Kaern Online 01 - Grande Novo Mundo escrita por Kamui Black


Capítulo 3
Misterioso Megipaw


Notas iniciais do capítulo

Sempre em busca de melhorar seus equipamentos e habilidades, Kain encontra-se com um casal de aventureiros que requer sua ajuda para uma importante quest. Uma quest que poderá revelar informações sobre o misterioso Megipaw, o possível boss mais poderoro de Kaern.



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Capítulo 03

Misterioso Megipaw

Doze dias haviam se passado desde que eu havia conseguido minhas Botas da Velocidade. Em combate elas ainda não estavam fazendo tanta diferença, uma vez que eu ainda não conseguia reunir os itens necessários para evoluí-la, mas para ir de um local para outro elas me economizavam um bom tempo.

Eu estava de volta a Urubba, mais precisamente em uma pequena região comercial do subúrbio da cidade, onde alguns aventureiros resolveram montar suas lojas e oficinas.

Caminhei até encontrar um local chamado Armas e Armaduras Tiddle.

— Olá, Tiddle, como estão indo os negócios?

— Veja só se não é o Kain Darkcloak. Há quanto tempo!

Um rapaz trajando roubas extravagantes, cabelos loiros e longos presos por uma faixa vermelha, e barba rente ao rosto saiu de trás do balcão para me abraçar. Eu retribuí ao cumprimento quase que espontaneamente.

— Não faz tanto tempo assim. Na última vez que estive aqui você conseguiu melhorar minha katana de ferro até mais três.

— Sim, e isso já faz mais de quinze dias. Alias, já posso fabricar armas de aço, quando irá me trazer algum carvão coque para que possa transformar ferro em aço?

— Em breve. Logo, logo estarei apto a derrotar as criaturas que dropam esses itens. Também lhe trarei alguns cristais médios e pó estrelar de qualidade.

Em Kaern havia habilidades para construir e aprimorar cada tipo de item, como armas, armaduras, arcos e flechas, poções. Tiddle ainda era rank E, mas já possuía as habilidades para armas e armaduras e eu era seu melhor cliente.

— Acredito que não tenha vindo aqui apenas me cumprimentar. O que tem para mim hoje? – perguntou-me ele enquanto voltava para trás do balcão.

— Alguns minérios de ferro.

Comecei a retirar algumas pedras cinza escuro da mochila e coloca-las sobre o balcão. Diferente dos equipamentos que precisavam ser vestidos, os itens podiam ser guardados na mochila até certo limite, mas sem considerar o volume. Era como se nossas mochilas fossem um mini portal dimensional.

— E o que quer que eu faça com eles?

— Adagas de arremesso.

— Certo. E qual encantamento devo buscar?

— Retorno.

Comecei a retirar os cristais pequenos de dentro da mochila lateral e colocar sobre o balcão. Em seguida, retirei, também, diversos frascos com pó estrelar de baixa qualidade.

— Também veja até quanto consegue melhora-las. Ficarei com as três melhores. As outras, você pode vender. Dividiremos os lucros meio a meio, como de costume.

— Tentarei conseguir alguma aprimorada até cinco.

— Pouco provável com essa quantidade de tentativas, mas ficarei feliz se conseguir.

O máximo que um equipamento pode chegar em Kaern é até +5. Para aprimora-los, utiliza-se pó estrelar. O problema é que, caso ocorra falha ao aprimorar, o item ficara no atual melhoramento e não aceitará uma nova tentativa.

— Pode contar com isso. As adagas estarão prontas amanhã. Já as vendas podem demorar um pouco mais.

— Não tem problemas. Caminharei pela cidade enquanto isso e ficarei em uma boa estalagem.

— Não irá caçar alguns ursos negros?

— Não. Eles morrem com um único golpe, então não compensam pra evoluir os atributos. E mesmo seus melhores drops não valem muito para mim.

— Entendo. Antes de sair, tenho algo para você. Espere aqui.

Sequer tive tempo para responder e Tiddle já havia sumido atrás da porta ao fundo do balcão, que o conduzia até a oficina. Momentos mais tarde ele voltou carregando um embrulho.

— Este é um presente meu para você, por ter me ajudado a ser um dos melhores ferreiros em Kaern.

