Electus escrita por Khaleesi


Capítulo 4
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Olá! Como vão?
Sei que tem um tempo considerável desde a última atualização, mas precisei reescrever este capítulo e as ideias nunca me pareciam boas o suficiente. Mas, a maré ruim já passou e estou confiante com o que planejei para a fanfic.

Então, como estava inspirada, este capítulo saiu maior que o previsto. Espero que não se incomodem, haha.

Sem mais delongas, desejo-lhes uma boa leitura!



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Capítulo 3

 

Observei, calada, o amanhecer. Enrolada em uma manta azul, escapei dos soldados da nossa base para um canto mais reservado do abrigo, procurando um pouco de paz. Os dias que seguiram minha fuga do QG foram agitados. Contei minha versão dos dois meses que vivi sob a tirania de Leiftan para no mínimo umas vinte pessoas, cada qual com seus questionamentos. Por fim, deram-se por satisfeitos e me deixaram a deriva.

 

Era engraçado como o sol saia todos os dias de seu descanso brilhando esplendorosamente, como se nada tivesse se alterado desde o dia em que pus os pés aqui. Fechei os olhos e deixei o suave calor tocar meu rosto como se fosse um velho amigo saudando-me, aproveitando o intervalo curto que possuía apenas para meus pensamentos.

 

Não queria ser ingrata com Huang Hua e sua ajuda em correr de um casamento obrigado, mas ficar aqui era tão angustiante quanto os últimos dias. Sentia uma urgente necessidade em caçar qualquer pista sobre portais para o mundo humano e trazer aqueles quatro sãos e salvo. Entretanto, a resistência tinha outros planos para mim.

 

Simbolo de esperança.

 

— Uma distração – sussurrei, pensando no meu real propósito a eles.

 

O povo de Eldarya precisava se apoiar em uma ideia que elevasse a moral dos resistentes, por isso usaram-me como exemplo de lutadora, espalhando que minha fuga demonstrava que estava ao lado deles e que Leiftan não possuía tanto poder quanto dizia. Enquanto isso, eu ficava acompanhando suas reuniões de maneira silenciosa e nas poucas vezes que me atrevi a sugerir ideias fui rapidamente calada.

 

Para a maioria daqui eu era uma garota ingênua, que mal sabia o básico de Eldarya.

 

— Seu esconderijo está se tornando público, Olimpya – a voz de Huang Hua soou próxima, fazendo-me levantar do banco de pedra.

 

Tinha descoberto o mirante dois dias, encoberto pelas árvores e trepadeiras que rodeavam o forte, dando-me privacidade e uma visão espetacular da paisagem que nos cercava.

 

— Não era para ser um esconderijo mesmo – respondi enquanto fazia uma leve mesura.

 

— Já lhe disse que não precisa ser formal quando estamos a sós – a Fênix dispensou meu gesto e abraçou-me com ternura.

 

Ela exalava um calor aconchegante, quase como uma irmã mais velha. As penas de sua vestimenta faziam cócegas em meu nariz, forçando o abraço a ser breve. Huang Hua era uma visão e tanto. Dotada de uma pele achocolatada, cabelo de cor parecida assim como os olhos, ela era uma beldade exótica, que contrastava com os costumeiros trajes vermelhos adereçado com penas.

 

Seu “tipo” era tão interessante quanto sua beleza. Ela era uma Aprendiz de Fênix, uma espécie de sacerdotisa para os Fenghuang, possuindo características únicas como sentir a áurea de alguém brilhar enquanto perto de quem gosta.

 

Tecnicamente seu nome não era Huang Hua, somente Hua, pois Huang é sua definição como Fênix.

 

— Outra reunião? - pedi, procurando saber o motivo de me visitar.

 

— Não – ela dispensou minha amargura com um aceno de mão, sentando-se no banco onde estava aconchegada.

— Então?

 

— Nenhuma notícia ainda. Karenn continua pesquisando um meio de entrar em contato com Nevra já que eles possuem laços fortes, mas até o momento não obteve sucesso.

 

Karenn e Nevra além de serem vampiros também eram irmãos sanguíneos. Sempre tive curiosidade em saber a história de vida dos dois, mas eles mantinham-se a margem como se não gostassem do que já viveram. Assim como Valkyon. Aparentemente o tempo de criança do pessoal de Eldarya não era tão empolgante quanto as minhas viagens a fazenda de minha avó.

 

Passado.

 

A palavra vibrou em minha mente, dando-me uma ideia. Era um meio de me ocupar e com um golpe de sorte poderia ajudar meus amigos.

