Electus escrita por Khaleesi


Capítulo 5
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Vim BEM mais cedo que o normal, mas é culpa da inspiração, haha.
Espero que curtam o capítulo!



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Capítulo 4

 

O salão explodiu em confusão. Os conselheiros falavam uns por cima dos outros, agitados. Quanto a mim só conseguia encarar a caixa, fechada, absorvendo o conteúdo dela e da carta escrita que ela carregava.

Dois dias.

Era o prazo que me fora concedido para reorganizar a bagunça do meu espírito enquanto devia me dirigir até o Templo Solar, onde quer que ele estivesse. Era óbvio que eu me renderia. Só de pensar na dor que Yhkar sofreu ao perder a mão me dava arrepios. Imaginá-la sendo esquartejada pouco a pouco por pura teimosia minha era repugnante.

Naust, o cara de pele de estrelas, bateu um cajado de madeira negra no chão e silenciou a balbúrdia. Senti o peso do olhar de Huang Hua em mim instantaneamente. Os demais pareciam me evitar, não querendo colocar pressão. Como se eu tivesse alguma escolha. Aquele bastardo sabia como jogar.

— Eu vou me entregar – comuniquei, sabendo que precisava expor isso voz alta.

— Não seja precipitada, garota – Mab replicou quase que instantaneamente, sem titubear.

Olhei com raiva para a velha, sem me incomodar que fosse uma conselheira e poderosa assim como os demais seres do local. Ao inferno com suas estratégias, eu não abandonaria meus amigos.

— Não acho que a carta tenha se dirigido a você, Senhora Mab, foi a mim e me cabe o direito de escolher o que vou fazer com a minha vida. Então, eu vou me entregar. E se não gosta, sinta-se à vontade para espernear.

A tensão no salão ficou palpável. Era possível notar que ninguém ousou enfrentar Mab ou sequer mandá-la para o inferno. E era exatamente o que eu estava fazendo naquele momento. Minha vida já ia virar uma grande porcaria mesmo, o que era irritar uma velha prepotente?

Estava me preparando para um ataque mágico ou um sermão de dobrar os joelhos, mas ela não fez nada disso. Ela sorriu. Mab sorriu para mim diante minha fala. Isso, com certeza, era mais desestabilizador do que qualquer coisa que tivesse imaginado.

— Esse é o espírito que precisamos que se ascenda. Que você queime de ódio e direcione isso para fora, garota – ela respondeu, calma.

Foi então que entendi que sua represália foi um ataque direto ao meu temperamento e um teste se eu aceitaria tudo de cabeça baixa. Ela queria ver se eu bateria de frente com quem quer que fosse, seja ela ou Leiftan.

Assim, passamos duas horas planejando todas as situações possíveis do que poderia ocorrer naquele encontro no Templo. Segundo os conselheiros, o local ficava a um dia e meio do forte. O que significava que eu precisava sair dali em menos de uma hora se quisesse chegar um pouco adiantada e não correr riscos de Yhkar sofrer nas mãos daquele sádico.

Após receber diversos avisos e aconselhamentos, corri para o quarto que estive usando e comecei a procurar uma bolsa grande o suficiente para algumas mudas de roupas e mantimentos. Não me preocupei em levar armas ou algo que pudesse me comunicar com os rebeldes, pois o conteúdo seria revistado e jogariam fora tais itens.

Estava enrolando de modo eficaz as camisetas quando ouvi a porta abrir. Olhando de canto de olho notei Huang Hua encostada no umbral. Sua expressão demonstrava uma briga interna, portanto dei-lhe tempo para resolver seus assuntos, finalizando a bolsa.

— O cavalo já está selado e pronto para a viagem – ela finalmente falou, entrando no quarto e me estendendo um mapa – ele está encantado – disse se referindo ao pergaminho – e vai lhe mostrar em que parte está e os caminhos para seu destino. Além de um pequeno contador de tempo para se organizar no prazo.

Desdobrei o papel e analisei o conteúdo, notando o que havia sido dito. O mapa mostrava os arredores das montanhas onde o forte estava – sem localizá-lo diretamente, mesmo que Leiftan tenha nos encontrado ao enviar a caixa – e o conjunto de vilas até o Templo Solar. Era reduzido ao propósito da viagem para que eu não tomasse caminhos errados.

