Elementar escrita por Pandora


Capítulo 9
Capítulo 9 ― The Blind Banker


Notas iniciais do capítulo

Viva estou! Viva estou! Após um longo Hiatus de quase um ano, regresso para esse site com essa história show de bola escrita pro moi. Espero que gostem desse capítulo, o próximo vai sair em breve e não é pegadinha do malandro. Boa leitura a todos ♥



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O coração da jovem Dominique Hudson aparentava ser capaz de escapar da sua caixa torácica, saltando para fora abruptamente. O clima de mistério que pairava no ar e a mudança do comportamento dos colegas de serviço só fizeram com que sua ansiedade aumentasse com cada passo que dava em direção a sala apontada. Os pensamentos estavam correndo a milhão em sua mente, criando teorias mirabolantes sobre qualquer que fosse o assunto, chegando a ficar preocupada com eventos do passado que poderiam ter vindo à tona no pior momento. Atrás daquela porta poderia estar à ruína dos seus sonhos infantis de se tornar uma grande detetive um dia. 

― Seja o que Odin quiser ― Murmurou a ruiva puxando o ar pelo nariz e soltando um longo suspiro antes de estender a mão até a fechadura. 

Lentamente abaixou a maçaneta de metal até escutar o tão conhecido “clique”. Sem mais delongas, empurrou a porta com gentileza e adentrou no recinto. Tentava soar menos grosseira e mais sutil do que estava acostumada, não queria que o chefe percebesse todos os seus maus trejeitos logo no seu segundo “primeiro dia” de serviço. Aquele era um recomeço, precisava fazer bonito e dar boas impressões, diferente do que havia acontecido anteriormente. Mesmo que aquilo tivesse feito com que fosse promovida mais rápido. 

― Finalmente, senhorita Hudson ― Cumprimentou o chefe sorrindo simpático. Ele era um homem gordo, levemente calvo, utilizava óculos meia lua e a camisa era de um número menor que seu tamanho, o erro estava visível em seus botões, que pareciam lutar para permanecerem unidos e fechados. 

― Boa tarde, senhor...  ― A frase começou de modo polido e quase que no mesmo instante em que fechava a porta. Porém toda a polidez e simpatia que carregava no sorriso, desapareceram quando a figura de Mycroft foi revelada. Ele estava sentado confortavelmente em frente ao chefe e virou a cadeira de modo teatral no mesmo instante que Dominique ingressou no recinto. ― Ah, não! Você. 

― Sim, eu ― Assentiu Mycroft soberbo enquanto levantava para recebe-la. Dominique não escondia o desgosto que era tê-lo no mesmo ambiente. 

― O Senhor Holmes contou coisas ótimas ao seu respeito ― Elogiou o delegado sorrindo orgulhoso, como se a ruiva fosse um achado de outro mundo. ― Em pensar que quase foi designada para aplicar multas o resto da vida. 

― Ah, é? Interessante... ― Comentou Dominique cruzando os braços sobre o peito, mantinha o olhar desconfiado na direção do Mycroft, o encarando com os olhos semicerrados. Enquanto o homem apenas dava seu costumeiro sorriso pomposo. ― Tipo o que, por exemplo? 

― Da ajuda que tem dado ao governo desde muito tempo. Disse a ele que será um prazer cede-la sempre que nossa querida Inglaterra precisar. ― Falou o delegado orgulhoso. Dominique revirou os olhos, enojada. ― A senhorita não parece muito contente. 

― Quero meu cargo de guarda de trânsito de volta ― Disse Dominique com descaso, apertando ainda mais os braços cruzados sobre o peito. A princípio pensava que sua promoção tinha dedo do Holmes mais novo, a parte da interferência de um Holmes era real, porém esses dedos eram do Holmes mais velho. 

― Não seja estúpida, senhorita Hudson ― Falou Mycroft batucando os dedos sobre o pegador do guarda-chuva ― A senhorita é mais útil aqui, dentro da sua área de conhecimento. Não era esse seu grande sonho? 

― Holmes. Podemos conversar em particular? Lá fora! Agora? ― O convite era retórico, tentou ponderar as palavras entre algo bruto e sutil ao mesmo tempo, não queria ofender Mycroft na frente do chefe que acabara de conhecer. Ela apontou com o polegar a saída e sorriu forçado. 

― Claro! ― Assentiu Mycroft levantando da cadeira confortável e enganchando o guarda-chuva preto no antebraço. Naquele momento, a única coisa que Dominique ansiava era enfiar aquele objeto pontiagudo em lugares do Holmes que o sol não bate. ― Com sua licença. 

― Regressarei em instantes, chefe ― Dominique sorriu forçado para o delegado e deixou o recinto, sendo a primeira a sair. 

