(NOVO LINK! Leia as notas da história!) escrita por Acquarelle


Capítulo 18
PRÓLOGO, Epi.1: As regras que me limitam


Notas iniciais do capítulo

"Ficar em um abismo para sempre?"
Quem vocês pensam que eu sou?
Por ela, eu continuarei lutando. ✰



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— Estamos vivos…? Pela deusa, estamos realmente vivos?!

— Para de dramatizar, foi só um pouso forçado…

A conversa entre Rashidi e Void a trouxe de volta para a realidade.

— Se isso acontecer de novo, eu serei obrigado a aprender a dirigir.

— Você já deveria ter feito isso desde que saímos de Glacial-GAMMA.

— Depois daquilo, eu esperava que você aprendesse a dirigir melhor…

— …?!

Quando Ayase percebeu, já estava com lágrimas nos olhos.

Ela tentou enxugá-las o mais rápido possível, mas já era tarde.

O escudo que a envolvia foi desfeito em questão de segundos, e quando a garota percebeu, Void parecia encará-la com um ar preocupado.

— Você se machucou, parceira?

— …

Ayase abaixou a cabeça, escondendo o receio presente em seus olhos.

De alguma maneira, ela conseguiu encontrar forças para se manter de pé.

Suas mãos seguravam o seu vestido com força, numa tentativa de esconder o sentimento de frustração que se espalhava por todo o seu corpo. As lágrimas ainda queriam sair, mas ela conseguiu conter o choro.

Seu nervosismo, porém, estava transparente.

— E-eu estou bem… foi só uma tontura.

Ayase finalmente ergueu o rosto para Void.

— Acho que é uma reação normal... é a primeira vez que você tem contato com um planeta novo e o pouso não foi dos melhores. Tente descansar um pouco antes de irmos.

— S-sim...

Ela deu uma pausa e respirou fundo.

Aquela desculpa pareceu convincente.

— Eu vou ficar bem. Obrigada por se preocupar.

Void deu de ombros e voltou a sua atenção para os controles da nave.

Quando ele se virou, os olhos verdes voltaram a observá-lo; a expressão de Ayase estava em um misto de frustração e raiva, e seus lábios se tornaram tão trêmulos quanto as suas pernas.

“Ele teve algo a ver com a destruição de Atlansha…? Ele… é o culpado?”

Uma sirene aguda e intermitente ressoou pelos cinco monitores da sala.

— Alerta! Energia em níveis críticos!! Alerta! Energia em níveis críticos!!

Os monitores, então, passaram a exibir um fundo vermelho com exclamações amarelas, e no instante seguinte, toda a energia de Arcadia foi desligada de uma só vez.

Escuridão.

— O que está acontecendo?

Ayase perguntou em um tom de desespero enquanto ia de encontro à parede.

A resposta veio de uma distância segura. Pelo tom de voz, ela pertencia a Void.

— A energia da Ribbon se esgotou. Agora é por nossa conta.

— Nada de novo até o momento. Lacinho sempre nos deixa na mão.

Rashidi suspirou, não demorando para criar uma de suas runas favoritas.

O brilho que ela emanava era forte o suficiente para substituir as luzes.

Do outro lado da sala, Void dava leves batidinhas no monitor principal como se o confortasse. Mesmo fazendo parte da programação de Ribbon, o esforço que aquela inteligência artificial fazia por eles não podia ser ignorado.

— Você fez um bom trabalho, Ribbon... descanse um pouco agora.

— Ribbon…

O sussurro de Ayase foi abafado pelo barulho da porta que Rashidi abria.

Um vento forte adentrou a nave violentamente, arrancado calafrios do corpo do vesper, que encarava o breu com um olhar apreensivo. Do lado de fora, Khürmandha era tão escura quanto Atlansha, engolindo qualquer fonte de luz que ousasse invadir o seu território.

— Outro planeta escuro e frio...?! Pela deusa, eu não aguento mais esses lugares!

Aquela runa luminosa ainda flutuava na mão esquerda de Rashidi, que não ousou colocar os pés para fora da nave por receio do que poderia acontecer ao seu corpo.

A voz doce de Setsuna chegou aos ouvidos do rapaz em um tom de deboche.

— Se 23º é frio, acho que você tem algum problema com temperatura, vesper imundo. Uma pena que não dá para você morrer congelado com uma temperatura tão amena quanto essa.

— Como se eu fosse morrer por algo tão simples como temperatura… Se algum de seus antigos mestres morreu para algo tão ridículo, não me use para descontar as suas frustrações, livro de Minstur.

— Sua língua é bem afiada, vesper imundo. Até acho que ela daria uma boa arma!

Clap.

Void bateu uma mão na outra, e mais uma onda de choque ressoou na sala.

