis murmurou um “Não disse” para a outra.

— Evie.

— Oi, Moddy. – Evie sorriu e inclinou a cabeça.

O garoto engoliu em seco, mas arrumou sua postura para parecer mais corajoso.

— Pode vir comigo, por um minuto? – Ele acenou com a cabeça indicando que era para ele segui-lo até onde estava antes.

— Eu adoraria. – Mordred acenou e se afastou, enquanto Evie levantava para segui-lo. Ela parou ao lado de Mal e piscou para a garota, antes de sussurrar cantarolando: – Coitadinho. Já volto.

Mal balançou a cabeça. Por um minuto sentiu pena do rapaz, até lembrar do que ele tentara fazer com Jay. Há alguns anos, quando o quarteto ainda nem estava formado, Jay entrou em uma briga com Mordred por causa de uma desavença ocorrida na loja de Jafar. Na época, Jay tinha por volta de catorze anos, mas já era um excelente lutador e encrenqueiro. Mal não se lembrava exatamente com todos os detalhes, porém o que importava mesmo era o desfecho. Mordred incendiou a casa onde morava Jay e sua família, o que quase resultou na morte destes.

Claro que isso aconteceu bem antes de ele ficar completamente apaixonado pela Evie e ter surtado quando descobriu que ela havia se tornado amiga de Jay.

— Onde está a Evie? – Carlos perguntou, colocando uma sacola sobre a mesa com alguns tipos de pães e doces que, muito provavelmente, estavam ou queimados ou estragados. Aqueles cozinheiros da Ilha eram um caso perdido.

— Está bem ali. – Mal apontou para trás de si, pegando a sacola e procurando alguma coisa com menos cara de podre para comer.

— Mas o que? – Jay exclamou ao ver a amiga de cabelos azuis conversando com o outro rapa. E ambos estavam muito próximos um do outro.

— Espera, não é aquele garoto que foi vítima da Evie semana passada? Aquele que ela humilhou na frente de toda Dragon Hall. – Carlos perguntou forçando sua mente a se lembrar. – O nome dele é bem difícil de lembrar e tal.

— Mordred. Sim, é ele mesmo. – Mal respondeu, já sabendo o que viria a seguir. – Parece que ele não a esqueceu ainda.

— Então, vai esquecer agora. – Jay seguiu tempestuosamente até a dupla e agarrou as costas da jaqueta do rapaz, puxando-o e afastando dela. – O que você acha que está fazendo aqui, lixo do mar?

— Jay. – Evie suspirou, aborrecida.

— Não começa, azulzinha. Meu assunto é com esse cracas d’agua. – Jay jogou o rapaz no chão, apenas para o erguer novamente e o jogar contra a parede.

— Tudo bem. – A garota deu de ombros e voltou até os amigos, sentando-se onde antes estivera. Ela pegou a sacola que Carlos havia trazido e fez uma careta. – Apenas doces?

— Dessa vez tivemos que ser rápidos. Aquele velho louco fez uma armadilha que quase me fez perder a cabeça. – Carlos reclamou, passando as mãos pelo pescoço vermelho.

— Não é como se você fosse comer alguma coisa. – Mal lembrou.

— Claro que ela vai. – Carlos puxou uma cadeira e sentou-se ao lado da azulada. Pegou um dos bolinhos com menos açúcar e colocou na frente do rosto de Evie. – Anda, abre a boca e come.

— Não enche, pirralho. – Evie afastou a mão do amigo.

— Não enche, você. – Carlos insistiu, encostando o doce nos lábios da amiga. – Se não comer esse bolinho eu juro, por todos os casacos de pele da minha mãe, que eu te jogo naquele mar infestado de tubarões assassinos, com barreira ou sem barreira.

Os amigos se encararam fixamente enquanto Mal não dava a mínima para aquela briguinha que acontecia quase todo santo dia. Por fim, Evie revirou os olhos e abriu a boca.

Carlos sorriu.

— Viu? Não caiu nem um fio de cabelo seu por isso.

— Eu já pedi para você ficar longe daquele imprestável. – Jay se jogou na cadeira ao lado de Mal, encarando furiosamente a amiga de cabelos azuis. Ele estava sem sua touca e apresentava um corte no supercilio direito. – Ele é muito mais velho que você e, além disso, não presta e é um inútil.

