O Passado Sempre Volta escrita por yElisapl


Capítulo 25
Capítulo 24 - Amigos ajudam um ao outro.


Notas iniciais do capítulo

Eu: Olha só quem voltou??? Quem é vivo sempre aparece! O nosso convidado de hoje é Sam!
Sam: Oie, pessoal!
E: Está afim de contar as duas novidades, pequeno príncipe de Felicity?
S: Primeira novidade: As atualizações dessa história acontecerá rapidamente. Segunda novidade: Agora estamos no sexto ano e em breve descobriremos o que aconteceu com Rocket e Blondie por não aparecerem no atualmente.
E: Muito obrigada, pequeno Sam! Agora apreciem a leitura. Obrigada!!



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Eu esperarei, esperarei 
Eu te amarei como se você nunca tivesse sentido 
A dor, eu esperarei 
Eu prometo, você não tem que sentir medo 
Eu esperarei, o amor está aqui e está aqui para ficar 
Então deite sua cabeça em mim 

Seis anos atrás:   

A última coisa que havia visto foi Blue injetar em mim uma seringa que no mesmo segundo me fez apagar. Eu podia ter desviado, podia tê-lo impedido, porém estava tão atônita com a morte de meu pai. Ele foi morto, mas não fui eu quem apertou o gatilho. Fora a pessoa mais repugnante deste mundo. A pessoa que mais odeio agora. 

Blue Jones.  

Meus sentidos começam a retornar, meus olhos ao abrirem, enxergam apenas escuridão. Não há nenhum sinal e nenhuma brecha de luz.  Sinto meu corpo todo se estremecer por causa do chão gélido no qual estou deitada. Quando percebo que estou nua, automaticamente envolvo minhas mãos por volta de meu corpo para me esconder. Segundos passam e minha vergonha de estar despida, se começa a tornar desespero. Será que alguém tentou me violentar... Ou eu fui violentada?    

Não sinto nenhuma dor em minha parte íntima e por puro instinto, crio uma certeza de que ninguém fez nada contra o meu corpo. Apenas não entendo o porquê de me deixarem largada em um lugar escuro e sem roupas para mim.  

Começo a vasculhar o local. Passo minhas mãos pelas paredes e não sinto nada, nem mesmo uma maçaneta. É como se eu estivesse presa em uma caixa totalmente fechada, porém não há possibilidades para estar em uma, mesmo o lugar sendo pequeno, é suficiente para eu ficar em pé e pelo menos caber mais quatro pessoas para ficarem aqui.   

Com frustração, sento-me no chão e envolvo meus braços em volta de meus joelhos. Estou com frio, então tento fazer o calor do meu corpo me esquentar, mas não ajuda muito, pois também estou gelada. Pendo minha cabeça na parede e fito a escuridão.   

Pequenas lembranças veem a minha mente. Esperava que fossem boas, porém nenhuma delas me trouxeram força de vontade para se animar... Ou para viver. Reavaliando minha situação, por que continuar vivendo? Já estou nesse dilema e nesta mesma pergunta a mais ou menos a dois anos. 

Antes, eu quis viver para vingar minha mãe e minha irmã, minha família - a qual parece que não sou parte, não biologicamente. Mas qual diferença faz agora? Do que me adianta saber que sou uma adotada e que meus verdadeiros parentes me abandonaram? Se meus verdadeiros pais não me quiseram, não me adiantar ir atrás deles e talvez nem estejam vivos. Isso não me importa e jamais importará.  

— Há mais um motivo pelo qual continuou lutando – uma voz sussurra, parece tão distante, mas consigo ouvi-la nitidamente e perceber que é a de Amber.   

Quando abro minha boca para perguntar a razão dela ter dito aqui, uma luz invade o local, meus olhos ardem e se fecham automaticamente. Levo segundos para abrir minhas pálpebras e começar a se acostumar com a iluminação.   

— Fico feliz que esteja bem, Babydoll – Declara uma voz com um sotaque russo. Minha visão vai na direção da mulher e logo atrás dela, vejo uma porta que provavelmente só abre por fora. - Vista isso, você deve estar com muito frio. – Ela estende um roupão e eu pego. Não quero que meu corpo continue sendo exposto – E devo lhe avisar: Não lute. Caso fizer, as consequências irão para Rocket, Blondie e Sweet Pea.   

— Quan... - Minha garganta está seca e dolorida – Quanto tempo fiquei inconsciente? - Consigo formar minha pergunta enquanto me levanto, mas minhas pernas estão fracas, simplesmente não aguentam o meu peso. A Vera Gorski, mais conhecida como Madame, consegue me segurar e me puxa para fora da minha sala de escuridão. Não há ninguém conosco, nem mesmo Blue. Apenas nós duas.    

— Completou um mês. - Sua afirmação me faz frisar a testa.   

— Isso é impossível! - Exclamo irritada. Não estou com paciência para brincadeiras e nem com vontade para rir. Principalmente quando a piada vem desta mulher. 

— Nós mantivemos você sedada por este tempo, minha doce menina. – Meus lábios contraem pelo jeito que ela me chamou. - Alimentávamos a senhorita uma vez por semana, enquanto estava dopada. Sua memória está fraca e confusa, passou muito tempo no escuro e na solidão.   

— E quanto eu precisava ir ao banheiro? Quando estava com sede? - Inquiro incrédula. - Tomar um banho? - O olhar dela foi de pura pena para mim.   

— Eu cuide de tudo isto pessoalmente. Não se preocupe, algumas memórias vagas irão aparecer para você. Apenas precisa de tempo. Passou muito dias inconsciente e dopada. Os seus sentidos estão fracos.   

— Não entendo – murmuro – Por que fizeram isso?  

— É a nova punição. Isso enfraquece o corpo e a mente das meninas, as impede de fazerem alguma tolice. Suas amigas também sofreram o mesmo que você quando foram pegas após a fuga.  

Meu corpo simplesmente congela.  

— F-fuga? - Pergunto desesperada e com o fio de voz que consigo encontrar em mim.  

— Exato - Assente levemente com a cabeça. - Quando eu e o resto escapamos daquela coisa monstruosa - ela se refere ao Batman, ao Bruce Wayne. - Blue percebeu que você e mais quatro meninas tinham fugidos, então ele ordenou que fossemos atrás de vocês. 

Típico dele. A voz de Amber sussurrou em minha mente. 

— Acredite ou não, mas foi por puro destino que encontramos elas. Claro que ficamos decepcionados por não termos te achado, mas não podemos reclamar, certo? Agora está aqui conosco e não irá para lugar nenhum – diz com a mais certeza absoluta. -  Aliás, sinto muito por Amber, nunca encontraremos uma japonesa como aquela – eu podia ver em seu rosto que ela não sentia nada e tampouco liga. – Vamos, preciso te mostrar a sua nova casa.    

Eu quero gritar. Socar. Atirar. Matar. Chorar.   

Mas apenas assinto e a permito que me puxe para continuarmos andando.   

