The White Rose escrita por Senhora Darcy


Capítulo 15
Capítulo 15


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Horas mais tarde, já era madrugada. Eu respirava com dificuldade, deitada ao lado de Gregory. Aquilo tinha sido... sem palavras. Não sei se era por falta de medo dessa vez, mas eu aproveitara muito mais do que na noite anterior. Rindo sozinha, eu escondi meu rosto no peito exposto de Gregory.

— Nós fomos muito sem noção. – Eu disse – O navio inteiro deve ter...

— E quem liga? No momento eu estou tentando entender como você pode ser tão incrível.

— Gregory, por favor! Eu não tenho experiência como...

— Katherine, você foi a melhor. Essa foi a melhor, de toda a minha vida. E tenho certeza de que a próxima vai ser melhor ainda.... – Ele se virou para mim com um sorriso travesso no rosto.

— Ah, não, Gregory, não aguento! Estou completamente sem forças....

— Tudo bem, então. Vamos fazer diferente... Você só precisa ficar aí e...aproveitar.. – Seu sorriso se alargou ainda mais quando ele começou a distribuir beijos pelo meu corpo.

Na manhã seguinte, eu acordei com o melhor humor do mundo. Me levantei enquanto Gregory dormia, morrendo de fome. Vesti o vestido roxo, escovei os cabelos e fui para a cozinha, torcendo para não encontrar ninguém. O navio parecia estar adormecido ainda. O sol mal havia nascido direito. Então coloquei na mesa do refeitório uma larga bandeja de frutas e um mingau de aveia com banana, além de alguns pães velhos. Peguei uma maça para mim e dei uma passada no quarto de Pinsley, que agora era o leito de Marianne. Eu sabia que era muito possível que ela já estivesse morta quando eu chegasse, então me preparei para o pior. Abri a porta e entrei para o ambiente abafado e claro. As cortinas estavam abertas, deixando passar um pouco da luminosidade de fora. Mas as janelas estavam fechadas. Na cama, Marianne estava imóvel, com as cobertas até o pescoço. Ela era muito bonita, de fato. Com cabelos castanhos e um rosto de feições fortes. Tinha lábios grandes e uma pele clara como a minha. Seus olhos estavam fechados e eu não consegui ver seu peito subindo e descendo. Com uma dor no coração, fui até ela e peguei seu braço inerte. Não consegui sentir nada. Nenhuma pulsação. Ela não estava respirando. Estava morta. Contudo, havia pouco tempo. Não estava tão gelada, e sua pele apenas começara a perder a coloração. Chorei em silêncio, rezando pela alma da garota. Ela merecia um funeral respeitoso, e não ser jogada no mar. A vida dela não era num navio, não havia significado em tal coisa. Olhei em volta e achei num canto do quarto o meu vestido de baile, ensanguentado. Era um belo vestido, apesar de sujo. Sem pensar direito, coloquei-o numa tina com água e comecei a lavá-lo. Esfreguei-o tanto que minhas mãos ficaram vermelhas, e a maior parte do sangue saiu, deixando apenas uma mancha avermelhada, e outra amarelada – Por conta do banho de cerveja que eu levara semanas atrás. Eu soltei o ar pesadamente e olhei para o vestido encharcado. Com todas aquelas manchas, ainda era o vestido mais bonito que eu tinha ali, e agora, o mais limpo. Abri a janela e deixei-o no vento da manhã que entrava, veloz, no quarto. Então voltei à Marianne. Com um pano úmido, limpei seu rosto e seu pescoço. Desfiz o curativo e o limpei, já que agora não sangrava mais. Arrumei seus cabelos e a ajeitei melhor na cama.

Algumas horas mais tarde, as quais eu passara sozinha no quarto, pensando no que faria, o vestido já estava praticamente seco. O corpo de Marianne começaria a se decompor logo, então vesti-a com meu vestido branco e coloquei algumas flores em suas mãos. Com os cabelos castanhos emoldurando o rosto, os olhos fechados e o vestido de festa, ela lembrava um pouco a minha própria figura, quando a manhã chegava e eu me encontrava pálida, cheia de olheiras e com um ar mórbido. Estremeci com o pensamento. E outro me ocorreu.

Parei e escutei. Tudo em silêncio. Ninguém falava nada. Nenhum ruído das atividades diárias no barco, ou de homens se movimentando pelo navio. Estranhando, sai do quarto e fui até o convés, discretamente. Ao chegar lá, me deparei com toda a tripulação em roda, observando algo. Achei Gregory no meio deles. Estava com o olhar baixo, com uma expressão séria no rosto, mexendo na manga da camisa. Alguma coisa estava errada. Esperei até que ele encontrasse meu olhar, e quando o fez, empalideceu. Negou com a cabeça, e fez algum movimento com as mãos. Pelo que pude entender, era para eu sair dali. Mas por quê?

A resposta veio logo em seguida.