— Ideia da Mab? - pedi, guardando-o no bolso interno do casaco que vestia.

Havia trocado a vestimenta em meio a correria de montar a bolsa. A calça azul escura era confortável e macia, forte o suficiente para viagem, quente para a noite e permitia vários movimentos. A blusa no estilo oriental de manga longa, levemente comprida, de cor cinza para não chamar atenção. Por cima, para conter a blusa no tronco, coloquei uma cinta larga com várias repartições e pequenos bolsos para carregar comida, água e o que quisesse. As botas eram de montaria, pretas, comuns. E por fim, um casaco longo, preto, forrado para a noite, pois não estava planejando pousar esta noite.

— Minha. Já que não quer companhia até a última vila – ela respondeu.

Preferia não arriscar a vida de Yhkar levando companhia, mesmo que fosse somente até a última vila antes do Templo. Leiftan era imprevisível e poderia achar tal atitude uma afronta a sua especificação.

Respirei fundo antes de lhe dar um abraço contido, tentando transmitir naquele curto gesto toda a gratidão por ter me ajudado a escapar daquela cerimônia, de ter me ajudado no que podia e respeitar meu espaço.

— Vou arrumar um modo de nos comunicarmos. Vou fazer essa situação ser proveitosa para todos nós – comentei. Então, peguei a bolsa e a arrumei nos ombros – deseje-me sorte para o inferno que me aguarda – conclui, arrancando-lhe um riso.

 

(…)

 

 

Sentia todos os músculos do meu corpo protestarem devido à atividade não costumeira, mas continuei colocando um pé após o outro em direção aquela colina. Sem pausar, puxei o mapa encantando do bolso da cinta e verifiquei o quão próxima estava no Templo Solar. De acordo com ele, meu destino estava após a colina. Assim, segui caminhando.

Havia saído do forte a um dia e meio, exatamente o tempo que era estipulado para que chegasse ao local da rendição. Cavalguei o restante do dia e noite ao anúncio da caixa e mais o dia anterior, fazendo poucas pausas durante o percurso. Com exceção da parada forçada ao meio desta noite, quando estava praticamente escorregando do cavalo devido ao cansaço.

Segundo meus cálculos e com a confirmação do medidor do mapa, tinha meio dia de sobra do prazo.

Havia deixado o cavalo na última vila antes do Templo, conforme instruído pelos conselheiros e segui a pé o restante do caminho, acompanhada pelo nascer do sol. Mesmo com a situação atual, ainda me permiti poucos segundos de apreciação antes de retomar a caminhada. Leiftan não poderia se queixar de que não havia cumprido com seus termos, nenhuma companhia estava remotamente próxima de mim.

Exceto meu mau humor.

Havia tirado o casaco a uma hora devido ao calor que sentia e o guardado na bolsa que carregava no ombro esquerdo. As mangas da blusa estavam arregaçadas e o colarinho aberto mais que o normal. Fiz um rabo de cavalo precário com uma correia de couro da cinta, pois na pressa havia esquecido de trazer itens como este.

Sentia-me um pouco como as heroínas dos filmes que assisti. Esperava manter essa ideia em mente quando o encontrasse.

— Só mais um pouco – sussurrei a mim mesma, fazendo força na elevação final da colina.

Eu odeio caminhadas.

Mas, assim que alcancei o topo, meu mau humor diminuiu. A meio caminho da descida se encontrava o Templo, inconfundível. As três paredes eram cor de ouro, reluzindo a luz do dia. A entrada era adornada por pilares no estilo grego do meu mundo, mas brilhavam como se fossem pequenos sóis. A curta escadaria que dava para o interior do local formavam um desenho de uma chama. E na ponta da chama uma figura esperava sentada.

Gemendo, tanto pelo processo da descida quanto por quem me esperava, dei os primeiros passos. Para me distrair, repassei meu plano precariamente desenvolvido durante o percurso. Leiftan provavelmente possuía arquivos tão antigos quanto os da biblioteca dos Fenghuang, então os encontraria e começaria por quem sou e quem diabos era Olim Coração Valente.

Mesmo com toda essa confusão e ameaças, não havia esquecido do modo como Huang Hua tinha ficado enérgica a menção daquele nome. Algo dentro de mim rugia para que fuçasse naquilo, como se fosse algo muito importante. Como minha avó sempre me dizia “confie em seus instintos”, era ali que começaria.

