(NOVO LINK! Leia as notas da história!) escrita por Acquarelle


Capítulo 17
EPÍLOGO, Epi.1: Os últimos 15 minutos


Notas iniciais do capítulo

"Todos aqui possuem limites, senhorita."
Grilhões. Memórias. A não-existência.
Se regras existem, você deve segui-las.
A energia que emana dessa coisa é...?



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Era a primeira vez que os seis integrantes da Arcadia estavam reunidos no mesmo lugar. Rashidi ainda mantinha uma expressão apática em seu rosto, e enquanto Ayase era arrastada por Setsuna para um dos cantos da sala, Void e Ryuuki observavam as duas com um olhar sério.

A pergunta de Void chamou a atenção de todos.

— Quem é ela?

— Oh! Eu ainda não me apresentei para você, não é, Void?

Ao pronunciar o nome do rapaz, a voz de Setsuna soou provocante.

— Eu me chamo Setsuna. Sou o livro de Minstur da mestra Ayase.

— …?!

Void se voltou na direção de Rashidi, que apenas abaixou a cabeça silenciosamente.

O que diabos estava acontecendo ali? Livros de Minstur eram apenas grimórios.

Ribbon, porém, não permitiria que aquele clima de tensão se intensificasse, finalmente se manifestando para os demais. Nos alto-falantes, sua voz infantil estava em um tom baixo e... cansado.

— Tempo estimado para o pouso: 15 minutos. Até lá, vamos rever as informações acerca de Khürmandha, nosso próximo destino. Para os que não estão habituados, uma coisa importante que vocês precisam saber é sobre a gravidade do plan–...

— Apenas ande logo com isso, lacinho. Eu duvido que Khürmandha tenha mudado tanto ao ponto de termos que revisar todas essas as informações de novo.

Rashidi revirou os olhos, finalmente voltando ao humor de sempre.

Ribbon pareceu soltar um suspiro e deu uma breve pausa; o nível de energia da nave já estava em um ponto crítico. Ela não tinha tempo para lidar com as reclamações do vesper.

A voz daquela criança saiu ainda mais baixa.

— Temos mais três tripulantes a bordo, Rashidi. Revisar as informações é mais do que necessário. Além disso, você está completamente enganado…

Como sempre, o monitor principal começou a exibir dados aleatórios sobre o planeta que iriam pousar. Quando finalmente um dos documentos se destacou dentre os demais, Ribbon revelou o problema.

Padrões atmosféricos.

— Ao que parece, o clima de Khürmandha foi afetado pela energia do aglomerado. O planeta está inundando com uma chuva infestada de seus resíduos tóxicos. É bem provável que essa chuva esteja destruindo as plantações, poluindo os oceanos e matando os seus residentes pouco a pouco.

Ayase levou uma das mãos à boca em uma expressão surpresa.

— Que horrível…

— Infelizmente, eu sou incapaz de escanear o estado atual do planeta. Vocês precisam se virar por conta própria dessa vez… eu sinto muito por isso. Sequer consigo acessar o banco de dado dos daemonia com a minha energia nesse nível.

Rashidi continuou a conversa sem se importar.

— Essa lata velha vai aguentar essa chuva toda, lacinho?

— Não. O que nos parte para o nosso maior problema: Arcadia só vai aguentar aproximadamente 52,5 minutos. Se a missão exceder esse tempo, as peças mais importantes serão danificadas.

— TEMOS TEMPO LIMITE?! Era só o que me faltava.

Rashidi tentou disfarçar a sua inquietação bagunçando os cabelos.

Void se aproximou do rapaz com a postura firme de sempre.

— Suas runas defensivas não conseguem proteger a nave?

— Oh?! Se vocês precisam de runas de proteção, a mais adequada para isso sou eu.

Setsuna abriu seu leque, ocultando um sorriso irônico em seus lábios.

Rashidi se virou para ela, lançando um olhar irritado que logo foi ignorado.

A garota apenas continuou com seu ar superior, abafando algumas risadinhas.

— Eu não estou certa quanto a isso, vesper medíocre? Magia geflügelt e zarman devem ser suficiente para essa banheira gigante aguentar qualquer coisa vinda de fora. Se desenhadas em forma de runa, o potencial da magia será ainda maior. Mas não sei se consigo te ensiná-las em tão pouco tempo.