As coisas acabam de piorar com a nova informação. Todo aquele tempo em que estive com Bruce, todos aqueles meses eu pensava que as meninas estavam seguras, em suas próprias casas e com as suas famílias. No entanto, elas estavam aqui, presas e sendo abusadas novamente. Isso é culpa minha.   

Depois de ver um pouco da casa de prostituição (apenas uma sala onde as meninas aprenderão a dançar melhor, a cozinha que está mais renovada e os banheiros que aparenta ser mais luxuosos) a Madame me guiou até o quarto que usarei para descansar e destrancou a porta. Eu esperava que do outro lado estivesse as meninas, mas me enganei.   

Quando entro, há apenas uma cama e o espaço é menor do que a nova sala de punição. Ao menos não é escuro e possui uma coberta. Apenas não entendo o porquê de separaram as meninas uma das outras. Não seria econômico colocar algumas juntas para diminuir a quantidade de quartos?  

— Blue disse que é melhor as meninas ficarem separadas ao dormir – a Madame diz, respondendo minha pergunta silenciosa. – Evita brigas e conversas desnecessárias. Com isso irão descansar e estarão dispostas para o próximo dia.  

— Em outras palavras: Ele quer acabar com a nossa privacidade e com a pequenina liberdade que tínhamos - a única coisa que ela fez foi me dar um olhar reprovador e sair, logo em seguida escutei a porta sendo trancada.   

Eu me sento na cama e olho para o meu corpo, percebo que os cortes que havia feito no jogo insano de meu pai estão cicatrizadas e fracas, por sorte todas foram rasas e com o tempo vão sumir. Gostaria que minhas lembranças daquele dia também desaparecessem com elas.   

Estou muito magra, nem mesmo com uma dieta rígida conseguira chegar a este estado. Meus cabelos estão sem vida e conforme passo a mão por eles, sinto alguns fios caírem. Me sinto tão fraca, mas não quero dormir. Não posso.   

De repente, ouço o som da porta se destrancando e penso ser a Madame voltando para me dar qualquer estúpido conselho, no entanto, quando avisto Sweet Pea, ao menos acredito que seja ela, pois desta vez está diferente. Ou na realidade não parei para reparar em seu visual quando estava cega de vingança.  

Ao ver os olhos castanho escuro, quase preto, e um olhar duro em mim, consigo ter certeza que a mulher em minha frente é realmente Sweet Pea. No entanto, seus cabelos que antes eram grandes e loiros, agora estão no ombro e cor de sangue.   

Mais duas mulheres entram e logo reconheço uma como Rocket, porém seus cabelos estão do mesmo tamanho dos de sua irmã, mas com eles pintados totalmente de branco. A outra moça é Blondie, nela não há nada em sua aparência de diferente, apenas um enorme corte na sua clavícula que quando me pegou vendo, tratou de escondê-la com seu robe de dormir.  

— Meninas! - Falo baixo e tento me levantar da cama, entretanto, minhas pernas enfraquecem e só não acabo no chão porque Sweet me segura.  

— Está fraca ainda, Babydoll. – Comenta me fazendo se sentar de volta. - Não faça muito esforço. Aqui, coma um pouco – ela me entrega algo que está em sua mão. Um bolinho de laranja que está meio comido, mas mesmo assim desperta em mim uma fome que não tinha notado até o momento.  

— Obrigada. - Agradeço ao termina de devorá-lo e só então percebo que as meninas estão me encarando com expectativa. - Como conseguiram entrar aqui? Acredito que a Madame não entregou a chave para vocês.   

— Nós roubamos uma que dá acesso a todos os quartos – Rocket diz como se não fosse nada demais. 

— O quê? - Inquiro alta e um tanto assustada. - Estão loucas? E se forem pegas?  

— Temos tudo sobre controle, Babydoll – declara Sweet e sem perceber, acabo soltando um suspiro de frustração, fazendo-a estreitar os olhos. - Não acredita?  

— Não é isso – respondo rapidamente. – Ainda não acredito que voltei para este lugar novamente. Para mim, isso parece que é um pesadelo novamente. Mas desta vez não posso me deixar enganar.   

— Sabemos como é - Blondie se pronuncia pela primeira vez. Seus olhos estão mais tristes que o normal, porém há um brilho de esperança bem pequeno neles.   

— A Madame me contou que foram pegas quando estavam saindo da cidade, após nós conseguirmos fugir – desvio o olhar das meninas – Todo este tempo, eu achei que vocês estavam nas suas casas, com suas famílias. Eu nunca voltei a procurá-las, pois pensei que estavam felizes... - Pauso por um instante e sinto pingos de lágrimas escorrerem por meu rosto. Não posso mentir para elas. - Na realidade, estava com inveja de que vocês tinham alguém para voltar e eu não.   

Sinto dois braços se envolverem em volta de meu corpo e o cheiro de rosas entrarem em minhas narinas. Apenas continuo chorando sem devolver o abraço.  

— Não tinha como saber. Além do mais, fui eu quem disse pra continuar viva para se vingar do homem que destruiu sua vida, ou por acaso esqueceu? - Indaga Rocket, acariciando meu cabelo, me fazendo acalmar aos poucos.   

— O tempo está acabando – Blodie sussurra desanimada. Com esta afirmação, Rocket para de me abraçar e se afasta abruptamente.  

— Por que vieram até aqui? - Inquiro. Duvido que tenham vindo apenas para me ver como estou. Não seriam estúpidas para se arriscarem por isso.   

— Nós queremos que nos tire daqui, Babydoll – viro meu rosto para encarar Sweet Pea que está com suas costas e uma perna encostada na parede, seus braços estão cruzados e seus olhos sérios e frios. Algumas coisas nunca mudam – Nesses últimos meses, você treinou, aprendeu a se defender e lutar. Não negue.   

Como diabos ela sabia que eu ia contrariá-la?  

— Eu e as meninas, estamos tentando buscar um jeito de sair, sabemos de cor este lugar. Apenas precisamos de um bom plano. Precisamos de você - ela continua dizendo – Nos tirou uma vez das mãos de Blue. Pode fazer isso novamente.   

— As coisas estão difíceis - Blondie entra no meio – Estamos sendo vigiadas, há apenas poucos lugares que não colocaram câmeras: Banheiro, este corredor e os quartos das meninas. Os cômodos que atendemos os clientes também estão sendo vigiados, não podemos nem tentar convencer alguém de fora para nos ajudar.   

— Parem! - peço com a voz alta o suficiente para todas me escutarem e com o tom duro. – Não posso ajudar vocês. Desistam.  

— Por quê? - Rocket questiona, com os olhos arregalados.   

— A Madame me alertou que caso eu tente algo, vocês sofrerão as consequências – falo olhando para baixo. – Quero que saiam.   

— Babydoll - escuto Sweet suspirar de exasperação e a vejo sair de sua posição, colocar suas mãos em meus ombros, obrigando-me a fitá-la, enquanto outras lágrimas teimosas insistem em cair. – Tente dormir.   

— Mas... - Blondie tenta falar.   

