Proibida Pra Mim escrita por TessaH


Capítulo 37
31.


Notas iniciais do capítulo

Dois capítulos de bônus. Ai vamos nós



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Já sei quem é você
Eu soube na sua olhada
No seus olhos e em seus beijos
Tão doces como o mar, simples regresso
Que acende no meu coração

 

 

Quien Eres Tu - Aliados


31|

Kellen Brice

— Eu não sabia que era tão bonito. - ele murmurou, sentado ao meu lado como iniciamos a noite ali.

— O quê? - tive que perguntar. Levei minha pequena garrafa de bebida aos lábios e o olhei de esguelha.

— Os fogos. Parar pra só... Só olhar o céu e essa coisa toda - Thomas confessou, meio enrolado e um pouco envergonhado, notei, mas talvez fosse a bebida soltando sua língua. - Sei lá. É meio estranho eu estar falando disso.

Ele riu sozinho.

— Eu tenho que concordar. Quem diria que Thomas Uckermann estaria contemplando os fogos, calado, ao meu lado algum dia? Parece um tipo de milagre.

— Isso prova que eles acontecem - Thomas piscou um olho e dei de ombros. - Eu riria se alguém me dissesse isso também, em outro tempo, mas... As coisas mudaram de uma forma que não sei como explicar.

— Tenho que concordar novamente com você, Thomas.

— E mais um milagre acontecendo - ele riu. - A gente concordando em alguma coisa.

Daquela vez eu o acompanhei na risada.

—  Você já está bêbado? – indaguei a Thomas.

— Eu? Não, claro que não. – ele respondeu, tentando dar de ombros, mas se desequilibrou e caiu em mim.

— Ainda diz que não está, não é? Ai, Thomas, levanta.

Rindo, ele nem se moveu. Sua garrafa rolou monte abaixo e ficamos observando.

— Desculpa, lembrei agora de que não vou... Er, não vou tocar em você, babe, desculpa – Thomas se ergueu e fiquei atônita pelo apelido e por lembrar de nossa conversa há um tempo.

— Estava mesmo falando muito sério.

— É claro – Thomas me olhou como se eu o tivesse insultado. Sentou-se novamente ao meu lado e me deu espaço para fazer o mesmo. – Esse assunto não é brincadeira pra mim, não é pra você. Não é justo. Cada um tem algo obscuro e que ninguém devia brincar. Desculpa, babe.

— Não, não, não estou te recriminando, é só que... – bufei, sem saber o que me incomodou. Na verdade, não tinha incomodado, mas me assustado. Assustou a forma singela como me apelidou e como eu gostei.

— Você também tem algo obscuro?

— Eu te disse que todos tínhamos, né.

— Verdade. – deixei o silêncio preencher a lacuna entre nós porque eu não ia pressioná-lo a falar, mesmo que a curiosidade estivesse me assombrando.

Uma nova explosão riscou o céu e ficamos observando a noite se tingir de verde e amarelo, o barulho de música e conversas atrás de nós e nossos pensamentos longes.

— Acho que você não se interessaria em saber o que houve. – Thomas apoiou as mãos nas pernas e virou a cabeça. Os olhos azuis semicerrados, a bebida deixando-o leve.

— Não queria te pressionar, mas não me faria mal saber.

— Está disposta mesmo? Na verdade tenho até vergonha de falar como algo obscuro em comparação ao que você já compartilhou comigo.

— Não existe grau disso, Thomas. Se nos afeta profundamente e muda nossa vida, já deve ser levado em conta. A pergunta é se você está pronto para dividir.

— Eu quero. – Thomas virou o corpo todo. Estendeu as mãos e vi que era um convite. Devagar, pus as minhas nas dele. – Com você, eu quero.

— Estou aqui.

— Todo mundo sabe que eu sou filho de um político. Ele é alemão, minha mãe que é britânica. Sou filho único, cresci aos mandos do meu pai, sempre ouvindo sobre a carreira dele e seus sacrifícios e como queria que eu seguisse seus passos. Cresci vendo minha mãe se tornar submissa, transparente em nossa vida, se apagando com o passar dos anos. Nunca tinha entendido isso até estar mais velho e tudo acontecer.