— Apenas faça o que sua mestra lhe ordenar, ferramenta.

A troca de olhares continuou, mas o sorriso de Setsuna se desfez.

A voz doce daquela dançarina saiu com uma pontada de irritação.

— Pelo visto você ainda não aprendeu a sua lição, vesper medíocre.

— Será que vocês podem parar de agir feito crianças por alguns minutos? Eu sinceramente não sou obrigado a aturar a infantilidade de vocês.

Void se colocou entre os dois; os olhos fixos no monitor.

Apenas aquela aproximação foi suficiente para a discussão parar.

A seriedade do rapaz podia ser sentida pelo tom de sua voz abafada.

— Se cada um fizer o seu papel corretamente, não precisaremos nos preocupar com tempo limite. Será que vocês conseguem trabalhar em equipe pelo menos uma vez?

— …

Ainda em silêncio, Rashidi desviou o olhar de Void.

Trabalho em equipe. Desde quando eles eram uma equipe?

A pergunta de Void o tirou daquele estado evasivo de reflexão.

— Setsuna, não é? Você consegue proteger a nave com alguma magia?

— Não é bem uma proteção… é mais um atraso de efeito.

— Apenas seja direta.

— Mesmo magia geflügelt e zarman não devem ser capazes de lidar com a força destrutiva dessa coisa que vocês chamam de aglomerado. Eu já tive contato com isso uma vez e garanto que cedo ou tarde a força disso iria transpassar o efeito da magia e corroer essa banheira gigante de qualquer forma.

A voz dos alto-falantes voltou a ser transmitida.

Ela estava falhada e pausa. Soava como estática.

— O-onde… onde vo-você… c-con… ta-to…

Enquanto encaravam os monitores, Ayase e Ryuuki trocavam olhares preocupados.

“Tem algo de errado com ela?”, pensou a sereia com uma expressão apática.

Era a primeira vez que Ayase tinha contato com a raça de Ribbon. Ela jamais conseguiria entender que o senso comum não se aplicava àquela fada de corpo holográfico.

Ribbon não estava doente. Ribbon não iria morrer. Ela só precisava de energia.

— Ela vai ficar bem, milady. Você não se precisa se preocupar.

O sussurro do dragão marinho chegou aos seus ouvidos como um leve sopro.

— M-mas é que...

— Ela só precisa descansar um pouco.

Void se aproximou do monitor central e posicionou seus dedos sobre a tela.

— Se concentre no pouso, Ribbon. Eu vou te ajudar nisso, ok? Se guie pelos meus comandos e fique acordada mais um pouco… eu tenho certeza que você consegue.

— O-obri… gada, Voi… d.

— Vocês quatro… como acham que podemos lidar com o problema de Khürmandha, já que runas de proteção não serão tão eficazes assim? Pelo pouco que sabemos sobre o aglomerado, estejam cientes de que essa coisa é instável. Não sabemos como ele vai reagir com a presença de Ayase.

A sereia quase deu um pulo para trás quando ouviu seu nome.

— C-comigo…?!

Void continuou de costas para ela. Ele estava mais focado no pouso de Arcadia.

— Sim. Se você é capaz de absorver o aglomerado, eu preciso que venha comigo. Geralmente o Rashidi e eu damos conta da missão, mas da última vez que estivemos em Khürmandha, o aglomerado estava a muitos metros abaixo d’água. Com você aqui, talvez o resgate daquela coisa seja mais fácil.

— E-entendo… eu terei que ir com vocês...

— Mas o nosso maior problema continua sendo essa chuva.

— Diminuir a temperatura poderia adiantar...?

— Eu não sei. Fazer uma Era Glacial nesse planeta poderia piorar a situação; Khürmandha é um planeta quente, e sua temperatura nunca diminuiu de 20º C. Se esfriarmos demais, talvez os próprios khürdians sofram consequências.

— ...

Setsuna se aproximou de Void, finalmente sugerindo alguma coisa.

— E se esse vesper medíocre e eu trocarmos de lugar na manipulação das runas de proteção? Acho que teríamos algum tempo até vocês fazerem alguma coisa.

Void virou o seu elmo em direção à Setsuna; apesar da sua expressão séria não estar visível, a sua impaciência e desconfiança podiam ser sentidas pelo tom de sua voz.

— Você está disposta a ir tão longe para ajudar…? Qual o seu propósito?

