As Crônicas de Caledônia escrita por Fani Fics


Capítulo 4
Sonhos, Ossos e a Chave


Notas iniciais do capítulo

Olá, Luminas!
Quero dedicar esse capitulo ao Ricardo Marçal Jr que foi o primeiro a comentar!
Muito obrigada, Ricardo Marçal Jr!
Espero que gostem do capitulo!
Boa Leitura!



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Stabbengton estava cansado.

Meses e meses de procura não tinham levado em absolutamente nada. Ele olhara todos os cadernos e anotações do irmão e não tinha encontrado nada. Estava começando a acreditar que aquela busca era uma perda de tempo.
Durante toda sua vida, Stabbengton sempre soube o que queria.
Ele queria mais. Sempre mais.
Quando menino viu o pai morrer por não conseguir largar a garrafa de corote, e a mãe definhar após a morte de seu irmão caçula.
A tragédia havia assolado sua família quando ele ainda era jovem demais, e então ele percebeu o que queria, e isso foi o caminho para uma vida conturbada.
Ainda menino, ele e seu outro irmão começaram a roubar casas nos bairros nobres de SP, no inicio era para poderem comer, mais quanto mais roubavam mais eles queriam.
Isso os levou até uma gangue que planejou um grande roubo em um banco. Os comparsas usaram os irmãos Stabbengton, e enquanto desfrutavam do dinheiro, ambos os irmãos foram parar na cadeia.
Após cumprirem a pena, sete anos engaiolados, Stabbengton levou uma vida tranquila trabalhando em bares decadentes. Uma vida tão tranquila quanto poderia.
Seu irmão havia desaparecido do mapa, indo para o interior do estado atrás de um tesouro que ele havia ouvido de alguém que tinha escutado de outro alguém.
Honestamente, Stabbengton não levava fé nas coisas malucas do irmão, mas quando o mesmo ligou para ele meses atrás falando que tinha conseguido pistas do tal tesouro com um homem, Stabbengton não acreditara.
Relutante, ele havia pegado um ônibus para o interior, pois sua ambição falara muito mais alto que a razão naquele momento. Ao chegar à cidade, uma cidade do interior, depois de tantos anos sem ver o irmão, ele não acreditou na vida medíocre que o irmão havia conseguido e quanto tempo ele havia dedicado para achar tal tesouro.
Stabbengton deveria ter pegado o ônibus e voltado, deixando o irmão com suas fantasias, mas não o fez. Sua perspectiva de vida já não era a mesma, ele não teria mais sucesso em nenhuma área que tentasse então não custava ver se realmente havia um tesouro ali.
Meses já haviam se passado e nada de encontrar o maldito tesouro, nem mesmo uma pequena pista.
Suspirando, Stabbengton pega a lata de cerveja á sua frente levando-a a boca para tomar um gole, porém a lata já estava vazia.
Praguejando, o homem se levanta da mesa de plástico da qual seu irmão havia se apossado e abre a geladeira que estava praticamente vazia de suplementos, com apenas alguns ovos, agua e cerveja.
Pegando mais uma lata, Stabbengton abre a mesma quer faz um barulho ecoando pela casa. Se aproximando mais uma vez da mesa, ele olha os papeis de cima, sem nenhuma esperança de encontrar o tesouro.
Talvez seu irmão estivesse errado, talvez fosse apenas algo da imaginação fértil dele, mas agora Stabbengton não podia mais voltar atrás, devia isso a ele mesmo e a seu irmão.
Seu olhar viaja dos papeis até o quadro encostado no batente da porta, ele havia pegado da sala dos professores alguns dias atrás. O mesmo quadro que Merida tinha visto e acreditado que Jack que tinha retirado para armar para ela.
A luz amarelada da cozinha ficou acesa pelo resto da noite, enquanto Stabbengton colocava seu cérebro para funcionar.

