Durante as duas últimas semanas Felicity havia passado por todo os estados emocionais possíveis. Negação, raiva, negociação, depressão e por aceitação. Ela estava grávida e isso era uma coisa boa, não é?
Sua cabeça girava como um carrossel em um parque de diversões, muita coisa estava acontecendo em pouco tempo, não estava preparada psicologicamente nem emocionalmente para isso. Mas mais o que lhe preocupava era o simples fato de não saber quem era o pai do seu bebê, isso era o cúmulo do azar! Como ela poderia não se lembrar com quem havia transando, embora se lembrasse vagamente de uma tatuagem de algum animal, um pássaro ou um cachorro, não sabia muito bem, mas também havia outra coisa que se lembrava a sensação física, toque dele ainda lhe causava arrepio, seu corpo se lembrava da sensação de ser tocada como se fosse a primeira, se sentia quase como aquela música da Madonna Like a virgin. Tudo bem era um pouco esquisito, mas ela sabia que embora não se lembrasse do rosto dele, se sentisse seu toque, provavelmente se lembrariam de que ele era.
Havia ido no médico no início daquela manhã, um consulta de rotina para saber da saúde do bebê. Por isso havia se atrasado para encontrar Caitlin no ateliê para a última prova do vestido de noiva antes do casamento.
—Eu juro que só não te bato porque estou nervosa demais para isso. - a noiva havia resmungou enquanto se arrastava dentro dos quase dois metros de renda e chiffon até a banqueta de frente aos espelhos que lhe davam uma visão de quase 360° graus. - Então?
—Linda.
Caitlin sorriu diante de tal elogio e alisou o franzido do vestido, ele tinha um decote em coração misturado com um trançado, as mangas eram curtas e de renda, assim como as costas que continham uma trilha de botões que terminavam abaixo da cintura, o cinto de cetim com detalhes em pérolas completava o visual. Delicado, atual e básico, o vestido perfeito para Caitlin. Sentiu os olhos pinicarem, atualmente seus hormônios estavam em um nível mais alto do que deviam, e a prova disso era o fato de ter chorado assistindo a um vídeo de um cãozinho comendo cocô, sim, aquilo já estava ficando ridículo.
—Você está bem? - Caitlin a olhou preocupada, abanou os olhos se livrando das lágrimas, sorriu para amiga.
—Quem imaginária que você se casaria primeiro, de novo.
—Não acho que a última conta. - Caitlin suspirou olhando no espelho. - Meu segundo vestido de noiva em menos de dez anos.
—Mas veja pelo lado positivo, desta vez não tem ninguém para atrapalhar a cerimônia ou tem?
—Calada! - Cait a repreendeu rindo.
—Posso te fazer um pergunta?
—Claro.
—Naquele dia em que vocês me arrastaram para a boate, você se lembra se eu sai com alguém?
—Não, nem vi você saindo, mas Ollie me ligou na manhã avisando que havia te levado pra casa. Por que?
Felicity mordeu o lábio inferior.
—Bem, eu me lembro de ter saído da boate com Ollie, mas depois disso. - hesitou nervosa. - Podemos algumas coisas aconteceram naquela noite e definitivamente não a menor idéia do que foi.
—Você saiu depois que Ollie te deixou em casa?
—Eu não sei, aí que está o ponto da questão. Eu não me lembro de ter saído depois, mas também não me lembro de como fui parar nua na minha cama.
Caitlin riu.
—Por favor não me diga que você dormiu com um desconhecido.
—Ãn...talvez. - gemeu escorregando na poltrona.
Caitlin a encarou pelo espelho, suas sobrancelhas estavam arqueadas em questionamento e reprovação. Balançou a cabeça voltando a atenção ao vestido da madrinha pendurado perto dos espelhos, o casamento estava perto então as chances dela ainda caber no vestido eram altas.
—Você já viu a nova ficante de Oliver? - Caitlin indagou caminhando de volta para o provador.