E quando tiver as respostas para essas duas perguntas, elaborarei um plano para derrubar aquele traidor e resgatar os quatro jogados em meu mundo. Mab provavelmente seria contra a ordem das minhas prioridades, mas eu seguiria conforme meus instintos mandavam.

O tempo pareceu se estender dolorosamente na descida. Meus joelhos tremiam levemente e meu coração disparava. Sim, eu tinha medo do que me esperava. Já havia pensado em várias hipóteses, desde um casamento inesperado e consagrado neste tempo ou um castigo tão cruel quanto ao que Yhkar sofrera. Tentei me acalmar e transpassar isso ao meu rosto, não querendo lhe dar o gosto da minha agitação.

Para minha alegria, consegui controlar-me a tempo e pausar aos pés da escada com uma expressão neutra. Lentamente, ergui o rosto para a figura na entrada no Templo. Leiftan trajava um conjunto negro com adornos verdes, composto por calças e peitoral reforçados para luta corporal e um longo casaco digno de um soberano.

Havia uma leve malícia em seu olhar ao me analisar de cima a baixo.

— Como vai, pequena fugitiva?

Cruzei os braços na altura do peito.

— Estou aqui – limitei-me a responder.

Ele fez um gesto de descaso com a mão direita, sem se mexer do lugar.

— Bem, eu vejo. Mas, confesso que esperava mais de sua lealdade aos seus amigos, aqueles que tanto lhe ajudaram a fugir de mim – comentou, erguendo uma sobrancelha – Yhkar ficou tão decepcionada com seu atraso.

Meu estômago virou um bloco de gelo diante a insinuação dele. Tratava-me como uma atrasada.

— Não faço ideia do que está dizendo, afinal estou meio dia adiantada do seu prazo – respondi, ríspida, retirando o mapa da cinta e abrindo para o contador.

Leiftan, no entanto, parecia contemplar algo invisível atrás de mim e não ao mapa em minhas mãos. Segurei a necessidade de olhar para trás e foquei nele. Mais rápido do que poderia ter previsto, ele apareceu ao meu lado e fechou uma mão em meu antebraço com força, arrancando um silvo surpreso de mim.

Estava pronta para perguntar o que estava acontecendo, quando senti uma pressão em minhas costas e em seguida uma rajada de vento onde o traidor estava concentrado. Não conseguindo me conter, virei-me e me deparei com inesperadas visitas.

Mab e Huang Hua.

— Que coisinha horrível você é, Olimpya. Não consegue seguir ordens?

— O quê?! - exclamei em choque.

Desviando o olhar de mim ele focou nas duas paradas a vários metros do Templo. Huang Hua estendia a mão como se estivesse impedida de se aproximar, intrigada.

— Mesmo esperando que você seguisse as instruções, tomei algumas precauções caso não fizesse – falou, apontando para as duas – ninguém, exceto você e eu, poderá passar por essa proteção que engloba todo o Templo. Acho que precisará pagar pela sua indulgência, querida.

Olhei, muda para as duas. Como estavam ali? Verifiquei várias vezes a minha guarda em busca de soldados escondidos ou qualquer coisa do tipo e não havia notado nada. Certamente minhas habilidades para procura eram tão precárias que devo ter deixado passar alguns detalhes. Leiftan desviou o olhar de Mab para mim, pesando minha confusão. Deixei que tudo transparecesse em meu rosto fazendo-o erguer as duas sobrancelhas, entendendo-me.

— Ela não tem culpa alguma! - a voz de Huang Hua soou, esmurrando a parede de ar que nos separava – Viemos sem que Olimpya soubesse. E a respeito do atraso, recebemos a caixa a um dia meio atrás.

Meu coração parecia que sairia de mim dada a força com que batia. Eu estava brava que elas tivessem me seguido, mas estava grata por ela me defender. Minha mente girava em confusão, tentando entender o que diabos estava acontecendo. Leiftan me acusava de atraso e de repente aquelas duas chegam, causando mais alvoroço.

— Um dia e meio? - ele perguntou sem se alterar. Em seguida dirigiu-se para Mab – Corrija-me se estiver errado, Mab. Meu presente não foi entregue na manhã do dia 12, a exatos 3 dias atrás? - A pergunta fez meu sangue gelar.

