Melinyel escrita por Ilisse


Capítulo 6
Capítulo 05




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Tauriel sentia os olhos marejados enquanto caminhava rapidamente entre as árvores, via que Elora tinha dificuldades em acompanhar seu ritmo mas não diminuiu o passo. Queria apenas afastar-se o mais rápido do fim da floresta. Ir longe o suficiente para não ouvir mais a respiração pesada dele que insistia em chegar aos seus ouvidos. Tauriel temia fazer alguma estupidez caso ficasse por perto tempo demais. 

Sentia raiva de si mesma por fraquejar desta maneira. Havia feito uma promessa quando retornara à Mirkwood após a batalha em Erebor: Não choraria mais por ele, nunca mais. Tauriel decidiu esquecê-lo no momento em que pisou novamente na floresta sombria, mas falhara miseravelmente na tarefa. Seu rosto era a primeira coisa que imaginava quando acordava e a última quando adormecia. 

Era tarde demais quando percebeu que nunca o tiraria de seu coração, ele fazia parte de sua alma e seria assim até o fim dos tempos. Agarrava-se a ideia de que a dor da separação tornaria-se suportável após alguns anos, seria algo com o que aprenderia a conviver. Mas toda esta ideia caiu em ruína quando o viu novamente e percebeu que ela nunca diminuiria. Ele estava bem ali, em pé diante dela. Tão perto a ponto de poder tocá-lo em alguns passos, mas longe o suficiente para saber que isso nunca seria possível novamente. O abismo estava a sua frente mais claro do que nunca. E doía demais. 

Foi terrível afastar-se uma vez, fazê-lo novamente era excruciante. 

Seu coração batia fortemente no peito, desenfreado e não ouvia mais a voz da razão. 

Elora curvou-se, apoiando as mãos nos joelhos enquanto respirava com dificuldade. Teve que correr para seguir o ritmo da elfa e seu pulmão agora reclamava por todo o esforço do dia. Teria que voltar a exercitar-se, ficara mole no período que passara com Emel mimando-a com todos aqueles doces. O vestido pesado e cheio de lama também não ajudava em sua agilidade. Quando conseguiu acalmar a respiração procurou pela elfa, viu Tauriel com uma das mãos apoiada em uma árvore. 

A elfa estava perturbada e Elora não sabia a melhor maneira de aproximar-se. Tauriel tinha os olhos vidrados no horizonte, mas não parecia enxergar nada. Estava perdida em pensamentos e não proferira uma palavra desde que entraram novamente entre as árvores. A menina sabia que trancar sentimentos tão fortes dentro de si não traria nenhum bem, mas Tauriel não parecia ser o tipo de pessoa que conversa abertamente sobre os próprios problemas, ainda mais para alguém que conhece a tão pouco tempo. 

Elora parou ao seu lado, colocando a mão no ombro da amiga. Tauriel pareceu acordar de um sonho, virando-se rapidamente para a menina.

— Não vou lhe perguntar nada, mas saiba que preocupo-me com você. - disse Elora. - Estarei sempre por perto caso precise conversar. Devo admitir que não sou boa em dar conselhos mas sou uma excelente ouvinte. Carrega um grande peso no coração, Tauriel. Deveria livrar-se dele em algum momento.

— Preciso apenas de um pouco de tempo. - Tauriel passou a mão nos olhos. - Agradeceria se não comentasse sobre isso.

— Nem precisava pedir. 

Elora via, claro como água, que aquele anão era o culpado pela tristeza presente no olhar da elfa. Os dois pareceram muito mexidos com o encontro repentino; Elora percebeu o diálogo silencioso, cheio de tensão entre os dois e o modo como Tauriel não se preocupou com um possível ataque dele. 

A menina arregalou os olhos quando percebeu a verdade que estava bem diante de seu nariz.

— Você o ama. - Elora murmurou antes que pudesse controlar a boca. 

Apesar de ter falado mais para dentro do que para fora, a menina teve certeza que Tauriel ouviu ao vê-la contrair os ombros. 