—Não. - enrolou uma mecha do cabelo entre os dedos. - Por que?
—Porque muito provavelmente ele vai leva-la ao meu casamento.
Se remexeu desconfortável.
—É a vida dele.
—E isso não te incomoda? Nem um pouco? - Caitlin entreabriu a cortina colocando a cabeça para fora, Felicity arqueou a sobrancelha.
—Por que isso me incomodaria?
—Vamos lá, todo mundo sabe que rola uma coisa entre vocês. Está na cara.
—Do que você está falando? - esquivou-se indignada. - Não tem nada rolando.
—Feli há quanto tempo você conhece Ollie?
—Há mais de cinco anos.
—E há quanto tempo você está apaixonada por ele?
—Há quase cin...O que?! - arregalou os olhos em descrença. - De onde você tirou isso?
Caitlin revirou os olhos.
—E de novo, está na cara.
—Caitlin não teste minha paciência. - avisou, sua amiga riu.
—Ah Feli...a gente nunca manda no coração.

...

Felicity duvidava muito que a sua sorte iria mudar, não bastava estar grávida e o pseudo-pai do seu futuro filho ser um completo desconhecido, ela ainda tinha que aturar seu ex-noivo sorrindo para ela como se nada tivesse acontecido, como se ela não tivesse o pegado na cama com o seu melhor amigo em um posição do Kama Sutra que ela não fazia a menor idéia de que era possível.
O braço de Oliver apertou sua cintura enquanto ele conversava formalmente com Cooper, Felicity nunca poderia imaginar que uma simples ida ao cinema fosse se transformar em uma comédia romântica pastelão.
—Então vocês estão juntos? - Cooper colocou as mãos no bolso incomodado.
Abriu a boca para negar, mas Oliver foi mais rápido.
—Sim, estamos muito felizes.
—Nós o que? - olhou para ele confuso.
—Meus parabéns, você é bem rápida Felicity. - Cooper ironizou.
—Eu sou o que?
—Não me faça quebrar sua cara Cooper. - Oliver ameaçou e ela ficou sem saber o que falar. - E eu estou falando sério.
—Vocês sempre se intrometeu na conversa dos outros, não é Oliver? - Cooper disse sinicamente, Felicity estava impressionada com o fato de Cooper ainda não ter corrido para as colinas, Oliver era literalmente três vezes maior que ele. - Até quando estávamos juntos você se intrometia na nossa vida.
—A felicidade de Felicity sempre foi minha prioridade era por isso que eu me intrometia. Se você tivesse aprendido a cuidar dela direito, eu não precisaria me intrometer.
—Ok. - disse se desfazendo do aperto de Oliver e se colocando na frente dos dois. - Não vamos começar uma luta livre aqui e agora. Sejam adultos e se comportem.
Felicity adoraria ver Cooper sendo socando na cara, mas se quisesse voltar à aquele cinema novamente, teria que manter Oliver na linha. O puxou pelo braço para longe, qualquer clima para assistir à aquele filme havia ido por água abaixo, agora o que ela mais queira era uma cama confortável e Netflix à vontade.
—Você não pode sair por aí socando as pessoas, porque além de ser fisicamente desgastante, também é uma perda de tempo. - eles deixaram o cinema me direção ao estacionamento. Oliver bufou.
—Ele me tira do sério.
—Ele devia me tirar do sério, não a você. O que foi Oliver? - perguntou ao notar a seriedade no rosto dele.
—Não é nada. - ele murmurou a puxando pela mão até o carro.
—O que aconteceu? Você tá com aquela cara de enterro.
Puxou o cinto de segurança, Oliver ligou o carro dando ré e saindo do estacionamento.
—Apenas coisas da empresa. - ele desconversou. - Vai levar alguém para o casamento?
—Não, mas Cait disse que você vai levar uma pessoa. Sua nova ficante.