—---*----

Merida e Soluço estavam encarando a escuridão dentro do mausoléu, sem saber ao certo se deviam ou não entrar no lugar. Uma parte de ambos dizia para correrem o máximo que pudessem, mas a outra parte, aquela parte imprudente típica de adolescentes implorava para que eles entrassem na escuridão e descobrissem os mistérios que se escondiam lá dentro.
Por mais que a razão brigasse em suas cabecinhas, eles sabiam que algo realmente estava estranho. Até mesmo Soluço, que era um pouco mais realista que Merida sabia que, não tinha motivos para um túmulo ter uma fechadura especial senão tivesse algo para ser escondido.
O celular de Merida apitou em seu bolso, e pelo visor ela viu que era sua mãe, obviamente querendo saber por que ainda não tinha chegado em casa.
Merida suspirou.

— É minha mãe. Vamos. - disse ela, colocando o medalhão no pescoço - Amanhã a gente volta, mais cedo.

— Não quer saber o que tem lá? - questionou Soluço, seguindo Merida, ouvindo a porta do tumulo se fechar de novo com um estrondo.

— Quero, mas só amanhã. Minha mãe deve estar surtando e a gente ainda precisa achar um jeito de sair daqui.

Meia hora depois, Merida estava em cima do muro do cemitério, observando Soluço tentar subir em cima do mesmo.

— Pelo amor de Deus, Soluço! - resmungou a menina, revirando os olhos - É só por o pé ali. Não ai não, ali naquele buraco! - por mais três vezes o garoto tentou, até que finalmente alcançou Merida, e sorrindo se sentou no muro - Já fiz cem anos aqui. - disse a garota.

Olhando para baixo, Merida encara Soluço e depois pula o muro, que tinha uma altura de dois metros e meio, mais ou menos. Soluço encara a altura e depois a garota que estava esperando por ele lá embaixo.

— Vamos, Soluço. Não é tão alto assim. - disse a garota - Anda logo. Pula.

— Sei não. Parece bem alto pra mim. - murmurou o garoto, engolindo em seco.

— Pelo amor, pula logo daí garoto! - exasperou-se Merida.

Fechando os olhos, Soluço pula o muro, caindo desequilibrado o garoto acaba empurrando Merida, que caí de bunda no chão.

— Soluço! - resmungou a garota, que pegou a mão estendida para ela. - Presta atenção... E você não é o Soluço.

— Bem observado. - disse Flynn, ainda segurando a mão de Merida que corou descaradamente.

— Oi Flynn. - cumprimentou Soluço, tirando a poeira do corpo.

Merida retirou a mão rapidamente da mão do rapaz e sorriu sem jeito, Flynn olhava de Soluço para Merida para o muro do cemitério com uma carranca de interrogação.
Flynn era um jovem bonito, alto e forte ele fazia sucesso com todas as garotas da cidade que suspiravam diante a menção do nome dele. De manhã o rapaz trabalhava como balconista na padaria Central de Caledônia, na parte da tarde ajudava em uma oficina e a noite ele frequentava a escola.
Flynn havia abandonado os estudos quando mais novo para viajar pelo mundo sem um tostão no bolso. O rapaz ficara em albergues precários, e vivia pedindo carona nas beiras de estrada, quando a aventura acabou ele percebeu que não tinha ideia do que fazer do futuro, então ficou em Caledônia aonde se estabeleceu numa casinha barata perto do cemitério, economizando dinheiro para fazer faculdade num futuro próximo.

— Vou fingir que não vi vocês dois saindo do cemitério á noite. - falou o rapaz, abrindo um sorriso charmoso.

— Obrigada. - foi tudo o que a língua de Merida conseguiu dizer sem gaguejar.

Despedindo-se com um sorriso de arrasar corações Flynn deu as costas para os dois jovens que o viram desaparecer rapidamente com sua mochila surrada nas costas.
Merida ainda encarava o nada, e seu rosto ainda tinha um leve rubor.

— Você tá corada! - sorriu Soluço, quando Merida começou a caminhar - Você gosta dele!

— Claro que não, não viaja. – respondeu sem convicção.

— Ora, ora. Parece que o game virou não é?! - brincou Soluço, encarando os olhos azuis de Merida com um sorriso presunçoso no rosto.

— Eu vou matar você!

