The White Rose escrita por Senhora Darcy


Capítulo 16
Capítulo 16


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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A manhã custou a chegar. O sol estava escondido, e a garoa se intensificara. Pessoas passavam na rua sem nem olhar para a minha cara, ou notar a minha presença. E era melhor assim. Me levantei, o estômago doendo de fome, todos os meus músculos latejando e uma das pernas sangrando por algum motivo. Olhei para frente, para o mar sem ter ideia do que fazer. Minhas pernas acabaram tomando o caminho de volta, sem que eu nem percebesse. Mas eu não tinha ideia melhor para contradizê-las. Continuei andando, a longa distância que tinha percorrido de noite, sem nem pensar em nada. Ouvia vozes e comentários a minha volta, mas eu não conseguia entende-los. Um som ao longe foi a única coisa que distingui. Mais um navio pirata sendo saqueado, ou visitado pela guarda marinha. Alguns homens começaram a mexer comigo, e o medo me fez apertar o passo, mesmo sem eu querer voltar para o navio. As lágrimas estavam de volta, mas já me eram familiares agora.

Eu tentava elaborar um plano, ou pensar racionalmente, mas meus pensamentos estavam embaralhados e confusos. E ainda tinha aquele barulho de luta ao fundo que me remetia o tempo todo à horrível batalha que eu presenciei.

As casas estavam ficando mais familiares agora. Uma ou outra construção me diziam que eu estava perto do navio. Olhei para frente e demorei a discernir alguma imagem, por conta da névoa densa e dos pingos de chuva gelados. Meus lábios estava, secos e rachados, minha cabeça girava, meu estômago roncava e meus braços e ombros pareciam congelar com o frio que fazia ali. Mas nada me deu mais desespero que ver, um pouco ao longe, uma batalha sendo travada no convés do navio de Tatcher.

Forcei minhas pernas a correrem e minha mente a trabalhar. Cheguei perto o suficiente para ouvir os gritos de dor e espadas batendo. Mas o ruído parecia diminuir conforme o tempo. Só então percebi que os piratas estavam rendidos. Todos amarrados a amurada, enquanto homens vasculhavam o navio em busca de mais homens. Tudo fez sentido de repente, e eu entendi o que estava acontecendo. A guarda marinha estava atacando o navio.

Cerca de vinte ou trinta soldados de uniforme vermelho ocupavam o convés. Um deles falava com Tatcher diretamente, enquanto outro o segurava. Outros piratas também estavam na mesma situação, dentre eles, Gregory. Os soldados pareciam perguntar alguma coisa, mas nenhum deles falava nada. Vi o semblante do oficial comandante mudar e ele fazer um gesto com as mãos. Três soldados foram até Rupert, Betrus e Gregory e os socaram no estômago, levantaram as espadas e pareciam ameaça-los seriamente. Ouvir os urros de dor foi o estopim. Eu corri pela rampa e pulei no convés com um baque.

— Chega! Por favor, parem! Eu estou aqui! Aqui! – Eu gritei, ofegante – A princesa está aqui! – Disse, e dezenas de pares de olhos se voltaram para mim, um mais surpreso que o outro.

Um dos soldados se aproximou e me agarrou pelos cabelos. Me puxando para baixo até eu me ajoelhar próximo aos  outros.

— Boa tentativa, gracinha...Uma impostora! – Ele gritou para s outros.

Pude ouvir Gregory rosnar a alguns metros de mim, mas não olhei para ele.

— Não sou uma impostora, sou a Princesa de Andorra! Tire as mãos de mim nesse exato momento. – Eu mandei – É uma ordem!

Os outros soldados riram de mim.

— Pode parar com isso, gracinha. A princesa está morta. Esses piratas sujos a mataram. Por que ainda fica do lado deles?

— Chame o comandante Randall! Ele me conhece! Eu sou a princesa, tenho a marca de nascença no ombro e tudo...

— E eu lá sei que marca é essa? Me poupe de...

— Waters, solte a garota. – O oficial gritou.

— Até que enfim! – Exclamei – É melhor vocês resolverem isso logo e melhorarem essa postura! Vou ter sérias reclamações a fazer para o meu pai.

— Quieta, menina. Não disse que você podia falar. – O oficial respondeu, grosso – Um dos oficiais do fez a vistoria no navio ontem e achou a princesa em um dos quartos...morta!

— O quê? Aquela não era a princesa! É uma moça de rua que foi morta!

— Vai continuar com a mesma história desses palermes aqui? Moça, diga a verdade! Ela estava usando o vestido de baile da princesa e o manto real! E bate com a descrição da princesa.

— Mas não é ela! Vejam o retrato que fizeram no dia do sequestro...Sou eu!

O oficial parou e pensou por um instante, e então ordenou que trouxessem o cartaz com meu retrato. Olhou para ele por alguns minutos e depois se aproximou de mim.

Olhei para ele com uma cara feia, com meu olhar de mau pronta para ele perceber a cagada que tinha feito. E assim ele o fez.

— Minha Nossa Senhora! Oh, Alteza! Mil perdões! – Ele exclamou e se ajoelhou a meus pés.

Todos os outros soldados fizeram o mesmo.

— Alteza... – O soldado que tinha me agarrado disse – Oh, Alteza, não tenho palavras! Não tínhamos certeza....

— Tínhamos visto a moça morta no quarto.... achamos que fosse....sinto muito, Alteza, aceitarei a punição que me der....

Eu respirei fundo.

— Tudo bem, vocês não tinham como saber...

