As Crônicas de Caledônia escrita por Fani Fics


Capítulo 3
Mausoleú


Notas iniciais do capítulo

Olá Luminas!
Espero que gostem do capitulo!
Boa Leitura!



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De onde estava, Soluço conseguia ver perfeitamente os lindos cabelos louros de Astrid sendo iluminados pelo sol.
A menina estava sentada na ponta da escada e conversava com algumas pessoas ao seu redor, o canto da boca levantado em um pequeno sorriso, alheia ao fato de que estava sendo observada pelo garoto.
Soluço tinha uma queda por Astrid desde a quinta serie, e o sentimento nunca havia sido correspondido. Astrid mal sabia da existência do rapaz, que não fazia sucesso com as garotas. Soluço não era atlético como a maioria dos garotos, não usava camisetas regatas para mostrar os músculos, porque afinal ele não tinha nenhum, diferente de seu pai que era forte como um touro, Soluço era um saco de ossos. Magricelo e baixo, o garoto não havia tido o famoso "estirão" que ocorre nos garotos a partir de certa idade. Os cabelos castanhos tinham um corte comum de tigela um pouco mais comprido atrás, era um tanto oleoso também, os olhos eram de um verde desbotado e havia varias manchinhas ao redor do seu nariz, além de uma pequena cicatriz no queixo que ele ganhara graças ao gato possuído da tia.
Astrid era a personificação da beleza, e Soluço acreditava que nem mesmo Afrodite poderia ser tão linda quanto à garota, que nem se esforçava para isso.  
Sentado na grama em frente a sua sala, encostado em uma das pedras e com um livro na mão, Soluço sentia uma paz interior só de observar a garota de longe.

— Ei! - protestou o rapaz quando uma mochila pesada acertou sua cabeça, interrompendo sua paz.

— Você devia chamar ela pra sair. - disse Merida, se sentando ao lado do menino.

— Não sei do que você tá falando. - disfarçou Soluço, massageando a parte de trás da cabeça.

— Claro. Você parece um maluco encarando a garota desse jeito. - riu Merida, olhando para onde Astrid estava sentada há alguns minutos.

— Não estava encarando, estava apenas... Observando. - admitiu Soluço, virando-se para encarar a ruiva risonha.

— Não é isso o que dizem os serial killers? - provocou Merida, cutucando o ombro magrelo do rapaz.

— Você tirou o dia para me atormentar? - retrucou Soluço, abrindo o livro e cobrindo todo o rosto.

— Não, eu preciso da sua ajuda. - disse Merida, em voz baixa.

— Não estou interessado. - ignorou Soluço.

Para se fazer ouvir, a ruiva retira o livro das mãos de Soluço, que tentou recupera-lo em vão. Merida conseguia ser mais irritante do que o resto das pessoas. Soluço conhecia a ruiva há muitos anos, e sabia que Merida conseguiria tirar a paciência de um monge, ela era uma garota graduada em irritar as pessoas, com seu temperamento forte e gênio indomável Merida podia ser vista por muitas pessoas como uma garota egoísta, e embora ela fosse na maior parte do tempo, Soluço já tinha visto em algumas raras ocasiões como a garota podia ser companheira e amiga. Mas demostrar sentimentos nunca fora coisa de Merida, sentimentalismo era com Rapunzel e de certa forma Soluço acreditava que isso equilibrava o estranho grupo de amigos.

— Você sabe que fui obrigada a fazer uns cursos chatos na casa da cultura né? - perguntou a ruiva, devolvendo o livro ao garoto - Então, eu encontrei uma coisa lá.

— Que coisa? - perguntou Soluço, encarando os olhos azuis da ruiva.

— Aqui não. - sussurrou Merida, olhando para os lados - Vem.

Sem mais uma palavra à garota se levanta num salto e caminha pelas pessoas sem se abalar com a multidão, empurrando quem quer que entre em seu caminho, em contrapartida Soluço caminhava sendo empurrado e algumas vezes Merida teve que parar para esperar pelo rapaz.
Finalmente eles estavam atrás da escola, onde apenas alguns poucos alunos iam para dar uns "amassos", os casais ocupados com seus beijos não perceberiam Soluço e Merida conversando ali.  E ela precisava de privacidade. 

— O que você achou lá, criatura? - quis saber Soluço, já curioso.

Merida olhou para os lados e se aproximou mais alguns passos do garoto, até suas respirações se misturarem como uma só.

