Melinyel escrita por Ilisse


Capítulo 5
Capítulo 4




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Já haviam se passado sete dias, Elora mal pode acreditar quando se deu conta. Uma semana inteira desde que Herenvar passou a ser seu guarda pessoal, seguindo-a de perto por todos os cantos como uma segunda sombra. Uma semana desde que encontrara com o rei. 

Até o momento seu plano de passar despercebida por ele estava dando certo. Passava a maior parte do tempo no quarto; e quando saía ia apenas para os lugares em que tinha certeza que ele não estaria como as cozinhas ou os estábulos. Elora visitava Randír regularmente para escová-lo, esses pequenos momentos com seu cavalo eram quase como uma terapia. Sentia-se mais perto de casa, seja lá aonde fosse.

Elora surpreendeu-se quando percebeu que pensava novamente em Thranduil. As perguntas insistiam em rondar sua mente e sua curiosidade não as deixavam partir. Qual teria sido a reação do arrogante rei quando percebeu que ela não faria alardes sobre a presença do guarda em seus dias restantes em Mirkwood? Ele esperava que Elora aceitasse recatadamente sua ordem ou presumia que ela fosse ao seu encontro novamente? 

Talvez nem esperasse nada dela. Afinal ele é um governante com deveres e responsabilidades e Elora era apenas uma humana, ainda que metade, a qual descobrira há pouco tempo que tudo o que sabia sobre sua vida era mentira. Thranduil tem outras preocupações mais urgentes do que lidar com uma convidada inconveniente. 

O assunto rondava sua mente pois Elora ainda ficava incomodada ao lembrar-se de que concordou com o plano de Tauriel em não falar absolutamente nada sobre o assunto. Confiava nos conselhos da chefe da guarda e no fundo sabia que era o melhor caminho, mas Elora não podia deixar de pensar que aceitar a situação desta maneira era quase o mesmo que admitir culpa. Ela não fizera nada errado, mas ainda sim tinha que ficar em silêncio enquanto recebia sua punição.

Apenas Emel, e ocasionalmente Tauriel, escutavam suas reclamações ao final do dia; quando Elora já não aguentava a pressão dos olhos de Herenvar sobre seus ombros. Sua frustração crescia com o passar dos dias e sua irritação era alimentada todas as manhãs quando abria a porta de seus aposentos e ele já estava lá, aguardando-a. 

Seu quarto era o único lugar em que podia desfrutar de alguns momentos sozinha. Até quando caminhava ao lado de Tauriel ou Emel ele as seguia.  Elora sabia que era errado culpar o elfo ou olhá-lo com certo rancor, afinal ele estava apenas cumprindo ordens e deveria estar detestando a situação tanto quando ela. Mas ela não conseguia deixar de direcionar-lhe sua raiva.

Elora sabia o quanto elfos se orgulhavam de suas funções e Herenvar não deveria ter ficado feliz em sair de seu posto na patrulha. Ela tinha quase certeza que Thranduil o colocara nesta posição pelo incidente que houve alguns dias atrás, quando Tauriel fora ferida por uma das aranhas e outro elfo quase perdera a vida. Tudo devido à um descuido de Herenvar. 

Tauriel lhe explicara que o elfo havia atingido a maioridade não fazia muito tempo, e que ele estava empenhando-se na tarefa de protegê-la para provar ao seu rei que era capaz. Mas Elora não esperava que ele cumprisse sua tarefa com tanta maestria. Ela não conseguia livrar-se dele! 

Alguns dias depois, a menina decidiu mudar sua tática. Daria uma chance à ele, seria gentil e simpática com o jovem elfo de cabelos negros. Poderia iniciar uma conversa enquanto caminhavam pelo palácio e utilizar o tempo que passavam juntos para conhecê-lo melhor. Como sua mãe costumava dizer: um amigo a mais nunca era demais. Talvez assim ele se compadecesse de sua situação e decidisse lhe dar algumas horas a sós durante o dia. Ninguém precisaria saber... ela aproveitaria a doce felicidade da solidão e ele gastaria suas horas fazendo seja lá o que for que elfos fazem em seu tempo livre. Todos sairiam ganhando!

