Time Web escrita por Mabée


Capítulo 16
Capítulo 16 - Primeira Parada




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Quando Peter acordou naquela manhã, nunca imaginou que seu dia fosse desafiar diferentes fases de seu estado emocional.

Logo que se levantou da cama, foi surpreendido por May que havia acordado de bom humor, cabelos recém lavados e os óculos pendurados na ponta do nariz enquanto virava panquecas no ar. O sorriso dela levantou o astral do garoto assim que ele se sentou à mesa e decidiu que valeria a pena se atrasar um tanto para comer o café da manhã feito pela tia — mesmo que boa parte estivesse torrada ou crua.

Então, quando chegou à escola, foi recebido por Ned logo de cara que dizia trazer boas notícias, e assim os dois se encontraram em uma conversa que exalava desconforto e nervosismo da parte de Peter, claro. Foi logo que Ned afirmou que havia trombado com Peony mais cedo e segundo ele, foi totalmente culpa dela, já que a garota estava parada no corredor enquanto encarava o celular — mas isso não impediu Ned de levar xingos. O fato era que, os olhos verdes da garota não estavam focados em qualquer coisa, mas sim, nas mensagens de Peter. "Olhos cheios de paixão" como Ned havia descrito.

Com bochechas vermelhas, Peter seguiu tentando desviar o assunto, mas sabia que não teria como fugir por muito tempo. Ned estava bem ciente de sua pequena queda e Michelle dizia não dar a mínima, mas estava sempre jogando dicas de como chamar Peony para sair; e agora, ele tinha uma torcida completa e o tanto de 0% de coragem para convidá-la. Tão focado no assunto, o jovem mal percebeu que Gwen havia escutado boa parte da conversa.

E agora, parado diante de Peony que lhe lançava o mais confuso dos olhares — apesar de nunca conseguir ler suas expressões, essa estava sendo a mais difícil até aquele momento —, o garoto só queria criar um clone de si mesmo para se esmurrar. A jovem tinha os olhos levemente arregalados e a boca entreaberta, desviando o olhar no mesmo segundo em que Peter quis negar tudo que havia dito antes, mas logo, como se fosse treinada para aquilo, a garota abriu um sorriso e cruzou os braços.

               — Eu não sou a melhor pessoa para te ajudar com isso — afirmou ela e Peter notou que as pontas de suas unhas estavam sendo pressionadas contra os braços.

               — T-Tudo bem. Quero dizer… eu…

               — Também não conheço a Liz tão bem quanto possa parecer, afinal, não sou a pessoa mais amigável que você conhece — a jovem soltou uma leve risada. — Eu não costumo sair tanto, não sei do que as outras garotas gostam, nunca fui à um encontro, não tenho um grande grupo de amigos… tudo aponta que não tenho como te ajudar.

               — Esqueça o que eu falei, sério… eu só… — seus dedos brincavam com o tecido do moletom, tentando reformular a frase. Idiota, por que estragou tudo?

               — Não, por que esquecer? É legal da sua parte querer chamar a Liz para sair, eu só não tenho como te ajudar — comentou a garota. — Foi por isso que você me chamou aqui, certo? Para te ajudar com isso?

               — Eu…

               — Por que se eu for te ajudar, quero que você me ajude também — completou a garota. — Se eu te ajudar com a Liz, quero que você me ajude com o Harry.

Harry?

Harry?!

               — … Harry?

               — Sim. Vocês são próximos, não?

               — Sim — desejava que não fossemos.

               — Então você fale com ele e eu te ajudarei com Liz, pode ser?

Peter não conseguiu responder, seus pulmões pareciam ter sido amassados por um trator enquanto sua nuca derramava gotas de suor frio e a respiração encurtava. Mas dentro de suas veias, o sangue fervia de raiva; raiva de Harry, raiva dele mesmo, raiva de tudo.

Sem mais delongas, Peony deixou o local com um curto sorriso que ficaria na mente de Peter.

Ela não gosta de mim.

[…]

               — Você pediu por isso — afirmou Ned ao retirar o tomate de seu sanduíche.

Peter reclinou-se na cadeira e suspirou fundo, cruzando os braços acima do torso enquanto deixava a cabeça cair para trás.

               — Não sei o que deu em mim…

               — Eu sei — Ned o cortou, revirando os olhos. — Você deu uma de Peter, de novo.

               — Ei!

               — Não estou mentindo.

               — Não mesmo — confirmou Michelle, um tanto distante dos dois e causando olhares curiosos em sua direção. — Não que eu ligue.

Ignorando o comentário, Peter suspirou mais uma vez.

               — Agora eu tenho que conversar com Harry.