— Não surta - pediu a menina, tirando o medalhão de dentro do bolso do casaco.

Primeiro Soluço quis toca-lo, mas se reprimiu antes de chegar perto da peça. Depois ele se afastou alguns passos e encarou o rosto de Merida.

— Você roubou isso? - acusou Soluço.

— Claro Soluço, eu sou uma cleptomaníaca, obrigada viu! - disse Merida, cruzando os braços.

— Então, onde achou isso? - questionou o rapaz.

— Encontrei escondido dentro de um tijolo solto, na parede do banheiro do segundo andar - sussurrou Merida - Do casarão.

— No banheiro do segundo andar? - Soluço se aproximou e tocou a peça. - Quando foi isso?

— Faz uma semana já. - Merida olhou para os lados - Eu procurei em todos os lugares possíveis pra saber o que significava esse símbolo, mas não achei nada.

— Por isso precisa de mim? Pra descobrir o que é isso? - perguntou Soluço incrédulo - Você acha que eu sou o que? Wikipédia?

— Acho que você é melhor. - Merida suspira - Você adora ler sobre linguás mortas, coisas perdidas. Esse tipo de coisa chata. - Merida levanta o medalhão até os olhos de Soluço - Ah, qual é, não está nem um pouco curioso?

— Talvez. - Soluço da de ombros. - Acho que já vi esse símbolo em algum lugar. - comenta o garoto com uma ruga entre as sobrancelhas.

— Viu, eu sabia que você ajudaria. - sorriu Merida.

Quando o sinal tocou, Soluço já estava na sala de aula. Ele havia tirado uma foto de seu celular do medalhão de Merida, e agora rabiscava esboços do estranho objeto em seu caderno.
A aula passou bem rápido, e enquanto fazia os exercícios de matemática, o garoto não conseguia afastar a sensação de já ter visto aquele símbolo antes.

—---*----

Jack estava na sala do avô depois da aula.
Enquanto o avô não chegava para ambos almoçarem juntos, Jack ficava sentado na mesa do diretor, aguardando.
Ele e Merida não se falavam há uma semana, quando discutirão no casarão, e ele não cederia.
Não que ela o estivesse ignorando de fato, ela parecia estar em outro universo desde o casarão, mas Jack não tinha certeza e não seria ele a pedir desculpas. Afinal, Merida o acusara sem motivos algum.
Pensando na maneira como Merida o olhara com raiva, Jack se levantou da mesa e encarou o nada. Aquela garota temperamental!
Os dois eram amigos há muito tempo, mas nunca haviam brigado assim. Na verdade os dois estavam juntos em quase todas as encrencas.
E que coisa!
Merida queria mesmo que Jack acreditasse em uma conspiração? Ele sabia que Merida adorava uma historia e sabia que a ruiva não teria como provar sua mentira, ele viu a oportunidade e aproveitara.
Porém, Merida realmente teria se arriscado por nada?

— Aquela maluca temperamental! - resmungou o rapaz andando pela sala do avô.

Havia fotos antigas na parede, de professores que há muito não davam aula, além de fotos dos professores atuais, ainda bem jovens. Jack caminhava mexendo nos quadros e fuçando nas gavetas do avô, não que ele achasse que encontraria algo, era apenas um passatempo agradável. Às vezes ele retirava alguma coisa do lugar só para ver o avô procurar e culpar a velhice pelo esquecimento.
North não era apenas o avô de Jack, mas sim um pai. Após o nascimento de Pippa, o pai de Jack desapareceu do mapa, deixando assim sua mãe com duas crianças. North havia assumido a responsabilidade e ajudado a filha a criar os dois netos. Para Jack, North era seu herói.
E ele não tinha curiosidade de saber onde estava seu pai, as lembranças que tinha do homem eram muito vagas, a única lembrança forte era do homem alto de cabelos castanhos saindo pela porta da frente.
Essa era a lembrança que ele nunca se esqueceria do pai. Com os olhos lacrimejados, Jack balançou a cabeça, ele já não chorava mais por isso. Não mais.
A porta foi aberta num rompante e o corpo grande de North se direcionou para sua cadeira atrás da mesa, da qual rangeu sobre o peso do homem.

— Desculpe o atraso. Essas crianças. - suspirou North, sorrindo.

— Tudo bem. - disse o rapaz se sentando de frente para o avô.

— Pensei que tinha ganhado a aposta para voltar à cor normal do cabelo. - falou North, gesticulando para os cabelos ainda brancos de Jack.