Apertei suas mãos coladas nas minhas para que pudesse continuar. Um levantar de lábios apareceu em seu rosto.

— Minha mãe estava pra sair de casa, disse que não aguentava mais, que ficou todos esses anos por minha causa, pra me proteger e educar, mas que não dava mais. Meu pai sempre, sempre, declarou aos quatro ventos que a amava, mas tanto, que faria qualquer coisa por ela, eu cresci achando que eles eram felizes, mas... Não sei que tipo de amor é esse. Minha mãe estava fugindo e precisava desabafar comigo, não me deixou segui-la, mas deixou que eu ficasse nas mãos das vontades de meu pai e foi embora. Aquilo o enlouqueceu, entende? Foi um verdadeiro inferno.

— Acho que seu ‘algo obscuro’ foi sendo construído todos os dias, não é? – murmurei quando ele ficou calado.

— Ele fez de tudo para encontrá-la até que soube que ela estava com outro homem.  Lembro de ter corrido atrás dele quando saiu enfurecido para abordar minha mãe. Cheguei depois de meu pai ter encontrado o homem, mas foi justamente no momento em que o vi... Em que eu vi meu pai... – Thomas respirou fundo mais algumas vezes e baixou os olhos. – Vi meu pai atirar no homem. Minha mãe não estava mais lá, quando fiquei atônito depois de ver a cena e ir pra casa, sem saber o que fazer, ela estava lá pra conversar com meu pai. Contei a ela do que vi, ela não ficou surpresa, só me olhou triste e tentou me confortar. Sabe quando por um olhar você entende que aquela não era a primeira vez? Eu entendi que meu pai já tinha feito coisa pior e eu nunca soube.

— Thomas... Você era jovem, estava chocado com o que viu. O que houve depois?

— Ela voltou com meu pai. Ele finalmente conseguiu o que quis e nunca mais falamos disso. Não suporto ouvi-lo dizer eu te amo a ela e não querer morrer. Imagino tantos podres ele carrega, ela sabe e está presa a isso. Eu estou preso porque ele me fez pra seguir seus passos e... Eu só queria fazer algo e sentir que é o certo, porque quando olho para a mansão do meu pai, só sinto pena.

— Você não tem culpa, Thomas... – uma parte em meu coração pareceu sofrer. Fazia muito tempo em que eu não me sentia conectada à dor de outra pessoa. Sempre fui mergulhada na minha dor e em tentar sair dela que me tomava o fôlego.

Engatinhei para ficar mais perto e tocar seu ombro. 

— Você não é seu pai, Thomas, não deixa isso te consumir. Você vai conseguir fazer o que é certo.

Os olhos azuis me fitaram e reavivou mais uma pequena parte de meu coração. Uma parte que estava morta e que me assustava.

— Não se sobrecarrega com isso, tá? Contei porque... Já confiou em mim pra falar de você, e acho que eu precisava falar pra alguém. Scorpius só sabe do meu relacionamento péssimo com minha família.

— Eu te entendo. Nem se preocupa, eu só...  – minha voz morreu.

Queria pegar sua dor e tornar minha. Temos dores demais.

— Obrigado. – ele conseguiu dizer e apertou os lábios em um mínimo sorriso.
Acompanhei, para minha surpresa, cada movimento.

Ele puxou minha cabeça e depositou um beijo em minha testa. – Obrigado, babe.

Antes que eu pudesse me mover ou voltar ao normal, passos ecoaram e Thomas levantou rapidamente.

— Scorpius! – Thomas chamou a figura que se aproximava quase correndo de nós.
Scorpius surgiu vermelho e furioso.

— Não, eu não quero conversar agora! – exclamou enquanto continuava sua caminhada em passos largos, com uma garrafa de bebida na mão.

— O que houve com ele? – perguntei a Thomas, que estava tão abismado quanto eu.

— Não sei, mas parece que vai fazer merda, então preciso ir atrás dele. – Thomas se aproximou e fui eu quem corri para abraçá-lo antes que pedisse.