—--*---

Quando chegou em casa, Elinor estava esperando pela adolescente de cara feia, enquanto Fergus e os meninos assistiam televisão na sala, esparramados no sofá.

— Onde estava? - perguntou Elinor, seguindo Merida até a cozinha.

— Eu tava... - Merida não poderia dizer que invadiu o cemitério para sua mãe, então omitiu alguns detalhes - Tomando sorvete com Soluço.

— Soluço? - questionou Elinor, pensativa - O filho de Stoico?

— Sim, ele mesmo. - sorriu Merida.

— Ah, mas isso é ótimo! Eu gosto do Soluço, gosto muito mesmo. Ele é um menino tão bom. - tagarelou Elinor - Com certeza ele vai te influenciar bem, estou tão feliz por você querida.

— Oque? - confusa Merida encarava a mãe.

— Soluço tem ótimas notas, é um rapaz tão bom. Com um futuro brilhante, com certeza! - resmungava Elinor, mais para si mesma do que para Merida.

— Merida tem um namorado? - perguntou Hamish, se aproximando.

— Sim.

— NÃO!

— Merida tem um namorado, Merida tem um namorado! - cantarolava Hamish, com seus outros dois irmãos se juntando a ele e cantando ao redor de Merida.

— Não tenho namorado. - dizia Merida, sem ser ouvida.

— O que está havendo aqui? – questionou Fergus entrando na cozinha, ao escutar toda a barulheira.

— Merida está namorando Soluço. – contou Harris.

— Ah, não! Eu torcia pelo garoto Frost. – lamentou Fergus, fazendo careta.

— Aff, o que eu fiz pra merecer isso! – murmurou a garota – Vou tomar banho.

Sem mais uma palavra à garota correu para seu quarto, onde se viu livre das interrogações da família sobre seu namoro.
Merida não conseguia nem imaginar algo assim, ela e Soluço.
Que absurdo.
Depois do banho, do jantar e de ajudar Elinor a arrumar a cozinha, Merida foi para seu quarto, cansada. Sua cabeça estava em milhão querendo saber o que havia dentro do mausoléu. Pegando o colar e o encarando a garota fica imaginando que historias se escondiam por detrás daquele estranho símbolo que achara e o porquê de somente ela achar depois de tantos anos.
Com as pestanas pesadas, Merida caiu em um sono profundo.

Estava escuro, e a neblina cobria todo o vale no qual Merida se encontrava, com o pijama de zebra com o qual tinha dormido. Olhando para os lados, a garota procurava por alguma coisa, até que viu uma silhueta no alto da colina.
Quanto mais se aproximava do topo, mas a silhueta ficava nítida até que ela conseguiu ver que se tratava de uma mulher.
A mulher negra tinha longos cabelos pretos e enrolados, presos no alto da cabeça num rabo-de-cavalo. Os olhos eram de um azul-agua tão lindos que Merida ficou hipnotizada por eles. A mulher usava um vestido justo que marcava uma cintura fina com seios volumosos.

— Oi. – disse Merida, num sussurro, ao se aproximar.

— Você precisa correr. – disse a mulher, encarando Merida fixamente. – Precisa se apressar.

— Do que está falando? – questionou a ruiva, vendo a neblina se intensificar.

— Deve ter cuidado. – a voz parecia ter mil ecos, como se mil vozes falassem juntas.

— Com o que? – Merida se vira, olhando além da neblina até distinguir a forma de um homem grande e forte.
Stabbengton estava parado bem a frente dela e tinha um sorriso que inspirava maldade.

— Mor’du – sussurrou a voz da mulher atrás de Merida.

Merida se virou para encarar a mulher, porém a mesma já havia sumido. Olhando mais uma vez para trás ela constata que Stabbengton também tinha desaparecido. Não havia nada além de colinas e neblina para todo o lado, a ruiva estava completamente sozinha.
Um barulho estranho a faz olhar para os lados. Uma mancha escura vinha em sua direção, muito rápida, mas ainda tampada pela neblina, Merida dá alguns passos vacilantes para trás e foi ao chão com o impacto do enorme urso negro que surgiu da neblina rugindo ferozmente em seu rosto antes de ataca-la.

