Quando voltamos ao castelo, a nossa conversa estava bem mais tranquila do que antes. Era como se tivéssemos voltado a como éramos quando criança, fazendo palhaçadas e tirando sarro um do outro. (Sei que isso não é um comportamento adequado para uma princesa, mas ei, quem liga?)

Andávamos rindo e brincando enquanto Rick me contava tudo que havia acontecido na viagem para a Alemanha, e como ele comentava de forma casual que um dos príncipes da Alemanha estava muito interessado em manter a amizade com ele.

— Isso é ótimo! – eu disse elevando tanto a minha voz que uma das camareiras que passavam por nós levantou a cabeça para me olhar

Baixando o tom voltei a comentar.

— Isso quer dizer aliança Richard! E ambos sabemos como uma aliança com a Alemanha seria bem aproveitada! – eu disse sem conter minha alegria

Assim como eu, Richard havia sido criado sabendo que um dia governaria seu país. Tivemos aulas de história, economia, tudo que pudesse nos ajudar quando a hora de assumir o trono chegasse. O detalhe, é que com a idade de Richard, ele já deve assumir o trono até o final do ano, com 21. No meu país a idade limite é menor, e é o que está tornando minha vida um pouco mais difícil.

Pensando bem, eu não poderia mudar a lei da obrigatoriedade do casamento, mas seria possível aumentar a idade obrigatória para assumir a coroa?

Criei um lembrete mental para voltar nesse assunto com Jordan mais tarde.

Voltando ao presente.

Chegamos de volta em meu quarto e Jordan sem cerimônia nenhuma se jogou em cima de minha cama. Eu sentei na beirada do colchão e sorri pra ele. Uma vez, quando tínhamos oito anos, ele disse pra mim que meu colchão era mais fofo e confortável que o dele, que ele parecia deitar em nuvens. Até hoje quando eu me lembro disso, consigo sorrir.

— Falando em aliança. – ele olhou pra mim e sorriu – Temos que conversar.

Endireitei minha coluna e arqueei as sobrancelhas.

— Aconteceu alguma coisa?

Ele sorriu de canto.

— Bella, eu sei sobre a coroa.

Olhei pra ele sem entender do que falava.

— Que? – perguntei balançando a cabeça

— Eu sei sobre a lei, que te obriga a casar pra poder assumir o trono.

Suspirei cansada e deixei meu corpo cair ao seu lado sobre os lençóis azul claro.

— Não estou acreditando nisso, porque esse assunto volta pra me assombrar? – eu disse olhando pra cima como se esperasse uma resposta divina

Talvez um raio fizesse sentido e caísse bem agora.

Richard riu e passou as mãos pelo meu cabelo.

— Eu sei que está sendo difícil – ele comentou quase me fazendo suspirar de novo – mas eu quero que saiba que eu te fornecer todo o apoio que eu puder.

Eu virei minha cabeça pra ele e sorri sentindo meu olho marejar com a emoção de ter um amigo tão querido por perto.

— Obrigada Rick, isso é muito importante pra mim. – segurei sua mão e entrelacei nossos dedos

— Ótimo! – ele sorriu

Depois de alguns segundos ele me olhou ainda com o sorriso no rosto.

— Então, quando vai ser o casamento?

Engasguei com a minha própria saliva, ou talvez tenha sido com o ar, mas eu consegui desencadear uma cria de tose em um nível que tive que sentar na cama pra conseguir respirar direito.

— O que? – perguntei com a voz mais esganiçada possível

Eu não acreditava naquilo. Minha mãe já havia contado pra todo mundo que pretendia me juntar com Justin?

Imaginei a cena dele chegando na Sainte-Chapelle* , por ter sido convidado pela minha mãe e entrando com tranquilidade. Parando ao me ver em um vestido de noiva com toda a cerimônia acontecendo.

Imaginei minha mãe dizendo pra ele: “A propósito, você é o noivo.”

Tentei não ficar nervosa com essa imagem, mas não pude de deixar sentir um calafrio perpassar pela minha espinha em direção a nuca.

Rick voltou a falar.

— Quando será nosso casamento?

Ok, leitor, esse é o momento que vocês descobrem que eu sou louca. Porque das duas uma: ou eu devo tomar constantemente chá com cogumelos alucinógenos, ou eu devo ter um tumor, ou um cisto, no cérebro que está afetando seriamente minha audição.

Se for o segundo, que eu morra rápido pelo menos, por favor.

Porque, eu juro ter ouvido ele dizer ‘nosso’. Tipo, ‘nosso casamento’.  Tipo ter dado a entender que nós vamos nos casar. Como em ‘eu’ e ‘ele’.

Será que eu fiquei realmente louca?

— Co... como assim, nosso casamento?

Ele continuava sorrindo. Porque ele ainda está sorrindo?

Ele não tá vendo que eu estou a beira de um ataque de nervos aqui?

— Ahn, eu falei sério quando disse que te daria todo o suporte que eu pudesse. Você precisa de um herdeiro para poder assumir o trono, eu futuramente buscaria o auxílio de uma esposa. Nos conhecemos a séculos e nos damos bem como ninguém. Você quer que eu continue citando fatores positivos?

— Estou bem. – murmurei tão baixo que não achei possível ele ter ouvido

— Acho uma ótima ideia. – ele continuou naquele discurso – Ambos vamos estar felizes.

Eu dei uma risada baixa.

— Eu te amo Rick, de verdade, mas não vou obrigar você a assumir um compromisso como esse apenas por sermos amigos.

Seu sorriso se desfez apenas por alguns segundos.

— Eu faria sem pestanejar Bela, não é como se isso fosse um sacrifício ou um peso. Nossos países ainda poderiam tirar vantagem dessa aliança. Pense nisso.

— Estou pensando. – eu falei fechando os olhos

Quando os abri, Rick me encarava com expectativa.

— Eu... não posso decidir isso agora. Não com o baile quase acontecendo. É muita coisa pra pensar.

Ele concordou com a cabeça.

— Só, leve isso em consideração – ele disse levantando da cama e indo em direção à porta – Você pode me dizer o que decidir depois do baile, antes de eu voltar para a Grécia.

 Ele colocou a mão na maçaneta a girou lentamente, parando se virando para voltar a me olhar sentada na cama.

— Eu... – ele inspirou fundo e abriu um pouco a porta – Eu realmente gostaria que você dissesse sim.

Eu estava emocionada, de verdade.

Só Rick se submeteria a esse tipo de coisa apenas para me ver feliz. Ele sabia o quanto meu país era importante para mim, e o quanto eu queria aquela coroa.

Então tudo estaria maravilhosamente bem, se quando Rick tivesse aberto a porta ele não tivesse dado de cara com Justin do outro lado, parado apenas olhando para seu rosto.

Seus olhos castanhos se voltaram pra mim sentada em uma cama bagunçada e ele deu aquele sorriso de escárnio perfeito.

— Vim avisar que o jantar está pronto, princesa.

Rick saiu andando pelo corredor enquanto Justin permanecia parado ao batente da porta como se fosse um vampiro sem permissão para entrar.

Tentei desamassar os lençóis da cabeça e acenei com a cabeça.

Ele fechou a porta atrás de si me deixando sozinha no quarto.

Quando minha vida voltaria a ter sossego?