Silenciosamente e com o sangue fervendo em fúria, a ruiva guiou Mycroft até o primeiro escritório vazio que encontrou. Ela ignorou completamente o nome marcado sobre a placa de metal na porta, estando mais determinada em finalizar o assunto com o outro do que saber de quem era aquela sala. Assim que o homem ingressou, ela fechou a porta antes que Andrea fizesse companhia a eles, batendo a mesma quase que na cara da secretária pessoal do Mycroft, propositalmente. 

― Que porra pensa que está fazendo? ― Perguntou de uma única vez enquanto apoiava as costas na mesa de madeira. Os braços permaneciam cruzados sobre o peito e seus olhos exalavam ainda mais fúria do que antes. Sentia que a qualquer momento era capaz de pular sobre o pescoço do Mycroft. 

― O que você acha? É um favor em troca de outro favor. ― Respondeu Mycroft mantendo a habitual postura calma e serena, o que irritava Dominique ainda mais. 

― Troca de favores? Você está louco, querido? ― Ela sorriu irônica e gesticulou nervosa. 

― Essa é a única maneira de fazer com que trabalhe para mim, não poderá recusar nenhuma oferta que passarei daqui em diante. ― Mycroft aproximou da mulher de modo ameaçador, mesmo com a ponta dos seus narizes quase se tocando, Dominique não moveu um único músculo.  

― Ah, eu posso. Tanto posso, como vou. ― Ela descruzou os braços e deu um passo para frente, mantendo a expressão emburrada. 

― Ótimo! Negue o caso e trago toda sua ficha criminal para a delegacia ― Mycroft abriu um sorriso sarcástico, mostrando por uma fração de segundos os dentes perfeitos e brancos. 

― Minha ficha criminal? Me poupe, meu único crime é amar demais. ― Zombou Dominique voltando a cruzar os braços na frente do corpo. No fundo ela tinha conhecimento sobre o que tratava. 

― Tenho uma lista extensa de cyber crimes a envolvendo, senhorita Hudson. Crimes que ficaram de fora da sua ficha criminal graças a um acordo que, aparentemente, a senhorita esquece com grande frequência. ― Disse Mycroft olhando firme no fundo dos olhos verdes cintilantes de Dominique ― Invasões aos sites do governo, fraudes com o sistema de nota do colégio, roubo de informações... Quer que eu prossiga? 

― Argh! Você venceu essa batalha. ― Reclamou Dominique gesticulando para que ele diminuísse o tom de voz ao citar alguns dos seus cybers crimes. Ela sabia que uma hora ou outra ele utilizaria seus segredos contra si. Com um sorriso vitorioso sobre a face, Mycroft afastou da jovem mulher. ― Sabe que eu te odeio, não sabe? É sério! Te odeio para caralho. Merda! 

― Eu sei. Você nunca escondeu ― Mycroft deu com os ombros e deixou o recinto. 

Dentre todas as coisas que Beladonna se imaginou fazendo com John Watson, compras no supermercado estavam fora dessa extensa lista. Tinha plena consciência de que aquilo não era um encontro romântico ou algo parecido. Mas desde os últimos eventos que enfrentaram juntos, as trocas de olhares e a citação sobre um possível encontro, faziam com que a mente romântica da jovem escritora trabalhasse com uma velocidade inacreditável em teorias, criando expectativas a cada esbarrão que dava em John no corredor ou quando ficavam sozinhos. 

Ela soltou um suspiro pesado e discreto enquanto o observava passar as comprar no caixa automático. Dessa vez ele aparentava estar mais calmo do que a primeira vez que deixou o supermercado, todos os pacotes passaram sem dificuldades e uma guerra entre homem versus robô foi evitada. Beladonna estava conformada, talvez tivesse interpretado errado os sinais de John, a única coisa que sairia daquele relacionamento era uma bela e pura amizade. Afinal, eles não exalavam tanta tensão sexual como Sherlock e Dominique, caso contrário a melhor amiga teria feito alguma piada relacionada ao assunto ou, até mesmo, o detetive consultor comentaria algo quando reclamou sobre o romance “desnecessário” que ela colocou nos rascunhos do primeiro exemplar. 

― Algum problema, Bells? ― Perguntou John colocando as compras nas sacolas plásticas. 

― Infelizmente, não vi uma briga entre homem e máquina que prometeram ― Zombou Beladonna o ajudando a pegar algumas das pesadas sacolas. 

― Quem sabe em outra oportunidade ― Rebateu John tentando pegar as sacolas das mãos da mulher, mas Bela foi mais rápida que ele. ― Posso levar sozinho. 

― Não se preocupe, é uma longa caminhada até em casa e não vejo problemas em ajuda-lo ― Disse a jovem dando com os ombros. 

Saíram do Supermercado em silêncio e assim permaneceram por alguns minutos de caminhada. Vez ou outra Beladonna virava para admirar John Watson, o qual aparentava ter a mesma ideia com frequência, pois todas as vezes que virava em sua direção, ele também a encarava. Sorriam feito bobos quando seus olhares se encontravam e voltavam a admirar as ruas Londrinas. 