Nos dias seguintes ela empenhou-se em criar uma amizade com Herenvar. Suas conversas, apesar de trivias, eram até agradáveis. Elora percebeu que apesar de estar sempre sério, no fundo ele era uma pessoa bondosa. Via como tratava Emel, com toda a cordialidade possível e sempre se dirigindo à ela com palavras atenciosas. 

Elora tinha certeza que ele começara a nutrir sentimentos pela elfa, mas quando perguntou à Emel se era recíproco recebeu apenas um olhar preocupado.

Emel também já havia notado a atenção de Herenvar, mas não sentia o mesmo que ele. Ela era romântica e tinha certeza que sentiria em sua alma quando olhasse para o seu verdadeiro amor. Assim que seus olhares se cruzassem, seu coração aceleraria e tudo em volta perderia o foco. 

Infelizmente ela não sentiu nada parecido com Herenvar, e no fundo sabia que não teria a felicidade plena ao seu lado. Emel era sensível, gostava de admirar as estrelas enquanto conversava sobre poesia. E Herenvar era um guerreiro, tinha o porte e as maneiras de um. Apesar de serem elfos e possuírem todas estas qualidades, eles ocupavam os extremos opostos. Emel preferia passar toda a sua vida imortal sozinha do que viver alguma coisa que em seu coração sabia que não era real. 

Elora refletia, lembrando-se das palavras da elfa enquanto olhava a floresta de sua janela. 

Talvez este fosse seu destino também. Passar a vida inteira sozinha, buscando algo que nem sabe se existe de fato. 

A menina sobressaltou-se quando ouviu sua porta abrir e fechar em um alto estrondo. Emel encontrava-se com as costas apoiadas na porta, arfante e com as bochechas mais rosadas que o normal. Tinha uma expressão horrorizada no rosto.

— Eu fiz uma coisa terrível. - Emel murmurou com os olhos arregalados enquanto sentava-se em uma das poltronas no centro do quarto. 

— Pelos deuses...- Elora preocupou-se. Emel era distraída e poderia ter causado todo o tipo de confusão. - Conte-me logo! 

— Estava a caminho daqui quando Herenvar pediu que eu o acompanhasse, pois gostaria de conversar comigo em particular. - Elora fechou os olhos aliviada, não deveria ser algo tão sério. Emel ignorou a reação dela e continuou a narrativa. - Sabia que deveria ter recusado, mas não consegui. Não queria ser grosseira, então o segui até um dos corredores próximos aos salões. E ele declarou que gostaria de me fazer a corte. – Emel tampou o rosto com as mãos.

— E você negou. - Elora presumiu. Emel olhou-a culpada e Elora levou as mãos à boca, em choque. - Você aceitou?

— Pior. - A elfa levantou-se e começou a caminhar nervosamente pelo quarto. - Eu entrei em pânico, não estava preparada para um pedido tão direto. Planejei dar alguns sinais sutis de que não retribuiria seus sentimentos, seria mais delicado.

— Emel... o que você fez?

— Eu o olhei horrorizada, perdi a fala e simplesmente saí correndo o mais rápido que eu pude. Sem nem ao menos olhar para trás. – Emel soltou um muxoxo, triste. – Oh, Elora... Sou uma alma horrível, não sou?

Elora levantou-se e abraçou a amiga tentando confortá-la. 

— Fique calma. Sua reação não foi a das melhores, confesso. Mas encaremos os fatos: pelo menos agora Herenvar sabe que não você sente o mesmo que ele. – Elora sabia que era errado rir de uma situação destas, mas não conseguiu conter-se.

— Isto é sério, Elora. - Emel afastou-se tentando, sem sucesso, esconder o leve sorriso de divertimento que se formou em seu rosto. - Eu poderia ter sido mais agradável ao recusá-lo. Temo que ele fique ressentido e tenha medo de dar a devida importância quando encontrar sua real prometida.

Elora revirou os olhos. 

— Primeiro: ele é um elfo. Terá muitas eras para refletir e superar este... triste acontecimento. E segundo: se está tão incomodada, você pode ir desculpar-se. Antes tarde do que nunca.

A elfa olhou-a, ponderando suas palavras. Teria coragem de encarar Herenvar novamente? Emel estava muito envergonhada, mas sabia que não poderia ignorá-lo pelo resto da vida. A eternidade é muito tempo.

