Meu Querido Cupido escrita por Bonnie Only


Capítulo 41
Rendição




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BRUCE

Stacy está em um sono profundo. É um dos efeitos colaterais da amnésia. Provavelmente ela acordará só amanhã, o que significa que ainda não tenho certeza se funcionou. 

Estou desolado. Lutando contra todos os sentimentos, tentando ser forte, por ela. Stacy dorme serenamente, observo sua respiração, calma e lenta, seu peito subindo e descendo lentamente. 

Farei de tudo para que o seu coração continue batendo.

Voltando para a realidade, me apresso para carregá-la e tirá-la daqui. É uma armadilha. Estamos cercados. Eles vieram buscá-la. Vieram buscar a Cassie também. Há muitas chances de que eu falhe, e se eu tentar explicar para eles que Stacy está sob os efeitos da amnésia, eles não vão se importar. Vão querer ela, de qualquer jeito. 

Pego seu corpo com cuidado, e logo após deitá-la e segurá-la firme sobre meu peito, me apresso em direção à janela. As asas surgem rapidamente, sem que eu precise tirar a jaqueta. Encaro a noite fria pela janela, e consigo ouvir as vozes vindas do último andar. 

Preciso voar sem ser visto. Mas é impossível. Os superiores podem ver tudo, não temos vantagens sobre eles.

Subo no parapeito da janela e com um único salto estamos eu e Stacy nos ares. Seguro ela com mais força e me apresso, para que eles não me vejam.

Decido ir mais alto assim que saio da vista da mansão. Daqui de cima só se pode ver as árvores que rodeiam o local e a estrada vazia. Não há sequer um sinal humano por aqui, a mansão fica afastada de quase tudo, por isso vai demorar um pouco até que eu leve Stacy daqui.

Ela precisa ir para casa. Precisa ficar segura, longe da vista dos superiores.

Mas é impossível. 

Eles me viram.

Confirmo isso assim que ouço outro bater de asas além das minhas. Há um superior atrás de mim, as asas negras e o olhar concentrado em mim.

O cupido fugindo com a sua escolhida.

— Bruce, exijo que pare! — O superior exclamou, as asas negras batendo em tamanha velocidade, quase me alcançando.

Voei em zig-zag, tentando despistá-lo, e ainda segurando Stacy, bem firme. Logo decidi cair, para ficar um pouco mais próximo do chão. Continuei voando, só que dessa vez próximo das árvores. O superior fez o mesmo, enquanto parava o bater das asas por alguns segundos, para descer e me alcançar.

Estava sendo impossível. Ele era mais rápido. Se eu continuasse, de nada adiantaria.

Olhei para a Stacy em meus braços, por alguns segundos. Tive medo por ela. Acho que o nosso fim começa aqui. Seremos capturados, e pagaremos por nossos erros.

Enquanto eu contemplava o sono sereno da minha escolhida, senti o impacto do superior contra mim. Ele me alcançou, e assim que colocou suas mãos em mim, rapidamente envolveu seu braço em volta do meu pescoço, enquanto caíamos em direção à estrada vazia.

Foi muito rápido. O superior tomou Stacy dos meus braços, e usando a sua força incomum me empurrou. Minhas asas vacilaram e pouco tempo depois eu já estava no chão. Minhas asas voltaram a desaparecer e eu me encontrei ali, no chão, derrotado, enquanto o superior pousava elegantemente perto de mim e em seguida escondia suas grandes asas.

Meus olhos ficaram completamente negros quando eu o vi. Senti toda a fúria me dominar quando olhei para ele e vi Stacy em seus braços. Tentei me levantar, apoiando minhas mãos no chão, e ainda olhando para ele, que estava satisfeito com minha escolhida.

— Largue ela! — Minha voz falhou.

— Você teve chance, Bruce. Deveria ter seguido as regras, ao contrário não estaríamos aqui. Ela não estaria

— Ela está sob o efeito da amnésia. Por favor. — Pedi, minha voz falhou outra vez. — Deixe-a ir. Me deixe levá-la para casa.