Aquelas estranhas chamas azuis pareciam preencher o interior de seu elmo.

— Eu já estou farto da atitude de vocês, crianças. Sempre discutindo em momentos que deveriam estar focados. Será que vocês não conseguem levar nada a sério?! Eu devo lembrar que temos um tempo limite dessa vez?

— …

— …

Ele foi de encontro à porta com uma postura ainda mais firme.

— Rashidi. Invoque logo uma runa no corpo do mediador.

— Você não me dá ord–…

— Setsuna. Mantenha o Rashidi acordado o quanto puder.

— Tsc.

A expressão de Rashidi foi dominada por confusão.

— Vai deixar ele te dar ordens, livro de Minstur? Quantos mestres você tem?!

— Fique calado e faça o que lhe foi dito, vesper imundo. Eu já tinha recebido ordens para cuidar de você antes mesmo dessa lata de lixo ambulante me dizer o que fazer. Apenas desenhe essa runa de uma vez…! Eu não quero passar o resto da minha vida aqui, ainda mais com um vesper tão nojento quanto os velhos que procuram acompanhantes nos cabarés de KHŌLA.

E mais uma vez a raiva estava presente no rosto de Rashidi.

— Quando tudo isso acabar, me lembre de te matar, livro de Minstur.

— Como se você fosse capaz de matar alguma coisa, vesper medíocre.

— …

Rashidi suspirou.

Ele se concentrou, passando a desenhar outra runa com a mão direita.

Seus traços eram tão delicados quanto uma assinatura, e logo a energia que emanava daquele conceito se tornou acolhedora, banhando todo o cômodo com um brilho solar.

Ayase a observou atentamente, finalmente tirando os olhos das ações de Void.

Ela parecia ser a única ali a não entender o significado daquela runa dourada.

— “Cântico da Princesa”.

Ryuuki respondeu segundos depois, como se tivesse lido os seus pensamentos.

A runa se aproximou do dragão marinho, o envolvendo em uma aura brilhante.

— Isso deve ser suficiente para te proteger, verme azul.

— Não é suficiente, mas eu sinto que é a única coisa que você pode controlar por algum período de tempo. Só não me arrependo dessa decisão porque foi uma sugestão da milady, mas é um inferno ter que depender de alguém tão fraco quanto você.

— Você quer brigar agora?! Faça o seu trabalho que eu faço o meu!

Os olhos de Ryuuki e Rashidi pareciam soltar faíscas.

— …

Void suspirou.

Ele se aproximou da porta, ativando a visão noturna em seu elmo.

— Sejam bons garotos e tomem conta da casa na minha ausência.

— Você fala sobre seriedade e depois solta uma dessas… sinceramente, Void, qual é o seu problema? Você também quer entrar na briga?

— Brigar? Com você?! A auto aplicação de runas de cura não é complicada?

— …

Ele deu de ombros, fazendo Rashidi ficar ainda mais irritado com ele.

Enquanto se preparava para sair, Void chamou a atenção de Ayase.

— Você está pronta, parceira?

— Eu… acho que sim…?!

— Então vamos.

— S-sim...

Ayase se aproximou vagarosamente da porta enquanto tentava não tropeçar. Seus olhos sempre estiveram acostumados com a escuridão, mas o seu corpo parecia não atender aos seus comandos adequadamente.

Ryuuki ia em sua frente como uma lanterna flutuante.

— Você também viu?

O sussurro do dragão-serpente fez as suas pernas tremerem.

A resposta de Ayase foi rápida e tão baixa quanto uma brisa.

— O-o que você...?

— Aquelas luzes, milady.

— Sim... e-eram como…

— Os fractais de Atlansha.

Ayase cambaleou, mas de algum jeito conseguiu se segurar.

Aquilo não tinha sido coisa da sua imaginação, afinal.

O próximo sussurro da garota saiu ainda mais baixo, quase como um arfar sufocado. Por alguma razão, ela estava com receio dos outros ouvirem aquela conversa.

— O que faremos, Ryuu?

— Me deixe observar a situação mais um pouco, por favor.

— T-tudo bem… eu estou contando com você para isso.

— O que vocês dois tanto cochicham aí?!

Rashidi já estava impaciente com a demora dos dois.

Seus olhos estavam assustadoramente brancos; não apenas por causa de sua estranha habilidade, como também devido a expressão irritada que sempre estampava os traços do rapaz.

Ayase finalmente ergueu a cabeça e respondeu.

— D-desculpa…! Nós já estamos indo.

Os dois se aproximaram da porta, passando a encarar a tempestade.

O vento parecia ter vida própria, uivando uma melodia tenebrosa e sombria.

O corpo de Ayase estremeceu ao imaginar que tipo de problema teriam lá fora.

— Está com medo, parceira?