—Dana. - sentiu a boca amargar pelo jeito como aquele nome saía da boca dele, Oliver pareceu notar sua súbita mudança de humor. - Não se preocupe, não a levarei para o casamento. Primeiro porque é uma coisa de família e é muito importante que o dia seja perfeito, Dana tem uma queda muito grande por bebidas de graça, provavelmente acabaria passando alguma vergonha e estragando alguma parte da festa, Barry provavelmente tentaria me matar.
—Ele é ótimo em esconder corpos. - comentou fazendo ele rir.
—Tenho certeza que nunca descobriram que me matou ou onde meu corpo estaria enterrado.
—E a segunda coisa?
—Eu já tenho companhia para o casamento.
—Quem?
—Você.
—Eu?
—Claro. - pelo canto do olho ele a encarou sorrindo. - Pensei que já tivesse deixado isso claro. Você sempre foi a minha primeira opção, Feli.
Seu coração se aqueceu com aquelas palavras, sorriu para ele.
—Que tal tomarmos um sorvete?
—Adoraria.

...

De repente 30 passava na TV enquanto ela trazia a pipoca para sala, Jenna dançava Thriller com seus novos amigos, Felicity sempre sentiu um pouquinho de inveja do jeito como as coisas se desenrolavam em filmes românticos. Tudo no clichê era mais bonito e encantador do que na realidade.
Se sentou no sofá acariciando a barriga.
—Oi pequeno ser que habita em mim, como você está hoje? Espero que esteja bem porque logo, logo encontraremos o seu papai. - escorregou as costas no sofá fazendo sua barriga e criar dobras de gordura. - Isso vai ser uma coisa boa, não é? Porque assim que encontramos o seu pai, eu finalmente poderei saber com quem eu transei, mas e se for um bêbado idiota? Ou pior, e se for um daquelas sadomasoquista e quiser repetir a dose? - olhou desesperada para a própria barriga. - Docinho, você quer realmente conhecer seu pai? Você sabe que eu sei que você não se importa, ainda, em conhecê-lo, eu também não, talvez seja melhor deixar assim como está, apenas eu e você. - suspirou pensativa, embora soubesse que teria que contar para seus amigos, e principalmente para sua mãe, que estava grávida, podia muito bem adiar a notícia até depois do casamento. - Docinho torça muito para que sua mamãe não enlouqueça antes de você chegar.
A campainha tocou, se levantou meio abobalhada até a porta. Ficou na ponta dos pés para olhar pelo olho mágico, se afastou e abriu a porta.
—A que devo a honra de sua adorável visita? - indagou sorrindo para Oliver.
—Vim ver se você está bem? Cait disse que você passou mal depois de vocês terem ido no hotel para os últimos detalhes.
—Foi apenas um mal estar. - disse não querendo se aprofundar no assunto. - Estou bem melhor agora.
—O que está assistindo? - ele indagou movendo a cabeça pro lado tentando olhar para dentro do apartamento. - Não me diga que é De repente 30, de novo.
—Não tenho culpa se eu me identifico tanto com Jenna. - recrutou dando espaço para ele entrar. - Oliver posso te perguntar uma coisa?
—Claro, o que?
—Naquela noite em que fomos a boate e você me trouxe para casa, por acaso nos saímos depois?
—Não, por que?
—Ah, não é nada...apenas uma coisa que está na minha cabeça. - murmurou puxando a almofada contra a barriga, Oliver a olhou sorrindo. - O que foi?
—Nada, apenas...Você tá tão bonita hoje.
—Obrigada. Caprichei para passar a noite em casa.
Ele riu e levantou a mão colocando uma mecha do cabelo atrás da orelha, Felicity sentiu as borboletas baterem as asas em sua barriga. Ah merda! O que diabos estava acontecendo ali?
Se afastou tentando voltar a atenção para o filme.
—Então, já conseguiu convencer Barry a fazer a despedida de solteiro?
—Ainda não, mas eu e Cisco estamos pensando em uma surpresa, Bar não precisa saber.