Merida acorda sentando-se na cama com um grito entalado na garganta. Olhando ao redor ela percebe que está em seu querido e seguro quarto, e que não havia nenhuma mulher, nem Stabbengton e nem urso ali.
Deitando mais uma vez a cabeça ruiva no travesseiro, a garota respira profundamente, dizendo para si mesma que havia sido apenas um sonho.

—---*---

— Você tá namorando o Soluço e não me disse nada? – interrogou Rapunzel – Pensei que nossa amizade significasse algo para você.

— Ele beija bem? – quis saber Mavis, cochichando.

— Ele não é tão bonito quanto Toninho, mas sempre achei ele um charme. – compara Violeta, com sua voz de entediada de sempre.

— EU NÃO ESTOU NAMORANDO NINGUEM! – disse a garota pausadamente – E eu não sei se ele beija bem, credo.

— Minha mãe disse que vocês estão namorando, sua mãe contou pra ela ontem no telefone. – contrariou Rapunzel, sorrindo.

— A boca da minha mãe parece um buraco negro. – sorriu Merida.

— O que tá rolando? – quis saber Jack, se aproximando.

— Merida e Soluço estão namorando! – cantarolou Rapunzel.

Jack encara surpreso a ruiva e depois as garotas que sorriam como se tivesse em um comercial para pasta de dente.

— Serio?

— Não! – repetiu Merida pela milésima vez – Não estamos namorando!

Soluço então se aproxima da turma, encarando a todos que o olhavam questionando a verdade de Merida. Puxando o garoto pelo casaco, Merida o afasta de todo mundo e o leva para longe, aonde poderiam conversar em paz.

— E ela ainda nega. – comenta Violeta.

— São tão fofos juntos. – completou Mavis.

— Você não acha que eles ficam lindos juntos, Jack? – perguntou Rapunzel, encarando garoto com seus enormes olhos verdes.

— Ficam uma gracinha! – ironiza Jack, juntando as mãos em formato de coração.

Atrás da escola, e sozinhos Merida e Soluço combinavam de ir para o cemitério naquele mesmo dia descobrir o que havia dentro do mausoléu.
Eles combinavam de levar lanternas para conseguirem ver lá dentro, além de irem mais cedo para não ficarem trancados novamente á noite no local de descanso dos mortos. Merida pensava num plano para sair mais cedo da casa da cultura, talvez ela conseguisse assinar o livro e sair de fininho sem que Mary visse, quando a mulher olhasse o caderno confirmaria para Elinor que a filha estava no casarão cumprindo seu castigo, mas Merida estaria mesmo atrás de algum mistério em um mausoléu fechado há anos que só abria com o colar que a garota carregava no pescoço.

— A proposito – começou Merida – Todo mundo acha que estamos...

— Namorando? – completou o rapaz – É eu sei. – disse ao ver a cara de choque de Merida – Meu pai veio me dar os parabéns, sua mãe ligou pra ele.

— Qual é o problema daquela mulher? – cochichou Merida, com vontade de estrangular a mãe.

— Tudo bem. – Soluço dizia, mexendo os ombros, um tique que ele tinha desde menino – Pelo menos ela me acha qualificado. – riu o garoto.

— Que ideia estupida!

— Muito idiota! – concordou ele. – Nós dois...

— Juntos? – ambos riram, no começo por achar graça, mas depois por puro nervosismo da situação constrangedora.

Quando o sinal tocou, ambos deram graças a Deus e desapareceram indo para suas salas.