— Sim, farei isso. - Emel estufou o peito tomando coragem. - Hoje à noite, após o jantar.

— Não! Tem de fazer agora. Se a conheço bem irá desistir se ficar postergando a conversa.

— Tem razão. Deseje-me sorte. - Emel andava confiante até a porta.

— Boa sorte. E seja firme, deixe sua posição bem clara. Homens em geral, elfos ou não, tendem a interpretar nossas palavras da maneira que melhor lhes convém.

Emel assentiu e dirigiu-se para fora. Elora sentava-se na poltrona quando uma idéia lhe ocorreu. Emel iria ao encontro de Herenvar alguns andares abaixo e o outro guarda que o substituía à noite ainda não havia se apresentado. E ele sempre o fazia no início do turno. Isso queria dizer que não havia ninguém lhe vigiando? 

Elora levantou-se e foi depressa para a porta, abriu-a devagar enquanto observava o corredor silencioso. Reprimiu a vontade de gritar de felicidade. Finalmente teria alguns preciosos minutos sozinha. 

Esgueirando-se para fora, ela foi andando rapidamente até a escadaria. Daria um jeito de não ser vista, não queria que Herenvar fosse advertido por sua causa depois de um dia como esse. Caminhou silenciosamente até o corredor que levava à ala leste, ela poderia ir até os jardins.

Já estava na metade do caminho quando viu duas sombras crescerem na parede à sua frente. Elora olhou para os lados, mas não havia onde se esconder. Voltou correndo para o início do corredor e entrou na primeira porta que viu. Ela encostou o ouvido na madeira, esperando que os elfos logo fossem embora mas eles pareciam estar no mesmo lugar conversando. Ela teria que ficar ali algum tempo, só esperava não estar invadindo outra ala proibida.

Elora perdeu o fôlego quando virou-se, percebendo as enormes estantes cheias de livros à sua volta. A biblioteca era grandiosa, estantes e mais estantes serpenteavam pelo grande cômodo formando um labirinto que qualquer pessoa gostaria de perder-se.

O ambiente não possuía aberturas para o exterior e era iluminado por velas. Andou por entre as estantes correndo as pontas dos dedos pelos exemplares. Nunca vira tantos livros juntos antes. Todos os exemplares que pegara estavam escritos em sindarin. Ficou um pouco triste em não poder lê-los, mas isto não apagou totalmente sua felicidade. Um dia, depois que aprendesse a língua, poderia voltar ali só para lê-los.

Claro, isso implicaria ver novamente o rei. Mas os livros valiam a pena.

Chegou ao centro do cômodo, o qual era ricamente decorado para oferecer o maior conforto possível aos curiosos que fossem buscar conhecimento no local. Uma lareira crepitava na parede à sua esquerda, dando ao ambiente uma temperatura agradável, duas poltronas posicionavam-se à sua frente. Elora deu um passo em sua direção mas parou quando ouviu um barulho abafado à sua direita. Havia mais alguém ali. 

Ela prendeu a respiração e foi o mais silenciosa possível enquanto dava alguns passos para trás, quem quer que fosse não a havia visto. Então ainda havia uma pequena chance de Elora conseguir sair sem ser percebida.

— Não devia esgueirar-se pelas sombras desta forma senhorita, posso achar que está tramando alguma coisa. 

Elora sentiu seu sangue gelar quando a voz chegou aos seus ouvidos. Os deuses só podiam estar brincando com ela. Por que dentre todos os elfos de Mirkwood ela tinha que encontrar logo com o que menos queria ver? 

A menina olhou para trás, para o caminho até a porta de entrada, esperançosa que outra pessoa entrasse e o distraísse de sua presença. Assim poderia fingir que não era ela que estava ali de fato. Mas ninguém entrou e o cômodo foi tomado pelo silêncio. 

Elora sentia-se estúpida. Se tivesse ficado quieta no quarto isto não estaria acontecendo. O que faria agora? Não poderia sair como se nada tivesse acontecido, o rei só iria irritar-se ainda mais e ficar exitando também não a ajudava.

O jeito seria mentir. Sim! Ela poderia desconversar e sair em seguida. Tudo bem rápido. Ele nem perceberia que Herenvar não estava por perto. Elora passou as mãos pelos cabelos e ajeitou o vestido, enquanto controlava a respiração. 

