(NOVO LINK! Leia as notas da história!) escrita por Acquarelle


Capítulo 19
CAPÍTULO 1, Epi.1: Sob o brilho das duas luas


Notas iniciais do capítulo

Debaixo daquelas duas luas azuis, o silêncio nos acompanhava.

A gravidade de Khürmandha é capaz de afetar sentimentos?



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— Você sabe para onde estamos indo?

A voz de Ayase quebrava o silêncio daquela clareira.

Seu rosto estava corado, e mesmo depois aceitar a situação que se encontrava, ainda se sentia envergonhada por depender daquilo para conseguir se locomover pelo planeta.

— Você está me escutando, cavaleiro?!

Ignorada.

Ela deixou um suspiro frustrado escapar.

Ao olhar em volta, ela percebeu que toda a vegetação estava definhando.

Na copa das árvores, seus galhos deformados e folhas secas tinham tons entre o lilás e azul. Buracos roxos corroíam o interior de seus troncos, entalhando um padrão único e irregular tão bonito quanto uma estátua feita à mão.

Mesmo as plantas rasteiras não escapavam daquela destruição, sendo reduzidas a uma poeira azulada quando o rapaz de armadura as esmagava sob suas botas.

— Você está nos fazendo andar em círculos, Void!

E mais uma reclamação.

Dessa vez, era mais uma tentativa de fazer o seu cavaleiro-escoltando-um-sacrifício prestar atenção nela, e como esperado, Void apenas deu de ombros, erguendo o corpo da garota enquanto fazia o movimento.

— O meu senso de direção é confiável, parceira, não precisa se preocupar!

— …

Ayase suspirou, levando uma das mãos para o queixo enquanto usava o cotovelo para se apoiar ainda mais na armadura de Void; seu corpo ainda buscava uma posição confortável, mas tudo aquilo parecia uma grande brincadeira de mau gosto.

Ela estava literalmente sendo escoltada no ombro direito dele.

— Eu já vi aquela árvore com uma espiral roxa umas três vezes, Void.

— Você quer descer e me mostrar qual é o caminho certo, então…?

— ...

A garota deu uma pausa.

— Você sabe que eu não consigo fazer isso…

— Eu sei. É por isso que você está aí em cima, não?

Ele abafou um riso irônico.

— ...

Ayase suspirou e se mexeu mais um pouco.

Seus braços ainda se recuperavam de sua reação involuntária ao ser posta ali contra sua vontade, fazendo com que o seu corpo não permanecesse no mesmo lugar por muito tempo.

Ela não conseguia ficar de pé naquele planeta durante muito tempo.

Pelo pouco que ouviu de Void, aquilo era por culpa da gravidade e de outras coisas que ela não conseguiu entender, pois estava mais concentrada tentando caminhar naquela terra de textura estranha.

Porém, todos os seus esforços para permanecer de pé foram inúteis.

Ayase deu outro suspiro. Dessa vez, ele foi seguido por uma pergunta.

— Quando você disse que iria me escoltar até o aglomerado, eu não esperava que fosse por causa daquilo… por que você consegue se mover livremente e eu não?!

— Eu não sei… talvez essa armadura me dê estabilidade?

— ...

A garota imediatamente se lembrou do que tinha visto mais cedo.

Void tinha alguma relação com os fractais que destruíram Atlansha, e talvez aquela fosse uma boa hora para conseguir algumas respostas. Ali, ninguém iria atrapalhar a conversa dos dois.

Ela deu leves batidinhas na elmo de Void.

— E onde eu consigo uma dessas mesmo?! Se as coisas continuarem assim, acho que eu vou precisar de uma armadura também. Será que eu vou ficar tão legal quanto você?

— “Legal”...?!

Void gargalhou.

— E eu não me lembro de como consegui essa armadura. Talvez tenha sido um presente da Dama Branca para mim, mas eu nunca soube o propósito dessa coisa. Você sabe… eu não sei o que eu sou. Provavelmente preciso dessa armadura para alguma coisa.

— …

Ayase não falou mais nada depois daquilo.