— Sabe que te ajudo por interesse próprio, não é? Preciso de um bom ferreiro para melhorar meus equipamentos e mantê-los sempre acima dos outros aventureiros.

— Isso não importa, você vai atrás dos melhores componentes e os que não consegue dropar você acaba comprando. Geralmente meus lucros sempre são maiores do que os seus.

O argumento era válido, então resolvi aceitar o presente. Dentro do embrulho havia uma cota de malha de ferro +3 com amplificação de vitalidade.

— Esse equipamento é muito bom!

— Com certeza. Uma boa defesa, boa evasão e aumentará seus pontos de vida em vinte por cento. Consegui mais duas com esse encantamento no processo, mas aquelas consegui melhorar apenas duas vezes.

— Muito obrigado, Tiddle.

Agradeci-o enquanto desequipava a armadura que eu utilizava e equipava a nova. Em seguida, abri o menu no canto inferior esquerdo e verifiquei meus novos status. Aquilo certamente me permitiria sobreviver a encontros muito mais perigosos.

— Assim também te mantenho vivo mesmo você insistindo em se manter solo.

— Agora acho que preciso ir atrás daquele carvão coque rapidamente pra conseguir uma katana de aço. Não vale a pena investir tantos recursos pra conseguir uma de ferro melhor que a minha.

— Nisso você tem razão.

— Agora seguirei meu caminho e te deixarei trabalhar em minhas adagas. Até amanhã.

— Até.

Saí da loja com um aceno para Tiddle.

Eu já sabia em qual estalagem pretendia ficar e em qual taverna iria jantar, então me dirigi até o Santuário de Ferro para ver se havia alguma novidade.

A grande placa de bronze que dizia: Memorial dos Aventureiros já possuía quase uma centena de nomes grafados nela. Logo nos primeiros dias nós descobrimos que morrer em Kaern era morrer de verdade, sem direito a renascer no Santuário de Ferro. Dois meses com uma centena de mortes significava que os aventureiros estavam sendo espertos e tomando muito cuidado para não morrerem.

Mas havia algo a mais ali. Uma nova placa de bronze havia surgido e nela havia grafado: Os 10 Primeiros Rank D.

Aquilo era interessante. Principalmente porque o primeiro nome da lista era Kain Darkcloak.

Sorri de maneira prepotente ao ver aquilo. O mais interessante era que todos sabiam meu nome, mas poucos sabiam quem eu era. Os nomes só apareciam para aqueles que estavam em minha lista de amigos ou com os quais eu havia formado um grupo.

O segundo nome era Lissana Shadowalker. Então ela ainda estava atrás de mim em questão de atributos. Mas como saber quem era ela? Era possível que ela estivesse naquele momento olhando para a mesma placa e eu nem saberia.

Abaixo de nós dois haviam apenas mais dois nomes: Klirk Vinge e Allys Keeneye. Também não fazia ideia de quem eles eram, mas deviam ser bem fortes para estar ali naquela lista.

Aquilo não importava muito no momento. Conforme o tempo fosse passando, os melhores começariam a se destacar e dividiríamos os mesmo campos de caça, além das mesmas dungeons. De uma maneira ou de outra iríamos nos encontrar no futuro.

Deixando aquilo de lado, resolvi caminhar um pouco mais pela cidade e ver se mais alguma coisa havia mudado. Depois disso iria para a estalagem para passar a noite.

* * *

Quando entrei na loja do Tiddle na manhã seguinte percebi não ser seu único cliente do dia.

Um deles era um homem muito alto. Pele negra, cabelos bem curtos, olhos castanhos. Ele trajava uma armadura de batalha feita de ferro que parecia possuir algum melhoramento. Em suas costas, um grande machado de duas mãos.

A mulher ao seu lado era baixa e possuía os cabelos escuros e encaracolados, contrastando com sua pele clara. Seus equipamentos eram constituídos de cota de malha e espada curta de ferro, além de um arco de carvalho preso as suas costas.

Apesar de ter reparado nos dois, não dei-lhes muito atenção e fui direto até Tiddle.

— Bom dia, Tiddle. Conseguiu fabricar as adagas que lhe pedi?

— Certamente que sim. Estão aqui – disse ele ao colocar as três sobre o balcão. – Todas com o encantamento retorno. Duas com dois melhoramentos e uma com apenas um.