— Ela vai descansar! – Sweet afirma, mas não está me encarando. Os olhos castanhos dela estão fitando Blondie, de maneira calma e tentando passar tranquilidade.  – Precisamos dormir – dito aquilo,  as meninas saíram e apenas sussurram um ''boa noite'' e um “tenta pensar novamente sobre o assunto”.   

Ao escutar o som do meu quarto sendo trancado, pego o meu travesseiro, o aperto como se fosse meu escudo e mantenho meus olhos abertos. Não estou cansada, não preciso dormir, repito isso várias vezes em minha cabeça, mas não tem como mentir para mim mesma. Estou com medo de dormir e ter algum pesadelo.   

Atualmente:  

Passei a noite acordada, observando Oliver e cuidando dele. Diferente de mim, ele não tem pesadelos e muito menos acorda assustado, mas por sorte,  os meus maus sonhos diminuíram – na verdade nem os tenho mais, desde que comecei a dividir o mesmo colchão com Oliver e usar seu peitoral como travesseiro.   

— Felicity,  pare de me olhar – murmura ele com a voz sonolenta,  me fazendo desviar os olhos com certa timidez.  – Você está...  

— Eu estou? - Pergunto, franzindo o cenho.    

 - Com cara de acabada - conclui rindo.   

— Ah, obrigada por me avisar.  – exclamo baixo revirando os olhos.   

— Mas consegue ficar linda de qualquer jeito. – ele se levanta e beija o topo da minha cabeça. – Vou tomar um banho.   

— Certo, aliás, quer que eu vá com você? -  Pergunto irônica. Não era necessário que me contasse onde estava indo, até parece que preciso lhe dar permissão. Céus, por que estou brava? Não há razão para me sentir assim e muito menos com ele.   

— Quero - responde e eu abro um sorriso.  

— Sabia que ia dizer isso... Espera. O quê? - Arregalo os olhos percebendo que não era esta a resposta que eu queria ouvir.   

— Você se ofereceu para vir comigo no banheiro. Eu aceito. - Explica, pegando minha mão e a beijando.   

— Eu estava sendo irônica - assumo, revirando os olhos novamente. Certo, há algo muito errado comigo (e não é o problema comum). Eu preciso saber a razão de estar agindo como se ele tivesse feito algo para mim.     

— Por favor, Felicity. - Pede, agora acariciando meu rosto com delicadeza, me obrigando a fechar os olhos por alguns segundos e soltar um suspiro prazeroso.   

— Não sei, Oliver. – Minha voz sai fraca, com desespero e hesitante.   

— Apenas para lavar minhas costas – com o pedido estranho, abro minhas pálpebras para encarar os olhos azuis dele. Tão intensos e tão lindos.   

— Isso eu posso fazer. - Afirmo, abrindo um sorriso sem mostrar os dentes.  

— Você poderia tomar um banho comigo – investe e sinto meu rosto ruborizar ao mesmo tempo que sinto uma aflição crescer em meu peito.   

— O-Oliver... E-u... N-ão s-ei se... P-osso. - Porra, por que estou gaguejando? Sou uma mulher ou uma menina? Estou mais para covarde.   

— Será apenas banho, Felicity. - As suas duas mãos seguram meu rosto, fazendo-o fitar e encarar as orbitas que me fazem perder o raciocino. Sinto seus lábios tocarem na ponta do meu nariz como um beijo. – Por favor, não quero ficar longe de você e nem sozinho. Se não estiver naquele banheiro, coisas das quais não quero pensar vão invadir minha cabeça e eu não quero isso. Preciso de você.   

Sinto um aperto em meu peito, me esmagando enquanto continuo calada.  

— Certo – murmuro olhando para qualquer espaço que não seja os olhos dele – Vamos pegar nossas roupas – o vejo assentir e ele solta meu rosto.   

Nós vamos até os armários que mantemos algumas – poucas - peças de roupas nossas. Pego qualquer uma sem olhar, pois minha cabeça não está preocupada se estarei com estilo ou não.   

Eu nunca tomei banho com alguém. Porra. Cadê a Sweet Pea quando preciso dela? O que ela diria para mim? Algo do gênero ''supere seu medo e aproveite''. Há tantas razões para ter medo do que nós vamos fazer. Oliver não é Blue, Felicity. Tento me convencer de que nada irá me acontecer.   

Minha respiração se acelera e fica mais pesada quando entro no banheiro e logo atrás está Oliver fechando e trancado a porta. Quase opino para que deixasse a porta aberta, no entanto, seria mais vergonhoso ser pega por alguém do time.   

Sem se quer me avisar, Oliver retira sua camisa, me dando visão de seu peitoral e de algumas cicatrizes em seu corpo. Eu apenas me ocupo em ligar o chuveiro e deixá-lo na temperatura que quero.   

— Pronto, está quente o suficiente – digo, retirando minha mão de baixo d'água e viro meu rosto para encarar Oliver que felizmente está sem nenhuma peça de roupa e praticamente está colado em mim. – Pode entrar - Saio de sua frente, para dar passagem a ele e ao mesmo tempo evitar de olhá-lo. Cadê aquela parte minha que era louca para ver o corpo de Oliver e passar a mão pedaço por pedaço? Antes eu pensava em algo apenas canal, agora que estou envolvida emocionalmente, torna tudo mais difícil de fazer.   

— Não vai entrar também? - Inquira ele, me obrigando a fitá-lo e dando uma vista de seus cabelos e rosto sendo molhados pela água que desce. Caramba, está ainda mais lindo do que sempre foi. Como consegue? - Ou vai ficar me admirando?   

— Cala a boca – resmungo exasperada. Respiro o ar e depois expiro para fora. Vamos, Felicity, não é difícil. Me viro de costas para Oliver, evitando de ficar ainda mais constrangida. Retiro primeiro a calça, hesito por um segundo antes de tirar a blusa e ao recuperar a coragem, me vejo sem roupa alguma. - Feliz? - Indago, me virando de frente e indo até ele. Claro, que não consegui olhar para seu rosto, porém consigo perceber que estou sendo observada.   

Ao me aproximar, ele me dá espaço para poder molhar meus cabelos. Quando sinto a água escorrer por todo meu corpo, fecho meus olhos para relaxar um pouco. Sei o porquê de Oliver não fazer comentário engraçado. Ele viu minhas cicatrizes, as piores que permanecem em meu corpo, como as dele.   

—Felicity – escuto murmura e passar sua mão sobre a cicatriz que começa em baixo dos meus seios e acaba no meu umbigo. - Quem te fez isso? - Inquira, com raiva na voz. - Quem? - Ele pega no meu queixo e levanta minha cabeça para me encarar nos olhos. É por isso que nunca deixo minhas costas e barriga sem um pano.   

—Já faz tempo, Oliver – afirmo com veemência. - Não importa mais.   

—E os das costas? Merda, Felicity. Suas cicatrizes parecem ser piores que a minha.   

