Elementar escrita por Pandora


Capítulo 10
Capítulo 10 ― The Blind Banker


Notas iniciais do capítulo

Antes de lerem o capítulo, quero dizer que eu modifiquei algumas coisas na história (infelizmente ainda não editei aqui), caso tenham interesse em lerem essas mudanças, recomendo que sigam minha conta no Wattpad @dingcsbel. Onde tenho inúmeras fanfictions novas e passo mais tempo. Aqui também irei atualizar, porém demorarei mais tempo. É isso, boa leitura a todos vocês ♥



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AS CONSIDERAÇÕES DE DOMINIQUE HUDSON EM RELAÇÃO AO SEU PRIMEIRO DIA DE SERVIÇO na função tão almejada desde muito tempo não eram das melhores. A realidade não condizia em nada com as expectativas geradas por uma mente infantil acostumada com os seriados televisivos e a vida de Sherlock Holmes. Antes mesmo do horário de almoço a ruiva já estava entediada em frente ao computador, começando a ficar arrependida de ter aceitado o cargo tão rápido e, até mesmo, sentindo falta de estar nas ruas aplicando multas.

Sentiu o peso deixar os seus ombros quando o celular apitou alertando que já era o momento de fazer uma pausa para o almoço. Ela soltou um longo suspiro aliviado e espreguiçou na cadeira, sorrindo contente por finalmente conseguir escapar daquele tédio no cubículo que ocupava. Grampear telefones usando os programas oferecidos pelo governo não era tão interessante ou desafiador quanto ela acreditava. Após colocar o computador para hibernar, para que assim o programa continuasse rodando em sua ausência e não perdesse todo o trabalho maçante, levantou da cadeira com um sobressalto e pegou a mochila tiracolo, jogando a mesma sobre o ombro esquerdo. Não aguentaria ficar mais um único minuto dentro daquela delegacia, ansiava em ver pessoas, almoçar fora, quem sabe passar em casa para falar um oi para a tia e a melhor amiga.

— Para onde está indo, oficial Hudson? —Perguntou o detetive inspetor Lestrade quando a viu cruzar seu caminho no momento em que bebia água do filtro no corredor principal.

— Almoçar — Ela moveu os ombros com desdém e fez careta com a pergunta idiota feita por Greg — Tenho uma hora de paz e sossego, pelo menos até onde sei.

— Caramba! — Ele soltou um suspiro longo e conferiu o relógio — Não havia notado que já era hora do almoço. — Sorrindo, ele levou a mão até o bolso das calças, se certificando de que estava com a carteira — Então, onde iremos almoçar?

— Como assim? — Perguntou Dominique confusa e cruzando os braços sobre o peito. Por mais que tivesse compreendido a pergunta, ela precisava ter certeza do que escutou.

— Aonde vamos almoçar? — Disse Greg sorrindo empolgado com a ideia. Desde que soube que Dominique era amiga de Sherlock e também uma peça fundamental para o governo, pelo menos era isso que o delegado estava espalhando depois do encontro dela com Mycroft, o detetive vinha fazendo de tudo para aproximar da nova funcionária.

Sem disfarçar o espanto e surpresa, Dominique piscou os olhos algumas vezes e abriu levemente a boca. Os pensamentos estavam divididos em dispensar Lestrade com uma piada ou simplesmente sair andando. A última coisa que desejava era ter o detetive em seu pé, lhe fazendo perguntas e tentando virar seu melhor amigo. Já possuía Sherlock no cargo de amigo enfadonho que também descobre mistérios, não precisava de outro.

— Você vai pagar? — Domi perguntou arqueando uma das sobrancelhas e olhando desconfiada na intenção de espantá-lo.

—Tudo bem, posso pagar dessa vez — Assentiu Lestrade balançando a cabeça positivamente e colocando as mãos dentro do bolso.

— Ótimo! — Ela entortou os lábios. Por mais que não quisesse a companhia de Lestrade no almoço, abrir mão de refeições gratuitas não faziam o seu estilo. Principalmente sabendo que poderia comer um almoço completo ao invés do lanche de algum fast-food. — Conheço um restaurante ótimo no centro.

Com o dedo indicador, a ruiva gesticulou para que o grisalho a seguisse.