—Não me diga que vão leva-lo a um striper club. - pediu já sabendo qual seria a reposta.
—Ele não precisa saber.
—Oliver!
—É apenas uma noite.
Riu balançando a cabeça, Oliver se aproximou.
—Cait não quer uma despedida de solteira, mas topou uma noite das garotas.
—Guerra de travesseiros? - ele perguntou erguendo a sobrancelha de modo sugestivo.
—Em seus sonhos mais profundos, querido. Mas me diga aonde é que vocês acham a porra desses filmes pornos?
—Anos de prática em pesquisas na internet.
—Não acho que isso seja uma coisa para se vangloriar.
Oliver gargalhou.
—Todos temos algo com que nos orgulhar, Felicity!
—Eu me orgulho de nunca ter reprovado na vida. Não de ter assistido todos os filmes pornos existentes.
—Não todos, apenas aqueles com colegias bonitinhas.
Gemeu em desgosto jogando a cabeça pra trás e socando o braço dele.
—Idiota!
Oliver envolveu sua cintura a puxando para perto, Felicity passou o braço pelo pescoço dele, suas risadas se fundiram em um só. O hálito dele era uma mistura de conhaque e hortelã. Felicity não poderia dizer que deu o primeiro passo, mas quando se viu já estava beijando Oliver de uma maneira meio imprópria, as mãos dele percorriam o seu corpo enquanto ela avançava sobre a barra da camisa dele puxando para cima.
Oliver a empurrou contra o sofá fazendo-a se deitar, gemeu quando a boca dele desceu pelo seu pescoço, era um sensação estranha, mas levemente familiar, seu corpo reagia a cada toque como se fosse algo normal. Apertou os olhos empurrando a sensação de aquilo era errado para o fundo de sua mente, Oliver era seu amigo, seu melhor amigo, quase uma irmão para ela. Mas já que ele era quase seu irmão, por que diabos eles estavam se pegando loucamente no sofá do seu apartamento?
As mãos de Oliver passearam pela sua barriga até o cós do seu short de moletom, a sensação do toque dele contra sua barriga fez seu ventre contrair, seu filho parecia saber que algo estava errado.
Abriu os olhos olhando para o teto e desviando para os ombros e descendo pelo abdômen dele, então algo lhe chamou atenção.
—Você tem uma tatuagem nova. Isso é um pássaro? - murmurou, Oliver grunhiu em confirmação. Então, subitamente sua mente ficou em branco e como em uma televisão que acabou de ser ligada as imagens invadiram sua mente.
As mãos de Oliver percorrendo seu corpo seminu, palavras desconexas sussurradas devido ao excesso de bebida, as roupas jogadas fazendo uma trilha da sala até o quarto, os gemidos e os gritos que provavelmente acordaram o prédio todo. Sentiu o corpo todo esquentar, não, aquilo não podia ser verdade. Empurrou Oliver fazendo-o rolar para o lado e cair no chão, se sentou no sofá com as mãos sobre a cabeça.
—Felicity?
—Nós transamos. - murmurou desesperada. - Nós transamos naquela noite. Aí meu Deus nós transamos naquela noite!
Olhou para Oliver que ainda se encontrava caído no chão, ele tinha os olhos esbugalhados e a boca entre aberta.
—Então, eu devia ter te contado isso. - ele disse pausadamente.
—Seu merda, você se lembra. - rosnou jogando a almofada na direção dele. - Claro que você se lembra. Oliver!
Ele se levantou pegando a blusa jogada sobre a mesinha de centro.
—Eu sinto muito.
—Caí fora! Saída daqui!
—Felicity.
—Sai! - gritou com apontando para porta. Oliver parecia preste a retrucar, mas apenas pegou o casaco e saiu. Ela se jogou contra o sofá fechando os olhos com força. - Merda, merda, merda, porra!
Aquilo não podia ser real, não, não podia, porra ela tava grávida, grávida de Oliver Queen.