— Se vocês vão arrastar a minha mestra para algo perigoso, eu devo seguí-la.

— Mas você está se esquecendo do principal, ferramenta

Rashidi ralhou o olhar para Setsuna, finalmente sorrindo de maneira vitoriosa.

— A sua magia não depende exclusivamente de você, livro de Minstur.

— O que você quer dizer com isso, vesper medíocre?

— Por que não faz um pequeno teste?

— ...

Setsuna concentrou os seus poderes.

Seus cabelos gradualmente tomavam a cor branca, assim como os seus olhos.

Magia vesper. Em 14 bilhões de anos, ela teve tempo suficiente para aprender.

No ar, uma runa de traços delicados foi desenhada com a ajuda de seu leque, cujas pedras preciosas brilhavam em pequenas faíscas. Mesmo que o sorriso no rosto de Setsuna transmitisse toda a graciosidade de uma dançarina, não houve passos de dança dessa vez.

Magia vesper não lhe dava nenhum estímulo para dançar.

Logo o conceito de “Bênção de Plumas” foi identificado.

O ambiente foi banhado por uma energia pura e dourada; penas amarelas dançavam com um vento inexistente, brincando com os cabelos e roupas dos que estavam presentes ali. Algumas menores até pareciam imitar os movimentos das asas de Ryuuki, que se entretia com aquela magia calorosa.

— Que bonit–...

Ayase não conseguiu completar a sua frase.

A garota caiu de joelhos no chão. Tudo estava girando.

Os gritos que saíam de sua boca eram ensurdecedores.

Ela se contorceu no chão, sentindo cada um de seus órgãos sendo comprimidos por uma força colossal e invisível. Seus gritos logo tiraram as forças de seus pulmões, que pareciam queimar de maneira intensa.

Void se virou em direção ao barulho, fazendo a nave dar um solavanco.

— O QUE DIABOS ESTÁ ACONTECENDO?!

— A runa que aquele livro desenhou está...

Mais gritos ecoavam pela cabine de comandos.

A dor que Ayase sentia era tão profunda que a morte parecia ser a única forma de pará-la. Seus olhos lacrimejavam, e seus lábios trêmulos misturavam gritos com um arfar pesado e incontrolável.

O sussurro de Rashidi não chegou aos ouvidos da garota.

— É por isso que você não deveria ter se metido, peixinha.

Um líquido saiu da boca de Ayase em direção ao chão.

Um líquido tão carmesim quanto as roupas de Setsuna.

— DESFAÇA ESSA RUNA AGORA!!

Ryuuki gritou com todas as forças.

A ordem de um daemonia dita o equilíbrio.

Com o leque aberto, Setsuna apagou a runa do ar, que se dissipou como fumaça.

Ayase ainda estava gritando no chão, abraçando o seu corpo enquanto tremia.

Mesmo que a sensação não estivesse mais presente, a dor parecia continuar.

Sangue escarlate escorria por um dos cantos de sua boca.

— O… o q–…

Ryuuki se aproximou de Ayase completamente atordoado.

— Por favor, não fale nada, milady. Você está machucada.

— R-Ryuu…

As lágrimas voltaram a rolar sob aqueles olhos verdes.

Antes que Ryuuki pudesse falar qualquer coisa, um outro brilho dourado envolveu o corpo da garota. Dessa vez, a luz era quente e acolhedora, fazendo a dor que ela sentia desaparecer pouco a pouco.

Ayase procurou de onde vinha aquela sensação tão calorosa.

— Você entende agora, não é? O que te limita… o que me limita.

Regras. Elas estavam ali para serem seguidas. Se não forem seguidas...

Os olhos brancos de Rashidi observavam Ayase com certa… empatia.

A runa que o vesper desenhou levava com ela cada vestígio de dor.

— Rashi... p-por... q-quê…?

— Então você é capaz de usar magia geflügelt? Estou impressionada.

Rashidi voltou os seus olhos para Setsuna, que o encarava seriamente.

— Sinto não dizer o mesmo de você, ferramenta. Você quase matou a pessoa que te provém energia. A princípio, eu fiquei me perguntando como um livro de Minstur não tinha um mestre, mas agora eu já entendo o que aconteceu… Meus sinceros parabéns por isso.

Pela primeira vez, a expressão de Setsuna se tornou irritada.

