(NOVO LINK! Leia as notas da história!) escrita por Acquarelle


Capítulo 20
「3」 CAP.1, Epi.3: O cântico do que me cerca


Notas iniciais do capítulo

O que aguarda ao fim dessa trilha?

A natureza instável do aglomerado é... destrutiva?

"Por enquanto, eu pegarei os seus poderes emprestados."



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Quando Siyah seguiu à frente dos dois, Ayase percebeu que algo se movia nas costas do rapaz com movimentos agitados. Ao analisar mais atentamente, ela descobriu uma cauda esguia e tão negra quanto a noite naquele planeta.

Um calafrio percorreu a sua espinha.

— Algum problema aí em cima?

— S-sim. Eu só estou… desconfiada, talvez?

— …?!

Como sempre, Void deu de ombros.

Siyah passou a seguir por outra direção, e diferente do caminho reto guiado por Void, ele trilhava por lugares específicos dentre as árvores de aspecto sombrio. Movimentos sutis em seus olhos e nariz forçavam os seus sentidos, o levando a avançar com mais cautela. Mesmo conhecendo aquele lugar como a palma de suas mãos, seu instinto predatório não lhe permitiria abaixar a guarda.

Aquilo era o esperado de um khürdien.

Uma pergunta finalmente quebrou o silêncio.

— Ei, ei. Foram vocês que pararam a chuva?

— Sim. A nossa nave não iria durar muito tempo se continuasse chovendo… você já deve saber o que acontece quando algo fica muito tempo debaixo dessa chuva.

— Sei, sei. Digamos que alguns de meus colegas receberam tatuagens novas.

Mesmo com a baixa claridade, era nítido perceber que Siyah cerrava os punhos.

— Aquele velho idiota… achando que somos obrigados a aguentar essa chuva. É muito fácil falar besteira quando se é protegido pelos mais fortes do bando. Se não fosse por nós, todos já estariam mortos a muito tempo.

— Me pergunto o porquê de vocês continuarem obedecendo ele… vocês estão em maior quantidade e também têm o apoio das fêmeas, por que não o tiram do poder logo?

— Não, não. Não podemos fazer isso… não agora.

Siyah suspirou.

Porém, antes que o clima se tornasse mais pesado, ele abafou um riso frustrado enquanto mexia sua cauda felina. Ao se virar para Void e Ayase, um sorriso malicioso surgiu em seu rosto.

— O que me lembra: aquele rapazinho não veio com você? O jovem bonito de cabelos brancos, nervosinho igual uma khürdien no cio. O nome dele era Rashidi, não é?

Ayase riu daquele comentário.

Ela nem entendeu direito a comparação feita por Siyah, mas aquelas palavras foram suficientes para lhe arrancar algumas risadas desafinadas. O que quer que aquilo significasse, do ponto de vista de Ayase, se parecia muito com o Rashidi.

Void queria rir da situação, mas apenas deu de ombros.

— Deixamos ele descansando na nave. Ele não seria muito útil por aqui. Não que ele fosse útil em alguma das outras ocasiões, mas dessa vez ele podia atrapalhar.

— Entendo, entendo… acho que vou fazer uma visitinha para ele depois.

Mesmo depois de alguns segundos, Ayase ainda se perdia no seu próprio riso.

— Ei, ei! Já te falaram que a sua risada é tão fofa quanto você?

Ela parou de rir abruptamente e o olhou com uma expressão nervosa.

— Você vai deixá-la sem graça de novo, Siyah.

— Eu só estou tentando ser gentil…

— Não sei se dar em cima de alguém significa gentileza, mas você quem sabe.

— Não seja um estraga prazeres, Void! Estou tentando conseguir uma esposa aqui.

Siyah sorriu de maneira despojada enquanto voltava a sua atenção para os arbustos em sua frente. Seu sorriso logo se desfez quando o propósito de sua saída voltou a invadir os seus pensamentos; desde que saíra para caçar, não havia nenhum indício de animais próximos. Mesmo os gigantes que outrora dominavam aquele continente haviam desaparecido, transformando toda a área em um grande cemitério de árvores venenosas.

Se a situação continuasse daquela forma, todos iriam

“Não, não. Eu não posso desistir. Não agora.”

Ele cerrou os punhos e soltou um longo suspiro.

Nos segundos seguintes, Siyah se concentrou ainda mais à sua volta; seu olfato e audição ascendiam limites nunca antes testados, e a simples dança de uma folha ao vento podia ser ouvida a metros de distância.

Mas, estranhamente, aquela dança tinha seu próprio ritmo.