 

— Quão vasta é esta biblioteca? - pedi a Huang Hua.

 

— Em termos de extensão é modesta por conta dos ataques que já sofremos, porém se quer se referir a conteúdo, o arsenal conta com textos desde antes ao Grande Banimento – ela respondeu, pensativa.

 

— Quero realizar uma busca se me der autorização para entrar nela – comentei, expondo parte do meu plano.

 

Para ter acesso aos livros, manuscritos e objetos históricos era preciso a autorização de um dos responsáveis do conselho. Afinal, a biblioteca era deveras importante para todos em Eldarya.

 

— O que deseja buscar lá? Preciso saber antes de lhe permitir passagem integral – ela pediu, notando o modo que me portava.

 

— Yhkar estava pesquisando sobre minha origem. Apesar do acervo do Refúgio ser interessante ela não havia encontrado nada. Pensei em olhar esta biblioteca e tentar outra pesquisa, quem sabe não existam pistas nesses arquivos mais antigos.

 

A Fênix sorriu, aliviada que eu quisesse me mexer. Ela sabia que me deixar no limbo era sufocante ao meu espiríto.

 

— Excelente ideia. Eu devia ter pensado isso mais cedo – repreendeu-se de leve com um tapa em sua testa, então sua expressão ficou mais séria – Yhkar disse que não existiam registros mais antigos no QG?

 

Assenti, respondendo mudamente sua pergunta.

 

Huang Hua levantou-se e começou a andar de um lado para o outro. Apesar de ser uma sacerdotisa, ela não conseguia manter-se serena quando estava com algo em mente.

 

— O que foi? - perguntei, ficando agoniada com seu constante caminhar.

 

— Tenho quase certeza que meu antecessor enviou cópias de nossos arquivos para o antigo Chefe da Guarda Brilhante, o antecessor de Miiko. Se Yhkar disse que não encontrou nada com vocês, alguém deve ter roubado esse conteúdo.

 

Imediatamente minha mente viajou para Leiftan e para sua necessidade de me ter debaixo de seus olhos. Notei que Huang Hua tinha tido um pensamento parecido por conta sua expressão.

 

Ele deve ter roubado e provavelmente descoberto algo a meu respeito. Só isso explica a sua implicância comigo – comentei.

 

— E quem sabe explique por que você chegou até aqui daquele modo pouco convencional – completou.

 

Sem precisarmos de mais conversa, fomos em direção ao seu escritório. Precisávamos recuperar o tempo perdido e alcançar os conhecimentos do inimigo o quanto antes.

 

(…)

 

Apesar de Huang Hua dizer que a biblioteca não era vasta, ainda sim ela era impressionante.

 

Sua estrutura era em formato de uma grandiosa torre circular, as paredes eram repletas de livros, artefatos e portas que levavam a ambientes carregados de informações milenares. As janelas estreitas e altas forneciam uma luminosidade aconchegante e suficiente para examinar o que pretendíamos.

 

Por conta do momento em que vivemos, o local estava levemente cheio. Notei Karenn mergulhada numa montanha de livros, concentrada em sua busca, suas usuais maria chiquinhas estavam bagunçadas, o cabelo preto e rosa negligenciado. Chrome, outro amigo meu, estava por perto lhe auxiliando no que ela precisasse. Chrome por sinal estava o oposto da vampira, exalava vitalidade para compensar o baixo-astral da amiga, suas orelhas – sinal da sua espécie, lobisomens – estavam agitadas, captando todos os sons do local. Mais a frente vimos alguns dos membros do conselho procurando por livros de estratégia militar tanto deste mundo como do meu.

 

A Fênix me direcionou a quatro lances acima do térreo num ambiente um pouco mais empoeirado que os demais. Após sussurrar encantos para liberar as travas de segurança que protegiam os objetos ali dentro, passamos por duas portas antes de enfim nos depararmos com os registros anteriores ao Grande Banimento.

 

— Isso me lembra minhas aulas de histórias do mundo humano. Fizemos uma visita a um museu uma vez, e os livros eram parecidos com estes. Só que falavam do império romano e não de Eldarya – comentei, passando os olhos pelas prateleiras.

 

— Uma vez também possuímos museus, mas após a crescente do inimigo e suas investidas nos conteúdos do nosso mundo, elas acabaram sendo saqueadas e destruídas. Salvamos o que pudemos e desde então ficamos mais rigorosos com sua segurança – ela deu a volta na pequena mesa do aposento – nada é mais perigoso do que um mundo sem conhecimento. Ignorância é um excelente condutor para más ações.

