Proibida Pra Mim escrita por TessaH


Capítulo 38
32. Jovens Idiotas e Quebrados




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{Nós temos muito em comum
Nós discutimos o tempo todo
Você sempre diz que eu estou errado
Tenho certeza de que estou certo
O que é divertido sobre o compromisso?
Quando temos a nossa vida para viver
Sim, nós somos apenas jovens, estúpidos e quebrados}

 

 

Young Dumb & BrokeKhalid


32|

Rose Weasley

Algo caindo no chão me despertou na penumbra.

— Meu Deus, Una, toma cuidado, já vai se machucar caindo no chão!

— Shii, fala baixo, Pimentinha, quer acordar a Rose?

— Não consigo conter minha animação! Yey! Juntas de novo! Promete que está melhor?

— Você fica tagarelando demais! Até que senti um pouquinho de falta.

Pulei da cama quando as vozes se mostraram nítidas e tentei enxergar na penumbra. No esforço, acabei caindo por cima de algo e tudo fez barulho.

— Meu Deus Rose Weasley, você é ninja?! - Lily tinha levantado e acendido o lampião de nossa barraca e ajustei meus olhos à luz. - Viu o pulo dela, Una?!

Ela começou a rir e então me toquei da figura que a acompanhava no riso.

— Una, não acredito! O que faz aqui, sua maluca?! - pulei para abraçá-la e fazer finalmente a preocupação diminuir.

— Aí, minha nossa senhora, Rose minha diva, era uma surpresa. Acabei chegando agora de viagem e foi inusitado vir até a cidade também. Ia ficar pelo colégio, mas eu vim... - Una parou de falar e trocou olhar com Lily. - Será que falo? A gente pode matar ela de curiosidade até o amanhecer.

— Me parece um ótimo plano, queridinha.

— Nada de planos! Estive morrendo de saudade de você, ingrata, e agora quer me matar de curiosidade? Com quem veio pra chegar a essa hora?! Una, eu vou começar a me preocupar com você!

— Não, calma! - Una riu de meu desespero. Ela bem sabia que matava qualquer um com sua mania de enrolar notícia. - É que achei que ele iria preferir contar pra você, mas vocês me fazem abrir minha boca enorme!

— Culpa sua chegar falando alto, mandona! - Lily exclamou, sentando-se em seu colchão ao lado do meu e abraçando Una que já estava sentava também.

— Quem gritou foi você, maluca! Te disse, Pimentinha, não era pra ficar fofocando essa hora!

— Parem de tentar me distrair e falem logo! Até a Lily sabe, Una, acha isso certo? E você disse ele? Quem é ele?

Pensei que Alvo pudesse estar envolvido com seu retorno, mas ele não teria como me fazer uma surpresa também.

— Seu pai veio comigo! Tchanã! - Una abriu os braços como se mostrasse um presente. - Parece que chamaram ele e quisemos adiantar a viagem para que tio Ron não morresse do coração, né, Rose? Ele estava inventando mil teorias te envolvendo, até tráfico humano já tem embasamento no dossiê dele.

— Meu padrinho é maluco - Lily gargalhou. - E só fiquei sabendo porque estava na festa lá fora, Rose. Você é muito sem graça e tá perdendo tudo! Encontrei Una chegando e a trouxe pra nossa barraca. Tio Rony quer ver a princesinha dele amanhã já que eu disse que você estava dormindo. Aliás, ele ficou todo orgulhoso de saber que você estava dormindo em vez de curtir essa porra louca rolando aí fora.

Meu coração se entristeceu após as palavras de Lily. Recordei-me que Scorpius estava lá fora, provavelmente ainda curtindo sabe-se lá como, mas eu não poderia ir atrás. Eu tinha meu orgulho, minha racionalidade. E também tinha que confiar que ele seria capaz de voltar pra mim.

— Que carinha é essa, minha diva, que passas? - Una logo migrou para o meu lado em meu colchão. - Pimentinha, você não cuidou da sua priminha? Que houve com ela?

— Foi o Malfoy? - Lily perguntou e suspirou quando fiquei calada. - Ah, Rose, sinto muito.

— O que foi que a Barbie Loira fez? - Una soou raivosa e nos fez rir. - Vão me atualizando logo!

— Não, espera! Conta como foi em Londres todos esses dias. - Lily pediu e ficamos as três dividindo um colchão, embora tivesse outro ao lado.