—Pare, por favor - peço pegando sua a mão e fazendo soltar meu rosto. - É por isso que não queria tomar banho com você. Eu sabia que ia ficar preocupado e neurótico em relação a elas – o puxo pelo braço para ele ficar em baixo d'água quente. - Oliver, prometo contar para você como as ganhei quando eu estiver pronta. Então, por agora não insista. Todos temos nossas marcas do passado.  

Nós ficamos em silêncio durante segundos, um fitando o outro. Nos olhos dele, pude notar que estava procurando por algum vestígio de dor em mim, mas a única cicatriz que ganhei e a qual me destruiu de verdade não está marcada em meu corpo e sim em minha alma.  

—Quando estiver pronta, pode contar para mim – Oliver afirma, quebrando o silêncio e me puxando para um abraço, no qual o contato de nossas peles me fez arrepiar e praticamente congelar, mas quando percebo que não é pavor em meu coração e sim amor, decido abraça-lo de volta. - Queria poder ficar o dia inteiro aqui.   

—Se ficasse, iria acabar com a água da cidade – brinco e me afasto do seu abraço, mas sem deixá-lo de tocar. - Agora vamos tomar banho – ele concorda e eu pego o shampoo – E apenas isso – Acrescento, mesmo tendo noção de que Oliver não faria nada que eu não quisesse.   

—Posso lavar seus cabelos? - Indaga, curioso. O que esse homem está querendo de mim? Sem querer, acabo cruzando os braços em cima dos meus seios, mas os olhos dele continuam fixados nos meus. - Deixe-me fazer isso, depois retornamos a tomar nossos banhos normalmente.   

Sem muitas escolhas – na verdade tinha, porém Oliver consegue me convencer sem tentar muito – entro o shampoo para ele e me viro de costas, facilitando o trabalho dele. Meus cabelos são tão complicados quanto eu, por isso a maioria das vezes os mantenho presos.  

Quando sinto os dedos de Oliver esfregarem minha cabeça carinhosamente, fecho os olhos e diminuo a tensão de meus ombros, fecho meus olhos e aproveito.   

Meus olhos se abrem quando sinto os lábios dele no meu pescoço, a barba que começa a crescer raspar em minha pele e me obrigar suspirar.   

—Oliver... - murmuro no modo alerta.  

—Desculpe, não resisti – o escuto rir e aquilo me faz automaticamente abrir um sorriso. - Agora irei parar - após afirmar, ele me puxa para meus cabelos se molharem e depois começa a passar o condicionador.  

Depois de tomarmos banho, eu me sequei primeiro e comecei a vestir minhas peças pretas. Fazia tempo que não as usava, é uma pena que irei vesti-las para uma ocasião deprimente e não para o dia-dia.   

Logo depois Oliver está usando um terno, porém é nítido a pouca vontade que está de usar essa roupa para o enterro, pois nem os botões ele fechou. Por mim não há problema, no entanto, esse não é o jeito normal dele. O Oliver Queen que conheceu chega a ser um perfeccionista, ou ao menos organizado.   

—Quer tomar um café fora? - Inquiro. Precisamos ao menos comer antes de irmos ao enterro que será às dez desta manhã.   

—Pode ser – responde desanimado e indo se sentar na minha cadeira. Suas mãos passam por suas têmporas, demonstrando incomodo. - Não quero ir ao enterro, Felicity. Não quero me despedir de minha mãe.   

—Sei que não. Mas é necessário. Acredite em mim. - me sento em seu colo e me seguro em seu pescoço para não cair. - Eu não pude participar do enterro da minha e é uma das coisas que mais queria.   

—É que ainda não consigo aceitar o fato dela ter morrido para salvar seus filhos – ele balança a cabeça e suspira. - Lidei com tantas mortes, mas nunca consigo ficar preparado parar perder alguém.   

—Sei como é - acaricio sua nuca – Também sei que com o tempo a dor irá diminuir. Não se preocupe, irei cuidar de você - abro um sorriso timido por causa da minha própria afirmação que saiu sem pensar.   

Os olhos azuis dele apenas me fitam de uma maneira que me faz arrepiar. É como se eles me conhecessem muito mais do que eu mesma me conheço. Como se já soubesse todos os meus segredos e meus pensamentos. Isso é tão surreal que me vi hipnotizada por eles, me impedindo de piscar para não quebrar esta sensação.  

—O que estão fazendo? - Eu saio do colo de Oliver, caindo no chão e sentindo meu braço doer. Por que fiquei tão assustada? Não estava fazendo nada demais.   

—Por que acordou cedo, Sammy? - Questiono, sentindo seus olhinhos negros me encarar como se eu fosse louca. Começo a me levantar para evitar de passar ainda mais constrangimento na frente dele. - Quer dizer... Conseguiu dormir bem?   

—Sim, sim! - fala abrindo um sorriso que me faz sorrir também - Estou com fome – ele passa sua mão sobre a barriga, que me faz soltar uma risada.   

—Alguém disse que estava com fome? - Escuto uma voz por de trás de mim e sei que não pertencem a Oliver. Me viro e vejo John, segurando com uma mão uma caixa que pelo cheiro contém café e rosquinhas. Já na outra, ele está segurando um terno para o tamanho de uma criança.   

—Eu disse! - diz Sam praticamente desesperado. Pelo visto ele está com muita fome, pois praticamente ataca as rosquinhas que Diggle acabara de deixar sobre a mesa.  

—Nem espera os outros para comer. - Novamente ouço outra voz, me surpreendendo por Thea aparecer aqui, pensei que veria só no enterro – Felicity e Oliver, vocês não estão educando o meu sobrinho? - Ela deposita um beijo na testa de Sammy e se vira para me encarar, esperando uma resposta.  

—Bem... É que... - Penso em algo para dizer, mas acabo não achando.   

—Reclama da educação dele, mas quando criança roubava os doces que o papai guardava na gaveta. Acha que me esqueci, Speedy? – Oliver responde e não consigo segurar a risada.   

—Sério, Thea? - Outra voz preenche o lugar e avisto Roy entrando juntamente com Sara e Laurel. O time inteiro está aqui. - Nunca me disse que era uma ladrazinha de doces na infância - ele afirma um tanto desacreditado - Você não gostou quando roubei sua bolsa, mas gostava de roubar balas da gaveta do pai. Que injustiça.   

—Ah, cala boca, Roy! - ela exclama, com um pouco de vermelho nas bochechas. - E para saber, não eram balas, eram chocolates! Enormes barras de chocolates!   

—Chocolate? Onde? Eu quero uma! - Sammy praticamente berra animado com a ideia de comer mais outro doce.  

—Acho que rosquinhas para você já é o suficiente, meu príncipe – Digo, ele apenas concorda e volta a devorá-las novamente.   

Nós começamos a tomar café de maneira calma e com tranquilidade. A maioria do pessoal foi perguntar como os irmãos Queen estão se sentindo, mesmo sabendo que não podem estar bem.   

Ver todos reunidos me deu uma paz no coração. Me fez querer ligar para Sweet e Bruce, convidá-los para vir aqui e desfrutar de um café em família. No entanto, tiro esse pensamento, pois o Time Arqueiro praticamente considera o Time Morcego rivais, para não dizer inimigo.  