Um ritmo agudo. Acentuado. Intermitente. Mecânico.

— Siyah, você está bem? Parece um pouco pálido…

O olhar preocupado de Ayase repousava sobre ele.

— Acho que você já se expôs demais, Siyah. Deixe o resto com a gente.

— Já estamos perto do aglomerado, não é? Não seria melhor você voltar?

Siyah só conseguiu sorrir com toda aquela atenção.

— Ei, ei! Vocês estão preocupados comigo?

— N-não é isso… eu só…

Ayase corou mais uma vez.

— Tudo bem, tudo bem. Pode parecer estranho, mas assim como a tempestade é instável, aquela coisa dentro do oceano também é. Tem momentos que o veneno daquilo é capaz de matar um khürdien em segundos, mas também tem vezes que ele sequer consegue nos atingir.

Siyah deu uma pausa, pensativo.

— Ok, ok. Ele nos atinge, mas de maneira mais fraca. Ficamos enjoados ou um pouco tontos… de vez em quando ocorre alguns sangramentos também, mas nada que custe nossas vidas.

Ayase o encarou com uma expressão preocupada.

— Isso não é mais um motivo para você ir para casa?

— E perder toda a diversão?! Ei, ei. Nem brincando eu faria isso!

Ela achou estranha a não contestação de Void e se deu por vencida.

— Tudo bem. De qualquer forma, seria horrível se nos perdêssemos depois de todo o seu esforço em nos ajudar. Obrigada pelo bom trabalho, Siyah!

Ayase sorriu gentilmente, e Siyah a retribuiu com um sorriso ainda maior.

— É um prazer ajudar garotas bonitas, gatinha!

— “Gatinha”?!

Siyah riu com aquela reação.

— É que eu ainda não sei o seu nome…

— Eu me chamo Ayase. A-YA-SE! Não “gatinha”!

— É um nome lindo para uma garota linda!

O elmo de Void abafava as risadas dele, mas ainda dava para escutá-las.

Ayase estava tão envergonhada com a situação que queria se esconder.

— As fêmeas daqui não têm corpos tão delicados assim. Quando eu olho pra você…

Antes que pudesse terminar sua frase, a audição de Siyah detectou um estranho barulho de estática, fazendo a expressão de seu rosto mudar repentinamente. Em seus olhos felinos, a decepção estava tão nítida quanto a vergonha no rosto da sereia.

— Nós já chegamos? Que pena…

Ele se voltou para Ayase e piscou um dos olhos.

— Vamos continuar a nossa conversa em outra hora.

— E-espero que não…

Enquanto se aproximavam da costa de uma praia de areias roxas, Ayase passou a encarar a paisagem com uma expressão curiosa. Diante de seus olhos, o céu estrelado de Khürmandha contrastava drasticamente com o furioso oceano Mercazhisi.

A maré estava agitada, formando ondas gigantes e escuras que se quebravam próximas aos pés de Void. Para Ayase, o barulho que aquele oceano fazia era assustador e... convidativo. Por sorte, ela conseguia esconder a ansiedade que florescia em seu coração.

Void finalmente a colocou no chão.

— Você consegue caminhar até lá ou prefere que eu te jogue?

— Me diz que isso foi uma piadinha, por favor…

Ele deu de ombros enquanto tentava abafar seus risos, mas parou subitamente ao perceber que Ayase estava séria a respeito de seu comentário; talvez o nervosismo a impedisse de perceber a ironia presente em sua voz.

— Foi… foi apenas uma brincadeira.

— …

Ela suspirou.

Com muito esforço, Ayase conseguiu erguer uma das pernas.

A gravidade de Khürmandha era cruel com seus moradores.

“É por isso que… o Siyah tem… um corpo tão grande?”

Ayase arfou, mas o primeiro passo foi dado.

Enquanto dava o segundo passo, ela tropeçou.

— Você tem certeza que não quer que eu te jogue…?

Ayase virou o seu rosto para Void com um olhar irritado.

Ele queria rir daquela reação, mas conseguiu se controlar.

Outro arfar escapou dos lábios da garota; de alguma maneira, ela ainda conseguia se manter de pé. Talvez as águas em seus pés lhe dessem um pouco de estabilidade, mas era cedo demais para ter uma certeza.

“E se…”

— Energias que me cercam, sigam a minha voz e obedeçam aos meus comandos…

“Então é assim que eu devo ativar a sua magia, Ryuu? É como um cântico...”