A caminhada até o estacionamento da delegacia foi silenciosa. Entretanto, Greg começou a apertar os pulsos e sentir um gelo desagradável na barriga a cada passo que davam para próximo da vespa azul pastel da Dominique. Infelizmente, ele conhecia a fama da ruiva em relação ao modo de dirigir, principalmente após todas as multas chegarem à delegacia, multas das quais ela conseguiu recorrer por ser policial. A questão era que ela dirigia como se o amanhã não fosse existir e isso o deixava preocupado.

— Está com medo, detetive? — Zombou a ruiva ao notar as expressões esquisitas que surgiram no rosto do Greg. Mesmo que estivesse tentando disfarçar, era visível o seu desconforto com a ideia de sentar na garupa.

— Não — Mentiu o homem tentando parecer confiante. — Nem um pouco.

— Ótimo — Ao terminar de afivelar o próprio capacete, ela estendeu o que havia sobrado para o inspetor. — Não achou que iríamos de carro, certo?

— Até que não seria uma má ideia — Comentou o detetive relutante em colocar o capacete.

— Não mesmo, seria uma péssima ideia — Rebateu a ruiva montando na vespa — As ruas estão movimentadas, só um tolo sairia para almoçar com o carro. Todo o horário do almoço passaríamos dentro do automóvel e não iríamos a lugar nenhum.

— É! Claro! — Ele concordou mesmo sem querer, pois para a sua infelicidade Dominique estava certa. Mesmo relutante ele colocou o capacete e o afivelou o máximo que conseguiu.

— Relaxa o cú que vai ser tranquilo — Disse Dominique divertida antes de dar a partida na moto.

O restaurante escolhido por Dominique era um local simplório e barato, chegando a surpreender Lestrade quando desceram da moto. Por ter oferecido pagar pelo almoço, ele imaginou que Dominique quisesse tirar um pouco de vantagem disso, principalmente quando a ruiva comentou sobre a localização privilegiada do mesmo. Mas não foi o que aconteceu.

Para Dominique, aquele restaurante era o melhor de toda a cidade, nem mesmo o do Angelo conseguia superar. Mas não era por culpa da comida, já havia comido melhores, mas por toda a memória afetiva que tinha em relação ao estabelecimento. Como de costume, ela escolheu a mesa na sacada que dava para a rua, onde conseguia observar toda a movimentação da grande metrópole inglesa.

— Anos morando em Londres e essa é a primeira vez que venho aqui — Comentou Lestrade puxando assunto enquanto analisava o menu em suas mãos.

— Deveria ter vindo antes, é um local ótimo. Meu favorito. Foi o primeiro restaurante de Londres que almocei. — Disse Dominique apoiando ambas as mãos na mesa, não precisava olhar o menu para saber exatamente o que pediria. — O engraçado é que depois que vim morar com a tia Martha, as visitas aqui diminuíram.

— Você vinha sozinha? — Perguntou Lestrade aproveitando a abertura que Domi lhe deu, querendo assim saber mais sobre a jovem.

— Não, vinha com a minha mãe e já vim com o Sherlock várias vezes. Preciso trazer a Beladonna e o John aqui, ainda não tive essa oportunidade — Respondeu a ruiva dando um breve sorriso.

— Soube que entrar para a polícia era o seu sonho, sua mãe deve estar orgulhosa — Falou o homem tentando manter o assunto pessoal entre eles fluindo.

— É, deve estar — Ela moveu os ombros com desdém e curvou o lábio. Por mais que fizesse alguns anos que a mãe tivesse falecido, o assunto ainda era algo delicado que a deixava extremamente desconfortável. — Já decidiu o que vai pedir?

— Ainda não — Greg voltou o seu olhar para o menu assim que percebeu o desconforto da mulher em relação ao assunto, mesmo que quisesse aprofundar para descobrir sobre a mãe de Dominique e o motivo da mudança brusca, ele não o faria, afinal não possuíam intimidade a esse ponto. — O que me sugere?

— Surpresa — Ela retirou o menu das mãos do detetive inspetor e gesticulou para o garçom de maneira educada, o qual não tardou a atendê-los. — Boa tarde, Sr. Warren.

— Boa tarde, senhorita Hudson. Acredito que pedirá o de sempre — Cumprimentou o garçom sorrindo encantador. O homem era um senhor de idade calvo e levemente arqueado, que, aparentemente, estava conduzindo o estabelecimento a alguns anos.

— Sim — Assentiu Domi entregando o menu para o senhor — Para mim e para o meu amigo.

— Sobremesa da casa?

— Com certeza! E alguns palitos de pão extra se puder — Disse Dominique com uma animação que surpreendeu Greg.