— Está ótimo para o começo. Depois lhe trago mais materiais para tentar uma ainda melhor que estas.

Após pegar minhas armas e prende-las no cinto, retirei uma bolsa de couro da mochila e contei algumas moedas.

— Aqui esta um total de noventa e cinco moedas de prata.

Como eu havia fornecido a matéria prima, paguei-lhe apenas pelo serviço prestado, ou seja, metade do preço que as adagas seriam vendidas.

— Além delas consegui mais três com o encantamento afiada. Uma aprimorada duas vezes e outra apenas uma. Consegui uma com amplificação de dano e a melhorei duas vezes.

— Isso é bom, só o encantamento vale uma moeda de ouro para o comprador certo.

— Exato, a venderei por cento e quarenta moedas de prata e dividiremos os lucros.

Era por isso que gostava de fazer negócios com o Tiddle. Daquela maneira, os itens que eu conseguia dropar das criaturas valiam bem mais do que se fossem vendidos apenas como ingredientes ou matéria prima.

— A propósito – disse ele abaixando a voz para que o casal não ouvisse. – Aqueles dois procuram por Kain Darkcloak.

— E você me entregou, não é, seu safado – sussurrei de volta.

— Sim, mas não garanti que lhes diria quem você é – completou ele com um sorriso maroto no rosto.

Acenei afirmativamente com a cabeça e me dirigi ao casal.

— Então vocês querem conhecer o primeiro rank D de Kaern?

— Você também conhece Kain Darkcloack?

— Pode-se dizer que sim. Mas primeiro quero saber quem são vocês dois.

— Eu atendo pelo nome de Klirk Vinge e minha noiva é Allys Keeneye.

Não consegui esconder a surpresa em meu rosto ao descobrir que aqueles dois eram o terceiro e quarto lugar na qualificação de Kaern. Quando olhei para Tiddle, percebi que ele também desconhecia aquele fato.

— Tudo bem, então. Podem dizer por que querem me conhecer.

Pela reação que tiveram pude deduzir que já desconfiavam que eu fosse Kain. O que não queria dizer que não desejassem uma prova de minha identidade.

— Como podemos saber se você realmente é Kain e não alguém se passando por ele? – perguntou-me a mulher. Sua voz era suave, porém, firme.

Para responder esta pergunta, acessei o Menu e, em seguida, criei um grupo convidando-os. Assim que eles aceitaram, a identidade de todos estava bem às claras.

— Para ser sincero. Não precisava ser com você, mas não encontramos Lissana Shadowalker.

— Como lhes disse, esta eu não conheço, mas se a conhecerem apresentem minha loja para ela, acredito que ela deseja equipamentos tão bons quanto os de Kain.

Era claro que Tiddle não perderia a chance de fazer negócios. Só os aventureiros que estavam no topo teriam dinheiro para comprar os melhores e mais caros equipamentos.

— Se estão procurando os que estão acima de vocês, então querem ajuda para fechar alguma dungeon ou caçar algum boss, estou certo?

— Esta – respondeu-me Klirk, simplesmente.

— Se é assim, vamos discutir os detalhes em uma boa taverna que eu conheço aqui em Urubba. Até mais, Tiddle.

O casal despediu-se do comerciante e nós caminhamos até a taverna que eu havia mencionado. Klirk e eu pedimos uma cerveja escura que eles serviam. Allys optou por uma caneca de vinho.

— Digam-me o que desejam.

— Você já caçou grifos, Kain?

Assim como eu eles iam direto ao ponto, gostei disso.

— Na verdade não, mas eles não são tão fortes assim. Acho que poderia derrubar um sozinho com algum esforço.

— Certamente que sim. Nós dois já somos capazes de derrotar três deles ao mesmo tempo – afirmou Allys.

— Mas não estamos falando de um grifo comum. O nome deste é Gillan, o hipogrifo.

— Um boss, então – concluí.

— Exatamente. Ele habita uma região repleta de grifos próxima à cidade de Carcazu.

Em Kaern, oito cidades humanas eram conhecidas. E havia três delas próximas de Urubba. Castta, Carcazu e Duliah. As três cidades tinham o mesmo nível de dificuldade no percurso, mas o que se encontrava a partir de cada uma delas era diferente. Até aquele momento eu apenas havia explorado os arredores de Castta, embora soubesse mais ou menos o que havia perto das outras duas.