“Tudo ao meu redor me serve como energia, milady. Água, luz, trevas, cada uma das criaturas marinhas… até mesmo os genories, mesmo sendo tão pequenos. Se você conseguir entender isso, será capaz de usar essa energia também.”

Círculos de magia envolviam o corpo de Ayase.

A aura azul que emanava daquela energia dançava com as águas obscuras.

Ela inspirou o máximo que seus pulmões aguentavam e expirou devagar.

Quando todo o ar foi expelido, um sussurro se esvaiu.

— Levem-me para o lado mais obscuro do oceano.

Uma ordem foi dada. Uma ordem seria obedecida.

O oceano se tornou ainda mais agitado e formou uma onda colossal.

Com a maré enfurecida, o seu corpo parecia ser puxado para dentro.

“Seu poder é incrível, Ryuu… obrigada por isso”, ela sorriu vitoriosa.

Ayase finalmente conseguia caminhar livremente entre aquelas águas.

Seu plano tinha funcionado.

— Se meu palpite estiver certo, você vai conseguir sentir a energia do aglomerado quando estiver lá embaixo… Também é capaz dele vir até você por conta própria, então tome cuidado.

Sem dizer uma única palavra, Ayase assentiu.

— Se você perceber que tem alguma coisa errada, venha para a superfície imediatamente. Siyah e eu só vamos conseguir te dar suporte se você estiver aqui em cima.

Dessa vez, Ayase o ignorou completamente.

Ela estava mais concentrada em outra coisa…

No fundo do oceano, algo parecia atraí-la.

O abismo a chamava.

Conforme as ondas escuras a puxavam para dentro, ela concentrou os seus poderes, sentindo o seu vestido aumentar e envolver as suas pernas, se transformando na familiar cauda de degradê cor-de-rosa que ela sentia falta.

— Bem-vinda de volta, velha amiga...

A onda gigante finalmente se moveu e veio em direção à costa.

Antes que ela se quebrasse, Siyah conseguiu saltar para longe. Por sorte, as árvores dali eram altas o suficiente para não serem atingidas pela onda; porém não muito fortes a ponto de não serem arrastadas por elas.

— Ei, ei! Você precisa tomar mais cuidado com isso!

Void desapareceu antes da onda se partir, não dando qualquer sinal de onde poderia estar, e mesmo quando Siyah chamou pelo seu nome, não houve uma resposta.

— Mas o que está…?!

As águas negras destruíam tudo o que encontravam no caminho, arrastando cada árvore, arbusto, relva e pedregulho em uma velocidade surreal. Corpos estranhos passaram a boiar sobre a correnteza, exalando um odor fétido que machucava o olfato de Siyah.

“Que coisas nojentas são essas…? Será que… cadáveres de animais marinhos?!”

O felino pulava entre as árvores, torcendo para não perder o equilíbrio.

— Void…? Ayase…? Onde diabos vocês estão?

A única resposta vinha daquela correnteza.

“Droga… O que vocês dois estão fazendo?”

Ele passou a encarar o nada com um olhar perdido.

Em seus lábios, uma gota quente pousou suavemente.

E mais uma gota pousou no seu pescoço.

E mais uma gota pousou em seu torso.

— Não me diga que…

Siyah olhou para cima com uma expressão surpresa; as nuvens negras de chuva tinham se formado mais uma vez, tomando o brilho das duas luas e mergulhando todo o planeta em trevas.


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Notas finais do capítulo

Quem reviveu do mundo dos mortos pelo Nekr-... COF, COF. Okay, sem piadinhas de Warframe por aqui. Apesar de ser um vício que consome 80% do meu tempo, ninguém é obrigado a aturar esse tipo de coisa por aqui.

Então... eu passei um bom tempo sem atualizar isso aqui, não é? Apesar desse capítulo estar pronto há meses, eu meio que estava sem ânimo algum para escrever (e também para ler, perdão por não estar presente nas obras de vocês!). Tanta coisa aconteceu na minha vida nesses últimos meses que eu nem sei de onde encontrei forças para continuar escrevendo.

Enfim. (*´ω`*)

Além de publicar esse capítulo, também vim desejar um feliz ano novo para vocês! Espero que 2018 seja um ano excelente para a "vida de escritor" de vocês; que vocês consigam driblar cada bloqueio criativo, que tenham forças para escrever aquela cena chocante que vocês sentem vontade de chorar toda vez que começam a digitar, que encontrem mais tempo para fazerem a revisão, que consigam novos leitores e até mesmo prêmios para tornarem as suas obras ainda mais famosas!

Aliás, muito obrigada pela paciência e por não desistirem de mim! ♥



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