—---*----

Eram quase duas da tarde, e Merida ainda não tinha aparecido.
Soluço não sabia quantas vezes havia dito para as pessoas que ele e Merida não estavam namorando. Mas quanto mais ele negava mais os boatos se espalhavam e sempre mais pessoas vinham perguntar.
De onde Elinor havia tirado isso, ele não tinha ideia. Merida e Soluço eram o completo oposto um do outro e obviamente nunca se olharam com olhar romântico. Os dois eram amigos e somente isso. Soluço gostava de Astrid desde sempre e sabia que Merida nunca cogitou a ideia.
Se cogitou, ele nunca saberia.
Merida nunca foi uma garota romântica, não era do tipo que tentava chamar atenção dos rapazes como a maioria das garotas, ela era desleixada para uma garota, sempre de cara limpa sem maquiagem, os cabelos estavam sempre bagunçados, como se ela nunca os penteasse, para desespero de Elinor.
Soluço acreditava que nunca tinha visto Merida apaixonada na vida, com exceção da noite anterior em que corou na presença de Flynn ele nunca a vira apaixonada, mas todas as garotas coravam na presença de Flynn então ele desconsiderava esse caso.

— Cheguei! - gritou Merida, correndo em direção ao garoto que estava encostado no muro - Soluço o que é isso?

— Isso é um cachorro. - respondeu o rapaz, fazendo carinho na cabeça de seu vira-lata.

— Soluço, você trouxe um cachorro pro cemitério? Ele vai começar a cavar os ossos dos defuntos! - exasperou-se Merida, batendo com a mão na testa.

— Banguela não vai fazer isso. - como se entendesse o cachorro deu um latido.

Merida encarou o enorme cão preto preso a uma coleira vermelha. Ela nunca entenderia porque Soluço deu aquele nome ao cachorro que tinha todos os dentes, bem grandes e afiados.
Banguela era um cachorro dócil, Soluço o encontrou abandonado em uma caixa alguns anos atrás quando ainda era um filhote. O animal cresceu mais que o normal, virando um enorme cachorro de pelos negros e olhos verdes que embora parecesse ser muito bravo era um poço de doçura.

— Tá, que seja. Mas segura ele. - disse Merida, entrando no cemitério.

Juntos, eles caminharam entre os túmulos e lapides, enquanto o sol queimava suas cabeças. Soluço estava todo vermelho pelo calor, e Merida tinha a nuca molhada de suor. Pegando uma presilha que estava presa em sua camisa, Merida faz um bolo com seus cabelos e os prende no alto da cabeça.
Banguela farejava o chão, com a língua pra fora e fez com que os dois adolescentes parassem três vezes porque queria cavar alguns túmulos.

—---*----

Rapunzel e Jack estavam na sorveteria no centro da cidade comprando o famoso soft. Depois de pagarem pelos seus sorvetes, ambos começaram a caminhar pelas ruas da cidade, rumo à praça central onde ficava a igreja matriz, uma construção tão antiga quanto à própria cidade.
Havia pedestres nas ruas, carros passavam, as lojas estavam abertas e como todo centro de toda cidade, o de Caledônia também era movimentado.

— Eu acho bem fofo. - comentou a garota - Os dois juntos.

— É, muito fofo mesmo. - comentou Jack, mais preocupado com seu sorvete.

— Você não pintou os cabelos, por quê? - mudou de assunto rapidamente Rapunzel, ela conseguia fazer isso como ninguém.

— Eu fico bonitão. - respondeu Jack com um sorriso de canto, cutucando Rapunzel com o ombro, que sorriu.

Atravessando a rua, os dois se sentaram em um banco da praça, embaixo de uma grande arvore que lhe rendia uma boa sombra. De onde estavam podiam ver todo o movimento das lojas.

— Você conseguiu as aulas de pintura - perguntou Jack, pouco depois.

— Sim. Mary disse que estava lotada as salas de pintura, mas eu fiquei enchendo ela o tempo todo até que ela abrisse uma vaga. - sorriu a garota - Claro que eu tive que desistir do tricô, porque eram no mesmo horário, mas eu amo pintar!

Jack sorriu com a boca cheia de sorvete e Rapunzel fez cara de nojo para o garoto que fingiu que ia jogar o sorvete que estava em sua boca nela.
Nesse instante, Toothiana, uma linda jovem de cabelos pretos e roxos passou por eles.

— Oi, Jack. - cumprimentou ela com um sorriso - Oi Punzie.

— Oi Toothi. - respondeu a loira olhando para Jack que tentava limpar a boca as pressas com a mão.