Michelle e Ned trocaram um olhar que trouxe apenas desespero para Peter e, logo em seguida, caíram no riso — até Michelle fez questão de rir! — e o garoto resolveu que a situação não podia piorar.

               — É engraçado, eu tinha certeza de que ela tinha uma queda pelo Peter — comentou Ned ao tirar outro tomate de seu sanduíche, adicionando ketchup em seguida.

               — Por que você tira o tomate e coloca o ketchup?! Quer saber, eu não ligo. —Michelle revirou os olhos, e em seguida, abriu seu livro na página em que havia deixado, aproximando-se um tanto mais dos dois garotos. — Vocês não me perguntaram, mas eu vou falar mesmo assim; a Seagha é a garota mais coletada que eu conheci na vida inteira, até mais que eu, e ela ainda conseguia perder a pose quando o Osborn passava por perto. Já vi ela gaguejando uma vez.

               — Seagha? — Ned franziu o cenho.

               — Peony, é o sobrenome dela — respondeu Peter ao afundar o rosto ainda mais nas palmas. — Eu fui um otário.

               — Acontece — completou a garota e voltou a enfiar o nariz no livro.

               — O que você pretende fazer agora? — Questionou o amigo, limpando a mistura de molhos que manchava o canto da sua boca. — Vai mesmo falar com o Harry?

               — Falar o quê para o Harry? — Questionou uma voz que crescia a cada passo mais próximo que dava e Peter sentiu seu corpo gelar por um instante.

Virando-se para trás, o garoto avistou o outro melhor amigo que agora estava parado em sua frente, segurando a mochila com os ombros bem ajeitados em uma postura que seria humanamente impossível de tão perfeita, e o garoto passou a se comparar com o herdeiro Osborn — lembrando-se de que ele parecia um homem das cavernas enquanto o amigo parecia o rei do cômodo onde entrasse.

O topete estava perfeito no topo da cabeça, selando junto os fios loiro-escuros que ressaltavam os olhos claros e o sorriso de canto que era sua assinatura. Ele vestia roupas de grife, sendo uma camisa que modelava o corpo e uma jaqueta de couro que devia ter custado mais do que 30 anos de aluguel no apartamento de Peter, e sapatos que brilhavam mais que o sol.

               — Peter tem algo para te contar — comentou Ned e levantou sua bandeja, indo na direção de Michelle. — Eu vou ver se tem sobremesas e MJ vai junto.

               — Eu não tô afim de…

               — Nós vamos ver as sobremesas — Ned deu um leve beliscão no braço da garota que o olhou feio e levantou-se.

Com isso, Harry franziu o cenho, mas não deixou de sorrir e sentou-se de frente para o amigo, colocando a mochila cara do seu lado e o celular sobre a mesa, esticando os braços como se todo o banco o pertencesse.

               — O que você precisa me dizer? — Perguntou o garoto enquanto abria uma caixinha de iogurte que tirou da mochila, bebericando enquanto os olhos seguiam grudados no amigo. — Não fez nada de errado que eu precise consertar, né?

               — Não, eu… — Peter ajeitou-se no lugar, incomodado com a situação e hesitante se devia dizer ou não o que estava em sua mente. Harry aceitaria, ele viu o jeito que o garoto estava agindo com ela na noite da festa e tinha certeza de que ele trataria Peony como apenas mais uma. Ela não merecia isso.

               — Se você precisar se livrar de um corpo, eu tenho um cara. — Comentou Harry com a expressão mais séria possível, tirando o outro garoto de seus pensamentos.

               — O quê?!

               — É brincadeira, Pete, cadê seu senso de humor? — O amigo bebeu mais um gole do iogurte e lambeu os lábios em seguida. — Então, o que precisa me dizer?

Respirando fundo, o garoto parou para pensar no que seria melhor para Peony. Ele agora sabia da cruel realidade, como Michelle havia lhe dito, ela tinha uma queda pelo herdeiro Osborn, afinal; logo quando ele acreditava ter encontrado alguém que não havia caído pelos seus charmes. E ele também sabia que Harry não era a melhor opção, mas era o que ela queria e nada podia ser feito a respeito.

É para o bem geral, certo?!

               — Lembra da Peony? — Perguntou Peter, olhando diretamente nos olhos do garoto.

               — Que tava na minha festa? Sim — Harry disse sem pensar muito. — O que tem?

É para o bem geral.

               — Você sairia com ela?

Harry parou alguns segundos para pensar e abriu um curto sorriso.

               — Isso é uma pegadinha?

               — Não — Peter contraiu o rosto, confuso com a reação do amigo. — Por que diz isso?