— Perdão. Pensei alto demais. - A menina explicou-se rapidamente, não queria que a elfa ficasse ressentida. - Mas não deve envergonhar-se por amar, Tauriel. Você é afortunada, encontrou sua outra metade.

— Amor... não serve para nada Elora. Apenas provoca dor e sofrimento. Não quero ouvir mais nada sobre isso. - disse Tauriel firmemente. - Agora vamos, a tempestade já está chegando.

Elora permaneceu no mesmo lugar, imaginando o que teria acontecido entre os dois para que Tauriel se amargurasse tanto. Claro, ela podia concluir que o relacionamento não seria bem visto em nenhuma das duas raças; até mesmo ela sabia que Elfos e Anões eram inimigos declarados há eras. Mas tinha certeza que nem Thranduil teria poder suficiente para manter Tauriel  afastada de seu amor se ela decidisse o contrário.  

— Vamos, Elora! - Tauriel disse impaciente quando percebeu que a menina não a seguia. 

— Não posso voltar. - Elora disse finalmente. - Você não veio dos salões?

— Ainda não voltei ao reino, minha patrulha estava finalizando o turno quando a vi por entre as árvores. - Tauriel olhava incrédula para menina cabisbaixa à sua frente. - O que você fez? 

Elora viu a elfa fechar os olhos, Tauriel parecia cansada e a menina sentiu-se culpada por causar mais dor de cabeça à chefe da guarda. 

— Eu fugi. - a menina cruzou os braços no peito, defensivamente. 

— Elora! - Tauriel gritou. - Como pode ser tão inconsequente? Não sabe os problemas que causaria caso se ferisse sob nossa guarda? 

— Desculpe... Eu não pensei na hora, foi impulsivo e totalmente estúpido. Percebo isso. - Elora sentia a culpa de suas ações caírem sobre seus ombros. Estremeceu ao pensar em Herenvar. - Mas ainda sim, uma decisão foi tomada e não voltarei atrás. Não posso voltar atrás.

— Você não é mais uma pessoa comum Elora! Deve parar de se comportar como se seus atos não influenciassem ninguém. Fugir sem se importar com as consequências já não está mais ao seu alcance. 

— Eu não pedi por isso! - Elora gritou. Todos os dias era assombrada por estes pensamentos. - Não desejo que ninguém dependa de mim! Queria poder voltar no tempo para estar em Alórien com minha mãe completamente alheia a elfos, bençãos e guerras! Quero paz, Tauriel. - a menina escondeu o rosto nas mãos, tentando acalmar-se. A elfa não era culpada por sua situação, não queria gritar com ela. - Quero minha liberdade de volta, sem reis exigindo minha obediência e respeito sem merecerem.

A expressão de Tauriel mudou quando ouviu a palavra rei, já sabendo o que teria acontecido para que Elora estivesse na floresta.

— Você ouviu alguma palavra que eu disse nos últimos dias? Porque ignorou meus conselhos? Deveria ter ficado tranquila em seu quarto, longe de problemas!

— Apesar do que diz não sou uma lady, Tauriel. Não consigo ficar o dia todo trancada, sentada obediente enquanto Emel tenta me ensinar a bordar. Não sou assim. Quis dar uma volta, sozinha com meus pensamentos, não pensei que fosse encontrar justo com... ele. 

Tauriel ergueu uma sobrancelha impaciente, Elora percebeu que ela aguardava o resto da história.

— Não vou repetir minhas palavras pois no fundo, mesmo não querendo admitir, não me orgulho delas. Saiba apenas que não nos despedimos em bons termos. Preciso apenas que aponte a direção de Lothlórien, darei meu jeito para chegar até lá.

— Não sobreviveria sozinha nem um dia. As aranhas não são as únicas coisas com que deve se preocupar na floresta; e há rumores de Orcs vagando novamente por Rhovanion. - disse tauriel. - Você voltará comigo para o reino, querendo ou não. 

— Não, por favor Tauriel! - Elora reclamou quando a elfa puxou seu braço, forçando-a a caminhar.

— Não permitirei que você se coloque em risco.

— Ele não permitirá que eu volte. Já deve estar planejando em qual cela me jogar se eu pisar em seus domínios novamente. 