— Oi Toothi. - disse o garoto, com a boca ainda cheia.

Sorrindo, Toothi diz que precisa ir para o curso e desaparece tão rápido quanto chegou. Rapunzel encara Jack, inquisidora.

— O que foi esse olhar? - perguntou a garota cheia de segundas intenções.

— Não sei do que tá falando. - respondeu o garoto de cabelos brancos, colocando as mãos na cabeça ao sentir o cérebro gelar.

— Você ficou mesmo com a Toothi! - confirmou Rapunzel, quase gritando.

— O que? Não! - disse Jack, encarando a loura - Não fiquei não.

— Ah, para de mentir. Ficou com ela, porque tá negando? - quis saber Rapunzel, mas Jack não respondeu, apenas encarou a garota - Ah, que fofo Jack! Você gosta dela! - exclamou a loira - Não pensei que você fosse capaz de sentimentos humanos.

— Ah, valeu Rapunzel. Valeu mesmo, isso toca meu coração. - ironizou o rapaz - Não gosto da Toothi, por favor, não invente.

— Tá bom então. - riu Rapunzel - Aquele não é o inspetor Stabbengton?

— Ele parece bem bravo. - comentou Jack.

As passadas do homem eram grandes, e ele caminhava rapidamente entre a multidão, ignorando os comerciantes e empurrando algumas pessoas que entravam em seu caminho. Não parecia apenas bravo, ele parecia estar em uma missão, com o olhar fixo à frente, determinado.

— Oi inspetor Stabbengton. - cumprimentou Rapunzel.

— Me deixem em paz, vermes! - respondeu Stabbengton, sem nem olhar para o lado.

Com uma careta, Jack coloca o pé em frente ao homem, que leva um enorme tropicão. Stabbengton se vira, encarando o garoto de cabelos brancos com um olhar fulminante.

— Foi mal. - sorri Jack, encarando o homem.

Furioso, Stabbengton continua seu caminho até a igreja Matriz, aonde entrou sem cerimonias. Jack e Rapunzel ainda ficaram encarando enquanto o homem atravessava as portas da igreja. Sorrindo, Rapunzel encara Jack.

— Você é maluco. - comentou a garota - Aquele cara é um psicopata.

— Eu sei. - respondeu o rapaz sorrindo.

—--*---

— Pode ser que tenha alguma coisa haver! – comentou Merida, caminhando ao lado de Soluço.

Enquanto seguiam caminho entre as lapides para o mausoléu, Merida contou a Soluço o estranho sonho que tivera com a mulher misteriosa, com o inspetor Stabbengton e o urso.

— Talvez realmente haja algum tipo de conspiração, e a foto tenha mesmo sido tirada de lá. – comentou a garota.

— Se isso for verdade, o que eu duvido, então você acusou Jack injustamente. – respondeu Soluço encarando a ruiva.

— Ele te contou? – perguntou a garota.

— Claro que sim, ele ficou chateado. – Soluço tropica em uma lapide e faz uma careta – Pode não parecer, mas ele tem um coração.

— Tá, a questão é, o que a mulher quis dizer com aquilo? O que Stabbengton estava fazendo no meu sonho e quem diabos é Mor’du?!

— Merida, foi só um sonho. Não pode mesmo acreditar que isso tem alguma ligação.

— Soluço, estamos indo para um mausoléu que não tem fechadura, mas que emana luz quando um colar, que foi encontrado escondido num banheiro antigo, é encostado num símbolo destrancando uma porta. Realmente acha que está tudo normal? – questionou a garota.


Soluço ficou em silencio ao notar que eles já estavam de frente para o mausoléu.
Quando chegaram ao destino, Merida retirou o colar e o colocou em cima do símbolo, a mesma luz do dia anterior emanou do lugar e o barulho de alguma coisa sendo destravada ecoou do outro lado da porta.
Com um estrondo a porta foi aberta e a escuridão chamava pelos adolescentes. Banguela rosnou para a escuridão, Soluço engoliu em seco e acariciou as orelhas de Banguela, Merida retirou sua lanterna de dentro da mochila e, determinada, deu um passo a frente.