— Ah... - Una pareceu ficar envergonhada. - Estou em fase de aprender a lidar com o problema ainda, ok? Fui ao psicólogo, nutricionista, comi na sua casa, Pimentinha, todos os dias porque seu maravilhoso pai seguiu à risca o cardápio da minha médica. Tio Harry foi muito solícito, nem sei como agradecer!

— Eu sei, ele é simplesmente demais! Puxei a ele. - Lily exclamou.

— Sua humildade me humilha. - rebati e Lily me deu língua.

— James também me ajudou com minha herança e a questão judicial dos meus bens. Ele bem que queria me ajudar com a parente perdida, hein, garotas! - Una riu sozinha e tivemos que explicar pra Lily sobre a tal Giovanna, vinda da Itália, que era prima de Una.

— Ela está morando em Londres?

— Procurando um lugar na verdade. Veio tentar uma faculdade, queria ver parentes, mas... Enfim! Ficamos fazendo companhia uma a outra, e ela é até legal, viu.

— Que horror você, Una, Deus me livre ser sua parente. Olha isso, Rose, como fala da garota pelas costas! - Lily provocou.

— Cala boca, Potter. Ela é gente boa, gostei mesmo. Só fico relutante em criar expectativa e me iludir depois. Só isso.

— É agora que devemos ter ciúme da sua nova amiga? - brinquei.

— Você é psicopata, garota. - Lily me respondeu.

— Olha quem fala!

— Chega vocês duas! Como sobreviveram sem mim para apaziguar?! - Una riu. - Agora, não foge, Rose, vão falando da Barbie Loira logo, logo.

— Não fala dele assim. Lily, para de rir!

— Não consigo, Rose! - minha prima tentou respirar entre as risadas. - Eu apelidei de Loiro Azedo, Una, que tal? Mas acho que prefiro o seu.

— Eu sou muito boa mesmo.

— Vocês duas... - eu disse. - Não foi nada demais, Una, só nos desentendemos.

— Conta a bagaceira toda, Rose, ela vai torturar você até saber!

— Vou mesmo! Quero saber de tudo, eu mereço! Estive de licença médica e isso me dá carta branca para saber das fofocas depois.

— Começo por onde? - indaguei a Lily para que pudesse me ajudar.

— Ué, vamos nos perguntar como você bateu a cabeça e se apaixonou pelo Senhor Barbie? Eu acho um ótimo começo!

— Aí, Lily, você é péssima! Mas, minha rainha, esse seria um ótimo começo.

~~*~~

Passamos boa parte da madrugada conversando. Muitas vezes tivemos que controlar o riso devido ao barulho e também levamos uma bronca da supervisora. Mesmo assim, tínhamos muitos assuntos para colocar em dia, então conversamos até Lily ser a primeira a dormir.

Minha prima tinha a estranha mania de afirmar que não estava com sono, querer continuar a conversar e, de repente, olhávamos e ela já tinha dormido.

Ficamos Una e eu até abrirmos o coração uma para outra. Entre sussurros e algumas lágrimas, falei de Scorpius e de meu medo com nosso relacionamento. Era início, era novidade pra ele, seria difícil com nós dois, porém o que eu sentia parecia exceder tudo que já vivenciei. Minha amiga me amparou e tentei retribuir o carinho.

Una esteve em uma clínica de reabilitação por alguns dias para que se acostumasse à reintrodução alimentar e suas regras. Ela agora queria mais que tudo mudar e eu prometi ajudá-la. Criei coragem para abordar o assunto de Alvo.

— Ele esteve entrando em parafuso de preocupação, amiga. Alvo já falou algo com você? - fui sutil, não sabia se era minha imaginação que estava indo além de amizade.

— Ele tem sido atencioso demais. É até... Reconfortante. Também acho que existe algo diferente entre a gente, mas eu não queria pensar nisso agora, minha rainha. Fico um pouco temerosa e não queria me desviar do obstáculo que vai ser vencer a doença.

— Você tem toda razão, só quis te mostrar que pode conversar comigo. Alvo é meu primo de alma, crescemos juntos, mas você é como se fosse minha irmã também, então não fica imaginando coisa, tá?

Eu a abracei e vi que algo dentro dela mudou. Trocamos mais algumas palavras, porém o sono nos venceu, principalmente ela, que chegava de viagem.

Quando pela manhã nos levantamos, estávamos atrasadas para comer.

— Meu pai do céu, eu estou parecendo um zumbi! Como vou jogar hoje?! - Lily se lamentou por ter dormido em cima da mão machucada e me recordo que tenho que entrar em campo novamente mais tarde.