Ela deu um passo para cima de Rashidi em uma pose de dança.

Aquela garota estava se preparando para começar outra briga.

— Eu não vou permitir que você fale do meu antigo mestre desse jeito...!!!

— Set… suna… d-deixe o... Rashidi... em paz…

Mesmo arfando, a voz de Ayase conseguia sair.

A sereia respirou fundo, tentando tomar algum fôlego.

— Ordem. Isso... é uma... o-ordem.

— Obedecê-la é o meu prazer, mestra.

Setsuna voltou ao normal, desviando o olhar dos dois.

Após um segundo de silêncio, seus lábios sussurravam.

— Eu precisava testar a capacidade a sua capacidade mais cedo ou mais tarde, mestra. Ao menos você se encontra fora de perigo agora. E tudo graças a um vesper medíocre que só consegue utilizar runas de defesa e proteção, não é mesmo?

Com o rosto sério, ela se voltou para Rashidi mais uma vez.

— Ao menos eu–...

— Não fale como se ela fosse dispensável, livro de Minstur.

Ryuuki os interrompeu sem pensar duas vezes.

Ele não iria permitir que falassem de Ayase daquela forma.

— Oh?! Me desculpe se te magoei com isso, lagartinho. Mas muito me admira que você tenha escolhido uma senhorita tão frágil para realizar o pacto. Não tinha criaturas mais fortes nessa geração de Atlansha?

— Fale o que quiser a respeito de mim… mas tenha o bom senso de respeitar quem está te fornecendo energia para caminhar, livro de Minstur. Lembre-se que você não é imortal.

— ...

A expressão de Setsuna se tornou séria. Aquela ameaça era real.

Das cinco criaturas presentes naquele cômodo, três delas podiam dar um fim às suas duas formas em questão de segundos. A primeira delas era Ryuuki, que mesmo com os poderes restritos, se por alguma razão resolvesse se opor a todos, poderia matá-los em segundos.

A segunda era Void, que mesmo não lembrando de suas origens, cedo ou tarde descobriria a verdade por detrás de sua existência. E enlouqueceria por isso.

A terceira era Ayase. Isso se ela aprendesse a usar aquela energia.

Setsuna sorriu de maneira gentil, fingindo se dar por vencida.

— Você tem razão, Ryuuki. Me perdoe por isso.

— …

Em meio ao silêncio que se formou, Rashidi suspirou.

Ao perceber que faltavam cerca de cinco minutos para Arcadia pousar, ele voltou a insistir a respeito do plano. Se alguém lhe perguntasse o motivo daquela insistência, Rashidi só diria algo sobre não querer ficar preso em Khürmandha com os outros.

Mas, lá no fundo, ele estava profundamente preocupado com Ribbon.

— Afinal, alguém conseguiu pensar em um plano melhor?

— …

— …

Silêncio.

Silêncio que não durou, pois Ayase parecia ter pensado em algo.

Com muito esforço, a garota se levantou com passos pesados. Suas pernas ainda estavam trêmulas, mas ela conseguiu se manter de pé. Após limpar o risco de sangue em seu rosto, um abraço foi dado em Ryuuki, seguido de um sussurro que pôde ser ouvido.

— Você não consegue segurar a chuva, Ryuu…?

— Tenho certeza que sim.

Os olhares de Setsuna e Rashidi seguiram na direção da voz de Ayase. Mesmo Void, que estava concentrado nos controles da nave, pareceu ter se virado para a sereia durante alguns segundos.

Ayase se sentiu incomodada com toda aquela atenção.

— E-eu... que-quero dizer…

— O que você quer dizer com “segurar a chuva”, peixinha?

A expressão furiosa de Rashidi voltou a estampar o seu rosto.

— Se você tem algum plano em mente, fale de uma vez…!

Ayase respirou fundo. Ela precisava se manter firme também.

— O Ryuuki sempre foi capaz de controlar tempestades.

— Essa é uma das funções básicas de um mediador, afinal… mas o que te faz pensar que ele conseguiria aguentar as partículas do aglomerado? Você se esqueceu de como ele ficou quando entrou aqui? Não seja tão sádica, peixinha.

Os olhos de Ayase ficaram ainda mais sérios.

— As suas runas vão protegê-lo, Rashidi. Vocês dois não citaram runas de proteção e atraso de efeitos mais cedo? Nenhuma delas é capaz de proteger o Ryuuki enquanto ele segura essa chuva?

