Meu Querido Cupido escrita por Bonnie Only


Capítulo 42
Arquejante




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Quando abri meus olhos, senti um grande desconforto. Demorou um pouco até que a minha vista turva voltasse ao normal, e assim que eu estava completamente sã, notei que estava sendo carregada.

Eu não fazia ideia de onde estava. Tudo o que eu sabia era que estava sendo carregada, enquanto sentia cada passo do homem que me segurava. Levantei minha cabeça, franzi minha testa  e parei para observar o local. Estávamos entre uma parede estreita, de pedra, subindo uma escada que não parecia ter fim. E a pior parte: Diversos superiores subindo a escada, de frente comigo. Como eu estava sendo carregada de costas, fui obrigada a olhar para cada superior que nos acompanhava, e para ajudar, aquele corredor era extremamente estreito.

Esse perfume...

— Acordou? — Dean perguntou, e mesmo não vendo seu rosto, notei que estava sorrindo.

Todos os acontecimentos anteriores vieram à minha cabeça: Bruce batendo na porta às pressas avisando que os superiores estavam à caminho, Dean nos esperando do lado de fora da mansão com Hayley em seus braços, Franklin aparecendo repentinamente, a morte sangrenta da Hayley, a luta em que os cupidos fracassaram... Logo em seguida David desistindo de lutar, junto com os outros cupidos.

Em que lugar estamos? Aqui parece diferente. Tem um ar diferente. Mais leve. Mais tranquilo. Mais puro.

— Me largue! — Exigi, me remexendo no colo do Dean. Eu estava virada de costas para ele, e ele me segurava tão firme que eu mal conseguia me mover. Estava doendo.

— Ei, ei, ei! Calma! — Ele soltou uma risada divertida, vendo que minha luta não estava tendo sucesso.

— Para onde está me levando?! — Agora eu grunhi, bem alto, cerrando os dentes para ele e cravando minha unha em seus ombros, mas ele não demonstrou nenhuma dor, aliás, ele estava de smoking. — Diga! — Gritei entredentes outra vez, enquanto minha franja caía em meu rosto e eu sentia vontade de espancá-lo.

— Você verá, Cassiezinha. — Me apertou um pouco mais, enquanto continuava subindo aquela interminável escada feita de pedra.

Engoli a seco, e prometi que tentaria não chorar. Desisti de lutar contra o Dean e continuei observando o superiores que vinham atrás de nós.

Quando todos os degraus acabaram, finalmente chegamos ao destino.

Era um lugar gigantesco. Uma sala gigantesca e fria. Assim que pisou ali, Dean me colocou no chão.

A primeira coisa que notei ali, foi o gigantesco trono dourado, enquanto um homem extremamente forte e assustador estava assentado nele, e ao seu lado, dois superiores com roupas quase medievais, com as asas abertas e segurando gigantescas flechas, que mais pareciam lanças.

Aquela era a coisa mais bizarra que já vira em toda a minha vida.

Aquele homem também tinha asas gigantescas. Maior do que a dos superiores. E elas eram brancas, e não negras, como a deles.

Deixando de prestar atenção naquele cupido anormal, observei o local. Era inteiro feito com pedras, e o chão era extremamente liso. Eu poderia escorregar a qualquer momento. E quando olhei para o teto, parecia até estar dentro de uma igreja.

Ali em cima haviam pinturas. Inúmeros desenhos antigos de bebezinhos pelados, com asas, segurando arco e flecha, com uma expressão sapeca no rosto. Eram muitos desenhos e acabei me distraindo os observando.

Então olhei para as paredes. Haviam gigantescas janelas abertas, que iam do teto até o chão. E tudo o que eu podia ver do lado de fora era o céu, em um tom escuro de azul e um pouco de roxo. Era assustador. Como se estivéssemos em um lugar muito alto. 

Flutuando.

Dean segurou meu braço e me obrigou a caminhar até o cupido que era tratado como um rei.

Nos aproximamos, porém continuamos numa distância considerável. 

Eu estava toda descabelada agora, ainda vestida com meu vestido "provocante", que subia a todo momento. Meus pés estavam doendo e eu sentia muita sede.

