Poderes das Profundezas escrita por M Schinder


Capítulo 6
Capítulo cinco: Amiga dos Peixes (Suyen)


Notas iniciais do capítulo

Voltei, meus amores!
Sei que não posto muito ultimamente, mas vou tentar voltar com uma frequência maior. Também espero uma maior participação de vocês, leitores, porque gostaria muito de saber as opiniões de vocês :3.

Boa leitura! o/



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O mar estava tranquilo neste dia. Poucas ondas se formavam para quebrar contra a areia branca e quente; a luz do Sol fazia com que a água brilhasse e permitia que qualquer um pudesse enxergar o fundo.

Enquanto essa linda cena se desenrolava a minha frente, eu me mantinha afastada, sentada a porta da pequena residência que dividia com minha empregada. Um papel amarelado estava entre minhas mãos e eu alternava minha atenção entre as letras escritas e a vista maravilhosa.

A mensagem era simples, mas significava muita coisa:

"Suyen, há alguns anos matemos contato e você não sabe quem eu sou. Entretanto, como tem mantido tão bem escondido esse segredo, gostaria de mostrar o que tem o dever de proteger.

Vá até ao parque costeiro Napali, em Kauai. Há uma caverna perto do desfiladeiro, nade até lá e encontrará respostas para muitas de suas perguntas. Vá sozinha. Humano nenhum é confiável.

B."

Depois de cinco anos vivendo escondida e afastada de meus familiares, eu finalmente teria a oportunidade de conseguir explicações. Algo dentro de mim explodia em felicidade, mas uma pequena parte – talvez a parte mais lógica de meu cérebro – gritava para que tomasse cuidado. Eu trocava cartas com B. desde que me transformei pela primeira vez.

Ele foi o culpado por eu ter virado um monstro; por ter me afastado de minha família; por ter sido obrigada a me isolar em uma pequena casinha em uma praia no Havaí (local que ele mesmo escolhera); por ter que desistir do meu sonho de ser bailarina. Não podia simplesmente confiar que estaria segura perto dele, mesmo que nada tivesse acontecido a mim ou a Naomi nesses últimos cinco anos. Muitas vezes, em suas cartas, ele acabava apenas por pedir que eu ajudasse animais marinhos que estavam presos ou perto da morte.

Um suspiro escapou por meus lábios. É difícil decidir o que fazer quando não se pode confiar em ninguém.

— Suyen!

Dobrei a carta o mais rapidamente que consegui e escondi-a embaixo de minha blusa, Rhiver chegou um pouco depois que eu escondi o papel. Ele usava apenas a bermuda roxa favorita e carregava sua prancha embaixo do braço. O jovem era o único amigo que eu fizera em toda a minha estadia no Havaí – e não, ele não sabia meu segredo.

— Está bem? Parece um pouco pálida... — ele me encarava com atenção e parecia extremamente interessado em minhas feições. Sorri gentil, não desejando que se preocupasse.

— Estou bem, Rhiver. Não precisa me olhar assim. Por que está aqui hoje?

— Vim ver como estava, já que é meu último dia de férias e tenho que aproveitar ao máximo meus amigos — explicou largando a prancha e sentou-se sobre ela. — E aí, vamos nadar?

— Sabe, muito bem, que eu não posso — respondi rindo. Rhiver acreditava que eu tinha alergia a água salgada, por isso nunca entrava na água do mar, no entanto sempre fazia brincadeiras com isso para quebrar o gelo. — Estou apenas tomando um pouco de Sol, agora.

— Já que não pode nadar, o que acha de ir à festa de boas-vindas do hotel em que trabalho? Ou tem alergia a diversão também? — continuou abrindo um sorriso maior. Hesitei. Nunca era uma boa ideia estar em meio a tanta gente, sempre morria de medo de descobrirem que eu sou um tipo de aberração. — Vamos, Suyen! Não custa nada sair um pouco dessa casa! O que acha, Naomi?

Eu não notei a aproximação da mulher até que ele terminou de falar. Minha empregada envelhecera vários anos quando eu pedi para que se mudasse comigo e mostrei a ela minha cauda. A única pessoa que guardava junto a mim esse segredo; a única que não pensava em mim como um monstro.

— Eu acho uma excelente ideia — comentou Naomi passando por mim e abrindo a porta da casa. — Vá hoje à noite, Suyen, você irá se divertir. Viva a vida, para variar.

Rhiver tocou minha perna com seu pé sujo de areia, fazendo-me encará-lo, e sorriu como se estivesse me incentivando, contudo eu já sabia que teria de ir à festa, pois Naomi insistiria até que eu desistisse da ideia de não ir. Com um suspiro, concordei, ganhando, como resposta, uma comemoração animada de meu amigo e uma risada de minha empregada.

 

Depois que Rhiver foi embora, eu corri para dentro da casa para avisar Naomi de que precisaria passear pelas águas mais fundas de Honolulu e fui até meu quarto, apenas para colocar um biquíni qualquer para sair.