— Ninguém aqui presta, Jay. – Carlos disse rindo.

— Você entendeu o que eu quis dizer. – Jay bateu na cabeça do mais novo e apontou para Evie. – Eu não quero mais ver você com essa criatura.

— Ele só é quatro anos mais velho. Grande coisa. – Evie apoiou os braços na mesa e se inclinou, desafiando-o. – Você não me controla, sabia disso?

— Ah, pode apostar que sim. – Jay repetiu o gesto e a ainda encarou a garota de cabelos roxos. – Vocês duas.

— Ei, o que eu tenho a ver com isso agora? – Mal exclamou surpresa. – Não me coloca no meio dos esquemas da Evie, não.

— Tá, gente, chega com isso. – Carlos pediu, tentado acalmar o que provavelmente seria uma discussão de dia inteiro e de completa perturbação para seus ouvidos.

— Okay, okay. Eu não vou mais falar ou chegar perto do Moddy... Mordred. – Evie cedeu à pressão de Jay. – Já me diverti o suficiente com ele.

— Pronto, era só o que faltava.  – Mal reclamou apontando para o início da rua onde dois homens sujos e vestidos com trapos de roupas aproximavam-se do grupo. Era claro quem eram aqueles homens: capangas da Malévola. – Acabou minha paz.

— Madame Malévola está... – Um dos asseclas começou a se pronunciar, mas Mal o interrompeu, já sabendo o que seria.

— Sei, sei. Já estou indo. – Mal revirou os olhos e levantou. Direcionou-se aos amigos, antes de seguir os “guarda-costas”. – Pelo jeito, eu tô em alguma encrenca. Tchau, gente.

— Até amanhã. – Despediram-se, pois sabiam que quando Malévola vinha atrás da filha significava que ia manter a menina ocupada pelo resto do dia. Fazendo ninguém sabe o que.

— Querem dar uma volta por aí? – Jay perguntou.

— Fiquei sabendo que chegou coisa nova no mercadão. – Carlos comentou. – Podíamos ir lá “dar uma olhada”.

— Não tem outra coisa para fazer aqui mesmo. – Evie murmurou e, juntos, os três levantaram-se e seguiram na direção oposta à que Mal seguira. Passaram ao lado do rapaz caído inconsciente, com ferimentos no rosto sangrando e apenas ignoraram, indo para seu destino em busca de mais diversão.

 

...

— Mãe? – Mal chamou, entrando no grande cômodo principal da fortaleza. Como quase todos os lugares da Ilha dos Perdidos, ali estava sombrio. O cômodo era extremamente espaçoso devido à falta de moveis, à exceção de umas poltronas malcuidadas, mas que em outra época deveriam ser perfeitamente confortáveis. Encostada em uma das paredes laterais, havia uma enorme estante de pesados e grossos livros. – Mãe! Malévola!

— Pegue. – Malévola apareceu – sem suas roupas maléficas, mas com a mesma expressão assustadora – surgindo das sombras presente na casa, e jogou um livro maior do que qualquer um que a garota já havia visto e tão mais pesado quanto. Mal não aguentou e caiu de joelhos com o livro pesando seus braços e corpo para baixo, com a ajuda da gravidade.

— Pra que isso?

— Leia. – Malévola respondeu, sem nem se dar ao trabalho de explicar melhor. – Soube da confusão que causaram lá no cais. Mandou bem.

Mal resolveu não replicar dizendo que ela não tinha nada a ver com isso, ao invés, continuou folheando o livro para ver do que se tratava.

— Apesar de que isso é uma coisa que eu teria feito com cinco anos. – Malévola riu. – Terá que fazer algo bem pior do que isso, meu bem.

Lá estava novamente. Sua mãe sempre dizendo que ela nunca seria má o suficiente. Ela ainda nem merecia a chance de ser chamada pelo seu nome completo, não enquanto não conseguisse provar sua maleficência, tinha que fazer algo tão horrível e cruel, que se comparasse a vila mais poderosa de todas, Malévola.