— Eu acho que ganhei. - respondeu Jack - Não tenho certeza.

— Ué, por quê? - perguntou North, curioso, abrindo sua enorme marmita de macarrão.

— Não sei, Merida acha que eu trapaceei. - Jack suspirou.

— Trapaceou? - perguntou North.

— Não. - Jack pensou - Acho que não. Mas ela acha que sim, não sei. - Jack olhou para North - Ela é maluca!

North riu da confusão do neto, uma confusão que nem mesmo o próprio Jack entendia, mas que North já via de muitos anos atrás. Ele se perguntava quando é que o garoto notaria. Merida e Jack eram amigos há muitos anos, e North viu a amizade dos dois florescer. Eles tinham discussões acaloradas, mas sempre voltavam a se falar, e normalmente aprontavam tudo juntos.
E mesmo que estivessem sempre provocando um ao outro, North sabia que a amizade dos dois ainda duraria muito, pois por mais geniosos que ambos fossem eles sempre se defendiam.
Quase uma hora depois, Jack saiu da sala do avô, estava distraído pensando se deveria ou não pintar os cabelos. Ele havia de certa forma gostado da cor, talvez mudasse um ou dois tons, mas poderia deixa-lo branco.
Enquanto atravessava a rua, rumo a sua casa Jack notou um homem estranho parado á esquina da escola.
Era um homem de pele morena, muito alto e também magro. Tinha uma barba escura e os dentes da frente eram abertos. O homem se apoiava no muro com o ombro, e na mão ele segurava uma bengala. Encarava a escola, como se esperasse por algo.
Jack passou encarando o homem, que nada disse.
Quando o garoto se virou para ver se o mesmo ainda estava parado na esquina, ele havia sumido.

—---*----

Soluço havia ficado toda a tarde pesquisando na internet, olhando livros e mexendo em qualquer coisa que pudesse ter alguma informação sobre o símbolo, porém não havia encontrado nada.
Frustrado, Soluço começou a pensar na possibilidade de estar deixando Merida o influencia-lo com essas teorias da conspiração. A garota havia levado um objeto que obviamente não queria ser encontrado. Aquilo não era errado?
Soluço não tinha certeza, mas Merida ascendeu uma curiosidade nele, e o fato de não haver informações em lugar algum sobre aquele símbolo o deixou ainda mais curioso.
Quase no fim da tarde, Soluço teve um estralo ao olhar a foto do avô falecido em cima da estante. Correndo até seu caderno de esboços, o garoto reviu o simbolo desenhado e se lembrou de onde tinha visto.
Era obvio!
Mandou uma mensagem para Merida, e se trocou as pressas, indo encontra-la de frente ao casarão no qual a garota ainda estava sendo obrigada a frequentar.
Ao chegar ao casarão, Soluço esperou Merida do lado de fora, estava ansioso para falar sua descoberta. Alguns minutos mais tarde, ele reconheceu a cabeleira ruiva vindo de longe, acompanhada dos cabelos angelicais de Astrid.
Ambas estavam rindo.

— Você atira muito bem. - disse Astrid enquanto atravessa o portão - Deveria tentar.

— Não acredito que minha mãe não me colocou em arco e flecha. - Merida bufou.

— Você pode tentar fazer o que te falei. - sugeriu Astrid.

Vendo Soluço do outro lado, Merida acena para o rapaz.

— Vou tentar, valeu Astrid.

Soluço observou a loira caminhar sozinha, com uma aljava cheia de flechas presa as costas. Ele ainda a segue com o olhar até que ela desaparece em uma esquina.

— Vocês falaram de mim? – perguntou o garoto para Merida.

— Claro Soluço! – ironizou a garota – A gente falou de você o tempo todo!

— Sabe, você não precisa fazer isso. – falou o rapaz, começando a caminhar ao lado de Merida.

— Soluço, fala logo o que descobriu! – irritou-se a ruiva.

— Eu sei aonde vi esse símbolo. – Soluço se aproximou – Todo dia de finados eu e meu pai vamos até o tumulo do meu avô. Lembro que vi esse símbolo em um mausoléu no lado norte do cemitério da cidade.

— No cemitério? – sussurrou Merida, olhando para os dois lados antes de atravessarem a rua. – Quer ir lá agora?

— Está quase escurecendo! – constatou o rapaz, encarando a garota.

— Qual é, Soluço. – Merida fez beicinho – Não quer saber o que tem lá?