A água estava gelada neste final de tarde, mas eu ainda tinha algumas coisas para fazer. Antes da carta pedindo para que eu fosse até Napali, eu recebera uma mensagem de B. dizendo que muitos pescadores estavam deixando redes dentro de uma área que deveria ser preservada e que a pesca estava sendo feita de forma exagerada. Sendo assim, caberia a mim resolver o problema e sumir com as redes.

Nesses últimos anos, eu aprendi a controlar alguns de meus poderes, incluindo minha transformação. Conseguia impedir que a cauda surgisse sem que eu estivesse completamente submersa, mas não podia evitar de escutar as vozes finas que invadiam minha mente assim como a água enchia meus pulmões, deixando que eu pudesse respirar embaixo dela.

Não doía mais para que minhas pernas se colassem uma a outra e surgisse a cauda azul com riscos amarelos que assombrava meus sonhos. É linda, mas uma maldição que eu não gostaria que ninguém tivesse; pequenas guelras nasciam em meu pescoço e em minhas mãos, entre meus dedos, crescia um tipo de cartilagem que me ajudavam a nadar. Para completar minha imagem, escamas azuis nasciam ao redor de meus seios, impedindo que ficasse nua.

Respirei fundo, sentindo a sensação gelada invadir todo o interior de meu corpo. Ao mesmo tempo que eu odiava aquilo, amava a liberdade que possuía sempre que estava embaixo d'água. É confortável estar longe de todos os olhares; distante do medo constante de ser descoberta.

Tomei impulso com a minha cauda, fazendo-a mover-se para cima e para baixo, e segui meu caminho. Novamente, pequenas e delicadas vozes animadas chegavam aos meus ouvidos, mas, conforme seguia em frente, elas começaram a se tornarem desesperadas e gritavam com muita força em minha mente.

Acho que não contei, mas uma das habilidades que ganhei ao me transformar no que vocês, humanos, chamam de "sereia" foi a possibilidade de me comunicar com animais marinhos – não é como se pudéssemos ter conversas divertidas ou qualquer tipo de troca de informações, eu apenas podia ouvir suas vozes interiores e saber o que estavam sentindo. Não precisei nadar muito para encontrar a rede de pesca repleta de peixes coloridos e que tentavam se debater para longe.

O problema das redes de pesca é que, na grande maioria das vezes, a quantidade de animais presos é muito maior do que o necessário para a sobrevivência humana e acabam deixando muitas espécies à beira da extinção. Com cuidado, nadei ao redor da rede procurando alguma abertura ou os laços que eu pudesse desamarrar para soltá-los.

Nada. Não encontrei completamente nada que pudesse facilitar o meu trabalho. Todos os fios estavam bem amarrados e presos, sem qualquer saída, nem mesmo na parte de baixo. Rodei a rede inteira, mas a única opção era colocar minha cabeça para fora e arrancar a rede do barco que estava parado ali perto.

Nunca, em todos aqueles anos, eu cheguei tão próximas de humanos transformada e com escamas. Um risco grande demais, mas não podia imaginar o que aconteceria a mim se não fizesse o que B. pedia. Respirando fundo – ou, se quiserem algo mais técnico, retirando o oxigênio da água em meus pulmões – nadei até a superfície e coloquei minha cabeça até meus olhos para fora.

Parecia não haver tripulantes no barco, mas todo cuidado é pouco, por isso batia a cauda com cuidado e embaixo do líquido, para não fazer barulho de água espirrando. Aproximei-me o máximo que pude e ergui toda a parte de cima de meu corpo para fora, esticando meus braços para tentar alcançar as cordas que prendiam a rede ao barco. Falhei miseravelmente, eu sou muito baixa e as pontas estavam quase no topo da embarcação.

Vozes vieram de dentro do casco e eu tive que me segurar para não submergir a cabeça completamente. Precisava acabar com isso logo e tinha apenas um jeito que vinha a mente. Contra a minha vontade, estiquei novamente minha mão e soltei minha respiração calmamente. Aos poucos, senti a água que estava em meu corpo se agitar, juntamente com a que estava ao meu redor e as partículas que mantinham a corda úmida.

O negócio é que: desde que haja água, eu posso fazer qualquer coisa.

No momento em que desejei que a água que estava na corda se movesse, ela o fez. O nó se desfez aos poucos e não demorou para que eu a visse cair na água e sair boiando para o lado. Mergulhei, já começando a necessitar de ar, e fiquei mais tranquila ao perceber as vozinhas dos peixes animadas e felizes se afastando de mim. Parei apenas um segundo para observar meu trabalho feito e empurrei-me para frente, sem hesitar em sair dali antes que me descobrissem.

***

Quando cheguei na casa, Naomi me esperava com as sobrancelhas arqueadas e uma muda de roupas em mãos. Sacudiu-as em frente ao meu rosto e mandou que eu fosse me trocar, pois precisava estar pronta para a festa a que fui convidada.


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Notas finais do capítulo

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