“O quanto eu posso confiar em você, Void?”

Após alguns minutos de caminhada, ela pressionou as suas mãos na armadura do rapaz, finalmente encontrando uma posição onde pudesse observar as duas luas azuis que iluminavam aquela clareira.

Void também olhou naquela direção e quebrou o silêncio com uma pergunta.

— É bonito… como era mesmo que elas se chamavam?

— Você não sabe…? Vocês já não estiveram aqui?

— Eu tenho dificuldades para lembrar de nomes.

— Acho que temos o mesmo problema…

E mais uma vez, o silêncio dominou.

Não eram apenas as luas que deixavam o céu de Khürmandha bonito; as estrelas brilhavam na escuridão do céu intensamente, se misturando a uma nuvem de cores frias que rasgava o horizonte como uma fenda brilhante.

Aquele céu não combinava com a situação atual do planeta.

Mas não era isso que se passava na cabeça de Ayase.

— O quão longe eu estou de casa agora?

— …?!

Void ameaçou parar, mas logo continuou caminhando.

Ele não precisou falar muito alto para responder aquilo.

— Eu não sei…

— …

De alguma maneira, o ar se tornou mais pesado para os dois.

— Acho que eu não deveria estar falando isso… me desculpe.

— Se você não falar sobre isso, quem vai?

— …

Silêncio.

Assim como Atlansha, a noite em Khürmandha era quieta e escura.

Mesmo andando por minutos, eles não ouviram nenhum animal noturno passeando por aquela área, e o único barulho que chegava em seus ouvidos era o da terra úmida sendo esmagada por Void.

E também a pergunta triste de Ayase.

— Void… é justo eu… ter sobrevivido?

— …?!

A garota respirou fundo como se recobrasse o fôlego.

— Em um instante, todos estavam se preparando para um festival… o Festival de Primavera de Althum. Todos… todos estavam tão animados. Até o Ryuuki parecia animado…

E mais uma vez Ayase estava se segurando para não chorar.

— E em uma fração de segundos, tudo foi destruído… por aqueles fractais.

— Fractais?

— Eu nem sequer sei o que houve com todos porque o Ryuuki me protegeu... eu não conseguia enxergar nada… eu não consegui enxergar o fim do meu próprio planeta...

Ela tentava enxugar algumas lágrimas, mas era difícil manter aquela posição sem o apoio de seus braços; seus movimentos logo se tornaram inquietos, obrigando Void a parar ali mesmo.

E talvez fosse a parada que ele precisasse.

O barulho de um galho quebrando ecoou pelo local.

Mesmo não sendo uma ameaça para ele, aquilo era...

— …?!

Void deu um passo pesado, criando uma onda de choque.

As árvores naquele raio foram reduzidas à lascas de madeira de tamanhos irregulares, e mesmo algumas rochas sofreram com aquele impacto. O pó das plantas rasteiras pairava no ar, brilhando intensamente com o brilho das luas azuis.

Uma sombra, porém, foi rápida o suficiente para esquivar daquele ataque.

A pergunta de Void soou tão impactante quanto aquela onda de choque.

— Quem está aí? Apareça agora mesmo!

Com algum esforço, Ayase conseguiu virar seu rosto naquela direção.

Seu coração queria saltar de seu peito e correr de volta para Arcadia.

— Ei, ei… Não precisa ser tão arisco comigo, Void!

Das trevas, uma voz grave dançava com as folhas secas que ainda flutuavam no ar, e um jovem de pele escura se revelou para os dois com um sorriso no rosto. O brilho das luas iluminou os seus olhos, cujas pupilas verticais se destacavam em meio ao verde e âmbar.

Void deu um suspiro abafado ao perceber de quem se tratava.

— Não me assuste dessa forma, Siyah.

— Foi mal, foi mal… Eu não vi que era você!

Siyah deu um sorriso brincalhão e se aproximou dos dois.

Ele era quase do mesmo tamanho que Void, e mesmo completamente encharcado, seus cabelos pretos eram tão compridos e bagunçados que serviam como uma pele para o seu corpo musculoso e com poucas roupas.