O médico achava surpreendente que, mesmo em silêncio, Beladonna era uma grande companhia para ter ao seu lado. Fosse num momento de tensão, como no caso do taxista, fosse para fazer as coisas do cotidiano. O silêncio não era algo incomodo entre eles e não tornava algo desagradável. Porém, após três minutos de completo silêncio e troca de olhares, John decidiu puxar assunto.  

― Você está bem? 

― Estou ― A pergunta pegou Beladonna de surpresa, de todas as perguntas possíveis que John poderia fazer, essa era a última que ela esperava. Principalmente depois te terem conversado nos dias anteriores, quando deixou o seu retiro literário. ― Por que não estaria? 

― É que não conversamos sobre... Você sabe... O incidente com o taxista ― Sussurrou John de modo quase inaudível. Acreditava que para alguém que nunca havia visto uma pessoa morta na frente, ser cumplice de um assassinato poderia ser muito para processar. 

― Não se preocupe com isso ― Respondeu Beladonna após suspirar. Já havia conversado com Dominique sobre o evento, provando ser mais forte do que qualquer outra pessoa poderia imaginar. ― Você fez o que tinha de fazer, foi necessário. 

― Não quero que pense errado sobre mim, não saiu... Você sabe... 

― Eu sei ― Assentiu Bela antes que John terminasse a frase, compreendendo exatamente o que ele queria dizer. ― John, você é um herói. Isso que importa. Além do mais, depois daquela noite, duvido que vá me surpreender muito. 

― Compreendo. Um sociopata funcional desvendando a vida de todos através da mancha de ketchup na camiseta não conta ― Zombou John soltando um riso nasalado. 

― Bem... Talvez Sherlock me surpreenda ― Disse Beladonna sonhadora ― O homem é um gênio. Ele consegue saber sobre a vida de todos a sua volta, mas ninguém consegue penetrar a fortaleza que ele é. 

― É, Sherlock é impenetrável. Talvez o veja como a personificação do seu Mr. Darcy ―Comentou John tentando esconder a pitada de ciúmes no tom de voz, pegando Beladona despreparada para tal comentário. 

― O que? Não ― As expressões confusas não tardaram a dar espaço para uma gostosa gargalhada. ― Não sei o que a Domi comentou, mas não. Meu interesse por Sherlock é completamente profissional. 

― Mas o Sherlock, ele disse que você... 

― John, escuta! ― Bela parou a caminhada, segurando no antebraço de John e o obrigando a parar virado de frente para ela ― Não quero saber o que Sherlock disse, mas não é porque ele consegue descobrir sobre qualquer fato pessoal que ele, REALMENTE, sabe tudo sobre as pessoas a sua volta. Ele disse que faz o tipo da Dominique. A menos que seja para um homicídio, isso não é verdade. 

O comentário de Bela fez com que John respirasse mais aliviado e soltasse uma risada fraca com a última parte. No fundo estava grato em saber que Sherlock havia errado sobre alguma coisa, pois significava que tinha uma chance com Beladonna, mesmo sendo mínima. 

A jovem professora sorriu discretamente quando notou que John havia recuperado o bom humor e que, no fundo, não estava tão errada em imaginar que daquela reação poderia sair algo além da amizade. Acreditava firme que talvez o médico ainda não tivesse feito qualquer convite para encontro por causa dessa dúvida, por desconfiar de que Beladonna pudesse estar interessada em Sherlock Holmes ao invés do seu companheiro. Mal sabendo que, às vezes, Bela prefere o Sancho Pança ao invés do Dom Quixote. 

Finalmente chegaram ao número 221B da rua Baker. De todo, para ambos, o passeio não havia sido um completo desastre. Tanto John quanto a Bela descobriram que possuíam chance um com o outro.  

― Aqui estão suas compras ― Disse a mulher devolvendo as sacolas pesadas para John. ― Me deve uma luta robótica. 

― Quem sabe na próxima oportunidade ― Brincou o médico pegando as sacolas com cuidado. 

― Irei cobrar ― Após esvaziar as mãos, Beladonna depositou um beijo carinhoso sobre a bochecha do John, pegando propositalmente no canto de sua boca ― Não pensem em sair para campo sem mim. 

― Pode deixar ―  Meneou John assentindo com a cabeça. Com um sorriso bobo nos lábios, ele assistiu Beladonna ingressar no apartamento que dividia com a senhora Hudson e a melhor amiga.  


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Notas finais do capítulo

Obrigada por estarem acompanhando a história, perdoem os vacilos dos atrasos e, por favor, não desistam de mim. Eu sou boazinha. Espero que tenham gostado. Me sigam nas redes sociais:
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