—Sam, aproveita que acabou de tomar seu café e vai tomar um banho. - Pede Thea, dando a ele o terno que Diggle trouxe e uma cueca infantil. O pequeno apenas concorda e começa a correr em direção do banheiro. Já sei o que devo diminuir na lista de compras: Açúcar. Isso faz com que Sammy fique praticamente energético.   

—Vocês não contaram para nós da onde arranjaram um menino fofo como ele. Podem nos dizer agora? - Inquira Sara, com muita curiosidade.   

—Nós o encontramos na cidade em que Felicity nasceu - começa Oliver explicar. - A princípio, nós íamos levá-lo de volta para o orfanato. No entanto, ele nos conquistou de uma maneira que criou vontade em protegê-lo.   

—E eu cheguei à conclusão que para não nos preocupar, nós mesmo podíamos cuidar dele – afirmo sorrindo. - Por isso o adotamos.   

—Jamais pensei que iria vê-los cuidando de uma criança - comenta Roy rindo. - Isso quer dizer que você e Oliver estão juntos finalmente?  

—O quê? - Engasgo com o meu próprio café.   

—Sim, nós estamos! - Afirma Oliver, com empolgação. Será que ele esqueceu da parte que era para nós manter isso em segredo até tudo passar? Pelo visto sim.  

—Estavam demorando para perceberem – Laurel fala, me fazendo sentir levemente desconfortável, afinal, ela foi uma ex-namorada dele e no fundo, acredito que ainda goste dele. - Vocês foram feitos um para o outro.   

Quase que me jogo no chão dura pelo que acabo de ouvir. Feitos um para o outro? Essa é a nova para mim. Nunca em minha cabeça que iria pensar isso. Na realidade, antes de me envolver com Oliver, eu achava que ele tinha sido feito para Laurel e vice-versa. Mas claro que pensei isso antes de Tommy morrer e Oliver se mandar para a ilha que ficou durante anos preso. E antes de me ver atraída por ele.  

—Isso é verdade – O resto do pessoal concordam em um uníssono.   

Isso aqui é um complô contra a mim? É claro que fico aliviada em saber que Laurel aparenta estar bem com o relacionamento com Oliver e que todos estão animados com a nova novidade. No entanto, não consigo ver que nós dois fomos criados um para o outro. Apesar de termos algumas coisas comuns, somos diferentes. Sem contar que ainda escondo muitas verdades sobre mim para o pessoal. Talvez se soubessem meus segredos, não pensariam isso.   

—Estou pronto! - Anuncia Sammy, todo lindo com um terno. Eu nem sequer percebi o tempo passar enquanto o time conversava. - Sei que fiquei bonito, mas peço, por favor, parem de olhar – diz e suas bochechas ficam rosadas. - Agora alguém pode me contar que lugar é este? Vocês simplesmente falaram para mim que é o segundo emprego de Oliver, mas não explicaram o que ele faz aqui.   

Os olhos do pessoal vieram para cima de mim e de Oliver, provavelmente esperam que nós o expliquemos, pois é a nossa função.   

—Digamos que o trabalho dele é ajudar as pessoas. De noite, ele veste um capuz e usa um arco-flecha, sai pelas ruas para lutar contra bandidos e outras pessoas ruins – explico resumidamente – E o resto de nós o apoiamos, damos nosso reforço caso seja necessário. É um segredo nosso.   

—Você também vai para rua ajudar? - Questiona para mim e eu nego com a cabeça. - Não se preocupem, irei guardar o segredo comigo. Ninguém saberá.   

—Assim espero, Sam. – Diz Oliver – Agora se me dão licença, preciso de um ar fresco – Estranho sua declaração. Até uma hora atrás, ele não queria ficar sozinho. Mas de repente, sente a necessidade de tomar um ar fresco?   

No entanto, decido deixar esse sentimento de incomodo de lado pelo menos por enquanto. Pego meu celular e mando uma mensagem para Sweet, avisando-a onde será o local de enterro e o horário.  

Outra coisa que faço é ver se há alguma coisa no noticiário. Torço para que a notícia sobre a morte de Moira Queen não tenha sido divulgada, pois não quero nenhum repórter ou coisa do tipo invadido o enterro. Quero que seja apenas para as pessoas que não a odeiam, que a conheceram de verdade, ou pelo menos uma parta dela - como eu a conheci, mesmo que tenha sido praticamente tarde demais – ou que tenham respeito a ela.   

Cheguei até perguntar para Thea (que aparenta estar lidando com isso melhor que Oliver) se há algum parente ou amigo que deseja convidar, mas ela diz que não tem ninguém, pois as únicas pessoas que Moira conversava era pessoal de negócio.   

Depois de trinta minutos, Oliver não retornou da sua busca por ar fresco. Pelo celular, olho as câmeras e noto que não há sinal dele do lado de fora. Na onde ele se meteu? E por que saiu sem avisar?   

Escolho ir procurá-lo e peço para Thea cuidar de Sammy enquanto ia atrás de seu irmão. Ela também estava estranhando o fato e recomendou que eu fosse até a casa dele, onde é o lugar que provavelmente estará.   

Tive que ir de a pé até o caminho, no qual parei pela metade, pois encontrei Oliver em um beco, lutando contra dois homens. Um possui uma cicatriz no olho esquerdo e o outro possui uma tatuagem que cobre praticamente seu braço inteiro.   

—Oliver! - O chamo sem pensar e os todos os olhares caem sobre mim e vejo que foi uma péssima ideia chamá-lo, porque o de cicatriz no olho, veio até mim e tentou me prender, mas eu rapidamente desviei.   

—Saia de perto dela, seu filha da puta! - Berra Oliver, com uma nítida raiva na voz e em seu corpo todo. O homem que tentou me pegar cai praticamente duro quando Oliver o soca na perna e em seguida dá um chute em seu estomago. O outro, de tatuagem que cobre seu braço já está no chão faz alguns segundos. - Vamos embora, Felicity – sinto meu pulso ser preso e eu ser arrastada do lugar.   

Enquanto sou puxada por Oliver para irmos a outro lugar longe do beco, vejo em seu semblante uma irritação. O certo é eu estar irritada, não ele.  

—O que estava pensando, Felicity? - Ele pergunta, quando solta meu pulso e pararmos na frente de uma loja de roupas.  

—Não sei, diga-me você. No que estava pensando, Oliver, ao bater naqueles homens? - Explodo. - Aliás, obrigada por me machucar! - passo a mão no vermelho que se formou de tanto ser apertado.   

—Aqueles homens teriam feito pior, Felicity! - ele grita. - Sei que não se importa com sua própria segurança, mas eu me importo! Pare de agir como se ninguém pudesse te ferir ou como se soubesse cuidar sozinha.   

—Por que está bravo comigo? O que fiz para ficar assim? - Pergunto, batendo o dedo indicador em seu peito repetidas vezes.  

—VOCÊ SAIU DO LUGAR EM QUE ESTAVA SEGURA! VOCÊ ESTÁ SE ARRISCANDO! NÃO ENTENDE QUE ESTOU TENTANDO DE PROTEGER? - ele berra e segura meus braços de maneira agressiva.   