Um residente de Khürmandha.

— Você tem sorte de ser rápido, Siyah. Eu não quero nem imaginar o que poderia acontecer se esse ataque pegasse em você. Isso que eu nem estava te levando a sério…

— Você precisa controlar os seus instintos, Void!

— Eu não quero ouvir um sermão sobre instintos de um khürdien. Quando vocês estão afim, matam qualquer coisa que se move por pura diversão.

— Ei, ei! Ultimamente está sendo por comida. Você não sabe como está sendo difícil caçar animais por causa dessa chuva irritante! Nunca passamos por tantos problemas antes...

Siyah suspirou, levando uma de suas mãos para a cintura.

Ayase notou que alguns dentes do rapaz eram maiores que os outros; aquelas presas afiadas e brilhantes se sobressaíam, e mesmo quando o rapaz ficava com a boca fechada, ainda era possível notá-las ali.

Ela continuaria observando a boca de Siyah se o rapaz não puxasse conversa.

— E quem é essa aí?! Parceira de acasalamento?

O rosto da sereia tomou a cor de seus cabelos.

— N-não, eu…

Antes que pudesse responder, Siyah se aproximou ainda mais dela.

O sorriso voltou a se fazer presente em uma expressão maliciosa.

— Então esse cheiro veio de você…?! Ele é fantástico.

— …?!

Ayase se debateu no ombro de Void, o forçando a recuar alguns passos.

Seu rosto queimava em vergonha, e seu corpo parecia perder as forças.

— V-Void… e-ele…

Ela não conseguiu completar sua frase.

A temperatura ao redor dos três caía gradualmente, logo formando finas camadas de gelo cristalino no que restava dos troncos das árvores decepadas.

Como de costume, Void deu de ombros.

— Eu agradeceria se você não a deixasse mais nervosa, Siyah. Congelar a minha armadura vai render alguns problemas e estamos com um pouco de pressa.

— Foi mal, foi mal! Eu não consegui resistir.

Siyah deu uma gargalhada enquanto sorria.

— Mas por que você voltou mesmo, Void?

— Nós viemos buscar o aglomerado.

— Ahhhh, aquela coisa no oceano de Mercazhisi… mas vocês não tinham dito que não conseguiriam recuperar aquilo por estar a muitos metros debaixo d’água?

— Felizmente conseguimos alguém para ajudar…

— Essa garotinha…? Vocês foram buscá-la?

Siyah encarou Ayase, que mais uma vez corou.

Void começou a se movimentar entre as árvores.

— É uma longa história… nós conversamos depois.

— Entendi, entendi. Eu vou levar vocês até aquilo.


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Notas finais do capítulo

Capítulo 1, parte 1/?. ʕ•̀ω•́ʔ✧

Mais de 20 dias sem publicar um capítulo novo, mas eu juro que tive bons motivos! Alguns deles envolvem artblock, viagens não-programadas e fontes de computador estouradas. O que me salvou do tédio foi o celular com o aplicativo do Wattpad e os livros que acompanho na plataforma, amém!

Enfim.

Esse capítulo deveria ter 3 mil palavras, mas eu decidi dividi-lo em duas partes. Eu prometi a mim mesma que jamais faria um capítulo exceder 2 mil palavras, já que nem todo mundo tem muito tempo disponível para gastar com apenas um capítulo. Aliás, um adendo: a postagem não será dupla, então o próximo capítulo só será lançado na semana que vem.

Quanto ao capítulo: eu não tenho palavras para descrever o quanto me diverti escrevendo essa parte; a amizade desses dois sempre vai misturar essas partes sérias e mais descontraídas, e é aqui que eu sinto que os personagens estão se tornando mais... reais? Eu amo essa sensação, obrigada!

E sobre o Siyah: o que vocês esperam dele? Gostaram ou odiaram a personalidade dele? É a primeira vez que trabalho com um personagem com essa personalidade, então... espero que ele seja bem-vindo por aqui, haha. ♡
Obrigada por ler Stellarium~!

Feedbacks são apreciados. ☆



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