Wherever you go escrita por Lily


Capítulo 2
Mês 1




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Felicity sempre se rotulou como uma pessoa desnecessariamente complicada, isto para ela significava complicar demais as coisas mais simples da vida, era tic que irritava bastante seus pais e todos a sua volta. Isso a prejudicou socialmente em vários níveis, tipo quando conheceu Oliver pela primeira vez, ele havia derrubado café em sua roupa, um simples acidente que mal havia sujado a barra do seu vestido, mas que em sua cabeça havia estragado todas as suas chances na vida, era basicamente o fim do mundo para ela. Talvez fosse pelo jeito como ela gritou e o socou de maneira infantil no meio da cafeteria, ou talvez fosse por ela estar visivelmente descontrolada emocionalmente, mas o fato era que Oliver havia sentido pena dela, não uma pena forçada, uma pena que faz você querer abraçar a pessoa, e foi o que ele fez, ele a abraçou. Felicity se lembrava perfeitamente da cena e de ter dito.
—Você é um idiota.
E ele respondeu sorrindo como sempre:
—Eu sei, prazer Oliver Queen.
—Felicity Smoak.
E assim nasceu a amizade que durava mais de cinco anos, ela adorava Oliver, principalmente por ele ser o amigo que lhe pagava comida quando saiam para almoçar, tipo como eles estavam fazendo, ela podia comer o que quisesse pois sabia que ele pagaria.
—E você não ligou para ela? - indagou colando molho em suas batatas, eles estavam no restaurante perto do prédio da QC em seus respectivos horários de almoço, conversavam sobre a atual situação amorosa de Oliver, na verdade ela apenas opinava quando via a necessidade, mas no geral apenas escutava e assentia.
—Foi apenas uma noite Lice, ela provavelmente nem lembra do meu nome. - ele era o único que a chamava Lice, se segurou para não bufa.
—Oliver desculpa de informar, mas seu rosto está sempre estampado nas capas de revistas e jornais. Óbvio que ela se lembrará de você.
—Não acho, mas mudando de assunto. - ele se inclinou sobre a mesa e lhe lançou um sorriso descarado. - Como está o trabalho?
—Bem, embora as vezes eu tenha vontade de socar a cara de Alena. Jesus, como alguém pode ser tão chata e mandona?
—Alena é uma das melhores programadoras que eu conheco, se ela está lá é porque merece. - Oliver disse formalmente, ela sorriu sabendo o que viria depois. - Mas ela é chata e exigente, meu pai só a mantém porque é necessário. Por isso eu lhe indiquei, se continuar a trabalhar do jeito que trabalha logo será promovida e assim poderei me livrar das reuniões monótonas com Alena, e voltar para as reuniões animadas com você.
—Você é louco, Oliver Queen. - jogou um batatinha nele.
—Ei! Isso tem ketchup.
Riu.
—Melhor voltarmos para o trabalho ou acabaram que temos um caso, e eu não posso mais ficar ouvindo aquelas fofoquinhas sobre mim e fingir que está tudo bem.
Levantou a mão chamando a garçonete, a morena peituda se aproximou, Oliver sorriu maliciosamente. Felicity contou até dez e esperou a morena sair para chutar a perna dele por debaixo da mesa.

...