— Não podemos arriscar. Você viu o que aconteceu com a outra garota... A amnésia de nada adiantou, por algum motivo os humanos estão se tornando imunes aos nossos comandos. Está na hora de acabar com isso, Bruce. E você sabe que os cupidos desobedientes não podem continuar conosco.

Eu sabia o que isso significava.

— Você deve se entregar. Eu faria isso no seu lugar. — O superior tentou me aconselhar. Eu nunca o tinha visto antes. Ele sabe meu nome, mas eu não sei o dele. Ele está apenas fazendo o seu trabalho, com certeza é diferente do Dean.

— Me deixe levá-la para casa... — Deixei aparente todo o meu desespero. Minhas expressões revelavam súplica.

— Chega de quebrar regras... 

Tentei me recompor, me levantando. Quando me coloquei de pé, mais três superiores apareceram voando, e se colocaram ao lado do outro que carregava a Stacy.

— Vamos para o templo.

➴ ➵ ➶

Cassie

Hayley acordou. Ela ficou tão desesperada quanto a todos assim que viu Dean apontando o canivete na direção do seu peito.

— Por favor... — Ela pedia, sussurrando e soluçando, enquanto as lágrimas escorriam. Ela estava deitada, imobilizada pelo Dean.

— Vamos, David! — Dean gritou. — Entregue a Cassie e se entregue! Só assim ela vai sair viva!

— David, faça alguma coisa! — Supliquei e apertei seu braço, vendo que Hayley estava correndo um grande risco.

— Ele não vai soltá-la! — David me respondeu. — Ele não correria esse risco. 

— Acho que teremos que resolver isso da forma difícil... — Dean se levantou, obrigando Hayley a fazer o mesmo.

Aquilo era desesperador. Ver Hayley em total espanto, com seu vestido bonito, o cabelo bem penteado, mas o rosto coberto com lágrimas, soluçando a todo instante, olhando para o David.

Agora Dean estava de pé, apontando a faca no pescoço da Hayley.

Ele encostou a faca ali, pronto para cometer uma loucura.

Mas uma risada repentina invadiu o local. Todos olhamos para o lado, e quem havia pousado ali, era Franklin.

— Que coisa mais feia, Dean! — Franklin bateu três palminhas enquanto se aproximava. Todos olhávamos para ele. — Não é assim que superiores lutam! — Franklin abriu seu sorriso de deboche.

Dean o olhou com fúria.

— Não é forte o bastante para resolver isso com todos nós? Por quê pegar a loirinha como refém? — Era um espetáculo, e Franklin a atração principal. A mansão rodeada por cupidos assistindo, preparados para atacar a qualquer hora, enquanto Dean estava ali, segurando a Hayley.

Tenho certeza de que o Dean não está sozinho. 

— Agora resolveu ficar ao lado deles? — Dean riu alto. — Acho que todos aqui sabemos que você é um traidor. É tão responsável por isso quanto eu. Na verdade, estamos juntos nessa, não estamos? — Dean respondeu com sarcasmo. — Você quer ela morta tanto quanto eu. — Dean se referiu a mim.

Franklin parou bem pertinho do Dean. Um silêncio tomou conta do local, tudo o que podíamos ouvir era o choro silencioso da Hayley.

— Você tem razão. — Franklin levantou as duas mãos, em forma de rendição. — Eu fiz parte disso. — Dito isso, Franklin olhou para mim e para o David. — No começo sim. Eu queria ver a Cassandra longe. Queria que as coisas voltassem ao normal, fiz coisas que não deveria. — Franklin não tirava os olhos do David. 

Aquilo era uma confissão. 