Seguimos com o pessoal e, depois do café, fico à procura de papai para nos cumprimentarmos. Com certeza Minerva o chamou pelo incidente no salão principal, e eu queria ser a primeira a explicá-lo. Então ele aparece atrás de mim.

— Minha filhinha!

— Papai, que saudade. - escondo o rosto em seu peito e aspiro seu cheiro tão familiar e acalentador. - Queria conversar com o senhor.

— Eu também quero conversar com você, Rosie. - papai disse ao me soltar e vejo sua expressão se assombrar quando me olha o rosto. - Rose! O que foi isso, minha filha?!

— Acho melhor a gente deixar eles em algum lugar seguro e sozinhos - Lily diz e somos puxados por ela e Una até estarmos afastados dos demais, longe o suficiente para papai sair de seu transe sem plateia.

— Rose, minha filha, quem fez isso com você? Foi por isso que fui chamado à direção? Nunca nos deu motivo para bronca nenhuma, Rose, o que está havendo?

— Nem está tão grave assim, papai. - me defendo e toco meu rosto. O inchaço diminuiu bastante, já não estava vermelho, porém provavelmente o jogo de ontem tenha me trazido mais hematoma.

— Você está com a bochecha machucada, minha filha, esse lado todo machucado. Não me respondeu quem fez isso com você - papai me fita longamente e fico nervosa.

Preciso contar que estou namorando, mas como não piorar o lado de Scorpius pra ele?! Se eu não contar, Minerva irá fazê-lo na reunião e não tenho alternativas.

— Papai, veja bem... Preciso confiar ao senhor algo que estive guardando segredo porque estava criando coragem pra falar.

— Fala logo, Rose Weasley. - Ronald Weasley cruzou os braços e vejo sua expressão se fechar. Entendo que meu pai esteja sendo superprotetor por conta de minhas marcas físicas, já que ele sempre ouviu os filhos sem fazer tanto alarde, e sei que não posso demonstrar meu medo e nervoso ou papai vai achar que tenho algo a esconder.

— Eu... Conheci um garoto na escola, pai. Sabe que sou aberta com o senhor, gosto dele e ele de mim. Me falou estar apaixonado e eu também estou, papai, entende?

— Confio em você pra separar seu estudo da sua vida pessoal, Rose - papai afirma. O rosto suaviza e tento me tranquilizar. - Quem é ele? E o que tem a ver com seu machucado? Estou ficando preocupado, Rose, escolheu bem?

— Pai... É isso que estou tentando te dizer. Não foi bem ele quem me fez isso, talvez um pouco, em partes... Não sei! - suspiro, me sentindo exausta. - Nem sei por onde começar.

— Com o nome dele, minha filha.

— Scorpius Malfoy. - pronuncio e não entendo porque tudo muda. O rosto de meu pai se fecha e se torna vermelho. - Você o conhece?!

— Conheço o pai dele e já é suficiente, Rose Weasley. O que o Malfoy te fez?

— É.... Ai meu Deus, para de ficar com essa cara de nervoso, pai, não consigo contar!

— Tem algo pra esconder?! Estou preocupado com minha filha com o filho do Malfoy! - Meu pai explode e dou um passo pra trás com medo. Ele expira fundo para depois me olhar. - Prometo ficar calado até você me explicar tudo, Rose. E quero saber bem o que houve com você e sua integridade física.

 

[~~*~~]

 

 

Scorpius Malfoy

 

 

A ressaca dói em meus olhos e meus machucados doem por todo corpo. É só dor o que sinto e já começo minha manhã da pior forma. Nem me lembro como terminei a noite passada.

 

 

Um gosto amargo permanece em minha boca e Thomas surge para me ajudar com o que quer que seja. Tento não ouvir suas palavras porque não consigo e porque me sinto irritado demais. Algo dentro de mim foi solto e não consigo domar.

 

 

O dia segue comigo fugindo de olhares. Principalmente de um prateado, parecido com o meu, que sei que está em algum lugar me supervisionando. E talvez por isso eu tenha me dado até a última gota no jogo contra a Grifinória, tenha dado a minha pele. Para que ele veja do que sou capaz.

 

 

E, mesmo assim, a fera em mim continua sem controle. Ela ganha proporções gigantescas quando perdemos o jogo e saímos destruídos. Sinto o sangue quente se misturar com o suor e só penso em alguma forma de me livrar daquilo.