— Se o rei assim decidir terá meu apoio; e você não reclamará ou tentará fugir novamente. Ações tem reações, Elora. Aprenda logo de uma vez!

— Não desconte sua raiva em mim! - Elora soltou-se de sua mão. - Você está magoada pelo encontro com aquele anão e entendo que só piorei as coisas fugindo, mas não quero que desconte sua frustração em mim só porque estou mais perto de você no momento. 

Tauriel olhou-a culpada, sabia que Elora tinha razão. Estava extravasando sua ira com a pessoa errada.

— Tem razão, me desculpe. Não queria me exaltar com você, apesar de não concordar ou apoiar muitas de suas ações. - disse Tauriel arrependida. 

— Sem problemas, até eu me tiro do sério as vezes.  - disse Elora. - Também lhe devo desculpas, deveria ter sido mais forte e seguido seus conselhos... teria evitado tanta dor de cabeça. 

— Me importo com você, de verdade. - disse Tauriel. - Sua vida mudou muito e rapidamente, mas você precisa aceitar os fatos e começar a se habituar em sua nova posição.

— Sei disso. - Elora abraçou-se. Um vento frio passou ao seu redor, lhe dando calafrios. - Obrigado por ser minha amiga.

— Ainda vou levá-la ao Rei. - Tauriel falou firmemente e Elora fez uma careta. - Mas prometo que se você acabar em uma das celas, a visitarei todos os dias com aqueles doces que Emel lhe prepara.

A menina deixou os ombros caírem. 

Seguia a elfa em silêncio, enquanto observava ao redor tentando perceber antecipadamente se havia mais alguma aranha por perto. Tauriel caminhava com suas adagas nas mãos, também atenta. Elora tentava ser positiva, mas sua mente insistia em imaginar os piores cenários que estariam lhe esperando no palácio. Um rei vingativo com o orgulho ferido não era nada bom.

Estavam novamente no local onde Tauriel lhe salvou das aranhas. Elora olhou preocupada a enorme marca na lama, aonde Randír caiu quando foi jogado por uma das criaturas. O cavalo era esperto, mas estavam em uma floresta onde cada folha parecia pingar veneno. Depois de tudo não poderia perdê-lo, era o único elo com sua antiga vida.

Elora assistiu curiosa enquanto Tauriel guardava suas adagas e olhava intensamente para frente com os braços colados ao corpo. A menina então ouviu um farfalhar de folhas e sorriu quando Randír apareceu por entre as árvores, mas logo sentiu o rosto fechar quando viu quem o seguia. 

Assim que Thranduil entrou em seu campo de visão, Tauriel o saudou. Elora permaneceu congelada, segurando Randír pelas rédeas. Ao ver o olhar sombrio do rei a menina sentiu as pernas tremerem, ela não sabia o que viria a seguir e a antecipação a corroía por dentro. Queria que ele gritasse logo seu castigo; as opções que corriam por sua mente apenas a deixavam mais nervosa. 

O rei também estava com alguns respingos do líquido preto viscoso em suas roupas, as quais Elora notou serem as mesmas que ele vestia antes, não colocara armadura. E a única arma que carregava era sua espada. Ele montava no maior alce que Elora já havia visto, o animal tinha o porte altivo e elegante tal qual seu senhor. Quando a menina desviou a atenção para o lado viu Tauriel falar em élfico com o rei, parecia lhe explicar os acontecimentos. Ao final do relato Thranduil virou-se e seguiu novamente por onde veio. Tauriel pediu que Elora montasse em Randír e seguiram-no em silêncio. 

Quando chegaram nos limites do reino a menina viu Emel próxima aos estábulos. Assim que Elora desceu do cavalo a elfa veio correndo e a abraçou, despejando reclamações sobre seu comportamento inapropriado. Elora olhou em volta procurando Thranduil, mas ele não estava mais por perto. O nervosismo voltou a crescer em seu interior, teria que esperar mais um pouco para saber o que viria a seguir.

— Também estou muito contente em vê-la novamente, Emel. - Elora lhe sorriu, ignorando o olhar feio da elfa.