—VOCÊ ESTÁ TENTANDO ME PROTEGER? COMO? COLOCANDO SUA VIDA EM RISCO? NÃO É PARA VOCÊ ESTAR COM MEDO E SIM EU! - o faço soltar meus braços e o empurro para trás.   

—Eu não estou com medo – Oliver praticamente sussurra. - Preciso ficar sozinho. Não quero que venha atrás de mim, Felicity. – ele começa a andar e eu apenas fico parada no mesmo lugar o vendo ir.   

O que acabou de acontecer?   

Nada disso faz sentido. Por que gritamos um com o outro? Começo a andar de volta à arque enquanto penso. Desde esta manhã me sinto estranha, agindo como se ele tivesse feito algo para mim. E talvez Oliver fez. Mas não foi algo ruim. Ele me fez se apaixonar e me faz amá-lo. Nunca tinha me apaixonado e não sabia que era algo tão complicado assim. Algo tão envolvente.   

Não estou sabendo como agir. E para piorar, há os meus malditos segredos. O fato de estar os escondendo está me deixando louca. Não sei o que é mais correto ou errado. Não sei se dizer a verdade irá nos ajudar ou prejudicar. Estou confusa.   

—Loirinha, o que pensa que está fazendo aqui? - Ouço alguém me chamar e de repente vejo os dois homens que Oliver os espanco. - Não devia ter vindo seu o seu namoradinho – diz o de braço cheio de tatuagem e avança sobre mim.  

Eu solto um longo suspiro, o chuto no rosto, fazendo-o cambalear e cair no chão, sem pensar duas vezes pego seu braço e o quebro.   

—Sua vadia! - berra de dor.   

Seu amigo, o de cicatriz nos olhos tenta me socar, porém eu seguro sua mão e torço seu braço, seu corpo fica de lado, me dando a perfeita chance de acertá-lo em sua costela com meu pé. Faço esse movimento três vezes com toda minha força e posso garantir que as chances dos ossos da costela ter saído inteiras são poucas.   

Ao não se aguentar ficar em pé, fico em cima de seu corpo e aperto seu rosto até fazê-lo ficar inconsciente, algo que não demora muito.   

—Por que estavam brigando com Oliver? - Pergunto para o de tatuagem que tentou sair correndo, pois com um braço seria difícil lutar.  

—Foi ele que começou esta briga, sua vadiazinha! - Responde, ao sentir minha mão apertar ainda mais seus braços.   

—Por qual motivo? - Franzo o cenho, tentando encaixar as coisas, mas nada me vem à mente que faça sentido.   

—Queria informações sobre Blue! - Declara e eu o solto. Sem perder tempo, ele volta a correr e decido deixá-lo ir.   

De repente, tudo fez sentido. É esta a razão de ter digo que estava tentando me proteger. Ele está indo atrás de Blue para impedir de que ele venha atrás de mim ou de qualquer outra mulher novamente.   

Entretanto, Oliver não está pensando, está agindo pela raiva e tristeza. Preciso pará-lo, porém não dará ouvidos a mim. Preciso fazê-lo escutar outra pessoa.   

Vou de a pé até a casa de Sweet Pea. Bato na porta e sou atendida, pelo meu olhar, ela nem questiona o motivo pelo qual precisarei do meu uniforme. A única coisa que pergunta é se será necessária sua ajuda e quando a recuso, o silêncio se instala.   

Comigo levo apenas minha espada e uma moto emprestada do Batman. Vou embora da casa de Sweet sem me despedir, pois há momentos entre nós que não precisamos conversar.   

Uso meu celular para localizar Oliver e não demoro muito para encontrá-lo. Mas para meu azar, ele está usando seu arco-flecha e o capuz do arqueiro. Duvido que tenha voltado à arque para pegá-los. Provavelmente já tinha deixado separado e eu nem sequer percebi isso.   

Estaciono minha moto em lugar escondido e me aproximo dele silenciosamente, no qual está olhando para um outro prédio, no qual provavelmente deve ter muitos homens de Blue. Acredito que poucos sabem realmente a localização dele.   

—Saia daqui! - A voz de Oliver alterada por um aplicativo manda, quando escuta o raspar da minha espada no chão, o som que fiz de propósito para chamar sua atenção. - Não vamos trabalhar juntos!   

—Não vim para isso, Arqueiro – minha voz sai fria e também alterada – Estou aqui para impedi-lo de cometer uma coisa idiota.   

—Como sabia que eu estava aqui? - Inquira, virando seus olhos em minha direção e eu tento não engolir em seco por seu olhar intenso.   

—Meus amigos estão monitorando seu time. Cada passo que faz, nós também o acompanhamos. Mesmo que não vamos trabalhar juntos, também não somos inimigos – falo, tentando ser indiferente. - Sabe que será idiotice entrar no meio de todos aqueles homens – declaro, me apoiando em minha espada.   

—Seria idiotice caso a pessoa que entrasse não soubesse lutar. Mas no meu caso, isso será facilmente – Oliver se levanta e aponta seu arco em minha direção - Agora se não quer se machucar, recomendo que saia daqui.   

—Sempre do jeito difícil? - Indago, rindo debochadamente. - Não irei a lugar nenhum se não sair daqui. Estou impedindo que morra, arqueiro.   

—E eu estou aqui para impedir que mais mulheres sejam sequestradas, Babydoll – Ao pronunciar meu nome, sinto um frio passar por minha barriga.   

—Agir sozinho não te levará a nada! - Levanto minha espada e inclino meu corpo – Se o único jeito de impedir que se mate é pará-lo, farei questão de te impedir.   

Pude ouvir um rosnado dele antes de uma flecha vir em minha direção. Sem muito esforço, consigo desviar, pois a mira era em meu pé. Mais outra vem em minha direção, me obrigando a cortá-la no meu e avançar sobre Oliver.   

Suas flechas continuam a vir, no entanto, as desvio mesmo que a dificuldade tenha aumentado. Ao me aproximar o suficiente dele, ele para de atirar flechas e usa seu arco para bater em minhas pernas, nas qual ardem ao sentir, porém consigo me manter em pé e retiro de suas mãos o arco e o jogo para longe.   

Quando Oliver faz menção de quem iria correr para tentar pegá-lo, coloco minha espada em seu pescoço, o impedindo de se mover.   

—Chega disto, arqueiro! - falo irritada. - Veja que está errado, perceba que ir sozinho não te servirá de nada. Você precisa de ajuda, de seu time. Isso daqui não te levará a lugar nenhum além da morte.  

—Está errada! - Ele declara, me dá uma rasteira e coloca seu corpo sobre o meu. A espada cai do meu lado e tento alcançá-la, porém Oliver é mais rápido e a chuta para longe. - Não quero machucá-la, mas você não está me dando escolha.  

—Você tem uma, apenas não quer aceitá-la! - falo ao sentir um soco em meu estomago. - Vá embora, isso não vale a pena. Não está agindo com razão.   