— Vá atrás dele mesmo. Não é nada seguro.

— Eu vou. – Thomas prometeu e me deu as costas.

~~*~~

Scorpius Malfoy

— O que está fazendo aqui, pai? - perguntei depois de ficar encarando aquele rosto que tanto eu me enxergava.

— Você deve saber. Fui chamado à diretoria por sua causa, adiaram a reunião para quando voltassem ao colégio.

— Já tiveram outras vezes em que foi chamado e nunca apareceu. O que mudou agora?

— Scorpius, eu disse que estava mudado. - Draco Malfoy deu dois passos para ficar mais próximo de mim. Os cabelos tão platinados quanto o meu, da mesma forma  displicente. - Muita coisa mudou nesse tempo, meu filho. Eu disse que precisava falar com você.

— Acho que já é tarde demais. - sentenciei, repentinamente mais irritado do que antes. A bebida deixava minha visão turva e meus sentidos vagarosos. - Vamos nos falar no colégio com a Minerva e só.

— Scorpius, espere - Draco pediu, mas sua voz soou como uma ordem. Sempre falava daquele jeito comigo, só impondo coisas e nunca se aproximando.

— Por que me trata assim? Como se eu fosse um estranho? Nao se cansa disso? De fingirmos ser pai e filho?

— Eu percebi isso tarde demais, meu filho, espere. Alguém entrou na minha vida e mudou meus conceitos, Scorpius. Enxergo tudo diferente agora e não sabe o quão culpado me sinto por você.

— Culpado por mim? Está dizendo que eu saí todo errado, Draco?

— Scorpius, eu quem errei em me ausentar com você. Errei e paguei o preço, pago ainda, mas queria mudar isso. Eu sei que isso afetou sua vida, meu Deus, afetaria a vida de qualquer garoto que perdeu a mãe e foi abandonado pelo pai!

— Que bom que tem noção disso - respondi, sentindo meu corpo tremer. Eu já não queria reviver minhas lembranças dolorosas, a solidão.... Rose já tinha me tirado parte daquela amargura, eu entendia isso agora.

Rose...

— Meu filho - meu pai quebrou o silêncio. As mãos dentro da calça social e o rosto fechado. Ainda parecia meu pai de sempre, exceto pelo semblante sóbrio e condoído. Meu pai de antes - se é que tinha mudado - sempre tinha os olhos distantes, desfocados. A indiferença.

— Sofri por você, Scorpius. Sofri por Cassiopeia, sofri por mim! Perdi a mulher da minha vida e minha filha, fiquei sozinho com um filho e morri de medo. Eu não sabia ser um pai, Scorpius, não tive um exemplo desse, não sabia continuar sem sua mãe. Eu sinto muito por não ter sido forte por você.

— Eu também sinto. Sinto mesmo porque parece que existe agora um abismo entre nós. Parece intransponível.

— Não quero que seja. - Draco disse. Pôs uma mão em meu ombro e não recuei. - Sinto sua falta, meu filho. Sei que só vou poder prosseguir quando você me perdoar, quando eu puder fazer por onde.

— Não é fácil. - declarei, sentindo um medo me tomar os ossos. - Nem sei como se faz isso, Draco.

— É possível ser tocado, Scorpius. Alguém especial fez isso por mim e quero que aconteça com você.

— Quem entrou na sua vida?

O rosto se meu pai vacilou. Apertou os lábios, receoso.

— Essa era outra notícia. Conheci uma mulher, estou com ela e...

— Como? Acho que ouvi errado.

— Não, Scorpius. Eu vou me casar com ela porque é o que me faz feliz e realizado, queria que entendesse isso.

— Como pode fazer isso?! Quer se aproximar de mim e colocar outra no lugar dela?! Ainda diz que se importou comigo?! Você não pensa em ninguém além de você, pai!

— Scorpius, não é isso...

— É sim! Se tiver que nos falarmos, vai ser só na sala da diretora!

Algo me dominou e o deixei pra trás. Sentia o sentimento me dominar, tomar forma e me consumir. Tudo era vermelho e desejei que pudesse explodir feito os fogos no céu.

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