— Boa tarde, majestade. - Elora engoliu seu orgulho e falou-lhe com a voz mais doce que pôde enquanto entrava no centro do cômodo, parando o mais longe possível dele.

Thranduil estava sentado no sofá do lado oposto à lareira. Ele parecia relaxado entre as almofadas escuras, a bandeja com uma taça e uma garrafa de vinho encontrava-se sobre a pequena mesa ao seu lado. Elora percebeu que não havia coroa em sua cabeça e suas roupas, apesar de ainda serem luxuosas, não exalavam prepotência como as que ele vestia em seu primeiro encontro. Mesmo sem a pompa excessiva, Thranduil ainda possuía o porte arrogante e altivo de antes.

Ele não desviou o olhar do livro que lia com interesse. Elora saudou-o mesmo assim. 

— Não estava esgueirando-me, majestade. Apenas admirava a beleza singular da biblioteca. - bem, isso não era uma mentira. – E quando percebi o senhor aqui não quis perturbá-lo em seu momento de descanso. Vou deixá-lo desfrutar de sua leitura em paz.

— Não. - a voz do rei ecoou pelo cômodo. 

Elora estremeceu quando viu seus olhos azuis encarando-a.

O olhar de Thranduil era tão intenso quanto se lembrava. Sem quebrar o contato visual ele fechou o livro calmamente, depositando-o sobre uma das almofadas.

— Deve me tomar como um tolo, menina. Se acha que acreditarei em suas palavras. - um sorriso perigoso apareceu no canto de sua boca. - Mas devo admitir que tem coragem, ou muita estupidez para tentar ludibriar-me.

— Perdão? - Elora não acreditou que esta mísera palavra fora a única coisa que saíra de sua boca. 

Deveria ter sido mais convincente, elaborado uma resposta tão complexa que ninguém ousaria duvidar. Mas não pode; a presença do rei já estava afetando-a. Elora não conseguia concentrar-se enquanto o olhar gélido de Thranduil estava sobre ela. Sentia-se inquieta e nervosa, gostaria de sair logo dali.

— Conheço uma mentira quando ouço uma... senhorita. - o rei disse ameaçadoramente. - Se quer tentar me enganar, o mínimo que pode fazer é esforçar-se um pouco mais para deixar as coisas interessantes. 

Ela sentiu a irritação aumentar quando viu o olhar presunçoso em seu rosto. Podia ver que ele divertia-se com seu desconforto. Ficar calada teria sido a melhor opção mas a raiva acumulada voltava a borbulhar com toda a força e já não podia mais ser ignorada.

— Diverti-lo é meu principal objetivo majestade. Diga-me o que julga ser interessante que farei o meu melhor. - Elora disse sarcástica. 

— Vamos tentar novamente então: Qual o real motivo de estar nesta sala?

Thranduil já havia compreendido o porquê no momento em que percebera sua presença inquieta. Ele sabia que era questão de tempo até ela tentar fugir de seus guardas. O rei conhecia um espírito rebelde quando encontrava um. 

— Não queria encontrar com os elfos que rondavam o corredor. 

— Meias verdades não irão ajudá-la.

— Se julga ser dono da verdade, meu senhor, por favor esclareça os fatos para mim. - Elora disse sem pensar, mas agora não havia mais volta.

O sorriso no rosto do rei desapareceu enquanto ele levantava-se lentamente como um predador prestes a atacar.

— Como ousa falar comigo neste tom? – Thranduil caminhou, parando à sua frente. Ele era mais alto, mas Elora não se deixou intimidar. - Tem sorte de ser protegida de Elrond, criança... muitos já definharam em meus calabouços por falaram bem menos. - Ele ameaçou.

— Por que ameaça-me, majestade? – Elora aproximou-se mais, inalando seu forte perfume. – Não fiz nada contra o senhor ou contra qualquer um neste reino, não ofereço ameaça nenhuma. E nem poderia já que tenho sido vigiada dia e noite como uma prisioneira.

— Criança insolente. – Ele rosnou.

— Pare de me chamar desta forma, não sou criança nenhuma! - Elora esbravejou.

— Deveria lhe mostrar como prisioneiros são tratados de verdade... De fato, algumas semanas em uma cela ajudarão seu temperamento.