— Nunca mais faça isso! Não pode imaginar como fiquei quando descobri o que estava acontecendo. - Emel continuou a resmungar. - Ninguém sabia de nada, o rei simplesmente saiu floresta adentro avisando somente alguns poucos guardas que estavam a postos aqui. Quando me dei conta de que você não estava no quarto liguei os fatos, mas graças aos deuses parece que os outros não perceberam. 

— Tauriel já me repreendeu, mas agradeço a preocupação.  - Elora apontou para Tauriel, que falava com outro guarda. 

— Tudo bem. - Emel suspirou derrotada, sabia como Elora era teimosa. - Venha, vou preparar um banho para você. Está terrível.

— Obrigada pela sinceridade. - Elora fingiu ofender-se e Emel lhe deu um leve sorriso. - Mas se essa é minha última noite livre, tem uma coisa que preciso fazer antes. Te alcanço em seguida. 

Emel assentiu e entrou no corredor mal iluminado. 

Elora permaneceu no mesmo lugar acariciando Randír e lhe agradecendo por ter voltado para ela, o cavalo balançou a crina e chegou mais perto encostando sua cabeça na testa da menina. Enquanto esperava Tauriel, pensou no que Emel havia falado e ficou confusa. O rei havia ido atrás dela sem exitar. Ela podia ver que ele era orgulhoso e sem dúvida alguma nenhuma ameaça o pegaria de surpresa, mas ainda sim ele era um rei. E reis não costumam se arriscar desta forma por uma pessoa qualquer, ainda mais por alguém que acabara de ofendê-los. 

Uma pequena pontada de culpa e incerteza atingiu seu peito. Elrond havia lhe dito que apesar de tudo Thranduil era uma boa alma, ela talvez tenha visto somente seu lado ruim. O lado que sua raiva quisesse que ela visse. Elora havia criado um imagem dele em sua mente e toda frase que o rei proferia parecia lhe instigar de alguma forma a responder à altura. E pelos céus, como ele a tirava do sério!

Elora sacudiu a cabeça afastando os pensamentos; o dia já havia sido longo o bastante para ficar refletindo sobre o rei durante o restante dele. A menina caminhou até Tauriel quando percebeu que ela estava sozinha.

— Já sei o que vai perguntar, - disse Tauriel adiantando-se. - mas não posso lhe ajudar. O rei não disse uma palavra comigo, então não tenho como diminuir suas opções de castigo. 

Elora deixou os ombros caírem.

— Bom, nesse caso. Pode me acompanhar até a adega? - Se ela tinha que a se adaptar à nova vida, pelo menos poderia começar com uma deliciosa taça de vinho. 

— Pensei que não gostasse de vinho. - Tauriel lhe encarou desconfiada e Elora deu de ombros.

— Como você sabe sou muito menos sensata que o resto da minha família.  

— E muito mais perigosa... quando terminar seu treinamento. 

As duas sorriram lembrando a última conversa que tiveram na adega.

— Então o que estamos esperando? Vamos logo aproveitar um último brinde antes que você seja jogada nas masmorras. - Tauriel sorriu. 

— Que os deuses não ouçam isso. - Elora levantou as mãos enquanto acompanhava a elfa pelo corredor. 

Elora tinha muitas preocupações rondando sua cabeça - ela tinha uma imaginação fértil que nesses casos não lhe ajudava em nada, mas por hora iria apenas importar-se em beber algumas taças de vinho com Tauriel, precisava disso depois de um dia como esse. Mais tarde voltaria a preocupar-se com os olhares especulatórios em seu cabelo embolado e suas vestes enlameadas (céus, deveria estar pior do que imaginara) ou reis e seus orgulhos feridos. 

Mas para seu infortúnio, isso seria mais cedo do que esperava.  


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Notas finais do capítulo

E aí, o que vocês acham que rolou entre Tauriel e Kili? Algum palpite sobre o próximo encontro de Elora e Thranduil?

Agradeço a todos pelos comentários super legais!
Vocês não sabem como é importante saber que estão curtindo a história! Até a próxima ;)

P.s.: Não sei se conseguirei postar o próximo capítulo esse fim de semana. :/