Mais dois outros socos são dados. A intenção dele é me deixa praticamente indisposta para não atrapalhá-lo. Para impedi-lo que continue, com o meu peso viro nossas posições e fico por cima dele. Seguro suas pernas e braços para fazê-lo me e encarar, mesmo que nossas mascaras nos impeçam de ver nossa verdadeira face, preciso que ele me olhe para escutar o que tenho a dizer.   

—Arqueiro, me entenda. Se entrar naquele prédio e morrer, não poderá fazer nada para salvar as mulheres. Mesmo se conseguir sair vivo de lá, o que acho impossível, isso não mudará nada. Nenhum daqueles homens sabem onde estão Blue Jones e Pinguim. Sabe que estou certa. Quer mesmo arriscar sua vida? Não se importa com as pessoas que se preocupam com sua vida?   

De repente, um brilho passa por seus olhos. Seus braços e pernas param de lutar.  

—Já entendi, Babydoll – Diz com os olhos fixos em mim – Pode sair de cima de mim agora. Não irei fazer mais nada, você está certa – ao escutar e ter certeza de que não está mentindo, saio de cima dele, pego minha espada e me levanto.   

—O que irá fazer agora, Arqueiro? - Pergunto por curiosidade.   

—Não é da sua conta – Fala e eu quase sorrio com o a resposta rude dele. - Apenas saiba que dá próxima vez que nos encontrarmos, eu saberei sua identidade e não irá querer se meter no meu caminho, Babydoll – novamente sinto um arrepio em minha pele por causa do olhar intenso que Oliver dá antes de sumir da minha vista.  

Volto praticamente me arrastando até a minha moto, pois os socos que recebi em meu estomago estão praticamente queimando. Saio dos Glades na certeza de que Oliver não está mais também.   

Guardo a moto na garagem de Sweet Pea e coloco minhas roupas normais.   

—Pode me dizer o que foi fazer? - Indaga minha amiga, ao me ver sair do quarto que usei para me trocar.   

—Impedir que Oliver se mate, pelo que parece, o jeito Felicity Smoak não dá certo, então a opção foi usar a Babydoll – dou de ombros. - Onde está seu noivo?  

—Bruce teve que fazer algumas coisas na cidade – explica. - Vou me vestir para o enterro e acho que é melhor você ir conversar com Oliver antes de dar a hora.   

—Vou tentar – sorrio fracamente.   

Quando chego na arque, não há ninguém. Provavelmente foram almoçar e se arrumar para o enterro, pois são três e meia. Sentido um pouco de cansaço por não dormir e ter que andar muito, me sento na minha cadeira e coloco a mão sobre meu estomago, acariciando com cuidado.   

—Felicity – escuto a voz de Oliver e eu giro minha cadeira para olhá-lo. Ele está tomou outro banho e está vestindo outro terno, desta vez está com a gravata fechada e os botões também.   

—O que foi? - Indago, com desanimação.   

—Me desculpe por te machucar – diz, se aproximando e se agachando para poder ficar a minha altura, já que estou sentada.   

—E por ter gritado comigo? - Acrescento e ele concorda – Claro que te desculpo, Oliver. Não foi a primeira vez que te vi agindo feito um idiota! - Abro um sorriso, sentindo todo o clima angustiante acabar.   

—Depois que te deixei lá, fui tentar encontrar Blue Jones. Queria achá-lo para impedi-lo de ferir mais pessoas, de ferir você. Toda minha preocupação foi egoísta, Felicity. Achei que estava fazendo isso por estar pensando nas outras mulheres, mas a verdade é que só pensei em uma mulher: Você.   

Sua mão acaricia meu rosto e eu apenas relaxo com seu toque.   

—Não é egoísmo, Oliver – murmuro fechando meus olhos.   

—Sim é. Eu só quero te manter segura para impedir que algo te aconteça, pois não sei como viverei sem você. Não posso te perder, Felicity. Não agora que te encontrei – sua voz sai embargada pela dor.   

—Sempre estive aqui, Oliver.   

—E eu sempre te protegi.  

—Então nada irá acontecer comigo, pode ter certeza – afirmo abrindo meus olhos e depositando um beijo em seus lábios.   

—Preciso te confessar uma coisa, Felicity – diz e eu apenas anuo para que continue – Eu me arrisquei hoje indo atrás de Blue, podia ter sido morta, mas a vigilante Babydoll me encontrou e consigo enfiar juízo na minha cabeça. Ela me falou para pensar nas pessoas que se importam comigo, como ficariam se algo acontecesse a mim e então tive me lembrei de seu rosto, de como eu te deixei magoada por gritar e machucar seu pulso – conforme está dizendo, ele acaricia meu rosto e meu braço. - Vê como consegue mexer comigo?   

—Não é o único que fica assim, Oliver – desvio os olhos dos dele. - Você mexe comigo de um jeito que ninguém nunca fez. Caramba, Oliver, sou apaixonada por você! - O abraço fortemente, como se fosse uma ilusão e estivesse preste a sumir.  

—Também sou apaixonada por você, minha felicidade – eu acabo rindo de sua declaração e também me sinto nostálgica, minha mãe também me chamava assim.  

—Fiu, fiu! Olha só o casalzão! - Diz Roy, entrando juntamente com o outro pessoal.   

—Cala boca, Roy! - Thea dá um tapa na nuca dele e ri. Uma risada sincera e calma. Caramba, eu queria ter agido igual a ela quando minha mãe morreu.   

— Todos prontos para irmos? - Inquira Diggle e nós apenas concordamos e nos levantamos para sair da arque.  

Eu, Oliver, Sam, Thea e Roy fomos em um carro. Sara, Laurel e Diggle foram em outro. Todos dentro do carro ficaram em silêncio. Não havia muito o que dizer, apenas sentir. No caminho inteiro fiquei de mão dadas com Sam e Oliver (Roy quem dirigiu para nós).   

Quando chegamos, andamos até a parte única e exclusiva da família Queen, na qual foi criada após Oliver sair da ilha e voltar – antigamente tinham feito a lápide do pai e dele no próprio jardim da casa, porém Moira decidiu fazer no cemitério uma parte para a família Queen e suas futuras gerações (um pouco mórbido, mas ao mesmo tempo respeitoso), não muito longe, apenas distante o suficiente para evitar que se junte com outras lapides que não sejam de outra família.   

Ao vermos a parte Queen, ficamos surpresos com a decoração. Pequenas flores na cor dourado estão amarradas nas duas árvores que possui nesta parte, há um tapete na mesma cor que as flores no chão, as cadeiras para nós se sentarmos é cinza claro, com detalhes de pérolas. Logo em frente está o caixão de Moira -totalmente diferente do convencional, pois a cor é branca e em volta dele possui pequenos rubis. E em vez de uma flor em cima, está uma tiara cinza.  

Logo avisto Bruce, usando um terno preto, semelhante com o de Oliver. Já no caso de Sweet, ela usa um vestido negro, com os saltos da mesma cor, seus cabelos estão presos em um coque bagunçado e ao mesmo tempo elegante.   