Eles entraram no mausoléu, um passo de cada vez. A escuridão tomava conta de tudo lá dentro e eles não conseguiam ver nada. Com mais alguns passos, a porta se fechou atrás deles num estrondo. Assustados eles se viraram para descobrir que não tinham imaginado como iriam sair dali de dentro.
Soluço tirou sua lanterna de dentro do bolso da calça e iluminou o lugar. Os olhos de ambos varreram o local para descobrir que não havia nada além de terra no mausoléu.

— Só isso. Não pode ser! - sussurrou Merida, movendo a lanterna para todos os lados.

— Olhe! - Soluço mirou a luz para uma fenda na parede, a frente deles.

Eles caminharam até a fenda que era grande o suficiente para passar ambos juntos, jogando o faixo de luz sobre a fenda viram que ela dava para alguns degraus de pedra que desciam em espiral.

— Isso não pode ficar mais estranho. - murmurou Soluço.

Segurando firme a guia de Banguela, Soluço e Merida desceram os degraus da escada até chegarem a um salão espaçoso. Com a luz da lanterna eles podiam ver que havia castiçais na parede para colocarem velas, algumas estatuas nas paredes e no centro do lugar um tumulo enorme.
Merida e Soluço trocaram um olhar preocupado, mas corajosos eles seguiram até o tumulo. Soluço soltou a guia de Banguela e acariciou o animal.

— Fique aqui Banguela. - pediu o rapaz, e Banguela se sentou sobre as patas traseiras.

Merida e Soluço iluminaram o tumulo que era de uma estranha pedra escura e brilhosa. Havia símbolos espalhados pelas bordas do tumulo, que nem Soluço nem Merida entendiam. No centro do tumulo havia o mesmo símbolo do colar de Merida, enquanto a garota iluminava as bordas, Soluço apertou o símbolo que com um barulho estridente cedeu sobre a força de sua mão magricela e afundou.
Do teto caiu um esqueleto, batendo no ombro de Merida que gritou e pulou para trás, caindo em cima de Soluço.
Ambos foram ao chão e o esqueleto se mexia como se estivesse vivo, ambos os adolescentes gritaram de pavor, e Banguela avançou para cima do esqueleto, fazendo ossos voar para todos os lugares.
Desesperados, Soluço e Merida correram escada acima, chamando pelo cachorro que ainda avançava sobre o esqueleto.
Banguela ao escutar a voz do dono o seguiu pelos degraus.
Merida e Soluço bateram com as lanternas na porta por onde haviam passado, mas a porta não abria. Tateando a porta, Merida encontra uma alavanca da qual puxou sem pensar duas vezes, abrindo a visão para a luz do dia de Caledônia.

Merida e Soluço saíram do cemitério correndo, com Banguela atrás deles, e só pararam quando chegaram do lado de fora do portão do local. Ambos se curvaram e respiraram ofegantes.
Banguela se sentou nas patas traseiras, olhando de um para o outro, com alguma coisa na boca.

— Ele tá com um osso! - gritou Merida, ao ver o cachorro com um osso na boca.

Soluço se aproxima do vira - lata e arranca o osso da boca dele a força, que bate com o rabo na canela do dono em protesto. Soluço segura o osso com baba bem em frente ao rosto de Merida.

— Isso é uma... - começou Merida.

— Chave. Uma chave presa em uma ossada? - diz o garoto, desamarrando a corda na qual a chave estava amarrada. Depois de alguns minutos, ele consegue e joga o osso para dentro do cemitério.
Banguela faz menção de se levantar para correr atrás do osso, porém, Soluço segura a guia do cão, entregando a chave para Merida.

— O que será que isso abre? - questionou a garota, encarando o amigo.

— E porque estava tão bem escondida?

Ambos se encararam e olharam para a chave que Merida segurava em suas mãos.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!
Ele ficou um pouco mais comprido, porém tentarei sempre postar no máximo três mil palavras, mas se gostarem de capítulos mais longos, sintam-se a vontade para avisar.
Beijos, Luminas até a próxima!



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