Fazia quase um mês desde de que começará a trabalhar no setor de tecnologia da QC e já fizera bastante amigos, entre eles Curtis, ele tinha duas coisas que ela procurava em um amigo. 1) ele amava jogos antigos, então ambos passavam boa parte do tempo livre falando sobre Arcádia, Mário Bros e como os jogos atuais não tinham um bom conteúdo, e 2) ele era gay, isso já era a salvação para as horas que passava em sua sala que tinha vista privilegiada para o prédio vizinho, seu andar era de frente para a sala de musculação do é difícil da frente, ou seja, pessoas gostosas e seminuas desfilando de um lado para outro.
A pelo menos dois dias Curtis havia lhe mostrado um protótipo de câmera espiã que funcionava a distância, claro que eles não iam perder a chance de testa-la.
—Tá vendo alguma coisa? - indagou ficando na ponta dos pés para olhar por cima do ombro de Curtis. A tela do notebook ainda estava escura, um desânimo tomou conta de seu corpo, mas logo foi substituído quando a tela piscou e mostrou a sala de musculação que antes parecia tão longe, agora estava mais perto. - Curtis, você é um gênio!
—Claro que eu sou. - ele sorriu e deixou o notebook sobre a mesa. - Mas você terá que me prometer que não contará a ninguém sobre isso, se Paul descobrir eu morro.
—E por acaso eu tenho cara de fofoqueira? - colocou as mãos sobre a cintura indignada. Curtis jogou a cabeça para o lado rindo.
—Claro que não, Feli, mas é sempre bom remediar, prefiro pagar pelo excesso do que pela falta.
Felicity deu de ombros e se afastou voltando para sua mesa, mas de repente parou colocando quando uma forte tontura a atingiu.
—Feli? - Curtis correu em sua direção e a pegou pela cintura. - Você está bem?
—É apenas uma tontura.
—Você está pálida, querida.
—Não se preocupe.
Curtis a ajudou a se sentar, Felicity passou a mão pelo rosto sentindo o suor escorrer.
—Vou pegar água para você. - Curtis disse se afastando.
—E traz um pacote de M&M no final do corredor? - pediu, ele a olhou confuso, mas assentiu antes sair quase correndo da sala.
Felicity jogou a cabeça contra o acolchoado da cadeira e olhou para o teto. Fechou os olhos forçando a memória. Aquela fatídica noite ainda rondava sua cabeça e ela não fazia a menor idéia do que diabo havia acontecido. Era como um grande borrão, imagens confusas que se misturavam e rodavam como um filme. Havia pensando em pedir ajuda a Caitlin para descobrir com quem ela havia saído naquela noite, Felicity não era esse tipo de mulher que fica com alguém sem saber nada da pessoa em questão, só havia sido uma vez, mas aquele fantasma ainda a assombrava. Inspirou sentindo um bolo se formar na garganta, o gosto ruim invadiu sua boca sem permissão, abriu os olhos e disparou em direção a lixeira, em segundos todo o seu almoço estava de novo a sua frente. Tentou respirar, mas sentiu uma segunda onda apertar seu estômago e faze-la vomitar novamente.
—Felicity! - Curtis correu em sua direção prendendo seus cabelos para cima. - Oh Jesus. Você está bem?
Negou com a cabeça antes de voltar a vomitar. Aquilo tinha que parar, tentou manter o controle do seu corpo, acalmar o estômago e voltar ao normal.
—Você está bem? - Curtis repetiu a pergunta se agachando ao seu lado.
—Melhor.
—O que foi isso?
—Devo ter comido algo que me fez mal, deve ser isso. - assegurou.
—Acho que você deva tirar o resto do dia de folga, você está pálida.
—Eu estou bem Curtis. - insistiu enquanto se levantava, obviamente com a ajuda dele.
—Não está não, olha Feli, eu não quero bancar o amigo médico...
—Eu já tenho uma para isso.
—...mas você precisa ir para casa, por favor.
Suspirou.
—Ok, eu vou para casa, mas você tem que se virar com Alena. - apontou o dedo contra o peito dele, Curtis riu.
—Ok senhorita, mas agora vá. 
Ela pegou a bolsa e o casaco, mas parou e se virou para ele.
—Se Oliver passar aqui diga que eu fui para casa com dor de cabeça.
—Por que mentir para o seu namorado?
—Primeiro, ele não é meu namorado e segundo, Ollie tem coisa demais para resolver, não quero ter que ser mais um estorvo para ele.
—Não acho que você seria um estorvo para ele, tenho certeza que Ollie não se importaria em cuidar de você. - Curtis frisou o apelido de Oliver com um sorriso. - Vocês são um casal tão fofinho.
O encarou com os olhos semicerrados e rosnou.
—Calado!

...