Fiz as contas rapidamente, silenciosamente. Se o que ele dizia era verdade, o prazo se encerrava na manhã do dia 14. Ontem. Um dia inteiro de atraso.

Por favor, não.

A expressão de Mab era de alguém que comeu algo extremamente azedo. Instintivamente olhei para as suas mãos, ainda cobertas pelas luvas. Ela carregava marcas de queimadura, como se tivesse testado a caixa por um bom tempo e então realizado um processo de cura dos machucados. Ela não poderia ter feito tudo isso nas poucas horas que dizia ter recebido o presente. E a carta já estava aberta quando Huang Hua e eu entramos no salão.

— Precisava ter certeza de que não era algum truque que atrairia inimigos a nossa base – a velha respondeu para Huang Hua, ignorando a mim e Leiftan.

Raiva borbulhou em mim.

— Não pensou em avisar após lermos as condições? - retruquei, ríspida.

Um dia de atraso. Ele a mataria após um dia.

Mab virou-se para mim, altiva.

— Isso é o começo de uma guerra, criança. Pessoas morrem. Sua amiga foi apenas uma das muitas que morrerão se esse tirano continuar no poder.

Naquela frase, dita com tanto descaso, entendi que ela não se importava com quem caísse ao seu redor para que atingisse seu objetivo. Yhkar não significava nada para ela, nem mesmo eu deveria. Ela intencionalmente me deixou no escuro sobre o perigo que minha amiga sofria e não sentia o mínimo remorso.

— Olimpya… - Huang Hua começou a falar, mas o olhar sofrido que lhe dirigi a calou.

Apenas se eu não tivesse fugido, Yhkar não estaria morta. Se não tivesse me juntado ao seu desesperado grupo rebelde, ela ainda respiraria, riria, viveria. Meu coração dolorido não queria pensar em mais nada além do luto.

— Pelo menos eu sou sincero quanto ao que quero e o que faço – Leiftan respondeu para Mab.

— É um monstro! - Huang Hua retorquiu, brilhando em irritação – Abandonou nossos melhores em um mundo desconhecido e desmemoriados! E agora assassinou uma inocente! Sinceridade de nada vale em meio ao que você fez!

Leiftan ficou com uma expressão engraçada, como se visse uma piada que apenas ele entendia.

— Bem, pelo menos eu fui menos cruel com Miiko e os demais se comparado ao que pretendiam fazer com Olimpya. E sobre Yhkar, estava ligado a promessa de sangue naquela carta. Chame-me de monstro, mas faço o que for necessário para o bem desse mundo – retrucou sem se abalar.

Sua resposta deixou-me um tanto confusa. O que pretendiam fazer comigo? O olhar no rosto de Huang Hua denunciava algo sobre o assunto proferido. Sua postura ficou calma, como se estivesse em um terreno complicado.

— Como assim? - pedi, olhando de um para o outro.

— Olimpya… - Huang Hua começou a falar comigo novamente, mas Leiftan cortou-lhe um gesto brusco com a mão livre.

— Seus preciosos amigos pretendiam lhe fazer esquecer sobre toda sua vida humana – despejou, aproximando seu rosto de mim com calma – e como efeito, seus familiares e amigos no mundo humano também se esqueceriam de você. Então, eles teriam a Olimpya somente para eles. O símbolo rebelde sem laços familiares e de amizade que poderiam roubá-la deles. Huang Hua e seus conselheiros roubaram a ideia que Miiko teve uma vez.

O modo como a fênix se portava, a dor em seu rosto foi a resposta que precisava.

Mentiras. Eles despejara mentiras em mim desde o momento que pisei nesse mundo. Sobre os portais ao mundo humano, sobre as guerras, sobre querer o meu bem, sobre tudo. Algo dentro de mim se quebrou, tirando-me qualquer vontade de lutar contra o traidor. Caí de joelhos, a mão dele libertando meu antebraço quando envolvi minha cabeça com as mãos.

Mentiras.

Morte.

Eu não queria mais nada daquilo.

E com um grito, expulsando toda a dor e raiva, senti o mundo estremecer.


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Notas finais do capítulo

E então? O que acharam?
Digam que gostaram e não desistam de mim! Haha.
Prometo que vou compensar essa capengueira que a nossa personagem tá passando.
Um beijo a todos e até a próxima!



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