— Volto em alguns minutos — Assentiu o Sr. Warren após anotar o pedido no seu bloquinho amarelo e voltando para dentro do restaurante.

Os olhos de Greg estavam fixos na cena que acontecia em sua frente, ele estava surpreso e ao mesmo curioso com aquela nova Dominique que desabrochava. Não conseguia supor que por trás da fachada de ruiva boca suja, existia uma mulher sorridente e carismática.

— O que foi? — Perguntou a mulher fazendo careta e ficando levemente incomodada com os olhares que recebia.

— Você já ajudou Sherlock em outros crimes, estou certo? —Perguntou Lestrade abruptamente. Dessa vez fora ele o responsável por mudar de assunto com uma velocidade impressionante.

—Sim. Sherlock é inteligente, mas não é um hacker — Dominique moveu os ombros com desdém e soltou um riso nasalado.

— Foi por causa dele que quis fazer parte da polícia? — Perguntou Greg ficando mais curioso em relação a ruiva.

— Não. Eu sempre quis ser policial, é um sonho de infância. Ele só me fez desejar ser uma detetive. Mais precisamente uma cyber detetive. — Ela deu um sorriso breve e sem mostrar os dentes. Achou a pergunta interessante, aquela era a primeira vez que respondia algo assim.

— Por que cyber crimes? — Ele franziu o cenho ao perguntar.

— Você sabe o que as pessoas escondem aqui? — Perguntou Dominique retirando o telefone celular do bolso e mostrando para Greg — Planos, ameaça de morte, nudez, pornografia, pedofilia. — Ela devolveu o celular no bolso — Com o avanço da tecnologia, as pessoas não conseguem não dividir as coisas com os coleguinhas, isso inclui os monstros. O celular, a tecnologia no geral, ela absorve a nossa identidade. Sherlock desvenda as pessoas por seus jeitos e trejeitos, eu descubro através de códigos binários e postagens nas redes sociais.

— Mas por que o campo? Soube que você conseguiria manter um ótimo cargo no governo — Disse Lestrade recordando de tudo o que o delegado havia falado sobre Mycroft desejar trabalhar com Dominique quando bem entender.

— Por causa do caso Johnson — Explicou Dominique desviando o olhar. Se existe alguma memória que Dominique deseja esquecer, essa memória está ligada com o caso. Porém esse caso também foi o responsável por torná-la quem é.

— Isaac Johnson? — Lestrade recordava do caso, foi um dos seus primeiros grandes casos na delegacia. Mas não sabia que Dominique havia participado de modo indireto da coisa toda.

— É. O feminicída. — Assentiu a ruiva fazendo careta e voltando a encarar o policial. — Foi o meu primeiro trabalho com o Sherlock, tinha dezesseis anos. Fui responsável por abrir a pasta com os "troféus".

— Você viu as fotos — A boca do Greg abriu em um perfeito O. Dominique era mesmo mais forte do que demonstrava, ele mesmo possuía pesadelo com aquele caso até os dias de hoje.

— E os vídeos — Ela murmurou quase em um sussurro inaudível. — Eu vi tudo, mesmo Sherlock dizendo para não olhar.

— Uau! — Greg soltou um assovio fraco. Por mais que tivesse sido responsável pelo caso na época, ele não chegou a conseguir assistir os vídeos inteiros. As fotos por si só já eram aterrorizantes.

— Vê esse tipo de coisa muda a gente — Explicou Dominique nervosa — Ou você desiste ou transforma isso em seu foco principal. Tentar ajudar as pessoas. Por isso gosto de ajudar o Sherlock, gosto de saber que estou fazendo a diferença, que não estou escondida atrás de um computador, mas atuando de fato.

— Aqui está, os pedidos — O garçom voltou para a mesa antes que Lestrade pudesse dizer alguma coisa para Dominique. Todas aquelas palavras da jovem mulher o pegaram despreparados, não esperada pelo discurso feito por ela e nem por ter presenciado algo tão horrível. — Espero que apreciem. Quando terminarem trarei o summer pudding.

— Carne assada? — Disse Lestrade olhando para a comida em sua frente.

— A melhor da região — Respondeu Dominique com a boca cheia. Decidido a não regressar em tocar no assunto delicado, Lestrade sorriu sem mostrar os dentes e começou a apreciar sua refeição com a nova recruta. O delegado possuía razão sobre Dominique, ela era mesmo especial.

 


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