— E o objetivo de vocês é caçar este hipogrifo. O que ele dropa de importante?

— Não sabemos.

A resposta de Allys deixou-me tão curioso que eu terminei com a minha cerveja em uma última golada. Apenas esperei que me explicassem.

— Nós temos pesquisado um pouco sobre esse Megipaw – foi Klirk quem começou a falar. – E algumas escrituras encontradas na Biblioteca de Ferro aqui em Urubba mencionam este Gillan. Tudo o que queremos é investigar.

— Então não há recompensa imediata – concluí.

— Se quiser receber pela ajuda podemos negociar um preço.

— Não será necessário. Nos vemos amanhã na praça central de Carcazu.

Com aquelas palavras eu deixei a taverna após pagar por nossas bebidas. O percurso de Urubba até Carcazu levava praticamente um dia inteiro, mas com as Botas da Velocidade aumentando minha velocidade de movimento em 10%, além de meu alto valor de destreza, consegui chegar por volta das três da tarde, o que me deu tempo de explorar os arredores da cidade e enfrentar algumas novas criaturas para verificar se havia algum novo tipo de drop que valeria a pena coletar.

Partimos para a caçada logo de manhã. Eu estava um pouco ansioso por estar enfrentando um desafio novo e praticamente desconhecido.

Apesar de ser o casal quem conhecia o caminho, era eu quem seguia na frente enquanto eles conversavam animadamente atrás de mim. Eu não queria interrompe-los e por isso segui um tanto quanto afastado, embora o percurso estivesse se tornando muito entediante. Mas não por muito tempo.

— Esperem um pouco.

Parei meus passos e saquei uma das minhas adagas com a minha mão esquerda enquanto mantinha a katana na direita. Allys também deve ter escutado o mesmo que eu, pois preparava seu arco. Klirk apenas empunhou seu machado ao perceber que nos preparávamos para algo.

O primeiro deles apareceu empunhando um arco curto, mas, antes que disparasse, arremessei uma adaga que lhe atingiu o ombro. Minha arma retornou para minha mão graças ao encantamento e pude utilizar o arremesso de adaga mais uma vez, já que a habilidade não tinha tempo de resfriamento. Desta vez o atingi na cabeça e ele caiu no chão, já sem vida.

Os demais começaram a aparecer logo em seguida. Eram criaturas de pele verde e enrugada. Orelhas pontudas, narizes grandes e compridos. Baixos, com cerca de uns 120 centímetros de altura. Sempre descalços, vestindo armaduras de couro e portando arcos, espadas curtas e adagas. Goblins.

Ao todo eram mais de dez e estavam nos emboscando, vindo de todos os lados. Allys efetuava vários disparos e percebi que acelerava seus ataques com a habilidade Tiro Rápido. Klirk brandia seu machado enquanto protegia sua amada das investidas de nossos agressores. Ele não utilizava nenhuma habilidade, visto que aqueles não eram adversários muito perigosos.

Mesmo sem nos comunicarmos verbalmente, uma estratégia básica foi adotada por nós: derrubar primeiro os que atacavam a distância. Aquilo, porém, deveria ficar a cargo de Allys, pois eu só havia conseguido arremessar minha adaga mais duas vezes antes de ser atacado por três deles.

Não eram adversários muito perigosos, principalmente para um grupo como o nosso. Mesmo lutar contra três deles ao mesmo tempo não era difícil, tanto que nem me dei ao trabalho de utilizar meu bloquear, uma vez que mesmo quando me atingiam não causavam um grande dano.

Goblins podiam aparecer em qualquer local perto das três cidades próximas de Urubba. Eu já havia sido emboscado outras vezes e em todas elas tive que fugir utilizando a vantagem concedida pelas Botas da Velocidade. Eles não eram muito fortes, mas, para mim, enfrentar tantos adversários de uma vez era complicado.

— Nenhum hobgoblin. Que pena.

Comentei enquanto coletava os espólios da luta.

— Eles são bons adversários. A Allys e eu já conseguimos derrubar alguns deles.

— É verdade. E os drops são bons.

Aqueles dois... eles se completavam. Pude reparar na maneira com que conversavam e se comunicavam. Alguma vez eu já tive algum relacionamento assim? Não, acho que não.