Uma música qualquer tocava no rádio do seu carro enquanto dirigia para o seu apartamento, o sinal fechou, uma mulher empurrando um carrinho de bebê passou na faixa de pedestre, apoiou o queixo no volante e sorriu. Sempre quis ter um filho, um lindo bebê rechonchudo e bochechudo, seu nome seria Toby e ele iria ser um príncipe em meio aos bebês, o mais lindo da creche. O sinal abriu e ela retomou seu caminho.
Se lembrava de quando sua prima engravidara, ela  ao sabia que estava grávida até o quinto mês, Felicity havia rido muito imaginando como uma pessoa não suspeita que existe uma pequena vida dentro dela, os sinais estavam todos ali, os seios que incham, a alimentação descontrolada, as neuroses múltiplas, o enjôo, a tontura que pega de repente, algumas roupas começam a ficar mais apertada, mesmo no primeiro....
—Puta merda! - freiou o carro quase batendo no veículo da frente. Apertou o volante com força.
Não podia ser possível, não era, aquilo só podia ser uma neura sua. Exatamente! Era coisa de sua cabeça, sua mente estava lhe pregando uma peça.
O carro atrás buzinou e Felicity foi trazida de volta a realidade, pisou no acelerador, mas invés de ir para o seu apartamento decidiu para em frente a uma drogaria. Com neura ou sem neura ela tinha que tirar aquela história a limpo. Pegou o celular na bolsa e abriu o calendário, sua menstruação não estava atrasada, ela só chegaria dali a três dias, então as chances de estar grávida era quase nulas, mas pelo sim e pelo não, uma teste não mataria ninguém. Ela era uma mulher adulta e independente, qualquer que fosse o resultado ela levaria numa boa.
Abriu a porta da drogaria de cabeça baixa, não por medo de ser reconhecida, apenas por receio de algum conhecido começar a pensar coisas que não devia. Os testes de gravidez ficavam na prateleira atrás do caixa, filhos de uma mãe que não sabia organizar as coisas direito.
—Bom dia em que posso ajudar? - a garota que parecia ter mais ou menos dezessete anos forçou um sorriso.
—Eu quero três teste daqueles. - apontou para as caixas atrás dela. - Mas de marcas diferentes.
A garota a encarou um sorriso suave antes de se virar e as caixas. Então as embalou em um saco escuro, Felicity entrou o dinheiro e ela lhe deu a nota fiscal.
—Espero que dê tudo certo. - ela disse com tom de compaixão.
—E eu espero estar errada.
A volta para o apartamento foi um tanto calma mesmo ela tendo três bombas no banco do passageiro, abriu a porta jogando o casaco e a bolsa no sofá.
—É só um teste Felicity. Mije no palito e acabe com isso. - disse para si mesma. - Não vai ser o fim do mundo, é apenas um teste.
Tomou coragem e mijou nos palitos, o pior de tudo foi esperar cinco minutos no chão do seu banheiro decidido se iria chorar ou não, seus sentimentos estavam a flor da pele, podia sentir seu coração bater contra a caixa torácica. Esticou a mão sobre a pia e pegou o primeiro, respirou fundo e olhou a listrinha.
—Um negativo, dois positivo. - sussurrou e abriu os olhos, havia uma listrinha meio ofuscada naquele teste, mas apenas uma. - Isso filho da mãe! Eu não tô grávida!
Se levantou em um pulo e começou a fazer uma dancinha da vitória no mínimo escrota.
—Felicity Smoak, você não é tão fértil assim!
Sorriu pelo fato de não estar, mas não pode deixar de sentir uma onda de frustração que se instalou em seu corpo. Ela não estava grávida, mas porque aquilo era ruim? Deveria ser bom, não deveria? Ela não tinha condições para cuidar de uma criança, embora estivesse financeiramente estável, tivesse um ótimo emprego, um apartamento próprio e pessoas que gostam dela, uma bebê não poderia viver assim, poderia?
Sentiu as lágrimas se acumularam em seus olhos, cruzou os braços e piscou fazendo as gotas salgadas escorrerem pelo seu rosto. Ela estava chorando pelo filho que não queira, mas queira ter. Ela realmente complicava as coisas mais simples. Abaixou a cabeça, seu olhar recaiu sobre os outros dois testes ainda sobre a pia, quatro listras vermelhas brilhavam como um outdoor fosforescente, olhou para o teste em sua mão, não havia apenas uma listra vermelha opaca, agora havia duas listras vermelhas. Voltou o olhar para o celular, cinco minutos, ela havia pegado o teste antes da hora, claro que ela havia pegado o teste antes da hora.
—Merda.
Ela estava grávida.


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