Setsuna esboçou um sorriso confiante.

— Existem runas geflügelts e zarmans que são capazes de retardar o efeito do aglomerado, mas como você viu, eu não posso invocá-las sem que você sofra uma dor insuportável, mestra. Dito isso, precisaríamos depender desse vesper medíocre para o plano funcionar. Por quanto tempo você acha que ele consegue segurar essa runa?

— O problema nisso não é o tempo…

A voz de Ryuuki saiu tão baixa quanto um sussurro.

Ayase desviou o olhar de Setsuna e Rashidi, compreendendo a inquietação do dragão marinho. A sua mente a levava para uma de suas lembranças do passado, quando aquele evento manteve Ryuuki longe dela por um tempo.

“Ryuu, o que está acontecendo?! A s-sua cauda!!”

A voz do dragão-serpente a arrancou de seus pensamentos.

— Milady e eu não podemos ficar separados por muito tempo.

Void suspirou.

— Então precisaríamos ser rápidos de qualquer jeito…

Ele já estava ciente de que aquela missão poderia lhe render uma grande dor de cabeça, mas não esperava que isso aconteceria por causa de algo tão banal quanto uma chuva.

Ligando os pontos da conversa, ele conseguiu pensar em um plano.

— Rashidi. Preciso que você invoque uma runa geflügelt no corpo do mediador e—…

Setsuna o interrompeu imediatamente. Aquilo não era uma boa ideia.

— Se for para retardar o veneno dessa coisa, uma runa de magia zarman não seria melhor? Eles são magos do tempo, afinal. A magia deles é mais apropriada para atrasar o efeito de algo. Magia geflügelt só serviria para amplificar o efeito da magia zarman.

— Magia zarman não é tão efetiva quanto a geflügelt. Nós já tentamos uma vez.

— Isso não faz sentido. Magia geflügelt é bem mais pura que a zarman! Não é mais fácil para essa coisa corromper algo que é tão puro ao invés de destruir algo sem um conceito?!

— Você acabou de responder a sua pergunta. Como o tempo não passa de uma ilusão, apenas um mago zarman seria capaz de usá-lo adequadamente. Como você e o Rashidi são apenas aprendizes rúnicos, o potencial da magia zarman de vocês é... nulo.

— E-entendo…

Setsuna deu uma pausa, logo se perdendo em pensamentos.

“Se eu soubesse disso naquela época, então… meu mestre…”

Mesmo com a atenção fixa aos controles da nave, Void continuou sua explicação.

— Não sabemos quanto tempo vamos precisar para aprisionar a energia do aglomerado, seja no corpo da Ayase ou na minha armadura. Parar a chuva durante algum tempo é um bom plano, então eu preciso de uma runa geflügelt que atrase qualquer efeito negativo que venha a acometer o corpo do mediador.

— Mas o Ryuu não pode ficar longe de mim...!

— É só durante alguns minutos. Se conseguirmos chegar até o local onde o aglomerado está, já vai ser suficiente. Aliás, não recomendo que todos saiam da nave. Eu consigo lidar com os resíduos tóxicos do aglomerado por causa dessa armadura e a Ayase se provou ser imune aos efeitos. Quanto aos outros, eu sugiro que esperem aqui.

— É meu dever como ferramenta seguir a minha mest–…

— Não, Setsuna…

Ayase se aproximou dela e deu leves tapinhas em seu ombro.

— Você precisa ficar aqui e cuidar do Rashidi. Isso é uma ordem.

— ...

Cuidar do Rashidi. Um vesper.

Ordem para cuidar de um vesper.

A frustração tomou conta do rosto de Setsuna.

O sussurro que esvaiu de seus lábios foi baixo.

— Obedecê-la é o meu prazer, mestra.

— Obrigada, Setsuna! Sei que posso contar com você.

Ayase se aproximou de Void vagarosamente; um sorriso tímido surgiu no rosto da sereia, mas o rapaz de armadura estava mais concentrado nos controles da nave e só notou a repentina aproximação da garota.

O sussurro dela, porém, não passou despercebido.

— Eu não esperava ter que ajudar tão cedo… acho que estou um pouco nervosa.

— Você não precisa se preocupar com nada. Eu vou te escoltar até o local.

— Como um cavaleiro de armadura brilhante?