— Eu sei, mamãe. Eu irei fazer. – Mal respondeu resignada. Ela já estava se cansando de sempre ouvir aquilo de sua mãe, por mais que a garota sempre tenha tentado fazer de tudo para agradá-la, nunca foi o suficiente.

— Minha garotinha danada. Agora termine logo de ler esse livro e depois quero ouvir seu relato sobre quais métodos você utilizaria em todos os casos. – Malévola andou até a prateleira e pegou um envelope dourado que estava escondido embaixo de um livro de capa verde. Ela rapidamente escondeu sob suas vestes perante o olhar curioso da filha. Malévola virou-se rispidamente para a mais nova. – Isso não lhe interessa. Agora termina logo isso, temos muitas outras coisas para fazer.

 

...

Com as luzes apagadas é menos perigoso

Aqui, estamos nós agora, nos divirta

Me sinto estúpido e contagioso

Aqui, estamos nós agora, nos divirta

With the lights out its less dangerous

Here we are now entertain us

I feel stupid, and contagious

Here we are now entertain us

 

— Estou morto! – Jay se jogou de barriga no sofá. Estava completamente exausto depois do longo dia de “passeio” com os amigos pela ilha e, agora, ele só queria descansar e dormir por três dias ali mesmo no sofá do esconderijo.

— Aqui. – Evie estendeu um copo de agua para Carlos que foi direito em um aparelho estranho que mais parecia um monte de sucata amassada e quebrada. – Achei que já tivesse arrumado.

— Só quero testar. – Carlos respondeu aceitando a agua oferecida. Aquele monte de sucata nada era a não ser a nova máquina em que vinha trabalhando. Agora ela era capaz de sintonizar poucos canais de televisão, mas, se conseguisse aperfeiçoa-la mais ainda, poderia conseguir sinal o suficiente para afetar a barreira mágica. Claro que ninguém sabia de seu real objetivo.

Os jovens se sobressaltaram quando alguma coisa foi jogada do lado de fora e acertou a escada que dava acesso ao refúgio. O som reverberou pelo lugar, agudo e tremulante.

— O que foi isso? – Carlos perguntou, e ele mesmo foi ver do que se tratava. Aproximou-se da mesa onde ficava o megafone que usavam para comunicação e abriu uma pequena abertura na parede, parecida com uma porta de vigia. Ele olhou pela abertura e gemeu frustrado. – É aquele homem de novo.

— Seja mais especifico. – Evie pediu, sentando-se elegantemente na poltrona e cruzando as pernas.

— O filho do peixe. Aquele que o Jay deu uma surra. – Carlos acenou em forma de descaso e voltou a olhar lá para fora. – Ele está jogando pedras na escada.

— Achei que tivesse acabado com esse cara. – Jay levantou-se de um salto e foi em direção ao Carlos. Suas energias renovadas momentaneamente apenas pela menção do filho de Morgana.

— Achei que estivesse morto de cansado, Jay. – Evie sorriu ao ver a reação do amigo.

— Vocês não vão se livrar assim tão fácil de mim. – Jay piscou para a garota e puxou uma alavanca, ativando o sistema de comunicação. – O que você quer aqui?

Primeiro ouviram um ruído seco e áspero, depois a voz de Mordred soou.

— Eu quero falar com a Evie. Só saio daqui depois de conversar com ela.

A garota ergueu a sobrancelha e ergueu as mãos para alto, divertindo-se.

— Eu prometi que não iria falar mais com ele.

Carlos a acompanhou na risada e pegou uma caixa debaixo da mesa. Aproveitou e pegou também o estilingue que estava disposto sobre esta.

— Quer fazer as honras, Jay? – Ele ofereceu uma das bolas com substancias estranhas que estavam dentro da caixa ao amigo, que confirmou.

— Você pode ir um pouquinho para trás? – Jay pediu, falando no megafone, para o rapaz lá embaixo. – Evie já está descendo.

— Claro, claro. – A voz de Mordred soara animada, como se ele estivesse ansioso pelo encontro.

Os três riram mais uma vez e Carlos abriu mais ainda a pequena porta de visão.

— Vamos começar essa festa.

Jay jogou a primeira bola que estourou fazendo um enorme barulho, e que fez o coitado do Mordred cair no chão assustado. A segunda e a terceira bola foi uma simples de tinta. Já na quarta, as coisas ficaram um pouco mais picantes. Para completar, jogou mais uma bola barulhenta e uma de fumaça.