— Eu mandei informações para os superiores e confesso... Eu também revelei para eles sobre a Stacy e o Bruce estarem juntos. — Assim que Franklin disse isso, David fechou os punhos. — No dia em que os superiores me enforcaram, eu senti ódio de todos. Por estarem fodendo tudo e me fazendo de cúmplice. Então eu me juntei ao Dean, assim que descobri que ele era um superior. Nós tínhamos um plano: tirar a Cassie de perto de todos e enfim acabar com a vida dela. Na verdade, era para ter acontecido há um tempo... Mas eu sempre encontrava uma forma de adiar a morte dela. Dean queria ter feito isso há muito tempo, mas eu o convenci. É uma longa história, e eu ficaria agradecido se vocês... Se me perdoassem.

— E viveram felizes para sempre! — Dean gritou. — Deixe de ser um otário. As coisas não funcionam assim. Acabou a hora da história. — Após dizer isso, Dean encostou o canivete no pescoço da Hayley outra vez.

— Não! — Eu gritei. Um grito agonizante.

— Está tudo bem, Cassie. — Hayley disse, fazendo força para a voz sobressair. Mais uma lágrima caiu de seus olhos inundados, e ainda soluçando e tremendo, ela tentou sorrir para mim. — Desculpe. — Ela apenas fez um movimento com a boca, mas eu consegui entender.

Após isso, o canivete entrou em seu pescoço rapidamente, e um bocado de sangue escorreu do corte que Dean abria. Foi um show de horror, sangue para todos os lados, inundando o bonito vestido brilhante da Hayley.

As minhas lágrimas subiram em um piscar de olhos, coloquei minhas duas mãos no rosto.

Vendo aquilo, Franklin não pensou duas vezes em avançar no Dean. Foi muito rápido. Ele usou sua velocidade sobre-humana para atacar Dean.

A guerra começou naquele momento. A morte da Hayley foi o tiro de iniciação. Superiores surgiram de todos os lados assim que Franklin atacou o Dean.

David me olhou, ainda perturbado por ter observado a morte da Hayley.

— Precisa sair daqui. — Ele me olhou, enquanto eu ainda tinha o sangue da Hayley diante dos meus olhos.

Rapidamente Colin e Louis vieram até mim.

— Nós ficaremos com ela. — Colin apareceu desesperado. Ele e David trocaram um olhar, então David acenou com a cabeça e em seguida, na mesma velocidade do Franklin, foi de encontro ao Dean. Pude notar que meu cupido queria estar comigo, mas queria ainda mais acabar com o Dean, que acabou de tirar a vida da Hayley na frente de todos.

Tudo para mim ficou turvo. Superiores apareciam a todo momento, e eu os observava lutando contra os cupidos. Os superiores eram com certeza mais fortes, e a ideia de que muitos cupidos morreriam tentando me defender era terrível.

Eles não são imortais? Eles precisam ser imortais!

Estava mesmo acontecendo uma guerra. E era por mim. 

Não consegui me mover. Apenas conseguia ouvir a voz distante do Colin e do Louis me chamando, para que eu os acompanhasse, antes que algum superior viesse até mim.

Louis me carregou, visto que eu não me movi, observando o corpo da Hayley jogado no gramado, os olhos azuis abertos e o pescoço coberto pela cor vermelha.

Fechei meus olhos, bem forte, enquanto Louis me carregava e me levava para dentro da mansão. Quando abri os olhos, estávamos entrando nos corredores, em direção a algum quarto.

— Cassie, promete que não vai surtar? — Colin me olhou, tentando me confortar fazendo contato visual.

Os lindos olhos azuis do Colin, dizendo palavras acolhedoras. Não... Não está funcionando... David está lutando lá fora... Dean cortou o pescoço da Hayley... Os superiores querem me pegar.

Balancei minha cabeça para o Colin.

— Eles vão nos pegar. E-eu preciso me render, não quero que mais ninguém morra. — Falei baixinho, tremendo.

— Cassie, precisa confiar na gente. Nós vamos te tirar daqui, tudo bem? — Louis ficou bem perto de mim.