— Honestamente, não. – respondeu Soluço.

Merida encara Soluço por alguns segundos, até que finalmente o rapaz é vencido e segue caminho com a ruiva.
O sol estava se pondo, pintando o céu de laranja. Merida e Soluço seguiram pela avenida que perdia o movimento gradualmente. O céu já estava começando a ficar escuro quando chegaram ao cemitério, de longe Merida e Soluço escutaram o barulho de passos pelo cascalho e o tilintar das chaves, detrás de um tumulo surgiu o coveiro, um senhor de idade, que vinha para fechar o cemitério. Rapidamente, agarrando a mão de Soluço, Merida puxa o rapaz para dentro do terreno dos mortos, e se escondem atrás de um altar.
Espiando, ambos vêm quando o coveiro fechar os portões e ir embora. Saindo detrás do tumulo, Merida e Soluço encaram os portões fechados.

— Ótimo, presos em um cemitério. – murmurou Soluço, fazendo cara feia para Merida.

— Vamos. – chamou a garota, ignorando o fato de estarem presos e Soluço estar zangado.

Juntos, os dois caminharam pelas pedras que faziam barulho debaixo de seus pés. Os túmulos se erguiam bem acima deles, e o céu já estava escuro.
Passaram por túmulos de crianças, que lembravam berços, só que de ferro retorcido. Havia flores murchas em alguns túmulos, e outros estavam destruídos.
Gárgulas e cruzes se elevavam acima da cabeça dos jovens, e uma estranha neblina cobriu o chão.

— É por aqui. – disse Soluço, quando chegaram a um túmulo todo quebrado  – Eu me lembro desse túmulo.

Caminharam por mais alguns minutos, até que chegaram ao mausoléu.
O local tinha sido construído em pedra de mármore escuro, como o casarão. Havia alguns degraus que levavam até uma porta. O mausoléu parecia um pequeno castelo com colunas gregas. Atrás das colunas ficava a porta.

— Como conseguiu ver o símbolo? – perguntou Merida

— Eu meio que fui até a porta. – falou o rapaz, casualmente – Mas ainda tinha sol.

Merida e Soluço subiram os degraus lentamente, até chegarem à porta.  
Ambos mexeram e tentaram abri-la a força, mas a mesma permaneceu imóvel.
O símbolo ficava bem acima da porta, idêntico ao do medalhão de Merida.

— Está trancada. – falou o rapaz – Não tem como abri-la. Ótimo!

— Não tem fechadura, não tem cadeado. Nada. – sussurrou Merida – Como alguém poderia entrar num mausoléu se ele não tem uma fechadura? – questionou a garota, procurando por alguma alavanca ou algo assim.

— Eu não sei. – respondeu Soluço. – Mas precisamos achar um jeito de sair daqui. Não gosto da ideia de passar a noite num cemitério, mesmo com uma garota.

Merida revirou os olhos, e continuou tentando abrir a porta, que não se mexia. Depois olhou para o símbolo e o tocou com suas mãos finas. Com os dedos, a garota fez o contorno, até que teve uma ideia.
Retirando o medalhão do pescoço, Merida encara Soluço.

— Quando você fez isso? – perguntou o rapaz se referindo ao fato de Merida ter trocado o cordão por uma corrente de prata de um antigo colar de sua mãe.

— Não podia ficar em um pano pra sempre, e aquela corda não era confiável. – Merida olhou para o colar em sua mão e depois para o símbolo acima da porta. – Não custa tentar.

Soluço ficou encarando quando Merida colocou o colar em cima do símbolo desenhado. Imediatamente uma luz dourada emanou do lugar, e Merida empurrou o colar que se afundou um pouco na pedra.
Soluço se aproximou sem acreditar no que seus olhos viam.
Merida sorri para o rapaz e depois, gira o cordão, num circulo completo escutando trancas sendo destravadas por dentro.
Com um barulho estrondoso, a porta se abre, revelando uma tumba escura e com cheiro de mofo para Merida e Soluço que encaram a escuridão de boca aberta.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, Luminas!
Até a próxima! Beijos ♥

2° - Embora a historia se passe no Brasil, no interior de SP, a cidade chamada Caledônia é a denominação atribuída pelo Império Romano à região setentrional da ilha da Grã-Bretanha, grosso modo correspondente ao território atual da Escócia. Eu queria que a historia se passasse no Brasil, mas gostaria que tivesse uma atribuição da Escócia.



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