O jantar não havia sido tão ruim quanto eu temia que fosse, no final das contas.

É claro, poderia ter sido mais agradável, apenas se não houvéssemos convidados conosco, o que tornou a situação um pouco... Embaraçosa.

Começando pelo momento que eu entrei no salão de jantar e vi que de toda a mesa posta e planejada – acredito que pela mãe, levando em consideração a organização dos lugares – eu havia ficado sentada ao lado de Rick, e em frente à Justin.

— Pensou no que eu disse? – Richard se inclinou para se aproximar e sussurrar sem que ninguém  ouvisse

— Eu... – inspirei fundo – Eu realmente não sei o que pensar, eu achei que não tivesse que decidir até o fim do baile. – argumentei me virando em sua direção

Ele ergueu as mãos.

— Tem razão. Desculpe-me, não vou mais pressioná-la.

Dei um leve sorriso e apoiei minha mão encima da sua na mesa.

— Você é um amigo maravilhoso Rick, estou sem palavras.

Ele sorriu.

— É sempre bom saber que mesmo depois de tanto tempo ainda posso a surpreender.

Tentei controlar a minha risada e apenas recebi um olhar de minha mãe, que quando viu que não era nenhum tipo de deboche acabou sorrindo também, e inclinando a cabeça levemente para a direita.

— Então Richard, querido – minha mãe levantou a voz um pouco para poder ser ouvida – Por quanto tempo pretende ficar em Paris?

Ele me olhou de canto de olho.

— Descobrirei isso ao fim do baile, majestade.

Mordi o lábio inferior tentando segurar o riso por ver minha mãe arquear as sobrancelhas tentando saber ao certo o que era isso, mas sem querer pressioná-lo. Ela resolveu apenas sorrir.

— Apenas Cíntia, querido, estamos entre família aqui.

— Até demais. – Justin murmurou me fazendo olhar pra ele

Nossos olhos se encontraram e eu coloquei minhas mãos em minhas coxas por baixo da mesa quando percebi seu olhar encarar minha mão com a de Richard.

 Senti um arrepio passar pelos meus braços e os apertei esperando essa sensação passar.

Levantei da mesa murmurando um: “Com licença”, sem esperar ninguém me responder.

Afastei-me da mesa, saindo do salão e fechando a porta atrás de mim, já no corredor me apoiei em uma parede e fechei os olhos. Porque eu não conseguia me concentrar direito? Era como se minha mente estivesse nublada e eu não conseguisse me concentrar em nada ao eu redor. Dei um pequeno suspiro quando senti um cheiro agradável ao meu redor, me fazendo abrir um sorriso mínimo, era como um cheiro fraco de terra molhada com ébano. Simplesmente maravilhoso.

Senti uma inquietação na boca do meu estomago e pensei que esse seria um péssimo momento para estar passando mal, em algum momento eu teria que voltar ao salão para a finalização do jantar.

Senti um movimento perto de minha cabeça e abri os olhos por impulso. Justin me observava atentamente com uma proximidade que chegava a ser desconfortável. Ele mantinha os olhos castanhos em mim enquanto permanecia com um semblante sério. Dei dois passos para o lado e afastei nossos corpos a uma distância mais segura. Estranhamente eu senti falta da sua proximidade.

Limpei a garganta.

— Quer alguma coisa?

Ele tirou os olhos do meu rosto e passou por todo meu corpo me fazendo novamente ter leves calafrios, seus olhos voltaram a buscar os meus.

— Nada agora. – ele deu um passo para frente – Quero saber o que o príncipe metido a besta te ofereceu.

Levantei meu queixo sem querer responder.

— Quem disse que ele me ofereceu algo?

Ele deu mais um passo a frente, seu corpo quase tocando o meu, senti a proximidade quase como algo físico, uma eletricidade estalando no ar a nossa volta. Eu não saberia dizer qual de nós emanava essa sensação, mas parecia envolver ambos.

— A sua cara diz.

Ele passou a mão por uma mecha minha com uma suavidade que fez eu quase não sentir quando ele a colocou atrás da minha orelha, mantendo a mão próxima do meu pescoço. Seus dedos roçando na minha pele descoberta.

— Isso não lhe diz respeito. – murmurei – Qualquer conversa que eu tenha tido com ele, foi particular. Não é de interesse público.

Parei para pensar por um segundo; claro, se eu aceitasse a proposta de Richard, daí sim seria de interesse público, mas esse não é o ponto no momento.

— Que seja então, - seus olhos ficaram frios – realmente não me interessa nenhuma conversa sua, de qualquer forma.

Ele tirou a mão próxima de mim e a deixou cair ao lado do seu corpo, se afastou momentaneamente apenas para voltar a se aproximar de mim com um sorriso malicioso pairando nos lábios.

Ele chegou perto tão rápido que eu fiquei paralisada, segurou minha cintura com uma mão e aproximou sua boca de meu ouvido.

— Ele não vai ser bom o suficiente. – ele sussurrou e meus pelos do pescoço se eriçaram com seu hálito ali

— Bom... o suficiente? – eu consegui falar depois de ter fechado os olhos

Eu não conseguia mais entender o que estava acontecendo.

A mão que estava na minha cintura escorregou até meu quadril, deixando um rastro quente por onde seus dedos passavam.

— É. Bom o suficiente. Você tem fogo demais para ele conseguir segurar. Demais. – suas mãos passaram levemente para minhas costas e eu inspirei fundo sem saber o que dizer

O que estava acontecendo? E porque eu não queria que parasse?

Sua mão subiu pelo exato caminho dos meus calafrios, espinha a cima, apertando levemente meu pescoço, e um segundo depois, antes mesmo que meus olhos pudessem entender, ele já havia se afastado e seu sorriso havia voltado à malícia.

— Sempre um prazer conversar com você senhorita. – ele fez uma referência contida e seu sorriso pareceu se alargar com a minha expressão confusa

Ele deu as costas e abriu a porta, passando para a sala de jantar.

Suspirei sentindo meu rosto esquentar e, naquele momento, eu não saberia dizer se por constrangimento ou se apenas por eu sentir um calor devastador passando pelo meu corpo.

Tentei respirar fundo antes de voltar para o salão.

Quente demais, estava quente demais.