               — Ela quer sair comigo? Você tá brincando? — Questionou o garoto enquanto tirava o sorriso do rosto, agora mais sério.

               — Sim…

               — Jura?! — Harry abriu agora um sorriso vitorioso, algo que não parecia sua reação normal quando se tratava de garotas que ele conquistava, não mais parecendo um troféu, e sim, algo mais valoroso. — Sim! Eu topo, e muito!

Aquilo foi outra facada no coração de Peter, mais uma que atingia seu peito naquela manhã e ele só aguardava o tiro final. Antes, toda a ideia se encontrava em um formato distorcido, sem forma exata e modelando-se para uma massa cinzenta, mas agora, era mais consistente, tomando nome e forma como se fosse mais certeiro. Ainda há esperança?, perguntava-se Peter.

               — Certo, então eu vou falar com ela sobre…

               — Não precisa, eu me viro — comentou Harry, acabando o iogurte e levantando-se. — Obrigado, Pete! Você é o cara!

Na realidade, não.

[…]

Ao fim do dia, Peter encontrava-se na sala escura, revelando as fotos com calma e cuidado para não estragar nenhuma, já que ele precisaria levá-las para Peony mais tarde — além das boas notícias.

Com calma, pendurou algumas das fotos no pequeno varal e aguardou o pequeno tempo para que as fotografias secassem. Com isso, retirou-as e guardou uma por uma em um envelope amarelo, saindo do local e adentrando o editorial novamente.

Toda vez era a mesma coisa, o clima tenso que se estabelecia no local. Às vezes Peter se esquecia de como Peony podia ser feroz, o leão da selva que era a escola, botando medo em quem atravessasse seu caminho, já que algum tempo de convivência e amizade fizeram com que ela “amansasse”.

Betty e Jason discutiam sobre os anúncios matinais e Gwen resmungava enquanto rascunhava os roteiros, abaixando a cabeça mais afundo a cada palavra escrita. Peter decidiu aproximar-se dela enquanto a jovem terminava um parágrafo, quase jogando todas as folhas para o alto e assustando-se com a presença esguia atrás de si.

               — Ah, oi, Peter — cumprimentou ela ao girar na cadeira, ajeitando a tiara preta que separava a franja do resto do cabelo.

               — Muito trabalho? — Perguntou ele, apontando para as folhas amarelas.

               — Eu não tenho paciência para trabalhar com a Betty — a jovem revirou os olhos. — Se ela quer tanta perfeição, por que ela mesma não escreve o roteiro?!

               — Ainda bem que tem a Pey para botar ordem — comentou o Parker ao abrir um curto sorriso, lembrando-se da dorzinha que não abandonava seu peito.

               — Na verdade, ela anda estranha, fora de si — observou Gwen enquanto lançava um olhar para a sala da editora.

Peter também olhou na mesma direção e percebeu que havia algo estranho, um elefante dentro da sala ao observar que a garota que andava sempre com a cabeça erguida em confiança agora estava com a cabeça baixa, mas não de concentração, e sim, de nervoso, como se algo estivesse errado. Ela parecia rascunhar algo em seu caderno e seu foco estava pequeno, como se algo a distraísse mais do que ela desejava.

               — Fora de si? — Questionou Peter enquanto seguia encarando a jovem pela janela.

               — É, para você ter noção, ela entrou no editorial e foi direto pra sua sala. — Gwen respirou fundo e franziu o cenho. — Ela até aprovou um artigo da Cindy, e todo mundo sabe que ela escreve que nem uma criança da pré-escola.

               — Certo… — Peter esperava que ele não tivesse nada a ver com aquilo. — Acho que vou até lá.

               — Até mais, Parker! — Gwen abriu um curto sorriso e seguiu com seus rascunhos.

Respirando fundo, Peter tentava forçar sua mente a afastar todos os possíveis pensamentos ruins — que eram muitos — e caminhava em direção à sala da garota. Assim que chegou à porta, bateu duas vezes e aguardou que a jovem o notasse ali, mas nada; então bateu novamente.

Peony levantou o olhar e abriu um rápido sorriso, balbuciando “entre” e Peter empurrou a porta lentamente, apontando para o envelope amarelo em suas mãos.

               — Trouxe um presente — ele brincou, colocando o envelope sobre a escrivaninha e a jovem o pegou, adicionando-o à pilha de artigos que ela tinha de aprovar.

               — São as fotos do time de mecânica? — Questionou ela ao abrir uma caneta com a boca.

               — Sim, acabei de revelar, então sugiro que aguarde um tempinho para abrir — ela assentiu e anotou algo sobre o envelope, junto de um post-it que ela tinha mania de sinalizar como o sistema que ela seguia fielmente na organização. — Eu falei com Harry.