— Um belo navio você tem, Tatcher. Não me impressiona que tenha saqueado tantos outros com esse porte todo – Uma voz masculina e arrastada disse, do centro da roda.

— Sim, bem, modéstia parte, é um grande orgulho para nós. O senhor, hum, quer ver mais alguma coisa?

— Ah, não, não. Conheço você de outros carnavais, Tatcher, sei que não seria tolo a ponto de raptar a princesa! Mas, bem, você sabe, tive de fazer a vistoria... é o protocolo...

— Ah, não se preocupe com isso, parceiro... entendo perfeitamente. Sinta-se a vontade para olhar o navio.

— Que isso, Thatcher, não há necessidade. Além do mais, iria ser uma perda de tempo, não é mesmo?! – O homem disse e todos os homens riram forçadamente. – Ora, ora...Já acabei por aqui então, deixe-me ir que tenho muitos outros navios a vistoriar... obrigado pela colaboração de seus tripulantes... podem voltar ao trabalho.

Todos se mexeram e arrumaram alguma coisa para fazer. Vi Tatcher cochichar algo no ouvido do homem, que agora se revelara como um velho baixinho que eu vira algumas vezes no palácio. Fazia parte do conselho de segurança do rei. Se ele me visse ali, iria me reconhecer, apesar de minhas roupas. O pensamento me fez correr para a primeira porta que achei e me esconder ali. Era o quartinho onde eu ficara presa nos primeiros dias. Tinha uma porta de madeira bem fina, então pude ouvir com clareza a conversa que se seguiu....

— Vamos, parceiro, quero lhe dar um pequeno agradecimento, por não ter contado ao chefe de segurança e a todos os outros figurões da marinha sobre as...atividades ilícitas que praticamos nesse navio... – Tatcher dizia ao homem, enquanto os dois passavam pelo corredor em que eu estava, em direção ao gabinete do capitão.

Quando os passos diminuíram, eu sai dali e me esgueirei para o refeitório, e depois para a cozinha, entrando em outro quarto que ficava ao lado do gabinete. Não consegui ouvir muita coisa, mas eles pareciam estar negociando algo. Pelo que eu entendi, Tatcher estava pagando ao homem uma boa quantia de ouro para ficar quieto quanto a Pirataria e não atrair mais atenções para o navio. O homem aceitou, feliz, e ambos saíram do gabinete.

— Ah, esqueci uma coisa no gabinete...um momento, por favor. – Tatcher pediu ao homem e voltou para o cômodo.

Pude ouvir o outro andando pelo corredor e abrindo algumas portas. Nem ele confiava tanto em Tatcher assim. O capitão então retornou ao corredor e o homem fechou uma das portas bruscamente, escondendo o que fizera.

— Ah, whisky escocês? É muita gentileza sua, capitão... – Caramba! Aquele homem estava saindo caro para Tatcher -...Eu, hum, vou-me embora agora, adeus, capitão.

Ouvi passos apressados ecoarem e Tatcher voltou para o gabinete. Antes que pudesse fechar a porta, Gregory o chamou.

— Com licença, capitão, quem era aquele?

— Ah, White, nada com o que se preocupar. É um conhecido meu, e vai garantir que a marinha saia da nossa cola, por ora. Já está tudo resolvido, ele só veio seguir ordens, mas garanto que não encontrou a princesa.

— Bem, é sobre isso mesmo que eu queria lhe falar. Katherine estava solta por aí, quando o homem chegou de surpresa...mais um pouco e estávamos todos enforcados...

— Sim, White, e estamos nessa situação há duas semanas.

— Então...quando vai acabar? O que vai fazer com a princesa?

— Isso cabe a ela agora.

— Como?

— O Rei não irá pagar o dinheiro do resgate, a não ser que aceitemos menos da metade do dinheiro.... e isso não pagará tudo que gastamos com ela nas últimas semanas. Portanto, eu não sei o que fazer. Depende dela aceitar o acordo que ofereci.

— Que seria...?

— Boa noite, White.

O capitão fechou a porta e eu ouvi Gregory dar um murro na parede ao lado da minha porta. Muito bem, era hora de sair. Abri a porta com cuidado, e encontrei Gregory encostado na parede, com os olhos cerrados. Saí e o envolvi em meus braços. Depositei um beijo em seu rosto e me aninhei a seu abraço.

— Katherine....O que o Capitão quer de você? – Gregory perguntou naquela noite, enquanto estávamos deitados na minha cama.

Eu me virei para encará-lo, sem sono nenhum por ter dormido o dia inteiro, já que não me permitiram sair do navio após a visita do homem.

— Katherine? – Ele perguntou novamente quando não respondi.

— Olha, Gregory.... Tatcher é seu tio. Sua família. Ele te conhece há mais tempo que eu. E nós, bem, nós nos desentendemos um pouco. Não confio nele e não acho que ele seja uma boa pessoa. Tenho meus motivos para isso. Mas se eu entrar nessa discussão agora... vou te colocar entre eu e ele, e você teria de escolher. Não quero que faça isso. Não quero ficar contra você. Então é melhor eu não dizer nada.