 

Ainda me surpreendia as vezes em como Huang Hua era sábia. As suas frases contemplativas me faziam sentir um abismo entre nós, apesar de a outra expressar sua vontade em ser tratada como igual. Era tão estranho sermos, mesmo que aos poucos, amigas. O que eu poderia oferecer em troca na nossa amizade? Pipoca? Afinal, foi a coisa mais impressionante que Miiko achou de mim quando “descobri” o que fazer com os grãos da despensa.

 

— Tem alguma pista ou dica para usarmos como ponto inicial?

 

A pergunta dela trouxe-me de meus devaneios tristes.

 

— Vai me ajudar? - pedi, incapaz de segurar a surpresa em minha voz.

 

A Fênix ergueu uma sobrancelha como se dissesse que era óbvio, fazendo-me corar levemente. Ainda sentia-me estranha com todo aquele zelo dela.

 

— Yhkar disse que meus olhos são incomuns entre os humanos. Podemos começar por aqui – falei, indicando meus olhos com um movimento de mão.

 

Após observar-me por um curto período, ela virou-se para uma seção de pergaminhos levemente empoeirados como se soubesse por onde buscar. Fui para seu lado após pegar um pequeno cesto deixado ao lado da porta. Sem dizer nada, ela foi empilhando os papéis no cesto. Somente quando ele estava prestes a transbordar, fomos nos sentar. As cadeiras também tinham um leve traço de sujeira, assim precisamos limpar o local com as mãos antes de nos acomodarmos.

 

— Com que frequência limpam as salas privativas? - pedi, curiosa.

 

— Não limpamos. Elas foram encantadas para não acumularem sujeira, mas isto – ela indicou o pó que cobria quase todo o ambiente – é sinal de que nossos encantos estão enfraquecidos.

 

Senti um arrepio na coluna ao pensar nas proteções que envolviam o forte. Se a biblioteca que era o bem mais precioso deles estava com problemas, imagine o restante do local. Se esse tipo de informação vazasse não restaria muito tempo para um ataque a nós. E pela expressão estampada no rosto da Huang, ela devia pensar o mesmo.

 

E assim começamos nosso longo trabalho de vasculhar as informações ali contidas. Era um alívio que meu pai tivesse me forçado a aprender o francês arcaico e latim, pois a maioria das escritas estavam transcritas nesses idiomas, porém ainda me deparava com algumas escritas baseadas em símbolos.

 

Huang Hua comentou que durante a época de paz entre os humanos e os eldaryanos grande parte dos faelin – como aprendi que era a correta denominação deles – viviam em harmonia no que hoje é a França. Claro que existiam outros espalhados pelo mundo, mas as principais relações se davam naquele território e por consequência os dados foram transcritos e mantidos na linguagem utilizada naquela época.

 

— Isso explica por que consigo me comunicar com vocês sem o problema do idioma? O fato de estarem ligados a minha terra natal? - perguntei após terminar o quinto pergaminho e colocando-o na pilha ao meu lado.

 

Com um sorriso minha amiga parou de ler e me encarou.

 

— Acredito que não. Afinal o que falamos aqui não é nem de perto com o francês arcaico ou latim.

 

Minha cara devia ser muito engraçada, pois ela soltou um agradável e curto riso.

 

— Você possui sangue faelin, Olimpya. É por isso que consegue conversar conosco. E está falando em nosso idioma por sinal. Engraçado que ninguém tenha lhe falado sobre isso.

 

Meu estômago despencou. Lá no fundo, escondido de todos, havia uma esperança de que eu fosse uma pessoa comum e humana. Afinal não fazia sentido eu ser uma faelin, não quando as opções sobre eu ser uma era a adoção. Eu me recusava a aceitar que não nasci na minha família que me esperava lá fora. Eu era Olimpya Sefle e nada do que descobrisse aqui mudaria isso.

 

Sem responder, voltei a leitura. E alguns segundos depois ouvi minha companheira de leitura fazer o mesmo. Apesar de estar fisicamente concentrada na busca, meus pensamentos ainda vagavam sobre o que eu era, qual era meu passado. Estava absorta em mim mesma que demorei para notar que meu dedo havia se detido em um nome como se tivesse vida própria.

 

Olim Coração Valente.

 

Sussurrei o nome, encantada. Huang Hua ergueu a cabeça num rompante como se tivesse sido eletrocutada. Seus olhos eram pura tempestade, fazendo-me ficar muito, muito atenta aos seus movimentos.