Com isso, a garota gelou e um risco surgiu no fim da frase que ela escrevia, como se havia acabado de se assustar. Levantando o olhar, ela abandonou a pilha e caminhou até a escrivaninha, sentando-se e fixando contato visual.

               — É?

               — Sim — confirmou Peter, umedecendo os lábios e se sentando de frente para a garota. — Ele vai te chamar para sair.

A expressão de Peony não pareceu mudar muito para alguém que havia acabado de conseguir o que queria. A jovem apenas abaixou o olhar novamente e abriu a boca, deixando um “ah” escapar enquanto mordia o lábio inferior. Peter notou o pequeno ferimento no topo de sua testa e a cicatriz antiga de seu primeiro encontro como Homem-Aranha; irônico como ela sempre consegue cicatrizes quando está comigo.

               — Você não parece muito animada — comentou ele.

               — Eu estou, só um pouco…

               — Fora de si? — Acrescentou ele e a garota levantou o olhar, confusa.

               — Sim — afirmou e abriu um curto sorriso. — Talvez seja falta de café.

               — Se você topar, podemos comprar café e cachorro-quente na rua.

Peony abriu um sorriso de verdade agora, sua risada ecoando pela sala enquanto ela abaixava o rosto rapidamente.

               — Eu nunca comi cachorro-quente de rua — comentou ela, mordendo o interior de sua bochecha.

               — O quê?! — O garoto pasmou, levantando-se um tanto no lugar e arregalando os olhos. — Como assim?!

               — Eu sempre pego pizza ou comida chinesa, mas nunca tive interesse em comer aqueles cachorros-quentes — a jovem soltou outra risada e cruzou os braços.

               — Não me diga que você nunca teve vontade de provar aqueles pães murchos com a salsicha ruim e purê de batata que parece cimento? — Peter provocou e a jovem caiu na gargalhada.

               — Que nojo! — A jovem comentou ao contrair o rosto e o garoto levantou-se de imediato da poltrona, cruzando os braços.

               — Pegue suas coisas, nós temos uma missão a cumprir.

[…]

O céu de Nova York não se animava muito com o dia, colocando-se numa forma incoerente e cinzenta, como se as nuvens tivessem brigado com o sol e formado um mormaço. Enquanto isso, dois amigos caminhavam nas ruas movimentadas, desviando de pessoas apressadas que se encontravam na calçada, seguindo suas vidas sem muito se importarem com os adolescentes que iam contra o tempo.

Peter contava para a garota algumas de suas criações ao longo da vida, como a tranca especial que fez com o reconhecimento de sua voz para que só ele pudesse entrar em seu quarto sem nenhum de seus tios espiando seus segredos, ou o rádio especial que criou apenas para localizar criminosos através do hack na sede da polícia local — óbvio que ele ocultou o real motivo da garota, trocando para o fato de ele querer estar sempre seguro — e o dobrador de roupas automático que May acabou por gostar até demais e roubou para si mesma.

E com isso, Peony compartilhou algumas de suas histórias de infância e acabou por citar que, quando criança, treinava com seu pai que era um policial especial — já que ela também não contaria sobre seus segredos tão cedo — e acabou por admitir que lutava bem. Não que ela não soubesse disso já.

               — Qual seu maior medo? — Questionou Peter enquanto ele saltava uma poça que era rastro deixado da chuva de manhã.

Peony olhou para cima rapidamente e levantou a mão, sentindo algumas gotas que caíam esporadicamente pelo chão, como se a chuva estivesse ameaçando voltar.

               — Hospitais — ela disse e lançou uma curta risada para Peter.

               — Por que? — Perguntou ele enquanto enfiava as mãos nos bolsos, erguendo os ombros até o pescoço numa tentativa de se esconder da brisa gélida.

               — Quando eu era pequena, minha mãe ficou doente e eu e meu pai íamos ao hospital todo dia para visitá-la — a jovem contava enquanto seu olhar caía cada vez mais, como se ela sentisse algum tipo de ressentimento ao tocar no assunto. — Eu lembro daquelas luzes brancas que ficavam piscando em todos os cantos, não me deixando em paz, e da mão fria dela… não são memórias muito boas e a morte dela não ajudou muito.

Peter ficou quieto, não sabendo o que dizer em seguida, então a jovem acrescentou:

               — Foi quando meu pai se demitiu e ficava todos os dias em casa, bebendo cerveja e assistindo gravações de jogos de anos passados, sem se importar com nada ao seu redor. Eu aprendi a cozinhar e cuidar da casa, além de separar as contas que tinham de ser pagas — a jovem suspirou e seguiu contando, com o peito pesado. — Tivemos que tirar dinheiro da minha poupança e ainda tinha um dinheiro extra que minha mãe deixou guardado, então não perdemos a casa e nem faltou nada, mas foi assim até meus dez anos.