Todos os superiores ficaram um pouco atrás de mim, e fizeram uma reverência ao cupido sentado no trono. Dean fez o mesmo, e eu fiquei com cara de paisagem.

Era só o que me faltava! Eles têm um rei? Por quê nunca me disseram? Já mencionaram um rei dos cupidos? Quê raios de lugar é esse?

— Trouxemos a garota que descobriu sobre nós. — Dean falou, manso, enquanto o cupido rei me observava. Ele parecia ser mais velho do que os outros. Tinha uma cara fechada, e parecia ser malvado. Fiquei com medo.

Ele fez um sinal com a mão, me pedindo para me aproximar dele.

Olhei para os lados, hesitando.

Dean me empurrou, então cambaleei alguns passos até ele.

— Qual o seu nome? — Me perguntou. Sua voz era grave, como eu esperava.

— Cassie. Cassandra Drayton. — Falei rápido, e tentei endireitar a coluna, para parecer confiante.

Ele parou um pouco para analisar.

— Como nos descobriu? — Perguntou, ainda me analisando. 

— Ela flagrou o próprio cupido voando, majestade! David! — Dean respondeu por mim, e eu olhei para ele, brava.

— Deixe que ela diga. — O grandão advertiu o Dean, que rapidamente abaixou a cabeça.

— E-eu queria... Eu segui o meu cupido, e vi as asas. — Respondi, tão baixinho que quase tentei repetir a frase, mas ele pareceu ouvir muito bem, assentindo conforme eu falava.

— Traga-o. — O chefão ordenou, e pouco tempo depois, mais superiores apareceram, e em suas mãos seguravam o David.

Ele ainda estava com a roupa do baile. Meu coração apertou quando o vi. Ainda estava machucado por causa da luta na mansão.

Os superiores empurravam o David com agressividade. O cabelo dele estava bagunçado e ele parecia mal. Seus olhos encontraram os meus, mas logo ele desviou o olhar, como se não suportasse me ver.

Ele foi colocado ao meu lado, um pouco longe.

— Há muito tempo venho recebendo más noticias sobre você. — O chefe falou, com desgosto. — Estava quase descendo eu mesmo para acabar com isso. 

David mantinha a cabeça baixa. Ferido. Calado.

— Foram meses de perseguição. Você matou três dos meus superiores. Deixou que uma humana descobrisse o que deveria ser um segredo, comprometendo a vida dela. 

— E ele teve ajuda! Cúmplices! — Dean interferiu outra vez.

— Calado. 

Dean abaixou a cabeça outra vez.

— Desconsiderou todas as regras — continuou. — Eu poderia citar cada uma delas, agora. Porém, tenho algo importante para perguntar. Sua desobediência deve ter um motivo, uma justificativa do quão ingrato foi com o nosso sistema. Me diga, por quê quebrou as regras? Por quê tirou a vida dos seus superiores e não deu um fim ao problema quando teve a chance? — O chefe pergunto ao David.

Ele continuou de cabeça baixa, respirando lentamente. Eu olhei para ele, dobrei minhas sobrancelhas, e senti vontade de abraçá-lo.

— Por ela. — David respondeu, de repente. A resposta impressionou. Cada um dos superiores olharam para o David, e o chefão cerrou os olhos para ele. — Fiz isso por ela. 

— E por quê?

Era como julgamento.

Houve silêncio mais uma vez. David levantou sua cabeça, e encarou seu maior superior.

— Porque eu a amo.

Os superiores murmuraram alguma coisa. Todos ficaram surpresos. David era o primeiro cupido de toda a história a fazer uma confissão como essas, eu tinha certeza.

Contive um sorriso e a vontade de chorar voltou, mas foi uma vontade boa. Foi pelo o que ele disse. Ele acaba de confessar que me ama, para o cupido que pode tirar sua vida a qualquer momento.

Continuei segurando as lágrimas e olhei para ele, abrindo um sorriso. Mas ele não me olhou. Continuou encarando o chefe.

Consegui ouvir a risada do Dean.

— Precisa de mais motivos para dizer que ele deve morrer? — Dean gritou, não pôde se conter. — Ele desprezou toda a segunda chance dele, tudo o que fizemos por ele, por causa de uma garota qualquer! Ele e os amigos! Esses malditos cupidos devem morrer o quanto antes! — Dean gritou, e em sua voz eu pude notar que não era só a desobediência do David que o irritava. Era muito mais do que isso. Talvez ele odiava o fato de que David estava amando, e sendo correspondido.