A voz abafada de Void a despertou, mas a garota não respondeu nada.

Ele não entendeu o motivo de Ayase estar agindo daquela forma, mas não insistiu.

Ryuuki se afastou gradualmente da sereia, ficando a um palmo daquela tempestade.

— Então… eu já vou.

Antes de sair, ele olhou para Ayase.

— Milady… cuide-se, por favor.

— Eu vou ficar bem… boa sorte, viu?

Um sorriso se formou nos lábios dela.

Ryuuki assentiu com a cabeça e partiu.

No instante em que saiu da nave, o seu corpo foi tomado pelos ventos daquela tempestade. O uivo tenebroso logo cessou, dando lugar à verdadeira forma do dragão-serpente, tão colossal quanto as nuvens de chuva preta que inundavam a terra infértil daquele planeta.

Suas grandes asas roxas se ergueram, e ainda mais cortante que a ventania destrutiva de Khürmandha, ele se elevou aos céus com toda a majestade que apenas um dragão possui.

— Aguente firme...

O sussurro de sua dama jamais chegou aos seus ouvidos.

Quanto mais alto Ryuuki voava, mais ele sentia as escamas de seu corpo se enrijecendo. A dor que pulsava da ponta de sua cauda era mínima, mas já estava se tornando incômoda.

Como esperado, o vesper não conseguiria manter uma runa tão forte ativada.

“Maldita criatura fraca...!”, ele praguejou Rashidi em seus pensamentos.

Ao alcançar aquelas nuvens sujas, um calafrio percorreu o seu corpo.

— Eu não serei derrotado por algo assim!!

Ryuuki esticou as suas asas, e mesmo com a dor se alastrando por cada uma das membranas, ele conseguia sentir o poder fluindo através de seu corpo. Um poder que há muito tempo estava adormecido.

Parar aquela tempestade não seria tão difícil, afinal.

Suas asas batiam enquanto o seu rugido ecoava.

“Eu devo…”

Os ventos agitados se curvavam diante de seu poder, e quanto mais a tempestade se tornava amena, mais Ryuuki sentia o seu corpo petrificando.

Tudo estava girando; suas memórias pareciam se mover como um furacão.

“Me desculpe por isso, Ryuu…!! Eu nunca mais vou sair do seu lado! Tudo isso aconteceu porque eu fiquei muito tempo longe de você, não foi? Me desculpe, por favor...”

Aquelas lembranças novamente.

— Milady…

Naquela época, Ryuuki não tinha contado toda a verdade para Ayase.

“A culpa disso é minha, milady. Eu escondi algumas coisas de você…”

“Se criamos um vínculo tão importante, você deveria confiar mais em mim!!”

“Eu… eu sei. Me perdoe por isso.”

Ryuuki deu um suspiro inquieto.

Mesmo agora, muitas informações continuavam ocultas.

“O quanto eu devo te contar sobre mim… sobre tudo?”

A dor estava consumindo a pouca sanidade que lhe restava.

No segundo seguinte, ele recordou do sorriso de Ayase.

De seus olhos. De seus cabelos. De sua voz. De seus gestos.

Cada uma daquelas memórias lhe daria forças para continuar.

Ele finalmente estava compreendendo aqueles sentimentos.

“Um daemonia como eu tem o direito de nutrir esse am…?”

Não.

Ele não podia usar aquela palavra.

Suas regras não permitiriam isso.

“Milady, o que eu… deveria fazer?”

Seus olhos estavam ficando pesados.

Ryuuki não sabia por quanto tempo conseguiria manter a consciência, torcendo silenciosamente para que Ayase e Void conseguissem completar aquela missão o mais rápido possível.

“Não… não é isso. Eu estou… errado.”

No fundo, ele estava torcendo para Ayase estar pronta para as consequências daquilo. E dessa vez, sua princesa precisaria lidar com aquele problema sozinha.

— Por nós dois… aguente firme.


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Notas finais do capítulo

Prólogo, parte única. ʕ•̀ω•́ʔ✧

Depois de mil anos de atraso, finalmente revisei o capítulo de uma maneira que gostei do resultado.

A princípio, eu jurava que ele estava bem curtinho em comparação aos outros (especialmente o anterior, que está cheio de falas e deu uma quantidade absurda de palavras), mas depois de reler inúmeras vezes, percebi que não iria adiantar colocar mais informações ou diálogos, pois ele estava perfeitinho desse jeito mesmo.

Perdão, eu sou uma autora bem chatinha.

Quanto ao capítulo: o que vocês achavam que poderia acontecer se o Ryuuki ficasse muito tempo longe da Ayase? Nesse capítulo eu deixo algumas coisas claras, então a próxima pergunta que eu farei é: como vocês acham que ela irá contornar essa situação? ✧

Obrigada por ler Stellarium~!

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