—Eu os convidei para virem – sussurro para Oliver e Thea que estão surpresos com a inusitada presença - Acabei me esquecendo de avisar.   

—Não tem problema – os dois Queen respondem juntos.   

—Olá, Oliver. Olá, Thea.  - Bruce os cumprimenta. - Lamento pela perca da mãe de vocês. Acredito que ela era uma mulher fantástica, pois as mães sempre são.   

—Espero que tenham gostado dessa decoração. Nós preparamos, pois acreditamos que uma mulher como Moira Queen era, merecia uma despedida honrável e elegante como ela – Sweet Pea diz educada e ao mesmo tempo amigável. - Queria a te conhecido como a conheciam, pois do jeito que Felicity falava dela, aposto que serviria como uma ótima mentora para mim.   

—Sim, ela teria sido – Thea concorda com o pensamento – Bem, é melhor começarmos, mamãe nunca gostou de coisas que demora.   

Todos começamos a nos sentar e eu fiquei entre Oliver e Sammy, peguei a mão dos dois e as apertei com carinho.   

—O que está acontecendo, Felicity? - Pergunta meu pequeno príncipe. Provavelmente não o contaram o porquê de virmos aqui. - Por que a vovó também não veio com a gente?   

—Ela está com a gente – falo e abro um sorriso.   

—Na onde? - Ele franze o cenho e confuso.   

—Aqui – aponto no lugar que fica o seu coração.  

—Não estou entendendo, Felicity – murmura assustado. E rapidamente um entendimento passa por seus olhos. - Está dizendo que ela morreu?  

—Sim – anuo sem tirar os olhos do seu rostinho.   

—Mas... Nós nem fizemos um piquenique juntos! - exclama baixo. - Isso não é justo! - lágrimas se formam em seu rosto. - Eu quero ela de volta, por favor.   

—Sabe que não é possível, meu príncipe - acaricio seu rosto para limpar. - As coisas ficarão melhores, não se preocupe – falo e começo a fazer carinho em seu cabelo.   

Viro meu rosto para o lado de Oliver e vejo algumas lágrimas se formarem em seus olhos. Aperto ainda mais sua mão e seus olhos focam-se em mim. Sussurro ''eu estou aqui'', ele assente e beija o torso da minha mão.   

O padre que estava esperando todos estarem prontos para começar, inicia ao ver que estamos ajeitados. Ele diz algumas palavras emocionantes sobre vida após a morte e sobre como Moira estará em um lugar bom.   

De repente, Thea cansada em ouvir as palavras do padre – no qual parecia estar com pressa em acabar isso – agradece e o manda embora de maneira gentil.   

—Grande parte de vocês conheceu minha mãe, ou ao menos ouviram falar dela – de repente a pose de durona dela simplesmente se desfaz – Moira Queen foi o melhor exemplo de mulher que tive em minha vida. Ela sabia lutar e proteger. Sabia como cuidar e amar, mesmo que do jeito dela distorcido. Dói me saber que nunca mais a verei, que não a terei por perto e não a verei rir, mesmo que fosse aquela risada debochada que fazia quando não gostava das nossas escolhas. Sentirei saudades das broncas que ela me dava ou do fato dela dizer que os filhos dela não tinha juízos na cabeça. Realmente, mamãe sempre teve razão, não é, Ollie?    

Pequenas lágrimas escorrem pelo rosto de Oliver ao concorda com a cabeça.   

—Moira Queen não foi uma mãe perfeita, mas deu o melhor para seus filhos. Sempre pensou em nosso bem e sacrificou sua vida muitas vezes por nós. Então, a única coisa que quero fazer hoje é agradecer a ela, pois só fiz uma vez isso na vida e quero fazer pela última vez – todos nos levantamos, até mesmo Sammy que ainda chora sem parar e tristonho. - Obrigada, mamãe. Saiba que aprendemos muito com você e que a amaremos para sempre! - Uma risada triste escapa de Thea.  

Olho para o lado e vejo que Oliver não está mais aqui. E por preocupação decido procurá-lo. Peço para que Sweet e Bruce cuidem de Sammy enquanto isso.   

Ando um pouco pelo cemitério e quase não o encontro, pois Oliver está deitado no chão, embaixo de uma árvore e olhando para o céu nublado que aparenta chover.  

—Posso me deitar ao seu lado? - Pergunto baixo.   

—Claro que pode - após sua afirmação, me deito ao lado dele e o fito. - Pare de me olhar assim, Felicity – pede virando seus para o meu rosto.   

—Assim como? - Friso a testa levemente.   

—Preocupada. Eu estou ótimo.  

—Então por que saiu do enterro?   

—Não sei. Apenas não me senti bem o suficiente para continuar lá.   

—Certo. Irei ficar com você até que se sinta melhor – pego suas duas mãos e as coloco em meu rosto – Não vou deixá-lo sozinho, lembra-se que me pediu isso?  

—É o melhor pediu que já fiz na vida – diz rindo baixinho, porém sincero.   

—E é o melhor que irei conceder! - Mordo o lábio sorrindo.   

Continuamos assim por mais alguns minutos, até o pessoal aparecer e fazer algumas piadas para aliviar a tensão. Thea já está com o semblante um pouco melhor, igual ao de Oliver.   

—Pombinhos, venham, vamos jantar na minha casa – Escuto Sweet dizer e rapidamente me obrigo a levantar do chão. - O que foi? Algum bicho te mordeu?   

—Está chamando todos nós para irmos jantarmos na sua casa? - Inquiro arregalando os olhos. - É isso mesmo que escutei.   

—A ideia veio deste baixinho aqui, Felicity – Bruce fala, enquanto está de mãos dadas com Sammy. Realmente, o garoto consegue conquistar qualquer um.   

 -O que acha, Olive? - Me viro para pergunta a Oliver que começou a se levantar. - Um jantar na casa do casal mais meloso do mundo?   

—Ei, o casal mais meloso do mundo somos eu e Thea! - Comenta Roy. E Thea dá outra cotovelada nele.   

—Seria bom – responde Oliver calmamente. - Estou com muita fome. E espero que tenha bastante comida lá, Bruce Wayne.   

—Para você, Oliver, terá o suficiente.   

 


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Notas finais do capítulo

Perceberam que a Fefe anda ouvindo vozes no passado? Pois é, as vozes não param por aí!

Opa, Oliver e Felicity tomaram banho! Acreditem, essa atitude não foi muito boa... Oliver conheceu seu corpito e bem, ele não será tão lerdo para o comparar com o de Babydoll.

Gente, eu não sei como ficou esse capítulo. Uma parte de minha acha que ficou simples e normal, a outra parte ficou chorosa. Se eu tivesse feito o enterro de Amber, acreditem, teria chorado, por isso nem fiz.

Ah, e vocês sabem o porquê de Felicity ter medo de fazer ''coisas'' com Oliver? Aposto que muitos devem saber.

Opa, senti que Oliver e Bruce começarão uma amizade? Pois é!

Beijão!



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