 

 

A tarde finda e traz o barulho de outros jogos. Não consigo ver e nem desejo. Só quero me esquecer. A noite surge e decido procurar alguma forma de escape.

 

 

— Pra onde está indo, Scorpius?

 

 

— Não me segue, Thomas, porra. Por que está fazendo isso?

 

 

— Porque sou seu amigo, seu babaca. Vai me agradecer depois. - ele continua a falar ao tentar me acompanhar e deixo que fale às minhas costas. - Vai beber de novo, cara? Por que está fazendo isso consigo mesmo, Scorpius?

 

 

— Você não tem moral pra falar de ninguém, Thomas, se embebeda nas festas, quase um coma alcoólico. - resmungo e sento no banco da tenda fechada com música alta e que serve bebida.

 

 

Aquela tenda é mais afastada das demais e foi patrocinada pelo pessoal da cidade, além disso, tentamos despistar os supervisores da escola caso nos vejam bebendo.

 

 

— A diferença é que bebo pra me divertir! - Thomas fica chiando ao meu lado. Tenta afastar o copo que pedi, mas não consegue porque consigo bebê-lo de uma vez só. - Você está afogando suas lágrimas em algo que não vai resolvê-las!

 

 

— Não quero resolver nada. Me deixa, Thomas!

 

 

— Está assim porque perdeu? Porra, achei que você tinha alguma maturidade.

 

 

— Não enche o meu saco! - acabo por soar mais grosso do que queria. Não consigo controlar meus sentimentos. - A noite está começando, tive um dia de merda, então por favor não me enche mais.

 

 

— Você é um fodido ingrato, isso sim. Passei o dia todo atrás de você, tentando te ajudar. Ainda te ajudei ontem de noite quando se embebedou como está tentando fazer agora e quase comete o maior erro da sua vida porque terminaria com seu relacionamento de conto de fadas! Mas agora não vai ter mais ninguém pra encher seu saco, Malfoy, vou te deixar sozinho como quer. Vê bem o que faz.

 

 

Não tenho tempo para processar todas as informações porque ele saí com raiva. Tem razão, irritei a ele para que me deixasse só e consegui, então por que me sinto tão vazio?

 

 

Suas palavras me recordam em alguma parte de Rose e sinto algo doer. Terminamos de conversar da pior maneira possível e sinto saudades. Remorso. Culpa.

 

 

Nem a procurei, nem tive forças de ir atrás e contar toda a angústia que me sufoca com a volta do meu pai. Não tive coragem de pedir consolo a única pessoa que seria capaz de me dá-lo e me sinto péssimo.

 

 

Derrotado.

 

 

Bebo mais alguns copos antes de começar a ser abordado por garotas que se insinuam e dou um fora em todas elas. Não quero companhia. Até uma estranha se sentar ao meu lado e pedir uma bebida.

 

 

— Te conheço de algum lugar? - ela se vira e seus cabelos acobreados ondulam. Não me é estranha.

 

 

— Não sei. - sou sincero. Bebo mais um copo que me anestesia temporariamente

 

 

— Sim, te conheço sim... Mas de onde? - ela conversa consigo mesma e toma um gole de seu copo. - Ah, claro! Do fatídico dia do shopping que pegou fogo! Malfoy?

 

 

— Sou um deles. Infelizmente, eu acho. Te vi no shopping?

 

 

— Acho que já está um pouco alto - ela me sorri e se aproxima. Toca minha mão, está quente e também me ajuda a beber mais um pouco. - Falou comigo quando nos trombamos no shopping. Tudo bem?

 

 

— Ah, sim, você - me recordo da garota e tento sorrir. - Que bom te ver.

 

 

— Acho o mesmo - ela responde e termina o próprio copo. - Mas nem me respondeu se estava tudo bem. Não vai assistir o último jogo da noite? Está pra começar.

 

 

— Não, obrigado, dispenso. Vai você.

 

 

— Vou mesmo, Malfoy. E acho que não está bem.

 

 

— Scorpius. Não me chama de Malfoy - peço, fechando fortemente os olhos para sentir o ardor pulsar em minha cabeça. - Bom jogo. Que você tenha a sorte que não tive.

 

 

— Obrigada, eu acho. - ela se despede de mim com um aperto na mão e sai.

 

 

Volto a ficar sozinho com meus pensamentos e minhas emoções que me engolem até ouvir meu nome.

 

 

— Você é o Scorpius Malfoy?