Balancei minha cabeça como que para espantar aqueles pensamentos. Eu estava bem do jeito que estava. Podia muito bem me virar sozinho. Eu não precisava de mais ninguém.

— Você não vem, Kain?

As palavras de Klirk me tiraram de meus devaneios. Nós tínhamos um trabalho para fazer ali, e já estávamos quase em nosso objetivo.

O bosque aos poucos foi dando lugar a uma campina. Havia muitos grifos por ali e vez ou outra nos víamos obrigados a enfrenta-los para prosseguir.

Depois de algum tempo nós finalmente encontramos o que procurávamos. Ele era duas vezes maior que os grifos comuns. Patas traseiras de cavalo, dianteiras de ave de rapina. Suas asas cobertas de penas acinzentadas podiam chegar a mais de cinco metros quando abertas. Como hipogrifo ele tinha o pescoço mais alongado que grifos comuns, mas um bico de águia destacava-se em sua cabeça meio equina, meio aviária.

— O que querem aqui, aventureiros?

Sua voz reverberou pela campina quando ele se levantou e falou conosco. Klirk e Allys entreolharam-se assustados. Mesmo eu não pude esconder minha surpresa. Eu nunca tinha ouvido falar de um boss que falasse. Aquilo certamente não fazia parte de um jogo.

— Queremos saber o que você tem a ver com o Megipaw.

Quem o questionou foi Klirk, dando um passo à frente. Gillan emitiu um som que parecia meio que uma risada.

— Acha mesmo que iria dizer alguma coisa para criaturas insolentes que ousam invadir meu território?

Sem aviso, sem que esperássemos, ele atacou. Sua velocidade era surpreendente e ele avançou com um voo rasante próximo ao solo. Seu alvo era Klirk e eu percebi quando o guerreiro utilizou um Ampliar Defesa, a evolução do Aumentar Defesa.

O ataque foi certeiro e eu pude ver os pontos de vitalidade de Klirk sendo reduzidos em 15%. Como o foco de Klirk não era o poder mágico, seu buff não era tão efetivo, mesmo assim ele com certeza possuía muito mais defesa que eu com aquela armadura de batalha. Eu teria que tomar muito cuidado com os ataques daquela criatura

Depois de ser atacado, Klirk utilizou uma técnica de terceiro nível chamada Ataque Titânico, que duplicava sua força para o golpe. Seria devastador caso o hipogrifo não tivesse se esquivado do ataque.

Enquanto Allys disparava suas flechas eu avancei e utilizei meu Ataque da Tempestade. Último nível do Ataque Rápido, esta habilidade constituí-a se de cinco ataques em sucessão, no tempo de execução de um único golpe.

Como minha destreza era muito alta, todos os meus golpes atingiram Gillan e pude ver como seus pontos de vitalidade foram reduzidos em cerca de 10%.

O hipogrifo contra-atacou e consegui esquivar-me de seu ataque. Klirk rapidamente se interpôs entre mim e nosso inimigo. Ele era nosso tanker, afinal, e seu trabalho era suportar os golpes que seriam muito mais prejudiciais em nós que nele. Além disso, aquele machado de duas mãos podia causar grande estrago, apesar de serem golpes lentos.

Gillan, porém, não se restringiu à luta corpo a corpo contra Klirk e levantou voo. Allya mantinha-se disparando suas flechas e isso atraiu o foco da criatura, que deu um mergulho para ataca-la.

As garras do hipogrifo atingiram-na nas costas e um grande corte foi feito enquanto ela gritava com a dor. Pudemos ver quando 40% de seus pontos de vitalidade se foram apenas com aquele ataque.

— Allys!

Klirk gritou em desespero, mas era eu quem chegaria antes para ajudar a moça, que se esquivava das investidas de nosso inimigo.

Golpeei a criatura com minha katana. Eu utilizava o Ataque Rápido sem parar, mas com minha melhor técnica em resfriamento não poderia esperar causar muito dano em tão pouco tempo.

As garras do hipogrifo me atingiram, rasgando a carne de meu braço. Aquilo causava muito dano e não tentei esquivar-me dos próximos ataques, ao invés disso, utilizei meu Bloquear para ter certeza de evitar o dano até que Klirk chegasse para me auxiliar.