Dessa vez o Dean não foi repreendido.

— Traga os outros. — O chefe ordenou, e logo Louis, Franklin, Colin e Bruce apareceram na grande sala.

O lugar parecia ficar mais frio a cada instante. Consegui observar algumas estrelas pelas grandes janelas.

Todos ficaram um ao lado do outro, diante daquele trono. Todos sendo julgados. Foi naquele momento que notei que havíamos sido pegos. Que tudo acabou, que o momento que eu tanto temia, está acontecendo.

— Acredito que cada um de vocês conhecem cada uma de nossas regras, e a pena pela desobediência delas. 

Quando olhei para o Bruce, me desesperei, me perguntando onde estava Stacy a essa altura. 

— Duas relações errôneas entre cupidos e suas escolhidas. Sabem a gravidade disso. Imaginem as oportunidades que perderam enquanto estavam em suas camas com elas? Esqueceram que essas pobres garotas têm um escolhido na Terra, e que é o dever de vocês encontrá-los? — o chefe se exaltou. — E esses cúmplices... São tão culpados quando os outros. Por terem feito parte disso.

— Não! — Gritei, mesmo sabendo que estava cometendo um grande erro. — Eles são as pessoas mais gentis que já conheci! — Finalmente encontrei a fúria dentro de mim, e tentei combater o chefe dos cupidos. — Eles ajudaram porque se importaram comigo! Com a minha vida! Eles fizeram algo bom, e deveriam ser recompensados por isso, e não punidos! 

— Calada. 

— Calada? — Eu ri. — Você pode ser o rei deles, mas não é o meu! É só brutamontes com asas, sentado numa cadeira, enquanto um bocado de rapazes sofrem com suas memórias do passado, tentando encontrar a alma gêmea de alguém. As coisas não funcionam assim!

Dean tentou vir até mim, para calar a minha boca, mas o chefe dos cupidos fez um sinal com a mão, para que o Dean não tocasse em mim.

— Vocês mandam matar, como se uma vida não fosse importante o suficiente! Eu presenciei uma garota inocente morrer em minha frente, e eu conheci uma garota tão... Tão incrível, que está sendo caçada, assim como eu! Tudo isso porque se apaixonou! 

Bruce abriu um sorriso triste.

— Eu nunca conheci um sistema tão errado como esse.

O chefe abriu um sorriso de deboche. Fiz a minha melhor expressão de brava.

— Levem-os daqui, e apliquem os castigos. Um a cada dia. Não há nada mais para ser dito. — O chefe decretou, e me desesperei, vendo que estavam levando os rapazes.

— Não faça isso! — Pedi, enquanto Dean veio até mim e me segurou.

— Eu me entrego. — David falou, de repente, e o chefe pareceu surpreendido. — Faço o que quiserem. Viro um superior. Deixo que tirem a minha vida. Só... Deem uma chance à ela. Deixe que ela volte.

David foi ignorado. Com brutalidade cada um dos rapazes foram levados, e então Dean tentou me levar também, mas surpreendendo a todos, o chefe interrompeu.

— Ela não. Deixe-a aqui. 

Dean o olhou com desdém.

— Mas...

— Me deixe aqui com ela. Todos se retirem. 

E naquele momento cada superior do local se retirou. Inclusive os grandões que seguravam flechas. Me senti um balão murchando, mais pequena a cada instante, e impotente. O que ele faria comigo?

Continuei de frente para ele, de pé. Aquele lugar me fazia ainda mais pequena, as gigantescas paredes me faziam parecer uma pequena formiga. E aquelas asas gigantes, aqueles desenhos esquisitos nos tetos...

— Me diga o que sabia sobre nós, antes mesmo de nos conhecer. — Ele pediu.

Aonde ele queria chegar com isso?

Comecei a ficar ofegante, com medo, meu peito subia e descia rapidamente. Não conseguia me concentrar sabendo que cada um dos rapazes estavam sofrendo castigos por simplesmente tentarem me ajudar.


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Notas finais do capítulo

Até o próximo, amores ♥ ♥



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