 

— Sim? - indaguei.

 

Sem dizer nada ela puxou o pergaminho que eu estava analisando e leu silenciosamente o nome que eu havia pronunciado em voz baixa.

 

— Isto não deveria estar aqui – foi a única coisa que me disse antes de levantar e sair do aposento, levando o documento consigo.

 

Segurando um bufo de irritação, pensei que poderia ter lido um pouco mais antes de falar aquele nome e com isso perder aquela informação. Algo no jeito de Huang Hua me deixou com uma pulga atrás da orelha e com vontade de investigar mais sobre aquela pessoa. Se havia algo que me instigava era quando tentavam guardar segredos de mim.

 

Portanto, fingi estar desinteressada e irritada por não achar mais nada naqueles documentos quando a Fênix voltou de onde quer que tivesse levado o pergaminho. Minha atuação foi boa o suficiente para que ela acreditasse que eu não havia suspeitado de nada.

 

Não precisei fingir mais em meio a biblioteca, pois ela também veio me comunicar sobre um presente enviado por Leiftan até nós. E que fariam uma reunião naquele momento e que eu era requisitada. Os pensamentos sobre Olim sumiram de minha mente e foquei no gelo em minha espinha a respeito daquela notícia.

 

 

(…)

 

 

O salão onde as reuniões eram realizadas estava levemente cheio. A plataforma circular que se localizava ao seu centro estava rodeada por mais diversos faelin. Todos os integrantes do conselho haviam levado pelo menos duas pessoas consigo. Alguém de fora pensaria que eram guarda-costas, mas eu sabia que eram olhos extras para analisar qualquer movimento dos demais conselheiros para captarem algo que ninguém suspeitasse.

 

Apesar da guerra iminente que se construía ali e que devíamos unir forças contra Leiftan, grande parte dos integrantes tinham rixas pessoais entre si, gerando certos desconfortos durante as reuniões. Huang Hua levou a minha pessoa e Karenn junto, eu por ter sido requisitada e Karenn por suas especialidades em espionagem e em detectar situações e informações.

 

Ao centro da plataforma havia uma mesa circular, uma pequena tentativa de aliviar as pressões entre os conselheiros, onde nenhum aparentaria ser mais importante que o outro, sentando-se todos em igualdade. Parecia um pouco com os Cavaleiros da Távola Redonda. E sob esta mesa encontrava-se uma caixa de madeira com adornos simples em cobre, sem nenhuma fechadura ou cadeado para a abrir.

 

O presente de Leiftan.

 

Mab, uma senhora enrugada e ranzinza de cabelo mais branco que vermelho dado a idade, olhou-me com exasperação, como se eu fosse a responsável por aquilo na mesa. E algo dentro de mim ecoou aquele olhar, causando-me apreensão. Ainda de olho em mim a senhora indicou para Huang Hua uma carta, já aberta, em suas mãos enluvadas. Meu coração bateu mais rápido e qualquer ser sobrenatural naquela sala poderia ouvir minha agitação. Segui a sacerdotisa após um sinal dela, aproximando-se da senhora onde ela pegou a carta de suas mãos.

 

— Poderia ler em voz alta? - Mab solicitou, fazendo-me entender que apenas ela havia lido o conteúdo.

 

Apesar da expressão azeda, sua voz era inesperadamente suave. E eu ainda me assustada todas as vezes que ela falava nas reuniões.

 

Escrevo ao mais novo Conselho de Eldarya. É uma surpresa que tenham conseguido se organizar sem se matarem, dado ao orgulho e personalidade dos integrantes. – houve alguns resmungos e até rosnados dos presentes conforme Huang Hua lia – Mas, meu objetivo com esse pequeno presente não é tentar ridicularizá-los. E sim formar um acordo entre nós – ela continuou lendo apesar dos demais – sei que uma pessoa que me pertence está escondida entre vocês e não planejo que isso continue desse modo, a quero devolta. Vou dar-lhes o benefício do aviso junto ao conteúdo dessa caixa e espero que sejam inteligentes em ver que não é sábio ir contra mim. – minha respiração estava fraca diante as palavras, quase conseguia imaginar Leiftan ali dentro, falando e sorrindo a todos com uma expressão de inocência – A respeito da caixa, apenas a fugitiva poderá abri-la com uma pequena gota do seu sangue. Ela está encantada para apenas ela, então nem se deem ao trabalho de tentar desatá-la, vão apenas queimar as mãos. Cordialmente, Leiftan.