— Katherine... você pode me contar o que quiser. Eu confio em você e mesmo que eu discorde de algo que você disser, nunca ficaremos contra o outro. Por favor, eu...estou perdido.

— Gregory...- Eu respirei fundo e decidi lhe contar a verdade – Eu acho Tatcher um tremendo vigarista e aproveitador. Além de assassino. Ele não se importa com nenhum de vocês, é corrupto e quer as vantagens só para ele. Aposto como ele não distribuiria o dinheiro, se ganhasse. Além do mais, ele... ele é violento, um louco, psicopata. Ele matou Marianne....ele a jogou na mesa, descontou alguma frustração dele em cima dela.... Céus, em quantas outras garotas mais ele bateu? Não consigo nem imaginar. E deve haver muito mais que não sabemos. Ele fez um trato com um oficial do castelo! Alguém de perto do rei... ele não é confiável....certamente já fez muita coisa errada..... – Gregory não disse nada. – E...ele quer se casar comigo. Quer ser o futuro rei e deixar você à mercê da vida de piratas....

— O quê?! Katherine, isso não é...

— É possível sim, Gregory. E ele ainda ameaçou expor todos vocês se eu não aceitar e tentar fazer alguma coisa.... Ele é mau, Gregory, ele não presta. Está usando você para ser o escravo dele, todos vocês. Ele não dá a mínima para ninguém, e aposto como vai deixar vocês na mão algum dia...

— Katherine.... Ele é irmão da minha mãe...

— E isso é o pior de tudo! Ele nunca se importou com sua família, com você, com seus pais....ele nunca quis te ajudar, sempre procurou o melhor para ele e para ninguém mais! Ele é um assassino!

— Eu também sou! Todos aqui somos! – Ele se exaltou.

— Mas ele mata sem motivo algum! Mata por prazer! Mata mulheres inocentes, mulheres como a sua mãe... Não duvido que, se precisasse, ele teria coragem de assassinar a própria....

— A própria família? Matar a própria irmã? Assim como eu matei meu próprio pai, certo? Ah, mas que bando de assassinos a sangue frio somo nós...talvez esteja na família, não é mesmo? – Gregory se levantou e agora falava muito alto, seu peito desnudo subia e descia e sua face estava vermelha de raiva.

— Gregory, por favor, se acalme, eu não quis dizer isso... – Eu disse, me levantando também e tentando tocá-lo.

— CHEGA! JÁ CHEGA! – Ele gritou e se afastou – Você não entende! Você não poderia! É uma princesinha mimada, que só sabe julgar os outros porque nunca teve de passar fome, ou estresse, ou ficar entre a vida e a morte e ver as pessoas morrerem aos montes na sua frente. Você não é que nem nós....não é que nem eu, e nunca poderá entender o que é carregar um fardo maior do que uma maldita coroa! Eu cansei de sustentar essa sua brincadeira de aventureira... Você tem que se tocar! Porque no final você volta para a sua confortável casa, vive uma vida de luxo com um princepezinho qualquer, e nós voltamos a lutar pela nossa vida todos os dias, ainda mais gora por sua causa!

— Gregory... por favor, você está bravo.. – Eu dizia, com lágrimas caindo sem parar.

— Não, não estou bravo. Agora está tudo claro para mim. Essa é a verdade. E é o fim. O fim de tudo isso. Está na hora de você crescer e fazer alguma coisa. Voltar para as pessoas da sua espécie, que apesar de se acharem superiores a tudo e todos, na verdade são muito piores.

Eu tinha aberto a boca para falar, mas as palavras me fugiram depois daquilo. DE onde ele estava tirando aquelas ideias? Ele queria mesmo dizer tudo aquilo....Suas narinas dilatadas e aa bela feição, agora tinindo de raiva me diziam que sim.

Era como um golpe no estômago. Eu podia ouvir qualquer um dizer aquilo para mim, e eu me levantaria e lutaria pela verdade e pelo que eu acredito. Mas Gregory me dizer aquilo? Eu não achava forças para me fazer acreditar que ele estava errado. Não consegui ser forte e durona, e apelei para meu instinto mais básico. Sem olhar para seu rosto, eu sai do quarto e bati a porta.

Os outros vieram ver o que tinha acontecido, mas eu estava em lágrimas, vermelha e descabelada, então não tiveram reação e me deixaram passar. Sai correndo para o convés. Desci a rampa até o cais e daí não parei. Corri sem olhar para trás. Corri sem ligar para a dor nas minhas pernas ou para o frio da noite batendo contra meu peito. Não me importei nem com os pingos de água           que caiam ou para o fato de não ter onde ir. Corri até tropeçar numa pedra na calçada e cair rente a um beco qualquer. Ali fiquei, escorada na parede, encolhida atrás de latões, sem conseguir parar de chorar, sem conseguir dormir.


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