Eu me abaixei no chão e em seguida me joguei ali, sentada, encolhida.

— O que eles vão fazer comigo quando me pegarem? — Perguntei.

— Eles não vã...

— Digam a verdade! Eu sei que eles vão nos pegar. Acabou. — Olhei para eles. — Obrigada, meninos, mas eu preciso me entregar. Isso vai durar até quando?

Louis e Colin se entreolharam. Os dois sabiam. Sabiam que acabou. Que não adiante eles me pegarem e se atirarem da janela. Os superiores cercaram a mansão.

Após isso, a porta se abriu bruscamente, e não consegui contar quantos superiores entraram. Talvez quatro.

Eu vi Colin e Louis lutando. Eu vi um superior machucar o Louis, meu doce Louis. E vi Colin usando toda sua força para me tentar me proteger. Eles estavam fazendo isso por mim e pelo David, e estão sendo fiéis a isso, mesmo arriscando a sua segunda chance.

As coisas continuaram estranhas para mim. Era como se tudo estivesse acontecendo em câmera lenta. Sem som. Era realmente o fim.

— Não machuquem eles! Eu estou aqui! — Gritei, e os superiores logo me seguraram pelo braço.

Fui conduzida de volta ao lado de fora da mansão. Eu pude ver corpos no chão. Rapazes bonitos, ali, sem vida. Eu pude ver algumas asas cobertas com sangue, e sem querer acabei olhando para o corpo da Hayley outra vez.

Olhei para os altos.

Haviam cupidos lutando lá em cima também. Eu podia ver entre as nuvens escuras as asas se movendo, a luta que acontecia.

David não estava à vista. Talvez estivesse lutando lá em cima.

— Pegamos a garota! — Os superiores anunciaram.

A guerra parou naquele instante. Na verdade, foram os cupidos que me olharam e me viram rendida aos superiores. Eles pararam de lutar naquele momento, cogitando que os superiores venceram.

Os cupidos que lutaram por mim se renderam também. Agora os superiores os seguravam.

Após anunciar que eu fui capturada, a guerra lá em cima acabou. Os cupidos desceram e todas as asas desapareceram. Havia muito sangue pela mansão e os corpos espalhados me faziam querer chorar.

Haviam poucos superiores mortos.

Dean pousou, junto com Franklin e David. Todos estavam machucados. 

— Cassie. — David tentou vir até mim, mas Dean o pegou. Aquilo foi estranho... David estava totalmente fraco, de repente, assim como Franklin, que também desistiu de lutar.

Por que todos pararam? Então era isso? Assim que os superiores me tivessem, a luta acabaria?

— Eu me entrego. — David gritou, me olhando. — Façam o que quiser comigo, só não machuquem ela. — Pediu, seu nariz sangrando...

— Adiantou alguma coisa lutar? — Dean segurava meu cupido, seu rosto também estava machucado.

Olhei para o Franklin, ele estava ali parado, feito uma estátua. Havia rendição em todos os cupidos. Naquele momento me lembrei da Stacy, do Bruce, e me perguntei se estavam bem.

— Todos para o templo. — O superior que me segurava anunciou. Naquele momento cada superior presente segurou os braços dos cupidos que restaram, e eram poucos.

Eu olhei uma última vez para o David, e pude notar que ele sentia muito. Sabia que ele fez tudo o que podia para me proteger.

Agora eu estava confusa, com medo. Como criaturas tão fortes podiam morrer daquela forma? Por quê se renderam de repente? O que é o templo? O que vão fazer comigo? O que vão fazer com os meninos?

A resposta não iria demorar a chegar.

Todos abriram as asas, e voaram tão rápido que mal tive tempo para distinguir o que estava acontecendo. 

Eles me levaram também. Segurei firme no superior que me prendia, e então me preparei para o castigo, para ser eliminada, porque é essa a regra. Não sobrará nenhum humano vivo que saiba sobre os cupidos.


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