— E não volte mais aqui! – Carlos gritou no megafone e desceu da plataforma de vigia. – Duvido que ele volte.

— Que mal. – Evie comentou, mas estava sorrindo maldosamente por trás de seu espelho de mão. – Apesar de que vocês usaram quase todo o nosso estoque.

— Depois você faz mais. – Carlos deu de ombros, ainda rindo pelo o que havia acabado de acontecer.

Evie baixou o espelho de mão e encarou o amigo com um olhar tão frio que a própria Medusa ficaria com inveja.

— Vai sonhando. – Respondeu lentamente. Carlos não aguentou a intensidade do olhar, virou a cabeça para o lado e deu um passo involuntário para trás.

Evie riu, percebendo a reação que causara no mais jovem.

— Depois dessa diversão toda, eu quero dormir e acordar só na outra vida. Vamos? – Jay indicou a saída, chamando os amigos. Carlos confirmou e passou em sua frente, já descendo a escada. Evie continuou sentada onde estava. – Anda você também. Não é como se eu fosse te deixar aqui sozinha. – Jay bateu palmas, apressando a garota. – Bora, levanta logo.

Evie suspirou frustrada, mas levantou e seguiu o garoto.

— Você irrita demais, Jay.

— Eu sei. Sou demais.

 

...

— Carlos, seu menino malcriado. – Cruella de Vil exclamou ao ver o filho entrando de fininho e silenciosamente pela porta do Hell Hall, sua não tão mais gloriosa mansão. O garoto havia saído de casa bem cedo e ela estivera jogando pragas no garoto até o momento em que ele voltou. Mas isso não era preocupação de mãe. Não, nada disso. O motivo era bem mais interesseiro. – Vá agora mesmo lavar aqueles casacos.

— Ah! – Carlos pulou de susto vendo sua mãe parada do outro lado do cômodo. Como sempre, ela estava com suas roupas extravagantes de peles de animais. – De novo isso? Mas eu já não lavei?

— Não os que estavam guardados. – Sua mãe apontou para ele loucamente. Em sua mão havia um envelope dourado, que parecia ter sido amassado furiosamente.

O garoto de cabelos brancos fez uma expressão incrédula. Qual era a lógica daquela louca?

— E para que tem que lavar os que estão guardados se eles já estão guardados?!

— Garoto, anda logo antes que eu- Volta aqui seu moleque. – Cruella correu atrás do filho que saiu fugindo pela janela, rindo dos gritos loucos da mãe.

 

...

Jay passou pela cortina que demarcava a entrada da loja de seu pai Jafar, vendo o mesmo largado no chão e aquele odor rançoso da bebida difundida pelo ar. Espalhadas ao redor de seu velho se encontravam várias garrafas vazias de bebida barata. Com certeza, o Capitão Gancho havia se encontrado com seu pai, muito provável por causa da brincadeirinha que Jay havia feito na madrugada.

Abaixou-se e passou os braços sobre o corpo do pai, jogando-o sobre seus ombros, apoiando-se nos joelhos antes de se erguer. Jafar se mexeu, gemendo algumas palavras incoerentes.

— Não estou entendendo nada. – Jay avisou, carregando o homem até seu quarto.

— Você está... ferido. – Jafar tocou na lesão do supercílio do filho. – Não me diga que perdeu uma briga?

— E desde quando eu perco uma briga? – Jay riu amargamente e jogou seu pai sobre a cama sem o menor cuidado. – Deixa que eu cuido da loja.

Antes de se afastar pode observar um pedaço dourado de papel saindo das vestes de seu pai. Porém o sino da loja tocando impediu que sua curiosidade fosse mais longe. Afinal, tinha alguém na loja que queria comprar algumas coisas ou, para animar Jay, tentar roubar.

 

...

Evie respirou fundo três vezes antes de entrar dentro de casa. Já era pouco mais de uma da manhã quando ela finalmente decidiu voltar para casa. Entrou silenciosamente no castelo de sua mãe, o mesmo castelo escuro, sombrio e assustador em que ela ficou confinada por quase dez anos.