Para minha surpresa e desespero, porém, apenas um ataque foi amparado, pois o próximo golpe da criatura foi com seu enorme bico. Tentei bloqueá-lo, mas logo percebi que aquilo seria indefensável.

Pude ver a profundidade de sua garganta e a grande e áspera língua. Seu bico parecia uma enorme guilhotina que vinha em minha direção. Minha cabeça. Ele queria arrancar a minha cabeça. Eu iria morrer ali!

Em meio ao desespero e um grito de terror consegui virar meu corpo para o lado pouco antes do golpe derradeiro. Seu bico cravou-se em meu ombro direito e ele levantou voo enquanto me carregava. Mesmo com a dor reduzida aquilo parecia queimar até os meus ossos.

Eu não queria morrer! Tinha que lutar pela minha vida! Sem pensar duas vezes, cravei minha espada no pescoço da criatura, obrigando-a a me soltar. E eu caí de uma altura de pouco mais de cinco metros.

Sentei-me no chão, ofegante. Minha barra de vitalidade piscava no vermelho com menos de 5% restante. Foi por muita sorte... mais um pouco de dano e eu estaria morto. Mas não havia acabado ainda. Meu corpo tremia de medo quando vi que o hipogrifo fazia uma volta no ar e volta para terminar o serviço. Eu estava acabado. Não tinha forças para continuar.

— Tome uma poção!

Klirk gritou enquanto passava sobre mim e seu manchado ia de encontro ao corpo do hipogrifo que já estava no chão novamente. Instintivamente me afastei do combate enquanto procurava uma poção de cura média em minha mochila. Depois que a ingeri meus pontos de vitalidade começaram a se recuperar muito mais rápido que apenas com minha regeneração.

O combate ainda não havia acabado. Klirk recebia muito mais golpes do que desferia e mesmo com o apoio de Allys seus pontos de vitalidade estavam sendo reduzidos muito mais rapidamente que os de Gillan.

Eu precisava ajudá-los. Eles iriam morrer se eu não os ajudasse. Mas... mas meu corpo todo tremia e minha respiração estava irregular. Aquilo não era um jogo. Era a vida real e eu podia morrer de verdade ali. Eu... eu não queria morrer. Eu estava com medo, muito medo.

Uma coisa mesquinha e suja se passou pela minha cabeça. Eu podia fugir. Deixar Klirk e Allys para trás e proteger minha própria vida. Se eu podia viver sozinho por que não poderia deixar aqueles dois para trás? Eu havia acabado de conhecê-los. Não eram nada para mim.

Com minha mão esquerda dei um tapa em meu próprio rosto. Senti-me envergonhado por aqueles pensamentos tão egoístas. Apertei o cabo da minha katana com força e respirei fundo enquanto avancei contra o hipogrifo.

O efeito da poção havia acabado, mas meus pontos de vitalidade estavam cheios novamente. Allys também já estava recuperada e Gillan deve ter concluído que não valia a pena tentar persegui-la, já que não deixaríamos que ele a matasse.

— Agora tome você uma poção!

Investi com o Ataque da Tempestade, que havia saído do tempo de resfriamento. Quando o hipogrifo atacou com suas garras, utilizei meu Bloquear e voltei a ao ataque. Quando ele tentou utilizar seu bico novamente, esquivei-me de sua investida e mais uma vez voltei para a ofensiva.

Klirk ainda estava recuperando-se quando se uniu à mim novamente. Juntos, retaliamos o hipogrifo com ataques sem parar. Eu era seu foco, mas me esquivava de algumas de suas investidas enquanto Klirk defendia-me de outras.

Ele estava com menos de 10% de seus pontos de vitalidade quando decidiu recuar. Quando fez isso, porém, percebi que Allys retirava uma flecha especial de sua segunda aljava. Aquela flecha tinha a ponta de ferro e era aprimorada, talvez até encantada. A arqueira, então, utilizou sua habilidade de terceiro nível: Tiro Dilacerante, que ignora 80% da defesa do alvo.

A flecha voou com precisão e beleza, atingindo Gillan diretamente no peito. O hipogrifo soltou um som alto e estridente enquanto caia no chão. Ele permaneceu caído, mas vivo. Era hora de termos nossas informações.

Havia acabado! Eu estava vivo!

