Z de Morte escrita por Mallock
Notas iniciais do capítulo
"Eles surgiram e o tempo está acabando..."
Estava tudo escuro... Mas havia uma luz... Surgindo... E uma sensação de paz...
— Demian. Demian! — Uma voz no fundo gritava. — Demian! — Ela persistiu.
Era voz de uma mulher. Era uma deusa vindo junto com a luz. Como se eu estivesse no céu.
****
Três minutos. Exatamente três minutos foi o tempo que fiquei desacordado. Uma mulher de cabelos crespos e pretos, me deu alguns tapinhas no rosto para que eu despertasse.
— Onde estou? — perguntei, abrindo os olhos e voltando do mundo dos mortos.
Ela sorriu e olhou para o sujeito ao lado. Não deu para ver exatamente o rosto, mas dava para notar que era conhecido. Sim, era o mesmo homem que vi ao acordar naquela cama.
— Ele parece bem. — ela disse, olhando para o sujeito.
Olhei para o lado e levei um susto ao ver a mesma criatura de antes. Saltei num pulo para trás.
— Ei, ei. Acalme-se! — pediu o homem de pele negra. — Nós a matamos e salvamos você. — Prosseguiu.
— O que esse bicho está fazendo aqui? Onde diabos eu estou? — no momento, a única coisa que minha vinha a cabeça era descobrir o que estava acontecendo. Isso tudo era surreal demais.
Os dois se olharam por alguns instantes.
— Era para o Dênis cuidar disso. Mas o filho da mãe sumiu. — foi a mulher quem respondeu.
— Como assim, "sumiu"? — indaguei, me levantando do chão.
— Ele que fica por aqui cuidando do local. Era pra ele não deixar essas coisas andando por aí. — ela colocou uma das mãos na cabeça e parecia pensativa.
— Espera, você está dizendo que existe mais dessas coisas por aí? — perguntei, me aproximando dela. — Você só pode estar de brincadeira com a minha cara. — serrei os punhos sem nem pensar no que eu poderia fazer. Meu pescoço ainda doía. Provavelmente está roxo.
— Tem sim. — ela respondeu calmamente. — Eles aparecem de vez em quando. Não sabemos de onde vem. — ela olhou para o outro sujeito como se pedisse ajuda mentalmente para explicar a situação.
— Vocês já pensaram na hipótese de ter um ninho deles por aqui? — indaguei, deixando-os pensativos.
— Um ninho? — indagou o homem. — Ele pode ter razão. — ele olhou para a criatura com uma de suas mãos no queixo.
Mas é óbvio que tenho razão. Pensei comigo mesmo. Essas pessoas não podem ser tão burras assim. Deve haver algo errado por aqui. Onde está todo mundo?
— Vamos procurar pelo Dênis. Ele deve saber de algo. — disse ela, virando para seguir o caminho.
O homem me olhou e virou na mesma direção que ela.
— Vamos? — perguntou antes de sair andando.
— Preciso encontrar uma amiga. — respondi. — Quero saber se ela está bem.
— Sua amiga está bem. Eu te levo até ela quando encontrarmos Dênis. — ele deu um tapinha no meu ombro e lembrei instantaneamente do Loiro, o que me deixou bastante intimidado e com os dois pés atrás sobre esse sujeito.
Assenti a cabeça concordando com ele. Esse tal Dênis não deve estar muito longe. Eu os ajudo a encontrá-lo e depois ele me diz onde está a garota e eu saio desse lugar com ela. Eu fiz uma promessa e nunca descumpri uma em minha vida. Não vai ser agora que vou quebrar o prometido.
****
Passei por várias portas sem encontrar algum vestígio de onde ele poderia estar. Porém, após longos minutos, nós três sentimos o mesmo cheiro de podridão, como se tivesse um esgoto por perto. O cheiro vinha de uma porta marrom que estava semiaberta. Havia sangue ainda fresco derramado ali.
A mulher colocou uma das mãos na boca e começou a chorar. O sujeito a abraçou e olhou para mim, como se pedisse para que eu abrisse a porta.
Entendi o recado e foi o que fiz.
Lá dentro havia um corpo — ou o que restou dele — e a lâmpada acesa e piscando. Olhei para os cantos sem ver nada. O morto tinha uma arma em mãos. Era uma pistola calibre 22. Finalmente tenho utilidade pra essa caixa de balas em meu bolso.
Pra não perder a viagem, verifiquei os bolsos da calça que o morto vestia. Achei mais balas soltas, uma carteira de cigarro com apenas 7 restantes e um isqueiro. Olhei para o teto e fiquei apavorado com o que eu vi.
Havia um buraco enorme que dava a visão dos andares superiores e a certeza que havia mais bichos famintos por aqui.
Saí da pequena sala, que nada mais era que um almoxarifado, e fui em direção aos dois que me aguardavam. Mostrei o cigarro e a mulher pegou da minha mão.
Ela colocou um cigarro na boca e as mãos nos bolsos a procura de um isqueiro. Estava trêmula e transpirava medo a quilômetros de distância. O sujeito não dizia nada. Mas não escondia a gota de suor em sua testa.
Peguei o isqueiro do bolso e acendi o cigarro pra ela. E ela se deixou cair sentada ao chão, escorada na parede.
— Ele era um bom homem. — dizia, com a voz trêmula assim como as mãos. — Sempre cuidou de todos nós. — Mais lágrimas caíram do seu rosto.
— Calma, vai ficar tudo bem. — disse o sujeito, tentando acalma-la.
— Não, não vai ficar tudo bem. — eu disse, já com pouca paciência para aquilo. — Essas coisas estão lá em cima e isso me leva a crer que tem algo que os interessa muito lá. E isso me faz perguntar. O que tem lá em cima? — perguntei, firmemente.
Ela olhou para o homem ao seu lado e ficou alguns segundos em silêncio.
— Todo nosso grupo costuma ficar lá e estão todos lá agora. — ela respondeu. —Inclusive, sua amiga. — e ao dizer isso, baixou a cabeça.
— Que Merda! — exclamei. — Vamos para lá agora! — Verifiquei a arma e lembrei de ter atirado algumas vezes com meu tio na época em que vivi na fazenda dele. Não deve ser tão difícil. Só preciso me lembrar como usar isso.
— Espere. — ela se levantou fazendo um esforço além do normal. — pra subir lá em cima, você precisa de um cartão que somente a Luiza tem. — ela me olhava como se não desse a mínima para as pessoas lá de cima. Algo que me fez ficar levemente alterado, mas me contive.
— E onde encontramos essa Luiza e o tal cartão? — perguntei, impaciente.
— Só quem sabia da Luiza era o Dênis, e agora com ele morto, teremos que nos virar. — ela respondeu.
— Ok, eu vou por aqui. E vocês se virem na outra direção. — falei, apontando para onde eles deveriam ir. — Nos encontramos aqui em 20 minutos. Nada mais. Nada menos. — me virei e segui andando sem olhar para trás.
Algo me dizia que eu não faria muitas amizades pelo caminho. Esse lugar é enorme. Fácil de se perder. Espero encontrar a tal Luiza viva e com o cartão em mãos.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Tic Tac Tic Tac... Os ponteiros seguem girando...