Void gargalhou com aquela comparação.

— Acho que estou mais para... um cavaleiro escoltando o sacrifício, talvez?

— …?!

Ayase encarou o rapaz com uma expressão desconfiada. Seus olhos se arregalaram suavemente enquanto a face tomava uma cor mais pálida. Ela não sabia se acreditava ou não naquelas palavras, mas preferia não arriscar.

Void percebeu aquela reação e gargalhou mais uma vez.

— Estou brincando.

— Você podia não me deixar ainda mais nervosa, sabe?

Fingindo estar irritada, a garota franziu uma sobrancelha.

Logo aquela expressão se transformou em um riso baixo.

— Deve ser por isso que o Rashidi é tão estressadinho com você, Void.

— Ele sempre foi estressado com todos... Eu só dou uma ajudinha.

— Por que eu acho que você se diverte fazendo isso?

— Não sei… por que será?

Dessa vez, os dois riram juntos.

Antes que pudessem continuar a conversa, Arcadia passou a balançar com movimentos bruscos, quase fazendo Ayase ser atirada para uma das paredes da cabine. Rashidi foi rápido o bastante para segurá-la, mas no instante seguinte a empurrou para longe.

— Você dirige feito um amador, Void!

— Você quer vir aqui e fazer melhor?

Mais um solavanco.

Antes que Ayase pudesse ser arremessada mais uma vez, um escudo de metal branco foi criado ao redor de seu corpo, fazendo com que o impacto fosse minimizado. Ela ficou surpresa com o repentino surgimento do objeto, e logo se focou em procurar a sua origem.

No chão da nave, um rastro brilhante ia daquele escudo até as botas de Void.

— O-obrigada…

— De nada.

E mais um movimento brusco.

Desta vez, o corpo de Ayase sequer se moveu; era como se aquele escudo tirasse todo o peso de seu corpo. Tatear a superfície fria daquilo lhe passava uma estranha sensação de segurança.

O solavanco seguinte fez Rashidi cair, o deixando ainda mais nervoso.

— Cinco pessoas na sala e você só usa o seu escudo em uma, Void?!

— Não é no corpo de vocês que tem uma energia instável. Se fosse para colocar o escudo em outra pessoa, eu escolheria… Ah, sim! Eu mesmo.

— Seu filho de uma —…!!

A voz infantil ressoou nos alto-falantes em um alerta.

— A-aguentem... mais um... po-pouco!

A contagem regressiva finalmente se aproximava do zero.

10…

Quando a sereia olhou para Ryuuki, percebeu que ele encarava algo.

Nervoso, o dragão marinho mantinha os seus olhos fixos em Void.

8…

Ayase se voltou na mesma direção que Ryuuki observava, apreensiva.

Ele estava encarando o rastro que Void deixava entre o escudo e suas botas.

7…

Ela não compreendia o motivo de Ryuuki olhar tão intensamente para aquilo.

Ayase se concentrou, tentando descobrir o repentino interesse do dragão.

Por um instante, ela jurou ter visto algo colorido pulsar naquele rastro.

5…

Não era uma impressão. Realmente tinha algo pulsando naquele rastro.

4…

Um sorriso sarcástico se formou no rosto de Setsuna.

“Isso foi mais rápido do que eu esperava, Void.”

2...

A expressão de Ayase foi tomada por desespero, e seu estômago embrulhou.

Dentre as cores que brilhavam ali, fractais emergiam e voltavam para a luz.

Os mesmos fractais que dizimaram tudo o que existia em Atlansha.

0.


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Notas finais do capítulo

Epílogo do Volume 1. ʕ•̀ω•́ʔ✧

Eu nem sei ao que comparar o atraso desse capítulo, mas tenho uma boa desculpa: no mesmo dia eu tive que fazer uma prova super importante em outra cidade e comparecer a um casamento, então eu não tive tempo de revisar o capítulo da maneira que eu queria. (´ . .̫ . `)

Agradeço de paixão ao Dark que me ajudou a revisar - e até me deu uma luz se tratando dos diálogos. Se ele tivesse um perfil aqui, eu iria marcá-lo sem pensar duas vezes. ♡

Não sei quando o próximo capítulo vai sair, mas né... NÃO ME MATEM!

Juro que vou adiantar o próximo para sair logo no final de semana.

Obrigada por ler Stellarium~!

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