— Posso garantir-lhe, meu senhor que isso não mudaria nada.  De fato, não estaríamos nesta situação se o senhor não tivesse punido-me em primeiro lugar.

— Continua desafiando minha autoridade. - Os olhos de Thranduil brilharam perversos. - Não sabe com quem está lidando? Sou seu rei, me deve respeito e obediência.

— Você não é o meu rei! - ela quase gritou. - Respondo somente à Lord Elrond porque ele ganhou minha admiração, não por ser meu tio, mas por ser uma alma honrada e boa.

— Enquanto estiver em minhas terras, deve respeito a mim.

— Então acho que já devo partir, majestade. - Elora virou-se rapidamente para o corredor de estantes.

— Não ouse virar as costas para mim! 

Thranduil gritou, mas já era tarde. A menina caminhava a passos largos e firmes em direção à saída. Quando alcançou o corredor não se importou em ser vista, apenas correu o mais rápido que pode em direção aos estábulos. Iria sair dali, não poderia continuar sob o mesmo teto que aquele rei prepotente e arrogante nem mais um segundo. A lua se tornaria vermelha antes que ela o tomasse como seu rei. 

Elora desejou despedir-se de Emel e Tauriel mas não havia tempo a perder. Ela sabia que tinha cruzado todos os limites de respeito possíveis e que Thranduil deveria estar ordenando neste exato momento que a jogassem nas masmorras. Ela poderia ter exagerado, mas sentia-se leve após de tirar tudo aquilo do peito. Elora encontrou Randír e rapidamente selou-o. 

Estava prestes a atingir a floresta quando ouviu uma movimentação nos estábulos. Elora fez com que Randír aumentasse a velocidade, não deixaria os elfos alcançarem-na. As árvores passavam como um borrão ao seu lado, uma sensação inquietante se apossou da menina. Sentia-se vigiada, mas provavelmente era coisa de sua cabeça.

Após alguns minutos Elora puxou as rédeas do cavalo, obrigando-o a parar. O silêncio afirmava que não estavam sendo seguidos de perto. Mas Elora sabia que não poderia baixar a guarda; os elfos conheciam cada árvore da floresta, enquanto ela estava completamente perdida. Chegariam até ela rapidamente. 

Elora olhou para os lados, nervosa. Para que lado deveria seguir? Tudo ao redor parecia igual: completamente sombrio e úmido. Ela passou as mãos pelos braços tentando aquecer-se, a floresta estava fria e ela não teve tempo de pegar uma capa. Sentiu gotículas de água atingirem seu rosto. Olhando para o alto pode ver as primeiras gotas de chuva atravessarem as copas das árvores, tão densas que nenhum feixe de luz conseguia passar. Um trovão ecoou pelo céu, alto e poderoso. A tempestade logo estaria sobre eles, Elora precisava decidir qual direção seguir, e logo. Precisava sair logo da floresta e procurar abrigo. 

Decidiu ir em frente mas Randír não respondeu seus comandos, o cavalo estava quieto e somente suas orelhas movimentavam-se. Havia alguma coisa por perto. Elora sentiu o coração disparar e suas mãos tremeram levemente, quando saiu do palácio esquecera de um pequeno detalhe: aranhas. 

Ela não carregava nenhuma arma ou qualquer objeto que pudesse ser usado para atacá-las. Randír começava a ficar inquieto e Elora debruçou-se sobre seu pescoço pedindo que ele se acalmasse. Para qualquer outra pessoa falar com um cavalo poderia parecer loucura, mas Elora tinha certeza que Randír conseguia entendê-la. 

Um estalido rompeu o silêncio e o cavalo começou a galopar rapidamente. Elora desequilibrou-se com o rompante mas conseguiu se segurar. Olhou para trás e viu a gigantesca aranha em seu encalço. Era muito maior do que poderia ter imaginado, não tinha chances contra uma criatura daquelas. As presas abriam e fechavam-se freneticamente, salivando pela presa recém encontrada.

Randír pulava os troncos caídos pelo caminho com maestria. Elora tentava proteger-se dos galhos afiados que arranhavam sua pele como navalhas, uma ardência incômoda começava a surgir em seu pescoço. Estavam passando por um corredor de árvores mortas e não poderia mudar de caminho agora; Elora levantou um braço tentando proteger o rosto e não prestou atenção em um galho maior que surgira à sua frente. O movimento que fez para desviar-se acabou fazendo com que ela se desequilibrasse, caindo no chão. Randír parou no mesmo momento, relinchando raivoso. 