 

 

— Hoje todos estão me lembrando desse péssimo fato. Mas sim, sou eu. - me viro para encarar a pessoa e a versão masculina dos meus olhos favoritos está diante de mim. Sei que é o pai de Rose só pela aparência. E pelo desgosto estampado em seu rosto.

 

 

Já deve saber que horrível tipo de genro eu sou....

 

 

— Podemos nos falar lá fora, um minuto? - apesar de ele ter perguntado, seu tom soou como uma ordem. Me ponho de pé na mesma hora e vejo meu mundo girar. Respiro fundo e então acompanho o pai de Rose até estarmos por trás da tenda, sob um céu estrelado.

 

 


Hm... Já viu a Rose, senhor Weasley? - sou quem quebro o silêncio porque ele me olha de maxilar trincado. Nem sei o que falar.

— Já. Conversei com minha filha, ela é uma das coisas mais importantes da minha vida, obviamente fui procurar saber de tudo da sua vida. - sua voz é sugestiva e sei que ele está me culpando por algo.

Mas sou estou tão cheio de pecados que nem sei por qual deles estou pagando.

— Ah, ela também é importante pra mim.

— Tem certeza, Malfoy? Você bateu na minha filha e isso simplesmente me enfurece de uma forma inimaginável!

— Não bati na sua filha, senhor Weasley, quer dizer, sim, fui eu, mas foi sem querer. Deus me livre de fazer esse mal a Rose, eu só... - minha voz falha e sei que estou enrolando demais. Soa forçado até pra mim, quem imagina para o pai dela. Um verdadeiro pai que parece querer morrer pelo filho.

— Você colocou minha filha em perigo e eu não admito isso, Malfoy. Quer dizer que estão namorando, é isso? Está brincando com minha filha? Ela é boa demais para tudo isso! Está trazendo todo o mal pra ela! Começamos com brigas desnecessárias, você é um idiota com ela, então não controla seu próprio gênio e a leva para o perigo, onde vamos parar?! Por acaso só vai se contentar quando matá-la?!

Suas palavras me impactam e preciso de segundos para raciocinar. A bebida embaralha minha mente, meu racional, meus sentidos. Sinto vergonha, minha fraqueza toda exposta diante de uma pessoa estranha para mim. Uma pessoa que me lembra o quanto eu errei com outra tão importante.

— Nunca faria isso, senhor... Pode parecer impossível agora, por causa do meu estado e da minha idiotice, mas Rose é diferente. Eu disse tudo isso a ela, não menti e precisa acreditar em mim também. Eu sei que não sou bom o suficiente, mas prometo tentar.

— Não, Malfoy, você não entende. Não mentiu?! E essa história idiota de aposta com ela? Rose pode ser misericordiosa, mas eu não sou. Definitivamente, são jovens idiotas, mas não engulo. Minha filha merece tudo que esse mundo pode trazer de bom, e você só está trazendo o mal. Como pai, eu devo saber o momento de afastá-la de algo prejudicial, Malfoy. - Ronald Weasley cospe e já sei o final de nossa conversa.

— Não pode fazer isso. Sinto muito, mas Rose é quase uma adulta e sabe muito bem tomar decisões. Ela não pode querer que eu me afaste, ela me perdoa e...

— Não. Conversei com minha filha a tarde toda e chegamos nessa conclusão. Não dificulta mais, Malfoy. Não seja como seu pai e tente destruir tudo que tenho! Não se brinca com minha filha, ela é proibida para caras como você.

Minha cabeça gira e sinto vontade de vomitar. Não posso fazer isso diante dele, do pai dela. Me curvo, segurando a cabeça para sair do mal estar. Ela não pode ter feito isso, teria vindo a mim...

Mas eu fui tão idiota quando veio conversar comigo que talvez tenha achado melhor não vir. É como um golpe na barriga a dor que me atinge.

— Não sei se posso fazer, senhor Weasley... Não estou me sentindo muito bem para conversar com o senhor e convencê-lo de todos os motivos plausíveis, que eu sei que sua filha é muito mais pra mim, porém não consigo agora...

A angústia me toma e preciso buscar ar com toda minha força. Não pode ser verdade...

— Você foi bom para mudá-la, ela me disse as coisas positivas. Mas não se arrisca mais. Não vê? Não daria certo, Malfoy, corte logo o mal. Fique longe da minha filha e vai ser melhor para os dois.

— Ela não pode ter feito isso... Ela não conseguiria fazer isso comigo... Rose...