Pelo que parecia sua mãe não devia estar em casa, julgando pelo silencio que estava presente no lugar. Evie aproveitou e sentou-se no grande sofá, relaxando o corpo e apoiando a cabeça no encosto. Se sua mãe a visse daquele jeito, surtaria. Arrume a postura, ela diria, uma princesa deve sentar-se corretamente e agir de forma polida.

Desde criança sempre houvera uma pressão extrema para se tornar a princesa perfeita, pressão essa que só aumentou com o passar dos anos. Ser a mais bela de todas, esse era o “objetivo” seu e, principalmente, de sua mãe. Embora a garota sentisse que a Rainha Má não queria isso verdadeiramente. Bastava olhar para seus olhos verdes que expressavam a cobiça quando alguém elogiava Evie como a mais bela de todas. Esse olhar surgiu pela primeira vez logo após a maldição ser quebrada, no primeiro dia em que Evie – já adolescente e com uma beleza admirável e arrebatadora – saiu pelas portas do castelo em direção a Dragon Hall. Desde então, o olhar se tornou cada vez mais presente.

A porta rangeu, avisando que havia alguém entrando. Demorou o suficiente para a garota de cabelos azuis arrumar a postura, antes que a dignifica Rainha Má entrasse no cômodo.

— Vejo que decidiu voltar para casa. – Sua mãe lhe observou, analisando a postura. Como sempre ela não usava suas típicas roupas do mal – apenas em ocasiões especiais –, mas estava elegantemente vestida com um vestido preto com pedras brilhosas e seus cabelos presos no alto. Elegante como sempre. Evie rapidamente se levantou e fez uma mesura a sua mãe. – E eu soube que você se encontrou com aquele insignificante filho daquela irmã maluca da Úrsula.

— Só estávamos conversando. – Evie tratou-se de explicar a situação rapidamente, apesar de que não faria muita diferença. – A senhora sabe que eu nunca ficari-

— Não sei como aguenta sequer chegar perto daquele garoto, ele fede a peixe. – A Rainha interrompeu, ignorando completamente a fala da filha. – Continuar flertando com esses tipinhos espalhados nesse buraco não irá lhe render um casamento com um príncipe.

Evie achou melhor não responder, apenas assentiu afirmativamente.

— Não se preocupe, minha querida. – Sua mãe continuou, sua voz soando desejosa e misteriosa. – A hora de encontrar um príncipe se aproxima mais rápido do que você poderia imaginar.

Novamente, Evie decidiu não responder. Em caso de dúvida sobre o que falar, acenar a cabeça concordando com a fala da Rainha era sempre o ideal.

— Espero que tenha realmente entendido. E nunca se esqueça, você está sendo treinada para ser uma perfeita princesa e não somente para seu próprio bem. – A Rainha lembrou. Ela foi em direção a pequena mesa embaixo de um dos archotes na parede próxima as escadas e abriu a segunda gaveta. – Andando com aquela gente também, o que hão de pensar.

A garota encarou o estranho envelope dourado que sua mãe acabara de pegar da gaveta.

— O que é-

— Eu já esqueci aquele pequeno acidente. – A Rainha Má interrompeu a garota com uma falsa calma em sua voz, os olhos fazendo um alerta de que não toleraria mais perguntas sobre aquilo. – Apenas não continue interferindo no que não lhe diz respeito.

— Sim, mamãe. – A garota abaixou a cabeça e fechou os olhos.

— Espero que não tenha ficado nenhuma cicatriz. – Rainha Má examinou atentamente a filha. – Não é formoso uma princesa, ainda mais filha da nobre Rainha Má, possuir cicatrizes pelo corpo. E levante a cabeça.

Evie ergueu a cabeça e sorriu respeitosamente.

— É claro que não, mamãe. Afinal, tudo tem que continuar perfeitamente perfeito.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Não sei se fico com pena do Mordred ou não kkkk

O que achou? Amou? Odiou? Foi "mais ou menos"?
Comenta aqui, eu quero saber o que vocês acham dessa loucura que eu escrevo.

E obrigada mais uma vez por estar lendo e acompanhando D.D.S. ♥

Proximo capitulo será "Rotten To The Core"



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Descendentes: Desenvolvendo Sentimentos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.