Elora levantou-se com dificuldade, o chão era lamacento e escorregadio. A menina sentiu algo bater em suas costas, empurrando-a contra uma árvore. Ela virou-se rapidamente, ainda em tempo de ver duas aranhas vindo em sua direção. Randír lançou-se sobre um dos monstros atacando-o com seus cascos, mas não era suficiente. 

O cavalo foi lançado alguns metros a frente enquanto a outra aranha aproximava-se rapidamente de Elora. Ela procurou um galho para tentar defender-se, mas só havia lama à sua volta. Elora fechou os olhos com força, enquanto aguardava o golpe fatal.

Mas nada aconteceu. Quando Elora abriu os olhos novamente viu a aranha jogada ao chão com um pedaço alto e pontudo de madeira perfurando sua cabeça, como uma lança. Elora tinha certeza que ele não estava ali alguns segundos atrás e não havia ninguém por perto que poderia tê-lo lançado. Era como se o mesmo tivesse brotado magicamente do chão.

Mas a menina não pode refletir sobre o estranho fato por muito mais tempo, um borrão vermelho parou à sua frente lançando flexas sobre a outra aranha que grunhia para Randír. Elora aliviou-se quando viu Tauriel.

— Abaixe-se! – Tauriel gritou enquanto disparava uma faca bem no meio dos olhos da criatura que se aproximava por trás de Elora. - O que está fazendo aqui? - Tauriel estava raivosa.

Elora pensava em uma forma de resumir todos os acontecimentos quando grunhidos horrendos chegaram aos seus ouvidos. Mais aranhas vinham em sua direção. A elfa ordenou que Elora corresse em linha reta na direção em que apontava. Elora ficou receosa, mas Tauriel garantiu que estaria logo atrás dela.

A menina assentiu procurando Randír ao redor; mas o cavalo não estava mais lá. Tauriel a empurrou, obrigando-a a correr. E Elora obedeceu, corria o mais rápido que suas pernas permitiam. Ouvia Tauriel gritando para ela continuar de tempos em tempos.

Após alguns minutos alcançou aos tropeços a borda da floresta, deixando seu corpo cair na grama. Seu peito doía e suas pernas estavam moles pelo esforço. Ouvia os guinchos das criaturas ao longe, dentro da escuridão da floresta. Elora encarou as árvores à sua frente, aguardando Tauriel aparecer.

A elfa logo surgiu por entre as árvores, com as roupas manchadas por um líquido preto viscoso. Elora lhe sorriu aliviada, mas Tauriel encarava atônita um ponto atrás da menina. 

Elora olhou para trás e surpreendeu-se quando viu um grupo de anões parados a alguns metros. Vestiam pesadas armaduras e tinham barbas longas e trançadas. Encaravam-nas com os olhos semicerrados, desconfiados. Um deles estava mais próximo e encarava Tauriel da mesma forma que ela. Pareciam conhecer-se.

A menina percebeu que ele diferenciava-se do restante do grupo em muitos aspectos. Sua barba era bem curta e seus cabelos negros não possuíam tranças ou adereços. E embora parecesse jovem, tinha o olhar triste e pesado de quem já viu coisas terríveis.

Tauriel logo puxou o arco, mas não apontava para o anão de cabelos negros, ela mirava no resto do grupo. Como se aquele único anão não lhe oferecesse perigo. Todos no grupo ficaram atentos, prontos para atacarem.

— Vamos. - Tauriel falou para Elora sem desviar os olhos dos anões. 

A menina levantou-se, acompanhando Tauriel que dava leves passos para trás ainda com o arco em riste. Elora encarou curiosa o anão de cabelos negros enquanto ele fechava os olhos e cerrava fortemente os punhos. Parecia magoado; e embora Tauriel tivesse a mesma expressão no rosto, não olhou para trás nem uma vez enquanto voltavam para a escuridão entre as árvores. 


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Notas finais do capítulo

Desculpem o atraso, não consegui postar antes. :/
E aí, o que acharam?