— Fez. Sou o pai dela, fui eu quem estive ao lado dela enquanto sofria por você. Não entende como me despedaça vê-la daquele jeito? Você causou tudo isso, Malfoy, seja racional e veja isso! Não é possível que queria machucá-la ainda mais.

— Eu não quis machuca-la... Eu só... - minha boca fica seca e não sei o que dizer. Não tem o que dizer.

Ronald Weasley parexe uma muralha, intransponível. Descruza os braços e permanece em silêncio, vendo minha guerra silenciosa.

— Bebeu demais, não foi? Não consegue nem encarar seus problemas? Como quer ser bom pra minha filha desse jeito? Ela sofre de um lado, precisa de você e você está se embebedando como uma criança mimada. Seu pai te educou muito bem.

— Não fala do meu pai, ele...

Ronald me interrompe com uma gargalhada seca.

— Você conhece seu pai, garoto? Não acho que mereça ser defendido. Agora vá cuidar de toda essa bebida e deixa minha filha se recuperar longe de você.

Não percebo quando ele me deixa sozinho. Literalmente e figurativamente. Levou embora minha chance com a filha. Rose nunca iria contra o pai da vida dela, que não aprovaria a gente e se arriscaria comigo, que não tenho a estabilidade que ela precisa.

Minha cabeça lateja e volto aos tropeços para a tenda. Agora está muito cheia e me sinto no piloto automático.

Sento-me no bar, mas não peço bebida porque não consigo criar coragem para tal.

— Scorpius? Você está com uma cara pior. - uma voz ao meu lado diz e me viro para ver a garota do shopping.

— O rosto reflete o que temos por dentro, não é?

Minha voz está enrolada e é como se eu me visse de fora, em câmera lenta.

— Deixa eu te ajudar, vem.

— Ela me deixou - as palavras me escapam com uma risada sem humor. - Disse ao pai que eu a ajudei a mudar, me usou também? Não sei se seria capaz disso, eu só...

— Terminou com sua namorada?

— Acho que sim. Não, sim com certeza. Não sei o que está acontecendo com minha vida e porque ela está ruindo tão rápido!

— A gente pode consertar as coisas da vida, Scorpius - a menina diz e me apoia em uma árvore quando chegamos na parte de fora. - Você consegue.

— Não, eu não consigo. Nem sei se quero mais, o que se faz com isso?

— Não entendo nada do que fala, Scorpius. Onde fica sua barraca? Não tem amigos? - seus olhos vasculham à procura de alguém, mas eu sei que estou só.

Solidão novamente. Dessa vez a solidão é culpa minha, afastei a todos. Errei com todos.

— Só quero esquecer isso, me ajuda.

— Te ajudar? Eu quero, mas não sei como! - a garota me olha com os olhos arregalados e a boca forma um arco surpreso. Não sei pelo quê sou guiado, talvez a pessoa que sempre existiu em mim se rebele de suas algemas e saia e não tenho como contê-la. Não tenho forças.

Ou talvez aquela boca se pareça com uma que eu desejava. Eu a puxo para um beijo e tento me anestesiar do mundo.

A garota fica chocada, para com a boca colada a minha. Mas meu passado me ensinou muito sobre mulheres, como amolecê-las. Passo minhas mãos por suas costas, subindo devagar e acaricio sua nuca. Ela suspira e abre a boca. O que faço com a língua finalmente a derrete em meus braços e tento me concentrar por inteiro em beijá-la porque consigo fugir de meus pensamentos e do caos ao meu redor.

Quando o fôlego acaba e não tenho como me distrair mais, eu a solto. Ela me olha, surpresa, a boca marcada. Pisca várias vezes e eu a acompanho no movimento, para focar a vista e algo puxa meu olhar para além das costas da garota.

Miro os olhos azuis mais bonitos que já vi na vida e sei que acabei de assinar minha sentença de morte. Ela é a juíza e decreta minha sentença enquanto me observa e entendo que viu tudo e talvez mais um pouco. Pisca, descruza os braços e me dá as costas.

Vai para longe de mim sem olhar para trás.

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Notas finais do capítulo

Meu deus é tiro!!!!



Sem palavras... Não me deixem no escuro.

Para o próximo capítulo: Tu - da banda Kudai, graças a uma recomendação de uma leitora e eu me sinto agraciada! Amei, escutem e o próximo será dessa música. Para quem não percebeu, o próximo será baseado no epígrafe do início da fanfic. E finalizamos a primeira parte da história. Daremos início a segunda parte - separação -.

Amo vocês e volto logo assim que eu souber como estão e o que acham!



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