— Deveríamos! A descrição bate certamente....uma beleza excepcional...cabelos escuros e longos, olhos azul turquesa....Foi uma terrível falha nossa, Princesa, e espero que possa nos perdoar.

— Comandante, já disse que está tudo bem... Só vamos voltar para o Palácio agora, por favor. Deixe esses marujos aqui... eles não fizeram parte de nada...eu só quero sair daqui logo.... – Eu disse, encarando Gregory, seus olhos estavam arregalados e pareciam sofrer.

Vi ele tentar formar alguma palavra, e um fraco “não” saiu de sua boca conforme íamos para a carruagem que esperava no cais.

Durante todo o percurso de dois dias que se seguiu, eu contei, no mínimo, umas quinze vezes a versão que eu mesma tinha criado sobre o sequestro. Estava extremamente cansada e tudo o que eu queria era chegar em casa e me trancar em meu quarto para o resto da vida. Pena que não foi bem assim que aconteceu.

Apesar de terem sido duas semanas, para a minha mãe pareceram dois anos. Ela esperava na frente dos portões do castelo, com o Rei. Sai da carruagem e corri até eles, abraçando os dois ao mesmo tempo. Precisávamos fazer uma cena, pois praticamente o reino todo nos observava. Ao entrarmos no palácio, meu “pai” deu tapinhas em minhas costas e saiu. Minha mãe não desgrudou de mim um segundo, até eu assegurar que estava bem, dizer que nada tinha me acontecido e implorar para tomar um banho decente. Anelize entrou no quarto para me ajudar, mas acabamos passando mais uma hora chorando no colo da outra.

— Oh, minha menina! Minha pobre menina, o que fizeram com você? Senti tanto a sua falta...- Ela dizia e me abraçava de novo.

— Eu também, Ane...Achei que nunca mais iria te ver. Como senti saudades! – Eu a abracei de volta.

Ela então me ajudou a me despir e me deu um banho de banheira com direito a muitas massagens.

— Seus pais requisitaram um jantar privado com você. No brunch de amanhã farão um anuncio da situação. Está preparada? – Ela disse quando eu acabei de me aprontar.

Com um vestido verde longo e liso, meus cabelos hidratados e presos num penteado confortável e um pouco de maquiagem no rosto, eu me senti bonita e estranha. Desci para o jantar, pronta para contar a mesma história.

— Bom....- Eu comecei, encarando os rostos à minha frente – Antes de tudo, quero que saibam que estou bem. Ninguém me maltratou. Eu apenas passei um pouco de fome, por conta da comida escassa. No dia da inauguração do cais, dois homens me vedaram e me levaram para um navio pirata. Só fui acordar no outro dia, num quartinho escuro e pequeno. Fiquei lá por alguns dias, e o capitão trocou comida pela carta que eu escrevi a vocês. Uma semana depois, o navio onde eu estava saqueou outro que passava por perto, e os outros piratas, os piratas do Capitão Tatcher, venceram e me encontraram presa. No começo fiquei com receio de dizer quem eu era, mas eles foram muito gentis comigo. Me deram um quarto, comida e roupas, e eu os ajudava nos afazeres em troca. Quando me mostrei como a Princesa, eles pararam no porto mais próximo e pretendiam me entregar a um oficial. Me trataram como uma hóspede.

— Mas por que demoraram tanto? Aquele navio passou três dias no porto, antes de a encontrarmos. – O rei perguntou.

— Bom, eles queriam ter certeza de que eu ia ficar em boas mãos, e como souberam da vistoria que a marinha estava fazendo, esperaram até encontrar guardas de confiança.

— Oh, minha querida, você deu muita sorte! Não paro de pensar no que podia ter acontecido....

— Mas não aconteceu. Só peço que não perturbem aqueles homens. São bons.

— Certo, então por que tinha uma moça com as suas vestes, morta em um dos quartos?

— Isso foi....um acidente. É complicado. – Respirei fundo – É que o capitão tem o hábito de usar o serviço de moças de rua...e essa que faleceu, Marianne, foi mais uma delas. Mas houve o terrível incidente de ela ter caído sobre uma peça de vidro no gabinete do capitão. Tentei de tudo para salvá-la... mas não adiantou. Eu quis que ela recebesse um funeral digno, então pedi aos homens que a levássemos no cemitério, ao invés de jogá-la no mar, como é o costume. E também coloquei as melhores roupas que eu tinha nela...por respeito. Foi um grande mal entendido. Mas esse capitão...estou convencida de que ele teve algo a ver com essa morte. Gostaria que os guardas investigassem um pouco mais sobre ele. É o único que me levantou suspeitas. De resto, todos eram amigáveis. Me deixavam, inclusive, circular pelos lugares. Quando os oficiais chegaram, eu tinha justamente saído para ver se encontrava algum. Falando nesses oficiais... – eu comecei, ma o rei levantou uma mão e me silenciou.

— Esse navio em que você estava, o primeiro, eu digo, onde ele está agora? – perguntou.

— A alguns quilômetros da costa de Portsmouth, eu acredito. Chamava-se Cassiopeia. – Eu disse, recordando o ataque que sofremos com o navio.

— E por que mesmo eles quiseram atacar outro navio com uma refém a bordo?

— Piratas são gananciosos.

— Muito bem. Coma agora. Amanhã você contará essa história no pronunciamento.

Eu concordei e terminei de jantar. Com a desculpa de estar exausta da viagem, fui para meu quarto, e deixei que Anelize escovasse meus cabelos até eu cair no sono.


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