 

Meu sangue rugia em meus ouvidos dado ao que aquela carta dizia. Ele estava me caçando, achava que eu era um pertence seu.

 

— Deve ser um blefe – um senhor de pele azul escura, salpicada de pontos brilhantes, indicou a caixa com uma mão, suas vestes soltas farfalhando como se tivessem vida própria e espelhassem sua irritação – qual o sentido de apenas ela poder abrir?

 

— Ah, não é um blefe, Naust – Mab respondeu, puxando as luvas e erguendo as palmas para que todos víssemos as queimaduras que agora cobriam cada centímetro da pele de suas palmas – isso é um alerta para nós, claro. Porém, é uma mensagem direta para essa garota – concluiu, apontando um dedo ossudo para mim.

 

Huang Hua deu um passo para perto de mim, seu semblante contraído no redemoinho de pensamentos.

 

— Seria necessário apenas uma gota do sangue dela para que fosse convocada até ele – ela comentou, fazendo com que minha respiração falhasse.

 

Mab estalou a língua.

 

— Sabemos que isso é impossível, Huang Hua. Encantos como este foram perdidos a muito tempo durante os ataques aos nossos museus e bibliotecas.

 

Mas, eu sabia que minha amiga estava pensando o mesmo que eu. Eles de algum modo tomaram posse dessas informações que todos julgavam perdidas, assim poderia haver sim esse feitiço atrelado a caixa.

 

Respirando fundo pousei uma mão no cotovelo dela, fazendo com que me olhasse.

 

— Ele quer que fiquemos loucos tentando descobrir seus planos e a caixa é um bom método – falei, e vários do conselho menearam de leve a cabeça em concordância – pode haver um encanto que me paralise, me convoque ou pode ser apenas o que sela a caixa. Mas, nada muda o fato que preciso colocar meu sangue nela para descobrirmos o que aquela mente doentia pensa.

 

Sem dar chances de ser impedida, virei-me para Karenn que já trazia um punhal até mim. Bloqueando qualquer medo que agarrava ao meu estômago cobri os passos que faltavam até a mesa. Com a mão esquerda livre, puxei a caixa para perto de mim e sem dar-me tempo para covardia, fiz um corte no dedo indicador esquerdo.

 

A ardência do corte foi esquecida quando uma gota caiu em cima da tampa da caixa. Os adornos de cobre mexeram-se como cobras, desobstruindo a tampa. Pousando o punhal na mesa, apoiei minhas mãos na caixa e comecei a levantá-la, vagarosamente. Um silvo de Mab fez com que eu largasse a cautela e jogasse a tampa para trás sem cuidado algum.

 

Bile subiu a minha garganta, meus joelhos tremeram e meu fôlego saiu como se tivesse tomado um soco. O que bem poderia ter acontecido naquele momento. Ninguém me impediu de correr até a janela do salão e vomitar as tripas, enjoada com o que havia dentro daquela maldita caixa.

 

A ruidosa respiração dos membros do conselho me indicaram que estavam tão pasmos quanto eu ao ver o conteúdo.

 

Era uma pálida mão cortada ao punho, ainda usando a luva branca que me era inconfundível. Uma mão que diversas vezes me entregou livros e pergaminhos para me ajudar. Uma mão que me segurou e me tirou do terrível afogamento de minha mente durante o ataque ao meu casamento forçado.

 

A mão de Yhkar.

 

Ouvi outra pessoa vomitar, causando-me mais uma onda de bile. Precisei respirar fundo, tentando me recompor. Mab que parecia ser a mais controlada de todos pegou o bilhete que estava entre os dedos frios de minha amiga. Concentrei-me na senhora, ignorando a caixa que alguém misericordiosamente havia fechado.

 

Este é um recado para você, querida Olimpya – os olhos da velha perfuraram-me antes de voltar ao bilhete – isso foi apenas uma amostra do que sua rebeldia pode causar aos seus amigos ou com quem deseje se aliar contigo. Estou sendo generoso, então não me teste. Dou-lhe dois dias para se entregar, sozinha, no Templo Solar. E aviso-lhe que em caso de atraso vou cortar um pedaço de sua amiga a cada hora atrasada e a matarei no final do dia, e estenderei esse tratamento um por um aos seus outros amigos a cada dia de atraso. Com amor, Leiftan.

 

Qualquer sentimento que estivesse dentro de mim sumiu como fumaça. Fiquei vazia diante o que o destino reservara para mim.


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Notas finais do capítulo

E então? O que acharam? Alguma teoria por aí?
Espero que tenham gostado e até o próximo!
Beijos.



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