               — Eu não sabia disso — Peter mordeu o lábio inferior e encarou a jovem por alguns instantes.

               — Ninguém sabia, na verdade — ela torceu a boca e suspirou. — Eu não costumo sair contando da minha vida, não é interessante.

               — É algo sobre você, então claramente é interessante — Peter disparou e arrependeu-se em seguida, mas a jovem abriu um grande sorriso e ele podia jurar que viu vermelho se espalhando por suas bochechas.

               — Hm… e qual o seu maior medo? — A jovem trocou de assunto enquanto os dois dobravam a esquina e se deparavam com um vendedor de esquina, oferecendo descontos a todos que comprassem sanduíches por quinze dólares. Que roubada.

Peter pegou alguns segundos para pensar bem e já soube sua resposta, abaixando o olhar do mesmo modo que a garota fez anteriormente; com dor.

               — Acho que é perder as pessoas — ele deixou um suspiro escapar e colocou o capuz do moletom para proteger-se da garoa. — Depois de Ben, eu comecei a valorizar mais os momentos com as pessoas ao meu redor, tentando não perder nenhum momento com elas, pois eu não sei quando vão partir. Aquele vazio no peito me assusta até demais.

               — Sei bem como é — a garota comentou e antes que pudesse complementar, a chuva pareceu jogar toda sua fúria em uma enxurrada só, fazendo com que os dois soltassem uma risada rápida e começassem a correr por abrigo.

Nisso, Peter agarrou a mão da garota e puxou-a para debaixo da barraquinha de cachorro-quente que encontrou, protegendo-se das gotas que penetravam suas roupas e molhavam as peles, deixando os dois tremendo de frio, aquecidos apenas pelo calor que saía do carrinho.

Os dois estavam ofegantes após toda a correria e os rostos estavam mais próximos do que nunca, faltando apenas alguns centímetros para que se juntassem. As duas mentes gritavam e os dois corações pulsavam, mas não havia a coragem suficiente para concluir o que estava para acontecer, e, ao mesmo tempo, os dois soltaram as mãos e desviaram o olhar, deixando o vendedor de cachorro-quente na esperança de ver uma cena que ele com certeza não veria naquele dia.

Peter pediu dois e pediu para caprichar, e o homem assentiu, recebendo dinheiro apenas do garoto, já que ele recusou todas as tentativas de deixar com que a jovem pagasse pelo seu lanche.

               — Vocês formam um belo casal — disse o homem ao entregar os dois cachorros-quentes.

Corando, os dois fizeram a única coisa que sabiam fazer quando recebiam esse tipo comentário; negar. Com isso, eles pegaram seus cachorros-quentes e correram para outro abrigo, encontrando-se abaixo de uma lona que protegia um estabelecimento fechado com caixas de madeira espalhadas pelo chão, que serviram de ótimas cadeiras para os jovens.

Logo que Peony estava prestes a morder o cachorro-quente, Peter fez um sinal para que ela parasse e retirou o celular do bolso, apontando diretamente para a jovem;

               — Precisamos documentar esse momento histórico — ele pressionou o botão de gravar e a garota revirou os olhos.

               — Você é um idiota, Peter Parker — a menina abriu a boca e mordeu uma das pontas, fazendo careta logo em seguida.

               — Quais comentários você tem a fazer? — Questionou ele e a jovem contorceu o maxilar.

               — É bem ruim — ela disse, seguindo mastigando.

               — É tão ruim que fica até bom — ele complementou e a garota riu, limpando um pouco de purê que se encontrava no canto da boca.

               — Isso mesmo — a jovem seguiu comendo e os dois continuaram a conversar sobre assuntos aleatórios.

Assim que os dois terminaram e a chuva havia acabado, Peter acompanhou Peony até sua casa enquanto eles discutiam sobre os mais variados assuntos, desde músicas favoritas até brincadeiras de “você prefere” que trazia sugestões absurdas.

Peony e Peter se despediram e a garota adentrou a casa, deixando o garoto sozinho, que não se preocupava com nada, sequer com o escuro e a solidão das ruas. Assim que o garoto chegou no trem, sentou-se em um dos assentos vazios e colocou os fones, procurando na galeria de fotos o mais novo vídeo que havia sido gravado e deu play.

“Você é um idiota, Peter Parker” e ele sorriu, clicando no play de novo, e de novo, e de novo.


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