Recostei-me em uma árvore e deixei que meu corpo deslizasse até me sentar no chão. Eu teria que tomar mais cuidado daquele momento em diante. Eu estava sendo cuidadoso até então, mas, naquele momento, percebi que qualquer descuido poderia ser meu fim.

O casal, porém, não parecia estar muito abalado com aquilo. Será que eles já haviam passado por situação parecida? Fosse qual fosse o motivo, eles dirigiam-se até Gillan para questiona-lo sobre Megipaw.

— Vocês conseguiram me derrotar, humanos, e como minha última e honrada atitude irei lhes premiar com a informação que tanto desejam.

A voz do hipogrifo estava muito fraca, mas pude ouvi-la claramente de onde eu estava.

— Há muito tempo, muito antes de vocês, humanos, surgirem, Megipaw reinou sobre este mundo, soberano. Seu poder era imenso, mas ele sozinho não podia estar em todos os lugares então ele criou seus seis deuses-demônios.

Que clichê era aquilo que eu estava ouvindo? Parece que os criadores de Kaern não eram assim tão criativos afinal. Apesar de minhas opiniões, continuei escutando o que ele tinha para nos dizer.

— Um de seus deuses-demônios chamava-se Kurlla, a dragonesa rubra. E, com seu poder, ela transformou muitas criaturas para lhe servir. Por muito tempo fui um dos servos de Kurlla, até que ela desapareceu há muitos e muitos anos, tal como Megipaw e todos os seus deuses-demônios. Apesar disso, muitos de seus servos ainda vagam por este mundo, impedidos de envelhecer graças a sua magia.

— É só isso? – indagou Allya, decepcionada.

Mais de um minuto se passou e mais nada foi dito por Gillan, até que ele deu um último e agonizante grito antes de morrer. Seu drop também não foi grande coisa.

Levantei-me e comecei a rir enquanto me aproximava do casal. Eles me encararam de maneira assustada então apressei-me em explicar.

— Quer dizer que eu quase morri por nada. Hilário. Pelo menos aumentei um ponto de destreza e um ponto de vigor.

— Não diria que foi por nada, Kain – corrigiu-me Klirk. – Agora sabemos que devem existir mais desses servos por aí. Algum deles talvez tenha alguma informação melhor que esta.

— Pode ser, mas eu acho que não encontraremos nada até que esse Megipaw reapareça e comesse a agir. Acho que tudo o que podemos fazer por enquanto é evoluir e nos prepararmos para algum evento no futuro.

— Se você está dizendo, mas nós iremos continuar pesquisando.

Dali seguimos de volta para Carcazu e, após isso, nos separamos novamente. Eles não me convidaram para permanecer no grupo deles e meu orgulho não me permitiu pedir para ficar.

Resolvi voltar para Castta enquanto tentava me convencer de que poderia ficar bem sozinho como tinha feito até aquele momento.


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Notas finais do capítulo

Os Atributos de Kaern:

Em Kaern os aventureiros ganham experiência individual para cada atributo conforme os utilize. Esta experiência recebe um bônus quando se mata alguma criatura que esteja sendo caçada.

Os quatro atributos principais melhorados desta maneira são:
Força, que determina o dano dos golpes físicos.
Destreza, que determina a precisão dos golpes, esquiva, velocidade de ataque e movimentação.
Poder Mágico, que determina a força de suas magias e buffs.
Vigor, que determina a quantidade de pontos de vitalidade e a resistência contra danos e efeitos negativos.

Além desses existem outros duas coisas que podem ser melhoradas conforme forem utilizados:
Regeneração, que inícia em 0,5% por segundo e pode ser aumentado até um máximo de 5%, mas apenas se for utilizada sem auxilio de magia ou poções.
Energia, que é gasta em qualquer ação realizada, principalmente com magias e habilidades. Ela aumenta em 1 ponto para cada 100 pontos gastos e se recupera após dormir.

A partir de agora colocarei curiosidades sobre o sistema de Kaern a cada final de capítulo. Além disso, vale ressaltar que eu tenho um plot geral a ser seguido, mas existem muitas lacunas que irei preencher conforme for escrevendo, então os comentários são muito importantes para que eu possa deixar essa história cada vez mais completa e com mais qualidade.

Então não seja timido e comente aí.



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